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segunda-feira, 30 de novembro de 2020
SANTO ANDRÉ, APÓSTOLO DA CRUZ
Hoje é festa de Santo André, Apóstolo: irmão de São Pedro, preso pelo pró-Cônsul Egéias, foi açoitado e depois suspenso numa cruz, na qual sobreviveu, três dias, a instruir o povo.
Sobre Santo André,
há as seguintes notas biográficas extraídas da “Vida dos Santos” de Rohrbacher:
“Santo André -
primeiro Apóstolo a reconhecer Cristo, ao qual levou seu irmão Pedro, futuro
primeiro Chefe da Igreja - teve sempre um grande amor à Cruz; na hora de sua
morte, ao ver o madeiro no qual iriam pregá-lo, saudou-o com alegria.”
Os senhores não
devem considerar essa saudação como pura literatura, porque cada palavra tem um
peso.
Está o mártir,
depois de açoitado, todo ensangüentado, diante da sua cruz que - como os
senhores sabem - era em forma de X, e por isto é chamada a Cruz de Santo André.
Ele, diante de sua
cruz, exclama:
“Ó Cruz belíssima,
que foste glorificada pelo contato que tiveste com o Corpo de Cristo! Grande
cruz, docemente desejada, ardentemente amada, sempre procurada, e, afinal,
preparada para meu coração apressado, desejoso de ti”.
É a beleza da
exclamação de um homem, na hora de sofrimento que Deus marcou para ele, para a
aceitação daquele cálice que deve beber para ter a sua glória no Céu. Daquele
cálice, sem cujo beber não se alcança nada no Céu. É aquele que, afinal de
contas, sabe que chegou a hora de seu máximo sofrimento, de seu martírio; sabe
o que vai sofrer porque meditou incontáveis vezes a respeito da Paixão de Nosso
Senhor, e que exala sua alma nestas circunstâncias. Ele chama a cruz, que era
uma coisa desprezada e um instrumento para prender criminosos: “Cruz
belíssima”! Depois explica porque é belíssima: ela foi glorificada pelo contato
que teve com o Corpo de Cristo.
Acrescenta ele que
a desejara com doçura. Podemos imaginá-lo considerando-a durante anos, e
anos, e anos, amando o martírio que lhe tinha sido profetizado, aguardando a
hora em que faria, por Deus, este ato de holocausto desinteressado: deixar-se
matar por Nosso Senhor para, por esta forma, ser quebrado como o vaso que Santa
Madalena quebrou com o ungüento junto aos pés do Divino Salvador, sem
nenhuma utilidade prática, num ato de amor desinteressado, num holocausto que
não tinha outra razão de ser a não ser o seu próprio sacrifício. E isto de tal
maneira que, ainda que não fosse bom para as almas, ainda que não fosse
edificante para muitos, ainda que não fosse uma humilhação para os adversários
da Igreja, só para provar a Deus que levava seu amor até aquele ponto, ele
desejava a cruz como algo doce. Os senhores vejam o que é a alma de um mártir, os
esplendores que há na alma de um mártir.
Ele continua: “docemente
desejada, ardentemente amada”.
Os homens, hoje,
fogem do sofrimento de todos os modos, é exatamente o que eles não querem;
nenhuma forma de sofrimento, nenhuma forma de luta contra as suas paixões,
nenhuma forma de renúncia. Eles têm a idéia de que a vida foi dada para
ser regalada e que é preciso gozá-la e o que não for gozar a vida, é morrer.
Este, pelo
contrário, ardentemente amava a sua cruz, compreendendo que o que dá
sentido à vida não é o gozo nem o prazer que possa ter, mas é o sacrifício que
se faz. Isto é o que dá prazer e sentido à vida. E que, portanto, todo
homem verdadeiramente sobrenatural e verdadeiramente homem deseja o encontro
com sua grande cruz, com seu grande martírio. Este é o filho da Cruz, é o
Amigo da Cruz, do qual trata São Luís Grignion de Montfort em seu livro “Carta
aos Amigos da Cruz”.
Continua: “sempre
procurada”. Qual é o homem que, no momento de prestar contas a Deus,
pode dizer que sempre procurou a cruz? que em todas as coisas procurou o
sacrifício?... Pelo contrário! Os homens vivem fugindo da cruz, o que não
querem é o sacrifício. Mas Santo André pôde dar de si este testamento:
sempre tinha procurado as cruzes. E por isso, no momento de se aproximar
dele a cruz, estava disposto ao sacrifício.
Continua: “e,
afinal, preparada para o meu coração apressado”. Ou seja, Deus, afinal deu
a Cruz para meu coração que tinha pressa da crucifixão.
