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O SONHO IRREALIZÁVEL QUE O DEMÔNIO PROCURA CONCRETIZAR COM A REVOLUÇÃO IGUALITÁRIA
Ao concluir uma série de palestras sobre o igualitarismo, realizadas em 1957, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira tratou deste tema: como se explica que o demônio, tão inteligente quanto anjo, procure lutar contra a ordem do universo e contra Deus se ele sabe que tudo o que faz redundará, ao final, sempre na maior glória de Deus? Já que nada pode contra Deus, porque não fica inerte? O igualitarismo, por exemplo, é um sonho irrealizável, mas ele prega isso aos homens e luta por tal utopia. Iludidos, seus prosélitos aqui na terra não imaginam que, ao final, não vão ter uma igualdade entre si, mas uma desigualdade desumana e cruel como a que virá com a provável consumação do corpo místico do demônio através do Anti-Cristo.
Mistério da
iniqüidade
Muitas destas cogitações ficarão
ininteligíveis, inexplicáveis e obscuras para o homem nesta vida, talvez só
compreendidas na eternidade. Nas aparições da russa Fanny Moisseieva, a seguir
transcritas, Lúcifer responde uma pergunta muito intrigante a respeito do
comportamento dos demônios: ele diz que faz todos sofrerem no inferno porque
foi amaldiçoado. No entanto, isso não responde tudo, pois, mesmo amaldiçoado,
ela poderia pelo menos usar de inteligência e ver que seria melhor para ele não
fazer os outros sofrer, mas procurar produzir um inferno agradável a fim de
cativar aqueles que para lá ele leva. Ou sua inteligência, apesar de rutilante,
não compreende isso, ou sua condição de amaldiçoado o impede de fazê-lo. Há uma
expressão popular que diz: “o demônio faz agradável o caminho para o inferno,
mas não consegue fazer o mesmo com os que já estão lá”. Realmente, é um dos
mistérios da iniqüidade.
Notar que o termo “sonho” deve ser entendido como utopia, isto é, algo irrealizável, uma quimera, uma ilusão ou sonho de olhos abertos. Vejamos parte do que disse Doutor Plínio ao encerrar sua palestra sobre a igualdade:
“A
conjuração do demônio visa levar os homens à heresia gnóstica
Em geral,
os tratadistas que falam de forças igualitárias, revolucionárias, colocam-se
muito devidamente no plano da Providência. E tratam de estudar por que, dentro
do plano da Providência, Deus permite esta conspiração, até onde querem chegar.
Contudo, eles também tratam de outra questão, mas muito menos profundamente:
aonde é que o demônio quer chegar quando faz isto?
Porque não devemos perder de vista que, se bem que o governo de todo o universo e de todos os seres seja de Deus, Ele quis que os homens fossem livres, e deu também uma inteligência e uma vontade aos Anjos. E o demônio, apesar de estar precipitado no inferno e condenado às penas eternas, conserva uma inteligência angélica, e é um ser dotado de vontade. Então, é o caso de sabermos, com os dados intelectuais que temos, por que o demônio quer fazer tal conjuração?
Se o demônio é o elemento motor
da conjuração revolucionária, é da maior importância sabermos para onde esse
motor se dirige
Em
primeiro lugar, o que ele vê e, em segundo lugar, o que ele quer, o que o move
a fazer toda essa conjuração.
Parece-me
que o estudo desta questão é muito importante para nós, porque a priori se
poderia afirmar o fato de que, se afinal de contas o demônio é o elemento motor
da conjuração, para sabermos onde uma conjuração vai ter, é da maior
importância sabermos para onde esse motor se dirige.
Mas isto é, sobretudo, importante para compreendermos bem que a gnose – entendida a expressão gnose no sentido em que ela deve ser entendida -, a gnose é o pólo, por assim dizer, necessário para onde tende e tem que tender a conjuração do demônio. E que ele, por uma decorrência lógica e inelutável das circunstâncias nas quais ele se encontra, de fato, tem que querer que a humanidade seja gnóstica. Não interessa tanto a ele que a humanidade caia numa heresia qualquer, mas que a humanidade caia nesta heresia, a gnóstica.
A “psicologia” do demônio: o
eterno derrotado
Naturalmente,
para compreendermos bem isto, temos que nos colocar diante de uma preliminar: o
demônio é um anjo. Mas um anjo ruim e derrotado, colocado numa situação
sumamente contraditória consigo mesmo. Ele é, propriamente, a contradição, o
fracasso e a derrota; é o esmagado. Foi precipitado por Deus do alto de seu
trono até o fundo do inferno; continuou a existir, mas a sua primeira
contradição é esta: ele sabe que Deus é Deus, que é digno de toda homenagem e
adoração, mas ele não quer prestar sua homenagem, levado por um amor desregrado
de si mesmo. Então, ainda que Deus permitisse a ele de adorá-Lo, ele não
quereria adorá-Lo. É verdade que Deus não permite. Ele não quer adorar a Deus.
Está no inferno por livre e espontânea vontade, porque não quer aceitar uma
realidade que lhe entra pelos poros, antropomorficamente falando.
Ora, um
ser assim colocado está como que retorcido, está desviado daquilo que é seu fim
reto e verdadeiro, e voltado para uma coisa que ele sabe não ser seu fim. Ele
sabe que aquilo não é direito, que ele não merece aquela adoração de si mesmo,
mas ele quer aquilo porque quer. Percebe-se, portanto, uma formidável
contradição que existe dentro do demônio.
É em função
desta situação contraditória que devemos procurar uma explicação para o plano
que o anjo tem em relação a todo o movimento conspiratório do universo.
Por que
um ser colocado na situação contraditória deseja fazer toda essa heresia e toda
essa coisa, e como é que se liga o desejo dele de fazer todo o seu plano em
função da profunda contradição em que
ele está?
