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terça-feira, 5 de julho de 2022

A IGREJA E A CONTRA-REVOLUÇÃO

 




 A Revolução nasceu, como vimos, de uma explosão de paixões desregradas, que vai conduzindo à destruição de toda a sociedade temporal, à completa subversão da ordem moral, à negação de Deus. O grande alvo da Revolução é, pois, a Igreja, Corpo Místico de Cristo, Mestra infalível da verdade, tutora da Lei natural e, assim, fundamento ultimo da própria ordem temporal.

Isto posto, cumpre estudar a relação entre a Instituição divina que a Revolução quer destruir, e a Contra-Revolução.

 1. A IGREJA É ALGO DE MUITO MAIS ALTO E MAIS AMPLO DO QUE A REVOLUÇÃO E A CONTRA-REVOLUÇÃO

A Revolução e a Contra-Revolução são episódios importantíssimos da Historia da Igreja, pois constituem o próprio drama da apostasia e da conversão do Ocidente cristão. Mas, enfim, são meros episódios.

A missão da Igreja não se estende só ao Ocidente, nem se circunscreve cronologicamente na duração do processo revolucionário. “Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas[1] poderia ela dizer ufana e tranqüila em meio às tormentas por que passa hoje. A Igreja já lutou em outras terras, com adversários oriundos de outras gentes, e por certo enfrentará ainda, até o fim dos tempos, problemas e inimigos bem diversos dos de hoje. Seu objetivo consiste em exercer seu poder espiritual direto e seu poder temporal indireto, para a salvação das almas. A Revolução foi um obstáculo que se levantou contra o exercício dessa missão. A luta contra tal obstáculo concreto, entre tantos outros, não é para a Igreja senão um meio circunscrito às dimensões do obstáculo - meio importantíssimo, é claro, mas simples meio.

Assim, ainda que a Revolução não existisse, a Igreja faria tudo quanto faz para a salvação das almas.

Poderemos elucidar o assunto se compararmos a posição da Igreja, em face à Revolução e à Contra-Revolução, com a de uma nação em guerra. Quando Aníbal estava às portas de Roma, foi necessário levantar e dirigir contra ele todas as forças da Republica. Era uma reação vital contra o potentíssimo e quase vitorioso adversário. Roma era apenas a reação a Aníbal? Como pretendê-lo? Igualmente absurdo seria imaginar que a Igreja é só a Contra-Revolução.

Aliás, cumpre esclarecer que a Contra-Revolução não é destinada a salvar a Esposa de Cristo. Apoiada na promessa de seu Fundador, não precisa Esta dos homens para sobreviver. Pelo contrario, a Igreja é que dá vida à Contra-Revolução, que, sem Ela, nem seria exeqüível, nem sequer concebível.

A Contra-Revolução quer concorrer para que se salvem tantas almas ameaçadas pela Revolução, e para que se afastem os cataclismos que ameaçam a sociedade temporal. E para isto deve apoiar-se na Igreja, e humildemente servi-la, em lugar de imaginar orgulhosamente que A salva.

 2. A IGREJA TEM O MAIOR INTERESSE NO ESMAGAMENTO DA REVOLUÇÃO

Se a Revolução existe, se ela é o que é, está na missão da Igreja, é do interesse da salvação das almas, é capital para maior gloria de Deus que a Revolução seja esmagada.

3. A IGREJA É, POIS, UMA FORÇA FUNDAMENTALMENTE CONTRAREVOLUCIONÁRIA

Tomado o vocábulo Revolução no sentido que lhe damos, a epígrafe é conclusão obvia do que dissemos acima. Afirmar o contrario seria dizer que a Igreja não cumpre sua missão.

4. A IGREJA É A MAIOR DAS FORÇAS CONTRA-REVOLUCIONÁRIAS

A primazia da Igreja entre as forças contra-revolucionárias é obvia, se considerarmos o número dos católicos, sua unidade, sua influência no mundo. Mas esta legítima consideração de recursos naturais tem uma importância muito secundária. A verdadeira força da Igreja está em ser o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.

5. A IGREJA É A ALMA DA CONTRA-REVOLUÇÃO

Se a Contra-Revolução é a luta para extinguir a Revolução e construir a cristandade nova, toda resplendente de fé, de humilde espirito hierárquico e de ilibada pureza, é claro que isto se fará sobretudo por uma ação profunda nos corações. Ora, esta ação é obra própria da Igreja, que ensina a doutrina católica e a faz amar e praticar. A Igreja é, pois, a própria alma da Contra-Revolução.

6. A EXALTAÇÃO DA IGREJA É O IDEAL DA CONTRA-REVOLUÇÃO

Proposição evidente. Se a Revolução é o contrario da Igreja, é impossível odiar a Revolução (considerada globalmente, e não em algum aspecto isolado) e combatê-la, sem ipso facto ter por ideal a exaltação da Igreja.