Ah! Se nós
pudéssemos dizer... se eu pudesse dizer que minha alma tem pressa da
crucifixão, que ela deseja, que ela voa para essa crucifixão, o que ela quer é
absolutamente entregar-se a Deus sem reserva, e ter esta forma de entrega que é
exatamente o martírio! Na paz de alma, certamente, mas o martírio. Ou seja, o
último holocausto.
Nosso Senhor disse:
Nenhum homem pode ser mais amigo de outro homem do que oferecendo a sua vida
por esse homem. Ninguém pode dar maior prova de amor de Deus do que
desejar, por esta forma, a cruz.
E ele continua: “Cruz
preparada para o meu coração, desejoso de ti; recolhe-me, ó cruz”.
Realmente isto é de
uma beleza...!!
E prossegue: “abraça-me,
retira-me dos homens, leva-me depressa, diligentemente, ao Mestre; por ti, Ele
me receberá; Ele que, por ti, a mim me resgatou”.
Pode haver uma
oração mais bonita do que esta? Pode haver uma alma mais pronta para a visão
beatífica do que uma alma que, no momento da morte, diz uma coisa desta?
E os senhores vejam
o desfecho: três dias pregando na cruz, três dias do alto da
cruz ensinando aos homens.
Os senhores podem
imaginar o que foram estas palavras, estes ensinamentos, estas graças,
este martírio de Santo André... Que cátedra! Quem é que na vida teve uma
cátedra igual a uma cruz para, durante três dias, ensinar aos homens?
Dois dias teve em
agonia, mas seu último suspiro ainda foi voltado para a cruz: “Senhor, Rei
Eterno da Glória, recebei-me assim pendido, como estou, ao madeiro, à cruz tão
doce. Vós sois meu Deus. Vós a quem vi, não permitais me desliguem na cruz;
fazei isto por mim, Senhor, que conheci a virtude da vossa Santa Cruz”.
E expirou com estas
palavras.
Pode-se dizer que
esta é uma morte tão bonita, que só a morte de Nosso Senhor pode ser mais
bonita do que esta. Quer dizer, a última palavra em matéria da bonita morte!
MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (II)
Segunda-feira da primeira semana
COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS AQUINO SOBRE O ADVENTO E O NATAL DO MENINO JESUS
- Conveniência da Encarnação
I. Parece muito conveniente que os atributos invisíveis de Deus sejam mostrados por coisas visíveis; porque para isso o mundo inteiro foi feito, como afirma o Apóstolo: As coisas invisíveis de Deus são vistas, depois da criação do mundo, considerando-as pelas obras criadas (Rm I, 20).
Mas, como diz São João Damasceno, pelo mistério
da Encarnação manifesta ao mesmo tempo a bondade, a sabedoria, a justiça e o
poder de Deus ou de sua virtude. A bondade, porque ele não desprezou a fraqueza
de sua própria criatura; a justiça, porque, vencido o homem, fez que ninguém
que o homem vencesse ao tirano, e libertou o homem da morte pela violência;
sabedoria, porque encontrou a melhor forma de pagar o preço mais caro; o poder
ou virtude infinita, porque nada é maior do que ter se tornado Deus homem.
Então, foi conveniente que Deus se encarnasse.
II. Convém a cada coisa o que lhe corresponde
de acordo com o sua natureza, como convém ao homem raciocinar, porque esse ato
lhe corresponde na medida em que é racional de acordo com sua própria natureza.
Sendo, pois, a própria natureza de Deus a essência da bondade, tudo o que é
essencial para é bom para Deus. E como é da essência do Bem comunicar-se com
outros, portanto, é essencialmente adequado ao Sumo Bem comunicar-se com a
criatura de um modo soberano. O que se
verifica principalmente ao unir-se a uma natureza criada, de modo que se faça
uma só pessoa desses três princípios, a saber: o Verbo, a alma e a carne.
Portanto, é notório que foi conveniente que Deus se encarnasse.
Unir-se a Deus na unidade de pessoa não era
conveniente para a carne de acordo com a condição da natureza, porque isto
supera a sua dignidade; mas foi conveniente para Deus, de acordo com a
excelência infinita de sua bondade, aquele que a unisse a si mesmo para salvar
o homem.
Deus é grande, não em volume, mas em virtude;
conseqüentemente, a magnitude de seu poder não sente qualquer estreiteza no que
é limitado. Se a palavra fugaz do homem é ouvida simultaneamente por muitos e
toda inteira para cada um deles, não é incrível que o Verbo de Deus esteja por
sua vez o tempo em todos os lugares todo inteiro. (Suma Teol, 3ª parte, q. I,
a,. 1)
Santíssima. Virgem Maria, fazei
por vossa intercessão que o amor de Jesus consuma e destrua em mim todos os
afetos estranhos a Deus. Atendeis a todos, atendei também a mim: obtende-me o
amor e a perseverança.