Para compreendermos bem isto, devemos começar lembrando-nos de que o demônio sabe perfeitamente que tudo quanto ele faça, em última análise, redunda na glória de Deus. E que na partida que ele joga contra Deus, ele é o eterno derrotado.
Não seria mais inteligente se o
demônio se mantivesse numa perpétua inação?
Ele é
incapaz de um pensamento, de uma volição, de uma ação incapaz de um efeito que
não redunde, de um modo direto ou indireto, na glória de Deus. Então, é o caso
de perguntar se ele se move por ódio a Deus. E devemos responder que ele é
incapaz de se mover a não ser por ódio.
Mas, se ele se move por ódio, seria o caso de perguntar se ele não agiria mais inteligentemente mantendo-se numa perpétua inação, num perpétuo não mover e não fazer as coisas. Essa perpétua imobilidade não seria, por acaso, um meio de diminuir a glória de Deus? Como é que se explica que ele entenda estar trabalhando contra a glória de Deus por meio desse plano conspiratório?
Após comentar sobre alguns aspectos dos sonhos entre nós, humanos, Dr. Plínio volta a falar sobre tais quimeras na mente do demônio.
“O sonho
do demônio não tem nenhuma possibilidade de se realizar
A
desgraça do demônio é tão profunda que nem isto propriamente ele pode ter.
O demônio
é um espírito angélico lucidíssimo, e ele sabe perfeitamente que não consegue
iludir-se a respeito de suas próprias condições. Não consegue iludir-se a
respeito da situação que foi criada por ele. Mas, de algum modo ele pode –
também ele – ter o seu sonho. E esse sonho consiste no seguinte: quando ele
percebe que conseguirá, por meio de suas astúcias e fraudes, fazer com que
muitas pessoas acreditem naquilo que ele gostaria que fosse o universo, e ver
muitas pessoas viverem para ele em função de toda essa idéia que criou.
De algum modo, aquilo a que ele tenderia se realiza por esta forma”.
O corpo místico do
demônio será um dia consumado?
O império de Satanás poderá um dia ser
consumado ao conseguir ele formar por completo seu “corpo místico”, pois
somente assim exercerá plena regência sobre os homens e, por conseqüência,
sobre aquele universo que estará sob domínio deste corpo maldito. Mas, a
igualdade não será a consumação deste império e sim a imposição da mais odiosa
desigualdade, com a regência despótica de seu poder.
Quando caiu no inferno, Lúcifer e seus
prosélitos perderam grande parte de sua inteligência e poder, daí tendo
dificuldades para entender como Deus rege o Universo. Ou então, entendendo algo
não conseguem seus intuitos por intervenção divina, a não ser em parte e por
consentimento de Deus e dos homens que a ele aderirem. Um dos princípios
universais de tal regência é aquele pelo qual tudo é feito por intermédio de
intercessores: Deus rege o Universo utilizando-se de Anjos e homens e não de
uma forma direta.
Lúcifer, por orgulho e ódio à Criação,
não entendeu isso desta forma, ou então se o compreende não o executa
corretamente, impedido ora por seu orgulho, ora pelo próprio Deus. Assim, ele ainda
tem a pretensão de pessoalmente reger tudo, tentando manifestar todo o seu
aparente poder sobre os seres criados por Deus. Seria este mais um de seus sonhos
utópicos?
A formação de seu corpo místico é uma
das formas com que ele vem tentando reger os homens. Um dos planos dele é
destruir a Igreja de Cristo, o Corpo Místico por excelência, que foi criado
para a Santíssima Trindade reger e salvar os homens para darem glórias a Deus.
Com tal intuito sairão levas e mais levas de demônios dos infernos e virão à
terra, tentando com violência eliminar a Igreja e levar os homens ao desespero
e revolta universal contra Deus. Sua intenção é fazer disso um tal movimento
universal de almas que possa suscitar a formação do corpo místico satânico.
Mas, eles não sabem, ou sabem mas não conseguirão fazê-lo, que para que se forme
tal corpo místico torna-se necessário que surjam homens com carismas
excepcionais de liderança e poder, e dentre estes um somente que se torne o seu
representante ou modelo na terra, seria o Anti-Cristo.
No período atual, com a completa guerra movida contra a Igreja através do que chamamos de “bagarre”, onde haverá perseguições monumentais, guerras, pestes e desastres naturais, tudo para mover os homens ao desespero e ódio contra Deus, falta-lhes entretanto a existência de alguns homens malditos que possuam carismas extraordinários de liderança. E que um deles se destaque sobre os demais. Os próprios demônios virão pessoalmente aterrorizar os homens, tal a pouca confiança que eles têm sobre seus prosélitos entre nós. E nisso consistirá um dos motivos naturais de sua derrota, pois sem homens que encarnem o poder satânico do seu corpo místico a vitória será do Corpo Místico de Cristo, não somente por causas naturais, mas por causa da intervenção de Nossa Senhora, a qual colocará homens santos e carismáticos na liderança da luta contra os filhos das trevas. Como conseqüência da derrota do demônio, virá o Reino de Maria.
O Anti-Cristo seria o intercessor perfeito e acabado do corpo místico de
Satanás?
Em todas as visões sobre o
inferno uma das características principais é os demônios sob as ordens de
Lúcifer impondo sofrimentos atrozes aos condenados. Fanny
Moisseieva foi uma vidente russa que teve várias visões sobre o Céu e
o Inferno. No texto que ela divulgou sobre o inferno a vidente coloca a
pergunta, que é feita por um personagem indagando a razão disso. O
diálogo foi o seguinte:
“Assim é que você existe
realmente”. E Satanás, com uma risada irônica, respondeu: “– Sim”. E o velho
continuou: “– Mas, por que vive deste modo? Por que está sempre em meio a estas
frias trevas e passa séculos inteiros em hostilidades vazias contra todo o
Universo e envolve na mais profunda dor aos homens que lhe servem? Que
necessidade tem de todos estes tormentos e deste diabólico ruído?”
