O Padre Jean-Marie de Lamennais foi um sacerdote do século XIX, o qual exerceu muita influência sobre certa corrente filosófica laica e agnóstica. Era irmão do filósofo Hugues Felicité Robert Lamennais, adepto e propagador do espiritismo
Vejam o que escreveu o Cardeal Bernetti sobre
ele:
“É tal a
união e a interação entre a alma e o corpo, que tudo o que se passa numa
reflete-se no outro. E como nesta terra o que nos é dado conhecer nos outros de
imediato é o que eles mostram no seu aspecto físico, é através desse prisma que
percebemos os traços do espírito.
Tudo no
homem, quando bem interpretado, é indicativo de sua alma. Um simples gesto pode
revelar um espírito autoritário ou débil. O andar frequentemente indica a
resolução ou a inconstância da alma. E até o sono reflete a placidez ou a
agitação em que se revolve aquele espírito humano.
Entretanto,
se tudo no corpo humano é expressivo, nada o é tanto e tão admiravelmente como
o rosto. Nele se refletem com ênfase as virtudes e os vícios da alma, a
harmonia interna e as paixões, as alegrias e os sofrimentos. Sobretudo o olhar
é que transmite com especial riqueza o que vem do espírito, tal como um eco faz
identificar o timbre da voz que o emitiu.
Por
isso Santa Teresinha, com aquela perspicácia suave e penetrante que é própria
aos puros de coração, dizia que o rosto é espelho da alma.
Esta
propriedade do rosto vai tão longe, que em alguns casos ele deixa transparecer
não só as virtudes ou defeitos de uma alma, mas até a presença da benção de
Deus. O Pe. Ribadenera escreve a respeito de Santo Inácio de Loyola, seu
Fundador: “mesmo quando se calava, parecia que seu semblante inflamava os
presentes e que o brilho de todo o seu rosto os abrandava e derretia com o
divino amor”.
Impressionante
por sua vez, é o discernimento que o Papa Leão XII teve do espírito de
Lamennais, padre francês, analisando os traços de seu rosto.
O Pe.
La Mennais (este era o seu verdadeiro nome), de grande inteligência, teve duas
fases bem marcadas em sua vida pública. Numa primeira foi tido nos meios
católicos como defensor da Religião, apologista brilhante. Pensou-se seriamente
em nomeá-lo cardeal. Na segunda fase tornou-se um pregoeiro dos princípios
revolucionários, foi condenado por Roma, apostatou do Catolicismo e morreu
impenitente e desesperado em 1854.
No auge
da primeira fase, em 1824, então com 42 anos e grande fama, Lamennais foi a
Roma para uma audiência com o Papa Leão XII. Amigos do sacerdote intercediam
junto ao Sumo Pontífice para conceder-lhe o chapéu cardinalício, e o Papa
parecia inclinado a essa concessão. Tanto assim que cumulou-o de bondades,
chegando a oferecer-lhe um apartamento no Vaticano, tendo ele mesmo em seu
quarto, uma fotografia do sacerdote francês.
Pois
bem. Eis o que Leão XII viu em Lamennais durante a audiência, segundo o próprio
Papa contou alguns dias depois ao Cardeal Bernetti. Escreve o cardeal:
“O
Santo Padre, com voz calma e quase triste, me disse: ‘Quando Nós o recebemos e
conversamos com ele, ficamos tomados de espanto. Desde esse dia temos sem
cessar, diante dos olhos, sua face de danado’.
“O
Santo Padre me dizia isto tão seriamente, que eu fiquei muito surpreso. `Sim –
acrescentou o Papa, olhando-me fixamente
– sim ,esse padre tem uma face de danado. Há algo de heresiarca marcado em seu
rosto.
Seus
amigos da França e da Itália quereriam para ele o chapéu de cardeal. Este homem
é por demais possuído pelo orgulho, para depois fazer a Santa Sé arrepender-se de uma bondade que
seria de justiça se se olhassem apenas
suas obras da primeira fase. Mas agora considerai cada traço de seu rosto e
dizei-me se não há nele um sinal visível da maldição celeste’.”. (Carta do Cardeal
Bernetti ao Duque de Laval-Montmorency, de 30-8-1824).
(Revista “Catolicismo” – Abril de 1986)
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