7. O ÂMBITO DA CONTRA-REVOLUÇÃO ULTRAPASSA, DE ALGUM MODO, O DA IGREJA

Pelo que ficou dito, a ação contra-revolucionária envolve uma reorganização de toda a sociedade temporal: “Há todo um mundo a ser reconstruído até em seus fundamentos”, disse Pio XII[2], diante dos escombros de que a Revolução cobriu a terra inteira.

Ora, esta tarefa de uma fundamental reorganização contra-revolucionária da sociedade temporal, se de um lado deve ser toda inspirada pela doutrina da Igreja, envolve de outro um sem numero de aspectos concretos e práticos que estão propriamente na ordem civil. E a este titulo a Contra-Revolução transborda do âmbito eclesiástico, continuando sempre profundamente ligada à

Igreja no que diz respeito ao Magistério e ao poder indireto desta.

8. SE TODO CATÓLICO DEVE SER CONTRA-REVOLUCIONÁRIO

Na medida em que é apostolo, o católico é contra-revolucionário. Mas ele o pode ser de modos diversos.

A. O contra-revolucionário implícito

Pode sê-lo implícita e como que inconscientemente. É o caso de uma Irmã de Caridade num hospital. Sua ação direta visa a cura dos corpos, e sobretudo o bem das almas. Ela pode exercer esta ação sem falar de Revolução e Contra-Revolução. Pode até viver em condições tão especiais que ignore o fenômeno Revolução e Contra-Revolução. Porém, na medida em que realmente fizer bem às almas, estará obrigando a retroceder nelas a influência da Revolução, o que é implicitamente fazer Contra-Revolução.

B. Modernidade de uma explicitação contra-revolucionária

Numa época como a nossa, toda imersa no fenômeno Revolução e Contra-Revolução, parece-nos condição de sadia modernidade conhecê-lo a fundo e tomar diante dele a atitude perspicaz e enérgica que as circunstancias pedem.

Assim, cremos sumamente desejável que todo apostolado atual, sempre que for o caso, tenha uma intenção e um tônus explicitamente contra-evolucionário.

Em outros termos, julgamos que o apostolo realmente moderno, qualquer que seja o campo a que se dedique, acrescerá muito a eficácia de seu trabalho se souber discernir a Revolução nesse campo, e marcar correspondentemente de um cunho contra-revolucionário tudo quanto fizer.

C. O contra-revolucionário explicito

Entretanto, ninguém negará que seja licito que certas pessoas tomem como tarefa própria desenvolver nos meios católicos e não católicos um apostolado especificamente contra-revolucionário.

Isto, elas o farão proclamando a existência da Revolução, descrevendo-lhe o espírito, o método, as doutrinas, e incitando todos à ação contra-revolucionária.

Fazendo-o, estarão pondo suas atividades a serviço de um apostolado especializado tão natural e meritório (e por certo mais profundo) quanto o dos que se especializam na luta contra outros adversários da Igreja, como o espiritismo ou o protestantismo.

Exercer influência nos mais variados meios católicos ou não católicos, a fim de alertar os espíritos contra os males do protestantismo, por exemplo, é certamente legitimo, e necessário a uma ação antiprotestante inteligente e eficaz. análogo procedimento terão os católicos que se entreguem ao apostolado da Contra-Revolução.

Os possíveis excessos desse apostolado - que os pode ter como outro qualquer – não invalidam o principio que estabelecemos. Pois abusus non tollit usum.

D. Ação contra-revolucionária que não constitui apostolado

Contra-revolucionários há, enfim, que não fazem apostolado em senso estrito, pois se dedicam à luta em certos campos como o da ação especificamente cívico-partidária, ou do combate à Revolução por meio de empreendimentos econômicos. Trata-se, aliás, de atividades muito relevantes, que só podem ser vistas com simpatias.

 9. AÇÃO CATÓLICA E CONTRA-REVOLUÇÃO

Se empregarmos a palavra Ação Católica no sentido legitimo que lhe deu Pio XII, isto é, conjunto de associações que, sob a direção da Hierarquia, colaboram com o apostolado desta, a Contra-Revolução em seus aspectos religiosos e morais é, a nosso ver, parte importantíssima do programa de uma Ação Católica sadiamente moderna.

 (Plínio Corrêa de Oliveira - “Revolução e Contra-Revolução” - Capítulo XII )



[1] Cícero, Familiares, 12, 25, 5.

[2] Exortação aos fiéis de Roma, de 10-II-1952 – “Discorsi e Radio-messaggi”, vol. XIII, p. 471.


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