A gente em silêncio conteve a respiração
com a ânsia de saber o que ia acontecer. “– Por que não quer recomeçar o
caminho reto, voltar a ser bom e terminar em um bom dia com todo o mal que
faz?” Com o olhar fixo à distância, Satanás respondeu sombriamente: “–Porque
fui amaldiçoado.”
Sim, uma das razões é porque foi
amaldiçoado, mas também porque (talvez por causa da própria maldição) manifesta
constantemente seu ódio contra Deus nos seres criados por Ele, como os homens,
e a maneira mais apropriada de manifestar tal ódio é fazendo com que os
precitos sofram e não tenham nenhum momento de alegria ou felicidade, por toda
a eternidade... O ódio não podendo ser dirigido diretamente a Deus, ao Qual ele
não pode impor nenhum sofrimento ou perca, dirige-o então contra a Obra divina,
refletida nos homens. O objetivo é fazer com que os homens se desesperem e
passem a odiar a Deus, e assim consumando nos outros seres sua vingança contra
Aquele que o amaldiçoou. No entanto, o que lucra ele com isso? Nada. Nem sequer
diminui a glória de Deus, mas, até a aumenta por contrapor o ódio contra o amor.
Mais adiante, a vidente conta como
Lúcifer pretende impor seu império sobre os homens não diretamente, mas usando
um intercessor, que será o Anti-Cristo:
“O olhar de Satanás brilhou
sinistramente pelo ódio e murmurou com voz que soava a ameaça: “– Enviarei ao
mundo o Anti-Cristo e ainda e sempre lutarei contra Aquele que me amaldiçoou!”
“– O Anti-Cristo?”, perguntou
assombrado o velho. “– Sim, o Anti-Cristo”, exclamou Satanás.
Seu olhar ficou ainda mais triste.
Depois de uma pausa, Satanás continuou:
“– Virá o tempo em que em um lugar, que
já tenho designado, viverá uma cortesã que terá uma filha ainda mais perversa
do que ela. Ela a seu tempo parirá outra cortesã e assim durante onze gerações
consecutivas. Na décima segunda geração, nascerá uma mulher que superará em
depravação, perversidade e imoralidade todas as outras. Esta será a que porá no
mundo aquele que deverá ser a perdição da humanidade inteira. Ele será o Anti-Cristo.
Nem se saberá quem é o pai porque será concebido em estado de embriaguez
imunda. Desde seu nascimento, eu viverei nele e ele em mim. A mãe notará muitos
sinais incompreensíveis no momento do nascimento, mas eu a induzirei ao
silêncio”.
Será um homem de uma inteligência
extraordinária, que superará em muito a inteligência de seus contemporâneos.
Terá também uma vastíssima cultura. Quando alcançar a idade adulta, sentirá
dentro de si uma desenfreada avidez de comando e encontrará o apoio de um povo
que será seu predileto. Por-lhe-ei nas mãos riquezas imensas, e por meio delas
será grande e poderoso. E quando se desencadear uma grande guerra, na qual
participará todo o mundo, o Anti-Cristo participará nela em qualidade de
simples oficial.
Devido a suas capacidades, a sua
bravura e coragem, ele fará em pouco tempo uma brilhantíssima carreira e
ocupará os mais altos postos da hierarquia. Não conhecerá os fracassos e,
conseguindo uma vitória atrás da outra, ganhará uma popularidade sem limites e
infundirá em todos a simpatia e a confiança em sua pessoa.
Nenhum projétil poderá alcançá-lo nunca
e as armas de todos os tipos lhe farão apenas sorrir. Em qualquer posto em que
se encontre, será sinal seguro de que este posto não poderá ser tomado. Os
barcos e os aviões que se encontrem ao seu comando terão a vitória segura.
Eu farei de maneira que a água, o fogo
e os outros elementos da natureza lhe estejam submetidos. Vencerá e destruirá
os poderes de todos os outros povos, de modo que ainda aumentará mais a
admiração por ele entre as populações. Destronará reis, expulsará ditadores e
presidentes e subjugará, por último, a todos os povos que se inclinarão diante
de seu poderio e o reconhecerão por líder supremo. Reinará sobre todo o mundo e
será o verdadeiro dono e senhor de toda a terra[1][2].
E eu lhe darei o poder de operar milagres, de forma que o mundo acreditará que
ele é o próprio Cristo[3]. Ainda
sem compreender seus atos, não se atreverão a criticá-lo e assim, por meio
dele, eu corromperei a todo o gênero humano, empurrando-o à busca de novos
conceitos no campo da filosofia e colocando-os em contradição com a religião.
Destruiremos também todas as leis da
moralidade e, através do escárnio, cultivaremos na terra o sacrilégio e a
blasfêmia, faremos que ocorra toda classe de acontecimentos desagradáveis ao
extremo. Em todas as partes criaremos um número incrível de obstáculos e
envolveremos a todos os homens e a todas as mulheres na sede das mais refinadas
depravações. Recolheremos deliciosos frutos nos campos do mal. Durante o
reinado do Anti-Cristo enviado por mim, meus servos fiéis assumirão formas tais
que não deixarão supor que sejam demônios. Levarão a tentação às mentes e os
homens perderão sua personalidade e sua capacidade de governar os próprios
instintos. E deste modo o mal reinará.
Teremos que realizar muito esforço
nesse período, porque cada invocação e cada oração dirigidas a Jesus Cristo
serão suficientes para converter uma alma.[4] Mas
nós continuaremos sem trégua em nosso terrível avanço: criaremos uma vida
absurda e brutal, destruiremos tudo e teremos constrangido a todos os povos entre
nossas mãos.
Destruiremos e devastaremos os templos,
apagaremos todas as lâmpadas acesas em honra ao Altíssimo. Ó, como eu odeio aos
que rezam nos templos! Odeio as Missas, as predicações e os cantos litúrgicos.
Em meu reinado do Anti-Cristo só haverá maldade e sofrimentos em tal
quantidade, que desde que o mundo é mundo não se terá visto tanta.
Então, em um excesso de dor e de louco
desespero, os homens começarão, gemendo, a murmurar e culpar a Deus. Esta será
a culminação de todos os meus desejos. Este será meu reinado, reino do mal e do
ódio eternos”, assim gritava Satanás, flamejando com seus terríveis olhos”. [5]
Notar que a geração deste ser
maldito não será feita de uma forma normal, ele não terá nem sequer um pai
reconhecido como tal. No entanto, Lúcifer vai produzi-lo inteligentemente
através de uma sucessão de gerações “matriarcais”, 12 segundo a vidente. Tendo
criado assim um ser com tais características, maldito, mas, com carismas
herdados de uma forma natural (e alguns preternaturais colocados por ele),
consegue ter uma espécie de fundador de seu corpo místico. Tenta copiar, de
alguma forma, a geração de Jesus Cristo, o verdadeiro fundador do Corpo Místico
divino, que seguiu uma sucessão de gerações até ser gerado no seio da Virgem
Maria. Quem gerou o Homem-Deus foi o Espírito Santo, mas, certamente o fez de
uma forma natural, utilizando provavelmente um sêmen natural criado por Deus e
detentor de qualidades e carismas vindos de várias gerações de homens bons e
tementes a Deus. Pois bem, Lúcifer vai utilizar o mesmo processo, que sua
inteligência compreendeu, mas a depender de um período de várias gerações, uma
depois da outra se superando em maldades e fidelidade ao próprio demônio.
Possuindo um “intercessor”, criado e
sustentado por ele, Lúcifer poderá conseguir reger os homens copiando a forma
como Deus rege o Universo, não o fazendo diretamente (como tentou na “bagarre”)
mas por via deste maldito ser. Ele se utilizará de um método de regência todo
divino para tentar fazer uma suma obra de ódio a Deus, que é reger, mas
imperiosamente e pela força e o logro, através da intermediação. Nesse sentido
ele terá como opositor não um, mas dois grandes santos, Elias e Enoch, que
manterão vivo o Corpo Místico de Cristo, e, mesmo após mortos, serão aceitos por
Deus como vítimas expiatórias exorcísticas, fazendo com que o próprio Cristo
desça do céu e mate o Anti-Cristo com um sopro de sua boca. Como o Sr. Dr.
Plínio falou nessa reunião, o demônio nunca dá o que promete, e quando dá algo,
como vai dar ao Anti-Cristo, tira mais do que o que deu. Todos seus carismas e
todo seu poder serão destruídos pelo simples sopro da boca de Jesus, e depois
virarão pó nas profundezas do Inferno
[1] Parte de uma série de treze conferências pronunciadas pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em 1957 sobre o tema do Igualitarismo. O texto integral delas foi divulgado pelo Ufficio Tradizione Famiglia Proprietà (grupo da TFP na Itália) em seu site, lembrando que, apesar de ser matéria doutrinária não revista pelo Autor, podendo haver erros na transcrição do áudio, no entanto pela coerência do que está aqui exposto há inteira concordância com o seu pensamento exposto na obra “Revolução e Contra-Revolução
[2] Evangelho de São João 5, 43: “Eu vim em nome de Meu Pai e vocês não me receberam, se outro vier em seu próprio nome, a esse o receberão.”
[3] ...a vinda dele é por obra de Satanás, com todo o poder, com sinais e prodígios mentirosos e com todas as seduções da iniqüidade para aqueles que se perdem... (II Tessalonicenses 2. 9-10)
[4] Daí a importância de Elias e Enoch para sustentar a fidelidade dos poucos bons que perseverarão.
[5] Fanny
Moisseieva - MEU SONO LETÁRGICO DE NOVE DIAS - PARTE IV – O INFERNO - Fonte: www.recadosaarao.com.br
quinta-feira, 7 de abril de 2022
SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE
Temos uma ficha para hoje sobre São João Batista de la Salle, cujos dados biográficos são tirados do livro “Saints de France”, de Henri Pourrat:
“São João Batista nasceu em Reims, em 1651, de uma
família de magistrados. Menino ainda, em meio a uma festa, sentiu uma náusea
profunda de tudo quanto o rodeava. Dirigiu-se a uma prima, que só conseguiu
consolá-lo, lendo uma vida dos Santos. Com 17 anos, tornou-se cônego,
colocando-se sob a direção de M. Troçont, conhecido como excelente diretor
espiritual. Perdendo seus pais, precisou cuidar de seus irmãos.
“Nessa época, em Rouen, uma senhora fundara uma
escola gratuita para meninos órfãos. Em Reims, quiseram imitar esse exemplo,
mas para os meninos. M. Nille, encarregado de iniciar as suas funções em Reims,
foi hospedado por São João Batista que escreveu então: “Se eu soubesse que os
cuidados, a simples caridade que eu tomava para com os mestres de escola,
transformar-se-iam no dever de morar com eles, eu os teria abandonado. Porque
como eu os colocava abaixo de meus criados, as pessoas que trabalhavam em
escolas, o único pensamento de que seria obrigado, a viver com eles, me
pareceria insuportáve”l.
“E assim começou a missão de São João Batista. A
organização do ensino primário católico gratuito, e os irmãos das escolas
cristãs. E com isso, seus sofrimentos. Sua cidade natal, seus parentes,
puseram-se contra ele.
“Escrevendo suas regras para seus irmãos, quis que
vivessem confiados na Providência. Seus companheiros murmuraram que isso era
fácil para ele, cônego. Abandonou então a sua posição e distribuiu seus bens.
Os discípulos murmuraram agora ser crime distribuir bens senão entre eles
mesmos. Organizado o Instituto e as escolas, começaram as perseguições dos
mestres-leigos. Seu hábito simples, mereceu-lhe vaias na rua, e que lhe lançassem
lama no rosto.
“Mais tarde, difundindo a comunhão frequente, e
recebendo cheio de alegria e submissão a bula "Unigenitus", João
Batista é atacado pelos jansenistas, e abandonado pelos próprios irmãos. Idoso
e alquebrado por suas austeridades, em 1717, la Salle pensa em descansar no
noviciado de Saint Ior, mas o padre que o serve em suas doenças, o maltrata. E
dois dias antes de sua morte, em suas querelas religiosas, o arcebispo de
Rouen, tira-lhe todos os poderes, como a um padre indigno.
‘Espere - diz João Batista com um sorriso - que logo serei libertado do Egito, para ser introduzido na verdadeira terra prometida dos eleitos’. E ele conseguiu isso, na Sexta-Feira Santa, de 1719.”
Vida bonita, mas unilateral
Esta vida é uma
vida muito bonita de um lado, mas por outro é unilateral, pois ela apresenta
apenas o “rio chinês”, as dificuldades e não mostra como o “rio chinês” chegou
ao mar, ou seja, como os caminhos da Providência acabaram por se dar.
A realidade das
coisas põe-se nos seguintes termos: na época em que este Santo viveu, em
virtude das guerras de religião, que foram muito profundas na França, entre
protestantes e católicos, e que desorganizaram a estrutura eclesiástica da
Igreja Católica, de um lado. Depois, havia o fato de que estavam se reintroduzindo
no clero francês um grande relaxamento de costumes e de empenho apostólico.
Acontece que o
apostolado junto aos mais ricos era muito procurado pelo clero. Ou seja, junto
aos nobres, às pessoas importantes da corte, aos magistrados, enfim, a quem - a
qualquer título - tivesse uma situação social. Mas desdenhava-se muito o
apostolado junto aos pobres e, sobretudo, dentre os pobres, junto aos meninos.
Compreende-se esta
orientação completamente errada. Uma vez que se tratava de uma sociedade fortemente
hierárquica, as maiores vantagens só podiam provir do convívio com as pessoas
mais importantes. E então Padres sem zelo, relaxados, procuravam os penitentes
que lhes pudessem trazer vantagens, ou relações que lhes pudessem trazer
vantagens, e desprezavam o povinho.
O resultado é que uma quantidade enorme de crianças do povo se formavam sem ter ensino religioso. Havia mestres de escolas, mas eram de escolas leigas e assim uma multidão de elementos da França nova, que vinham nascendo, as gerações novas ficavam completamente paganizadas.
Hoje em dia, o clero novamente caindo na decadência, procura não os
ricos mas os soprados pela demagogia
Era uma situação,
até certo ponto, diametralmente oposta à de hoje. Os senhores vêem o clero
infelizmente caindo de novo no relaxamento, bajular os grandes do dia. Mas
acontece que estes últimos já não são mais os ricos, muito menos ainda o são os
nobres, também não são os intelectuais. Os grandes do dia são os homens
soprados pela demagogia, quer dizer, são os chefes populares, os líderes
operários, os elementos que dirigem sindicatos etc., e com os quais parece
estar o poder no dia de amanhã. São os meios esquerdistas bafejados pela
imprensa e que proporcionam uma publicidade lisonjeira às pessoas que os apóiam.
E então os senhores
vêem mais uma vez o clero, como disse antes, caindo em decadência, e, pois,
anti-hierárquico, anti-aristocrático, desdenhando os intelectuais e procurando
os revolucionários.
Mas naquele tempo
em que a Revolução não tinha destruído a ordem de coisas como veio a fazer, o
clero relaxado por análogas razões, desdenhava os pequenos e procurava os que
então eram grandes. Mas numa ou noutra situação, a constante é a mesma: o clero
relaxado procurando os grandes.
Segue uma
orientação diversa do clero decadente e vai procurar os que estão sendo
abandonados
Acontece que São
João Batista de la Salle, que era de uma família entre burguesia e nobre,
portanto sem ser uma grande família, era de certa categoria, além do que era cônego,
e todos os cônegos naquela época tinham rendas. Assim sendo, ele que podia
seguir o movimento geral e candidatar-se para frequentar meios mais altos que
os dele, para fazer carreira, eventualmente ficar bispo, talvez cardeal, São
João Batista de la Salle segue uma orientação diversa.
Como pessoa modelar que era, abnegado, desinteressado dos bens desse mundo, vai à busca dos que estão sendo abandonados. Em nossa época, ele procuraria quem a Revolução desdenha, portanto a classe oposta daquela que procurou naquele tempo. E constituiu uma Congregação Religiosa de irmãos leigos, especialmente destinados a ensinar a religião para as crianças.
Vantagens do apostolado feito com crianças
Os senhores me
dirão: "Mas Dr. Plínio, esse apostolado de ensinar Religião para crianças,
não é um apostolado muito “mocorongo”,
de último nível? Um apostolado com criancinhas em que todos levantam, cantam
uma coisinha, sentam e depois vem o bê-á-bá? Vale a pena um homem de maior vôo,
de inteligência maior consagrar toda a sua vida a este tipo de
apostolado?"
Respondo da
seguinte maneira: temos de distinguir. Em nossos dias, uma pessoa com vocação
para o apostolado católico e contra-revolucionário da TFP, é chamada para algo
de muito mais alto e de muito mais eficiente do que apostolado junto a crianças
de grupo primário, evidentemente.
Não obstante isto,
fazer apostolado em grupo primário, em si - não tomando a comparação com a TFP
- se faz uma coisa muito boa. Porque qualquer apostolado é uma grande coisa.
Qualquer alma, do último meninote de escola, foi remida pelo sangue infinitamente
precioso de Cristo, quem somos nós para julgar pouco fazer bem para esta alma?
Qualquer atividade apostólica, em si, é digníssima, é esplêndida, é digna de
toda a veneração.
De maneira que
entre um homem passar a vida procurando defender exclusivamente os seus
interesses e não fazer apostolado, ou ele fazer apostolado - ainda que seja o
modesto apostolado com crianças para ensinar catecismo - de algum modo,
trabalhou pelo Reino de Deus, salvou almas. Fez, portanto, muito melhor porque
trabalhou para a eternidade, do que se tivesse meramente acumulado fortuna,
honras desse mundo, que são coisas que os vermes da terra hão de comer. Quando
morrermos, não levaremos nem nossas honrarias, nem nossas fortunas; levamos
nossas boas obras. Ensinar crianças, é uma muito boa obra!
Mas acontece uma
outra coisa sobretudo que devemos observar: São João Batista de la Salle, não
era um desses professorezinhos de Religião que se vê lecionar por aí, com um
ensino “mocorongo” de Catecismo. Ou
seja, um ensino tal que as crianças papagaiam o Catecismo, mas este
absolutamente não lhes entrou na alma e não lhes marcou um rumo para a vida
inteira, sendo que há meios de lecionar o Catecismo em nível primário, de
maneira que isto não ocorra.
Para estudar a vida
de um Santo, deve-se conhecer sua mentalidade, suas intenções, para se conhecer
o verdadeiro alcance da obra que fundou
Há na vida de São João Batista de la Salle, como de grandes outros Santos catequistas, pessoas em grande quantidade que permaneceram católicas por toda a vida graças a um ensino de Catecismo bem dado. Quer dizer, não devemos imaginar que ele desse aulinhas de Catecismo...
Suscitou vocações de homens que deixavam o mundo para se consagrarem
exclusivamente ao ensino do Catecismo
Devemos imaginar
algo que nós não vimos - pelo menos eu não vi, e tenho razões sérias, sólidas e
robustas para imaginar que os senhores também não viram -, ou seja um ensino
ministrado com toda a atenção, o recolhimento, a influência que a aula de um
Catecismo dada por um Santo tem...
Acresce ainda que
ele fez coisa muito melhor: não só deu aulas de Catecismo, mas fundou uma
Congregação Religiosa inteira! Quer dizer, ele suscitou - no sentido humano da
palavra - vocações de homens que deixavam o mundo para se consagrarem
exclusivamente ao ensino do Catecismo. E, para simplificar - a terminologia
canônica não é muito correta - ele fundou uma Ordem Religiosa, especialmente
destinada ao ensino do Catecismo.
Os senhores estão
vendo, portanto, que são centenas, milhares de pessoas, que ao longo de
séculos, passaram ensinando o Catecismo. Se essas pessoas tivessem sido fiéis à
orientação dele até nossos dias, só sua Congregação - e que se estendeu por
inúmeros países, que ainda existe e é uma das pujantes da Igreja Católica - já
seria um baluarte de Contra-Revolução admirável.
Uma vez que estamos
estudando a vida de um Santo, devemos conhecer sua mentalidade. E para tal
devemos conhecer sua intenção, o que é possível conhecendo o verdadeiro alcance
da obra que ele fundou. E é por causa disso, que eu estou me empenhando em
mostrar, que realmente, S. João Batista de la Salle teve em vista uma obra de
grande elevação.
Não seria talvez a obra mais indispensável a ser realizada, a obra mais necessária, mas é uma obra necessária; não seria talvez a mais necessária, mas necessária porque é preciso que haja quem dê o Catecismo para as crianças, de um lado.
Nem todo o mundo foi chamado por Deus para fazer as mais altas obras
De outro lado, nem
todo o mundo foi chamado por Deus para fazer as mais altas obras. Também nas
vocações dadas por Deus, há uma hierarquia. E é excelente que uma pessoa que
não tenha sido chamada para o mais alto, faça de um modo altíssimo aquilo a que
foi chamada, e foi exatamente essa bonita realização de São João Batista de la
Salle.
Os senhores vêem
que ele teve êxito nisto. Sua Congregação se estende por toda a Terra e,
durante muitos séculos, fez muito bem. Quer dizer, esta é a linha mestra de seu
apostolado. É um homem chamado, que se esforçou e realizou aquilo para o que
foi chamado. Esta é a linha mestra.
Em torno disto que
é reto e claro, e de um traçado límpido como é um canal, se estabelece o
ziguezague do “rio chinês”.
Então, os senhores
têm todas essas dificuldades, que sua ficha biográfica menciona, e que ele teve
para de fato reunir sua Congregação.
Aí é que os
senhores vêem, na sua verdadeira perspectiva, sua vida e a obra por ele
realizada. Os senhores compreendem, então, como é belo, ter tido de lutar com
tantas dificuldades, incompreensões, das quais certamente as mais dolorosas,
foram as que teve entre os seus, quer dizer, os que foram chamados para
trabalharem consigo. Parece não ter sido uma turma acomodatícia... Os senhores
viram que primeiro ele queria que o pessoal todo vivesse com muita pobreza,
confiados só à Providência, sem ter capitais... e o pessoal resmungou:
"Você é cônego, tem bom ordenado, é fácil confiar na Providência quando
tem todos os meses uma diocese que paga um dinheiro para você; nós, coitados,
onde está o nosso dinheiro? Nós queremos patrimônio!"
Ele vai e renuncia
ao patrimônio:
– Está aí, eu estou
pobre como vocês.
– Que loucura, vai
pôr fora esse dinheiro; era só o que nós tínhamos, por pouco que fosse ainda
dividia conosco...
Quer dizer, era um
pessoal que não estava compreendendo grande coisa do que ele estava querendo
fazer.
É próprio das vidas dos Santos mal escritas que não contam os aspectos mais
interessantes
Como é que chegou a
se esclarecer esse conjunto de pessoas e como nessa turma rebarbativa – e, se
se pudesse dizer isto, inóspita, no sentido de dizer que no meio deles não
devia ser agradável estar... - clareou o zelo, limpou os horizontes e depois se
tornou à altura do santo, isto exatamente a ficha não diz...
Porque é próprio da
vida dos Santos mal escritas, que elas não contam os pontos interessantes. Como
foi alcançada esta grande vitória interna, a ficha não o diz.
A gente vê que isso
lhe custou muito. Porque como os senhores perceberam, ele tinha um sumo
desprezo pelos professores primários. Ele dizia que achava o ofício de
professor primário, uma coisa tão inferior, que preferia ser criado da casa
dele mesmo, do que ser professor primário...
Vem a Providência e
o chama: "Meu filho, eu o convido para professor primário"...
"Está bem, eu
vou deixar esta gente toda, vou viver no meio dos professores
primários"...
Reúne os professores primários, uma companhia que deveria ser pelo visto – aliás, eu não participo desse desprezo pelos professores primários como os senhores viram há pouco – desagradável para ele; digamos uma palavra muito forte, mas talvez verdadeira para o caso, nauseá-lo. Ele podia esperar ali, entre professores primários, de ser bem tratado, porque era o único que era mais que os professores primários. Qual o quê?! Entra na surra! Incompreensões, vistas limitadas, estupidez etc.
Nossa Senhora quis que São João Batista de la Salle com seu sangue
regasse a semente que tinha sido incumbido de plantar e de fazer vicejar
De outro lado, os
senhores viram bem... que ele manuseou o trabalho que costumamos conhecer:
"Não, onde é que se viu! Você, tão inteligente, vai entrar para essa
história e coisa e tal...".
Ele adota um hábito
muito simples para indicar a modéstia da profissão e das condições. Qual o
resultado de sua atitude?
Na rua, as pessoas
chegam a jogar lama nele. Volta-se para o clero e este o maltrata de todos os
modos. Mas a obra indo para a frente... Eis aí o ponto interessante.
Nossa Senhora quis
que ele sofresse essas coisas todas para, com os méritos de seus sofrimentos,
com seu sangue portanto, regar a semente que ele tinha sido incumbido de
plantar e fazê-la vicejar.
Esta é uma regra à
qual não escapa, meus caros, nenhuma forma de apostolado!
O verdadeiro
apóstolo ou sofre pela obra que deseja realizar, mas mete sangue e dá a alma
dentro disso... Coisa muito pior do que sangue do corpo, muito pior, um
verdadeiro apóstolo ou mete sangue da alma e sofre por aquilo que ele quer
realizar ou ele absolutamente não é apóstolo.
Todo apóstolo tem
que ter sofrimentos. E um dos sofrimentos mais pungentes é a gente se sentir,
de um lado, chamado para realizar uma vocação; e de outro perceber as ondas
contrárias que parecem tornar sem sentido o chamado que se recebeu. Esta coação
ou esta coarctação da vocação, este enfrentar obstáculos que parecem opor-se à
via do Espírito Santo, isto é uma das dilacerações mais penosas que uma alma
pode sofrer.
De maneira que São
João Batista de la Salle agiu como verdadeiro homem de Deus, aguentando todas
essas coisas. Afinal de contas, a morte o libertou de tudo isto e ele encontrou
a sua coroa no Paraíso.
Por que razão eu
insisti de um modo especial a respeito desta vida de Santo?
Os senhores poderão
me dizer que é uma vida de um Santo bem diferente da vida que caracteriza um
membro da TFP. E que, debaixo deste ponto de vista, talvez não valesse a pena
desenvolver tanto essa biografia.
Mas foi
intencionalmente que eu a desenvolvi. Porque eu não quisera jamais que - por
mais chamada, por mais perdoada e por mais abençoada que seja a TFP - nossas
vistas fossem tão estreitas que não víssemos a Igreja a não ser dentro da TFP!
A Santa Igreja
Católica, Apostólica, Romana - instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, direta
e pessoalmente por Ele - é infinitamente maior do que a TFP. E o valor da TFP é
de ser um grãozinho cheio de suco da Santa Igreja.
Mas o bom, o santo,
o verdadeiro está na Igreja. E é da Igreja que vem a TFP, que é um corpúsculo
da Igreja. Da Igreja vem à TFP a seiva, a vitalidade, a santidade que torna a
TFP estimável.
Então, o bom membro
da TFP, que deve ser uma pessoa penetrada até o fundo de sua alma, de
intelecção, de compreensão nesse sentido superior da palavra, de amor, de
veneração, de ternura, para com a Igreja Católica verdadeira, eterna. E deve
ter uma compreensão admirativa por tudo aquilo que fizeram os Santos por mais
que suas atividades e suas vidas tenham sido diferentes das da TFP, porque é só
a gente tendo essa compreensão e a gente percebe tudo isto que tesouro é; é só
assim que a gente compreende o que é a TFP.
(Plínio Corrêa de Oliveira – Santo do
Dia, 15 de maio de 1971 – Extraído de “São
João Batista de la Salle e os esplendores da Santa Igreja Católica” - https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_710515_Sao_Joao_Batista_de_la_Salle.htm#.Yk9W4fnMK1s
)
terça-feira, 5 de abril de 2022
SÃO VICENTE FERRER, “O ANJO DO APOCALIPSE”
(São Vicente Ferrer foi poderoso taumaturgo, converteu milhares de judeus e muçulmanos e foram contados para sua canonização 873 milagres, enquanto seus cronistas afirmam que fez mais de 40 mil. Doutor Plínio comenta sobre este grande santo num "Santo do Dia")
Hoje é aniversário da morte de Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu em Fátima. Ele faleceu em 1919.
Amanhã será a festa
de São Vicente Ferrer, Confessor, “que contribuiu para a extinção do grande
cisma do Ocidente no século XIV”. A seu respeito, temos os seguintes dados:
“Vicente Ferrer
nasceu na Espanha, em 1357. Sua vocação foi anunciada a seus pais de forma
miraculosa, antes de seu nascimento. A seu batismo acorreu toda a cidade de
Valença, sendo seus padrinhos os membros do Conselho Municipal.
“Entrou para a
Ordem Dominicana aos 18 anos, revelando logo rara inteligência e dotes para a
pregação. Acompanhou o cardeal Pedro de Luna a Avinhão, sendo que algum tempo
depois este foi eleito papa sob o nome de Bento XIII, na época do grande cisma
que dividia a Igreja. O novo papa quis que Vicente fosse seu auxiliar, mas o
santo sabia que esta não era a sua missão. Assim deu início à grande obra de
evangelização como pregador.
“Percorreu a
França, Espanha, Itália e Inglaterra, esta última por especial pedido do rei
Henrique IV. Os pecadores mais endurecidos não resistiam às suas palavras,
assim como numerosíssimos judeus, muçulmanos e cismáticos se convertiam. A
ignorância e a corrupção dos costumes, coisas comuns da guerra e do cisma,
tornavam necessárias as missões de Vicente. Era preciso um apóstolo cuja voz
terrível pudesse abalar as consciências a fim de arrancar os pecadores às suas
desordens. O Santo tratava comumente somente dos temas mais assustadores do
cristianismo tais como o pecado, o juízo de Deus, o inferno e a eternidade.
Tinha, além disso, o dom de pronunciar seus discursos da maneira a mais patética.
Não se contentando em ser veemente, ele falava ainda de uma maneira
proporcionada à compreensão dos ouvintes. A santidade de sua vida dava nova
força às suas palavras.
“Sua fama chegou ao
reino mouro de Granada, cujo soberano Mohamed Yusuf III quis ouvi-lo. São
Vicente começou a promover tantas conversões que os ministros do rei, temerosos
do que sucederia à crença muçulmana, pediram-lhe que afastasse dali o grande
pregador.
“Depois de uma
existência toda consagrada a levar almas para Deus, pontilhada por milagres sem
conta e pela luta contra o doloroso cisma de Avinhão, que culminou pela
condenação pelo Santo do antipapa Pedro de Luna e a aceitação completa de
Martinho V, que fora escolhido pelo concílio de Constança, São Vicente veio a
falecer na Bretanha, em 1419, aos 62 anos de idade.”
Tenho a impressão
de que poucas coisas são tão bonitas na hagiografia quanto o nós situarmos a
missão do santo no panorama proposto pela RCR (Revolução e Contra-Revolução).
Segundo tal panorama, no século XIV, a Cristandade começava a decair. Era uma
decadência eclesiástica tremenda que se atestava pelo fato de haver ao mesmo
tempo papas exilados em Avinhão, que estavam sob a férula dos reis de França. E
um cisma tremendo: três papas que se combatiam reciprocamente, dos quais,
naturalmente, um só era válido. Mas estava de tal maneira a confusão na
Cristandade, que para cada pseudo-papa ou papa, havia santos que estavam do seu
lado. Os senhores compreendem o que significava, para isso ser possível, a
putrefação toda do clero. Mas esta acarretava, por sua vez, como conseqüência,
a degenerescência dos fiéis. E era toda a Idade Média que entrava em
decomposição, de caráter mais moral do que intelectual; era uma explosão de
orgulho e de sensualidade que começava, a qual devia depois gerar os desvios
intelectuais que são os erros da Revolução.
Então a Providência
manda, muito adequadamente, para essa época, um santo que foi grande na sua
Ordem como, por exemplo, foi grande na sua esfera própria, São Tomás de Aquino.
Porque se se pode dizer, de um lado, que São Tomás de Aquino foi Doutor Comum,
o filósofo dos filósofos, o teólogo dos teólogos, pode-se dizer que como
pregador popular – depois dos Apóstolos – ninguém excedeu provavelmente São
Vicente Ferrer, nem mesmo, no século XIX, Santo Antônio Maria Claret, que foi
um pregador assombroso.
São Vicente Ferrer
dizia de si mesmo que era o “Anjo do Apocalipse”, que tinha vindo para anunciar
a derrocada da Civilização Cristã e o começo do fim do mundo. E de fato ele
lutou enormemente para a moralização dos costumes, lutou para que exatamente
essa decadência moral se sustasse.
Essa ficha
biográfica que acabei de ler aqui é muito sintomática, porque menciona as
conversões que São Vicente Ferrer obteve, mas como fatos colaterais, não digo
secundários, mas de uma importância menor dentro do conjunto de sua obra. O
grande fato era o poder de sua pregação, por onde sacudia as consciências meio
adormecidas e por onde ele era, por excelência, o santo oposto à tibieza.
Porque esse tipo de santo que fala sobre inferno, pecados, que tonitroa, que
pede o castigo do Céu, é exatamente o santo chamado sobretudo para falar às
almas tíbias, porque de outro modo não poderia converter. Então compreendemos o
número colossal de conversões que operou. Porém essas conversões, por mais
numerosas que tenham sido, foram insuficientes. Delas não nasceu um movimento,
uma onda organizada para combater a Revolução que surgia. E o resultado é que
converteu muitas almas, mas não a sociedade enquanto tal. Em outros termos, ele
não foi tão ouvido pelos homens de seu tempo quanto era devido. São Vicente
Ferrer foi o dique que a Providência levantou, mas que a maldade
Mas na abertura
dessa torrente que começa a cair para o abismo, fica de pé sua figura
grandiosa, anunciando as catástrofes que provinham do fato de ele não ter sido
ouvido. Exatamente como de um profeta do Antigo Testamento anunciando desgraças
ao povo de Deus, porque não tinha ouvido o enviado de Deus.
Assim, fica sua
imensa figura pairando sobre o firmamento da Igreja no fim de um pórtico que é
o fim da Idade Média e que pode ser considerado o começo da Revolução.
Aí está a imensa
figura de São Vicente Ferrer e a explicação histórica de seu estilo de pregar,
dos dons com que foi favorecido e da missão que recebeu de Deus.
(Plínio Corrêa de Oliveira - Santo do Dia, 04 de abril de 1966)