(“Encarnação,
Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo
Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação
Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. Edição Pdf -
Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 122/123)
domingo, 29 de novembro de 2020
MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO DE (I)
Primeiro domingo do Advento
SOBRE
O TEMPO DO ADVENTO
Há chegado,
amatíssimos irmãos, aquele tempo tão importante e solene, que, como disse o
Espírito Santo, é tempo favorável, dia da salvação,
da paz e da conciliação; o tempo que tão ardentemente desejaram os Patriarcas e
Profetas e que foi objeto de tantos suspiros e anseios; o tempo que Simeão viu
cheio de alegria, que a Igreja celebra solenemente e que também nós devemos
viver em todo momento com fervor, louvando e dando graças ao Pai Eterno pela
misericórdia que neste mistério nos tem manifestado. O Pai, por seu imenso amor
para conosco, pecadores, nos enviou o seu Filho único, para nos livrar da
tirania e do poder do demônio, nos convidar para o céu e nos inrtroduzir no
mais profundo dos mistérios de seu reino, nos manifestar a verdade, nos ensinar
a honestidade de costumes, nos comunicar o germen das virtudes, nos enriquecer
com os tesouros de sua graça e nos fazer seus filhos adotivos e herdeiros da
vida eterna.
A Igreja
celebra a cada ano o mistério deste amor tão grande para conosco, nos exortando
a tê-lo sempre presente. Por sua vez nos ensina que a vinda de Cristo não
somente é proveitosa aos que viviam no tempo do Salvador, mas que sua eficácia
continua, e ainda hoje se nos comunica se queremos receber, mediante a fé e os
sacramentos, a graça que Ele nos prometeu, e se ordenamos nossa conduta
conforme seus mandamentos.
A Igreja
deseja vivamente nos fazer compreender que assim como Cristo veio uma vez ao
mundo na carne, da mesma maneira está disposto a voltar a qualquer momento para
habitar espiritualmente em nossa alma com a abundancia de suas graças, se nós,
por nossa parte, tiramos todo obstáculo.
Por isso, durante este tempo, a Igreja, como mãe amorosa e zelosíssima de nossa
salvação, nos ensina, através de hinos, cânticos e outras palabras do Espírito
Santo e de diversos ritos, a receber convenientemente e com um coração
agradecido este benefício tão grande, a nos enriquecer com seu fruto e a
preparar nossa alma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo com tanta
solicitude como se tivesse Ele de vir novamente ao mundo. Não de outra maneira
no-lo ensinaram com suas palavras e exemplos os Patriarcas do Antigo Testamento
para que nisso os imitássemos.
(Das
cartas pastorais de São Carlos Borromeu, bispo – Acta Ecclesiae Mediolanenseis,
t. 2, Lyon 1683, pp. 916-917)
COMENTÁRIOS
DE SÃO TOMÁS AQUINO SOBRE O ADVENTO E O NATAL DO MENINO JESUS
Imensidade do Amor
Divino
Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna (Jo 3, 16.)
A causa de todos os nossos bens é o Senhor e
o amor divino; porque amar é desejar o bem de alguém. E como a vontade de Deus
é a causa de todas as coisas, o bem vem a nós porque Deus nos ama. O amor de
Deus é, portanto, a causa do bem de nossa natureza. É também do bem da graça
(Jer 31,3): Com amor perpétuo vos amei; por isso vos atraiu para mim, isto é,
por meio da graça.
Que Ele seja também um doador do bem da graça
procede de grande caridade, e, portanto, é mostrado aqui com quatro razões que
esta caridade de Deus é máxima:
1º) Pela razão da pessoa que ama, pois Deus é
aquele que ama sem a medida. Por isso disse: De tal maneira amou Deus .
2ª) Pela condição do amado; porque o amado é
o homem, ou seja, o homem mundano, corpóreo, pecador. Mas Deus faz sua caridade
brilhar em nós, porque, sendo todavia seus inimigos, fomos reconciliados com
Deus por meio da morte de seu Filho (Rm 5,8,10). É por isso disse: Deus amou
tanto o mundo.
3º) Pela grandeza dos dons; porque o amor se
demonstra por meio da dádiva, pois, como disse São Gregório, a prova do amor é
a ação.
Deus nos deu o dom máximo, pois nos deu seu
Filho unigênito; o sua Filho por natureza, consubstancial a Si mesmo, não
adotivo; unicamente gerado, para mostrar que o amor de Deus não é dividido
entre muitos filhos, mas vai todo inteiro ao Filho que Ele nos deu, como prova
do Seu amor sem medida.
4º) Pela magnitude do fruto; porque por esse
dom alcançamos a vida eterna. Por isso disse: Para que todo aquele que crê não
pereça, mas tenha a vida eterna, que Ele adquiriu para nós por sua morte de
cruz.
Diz-se que uma coisa perece quando é impedida
de alcançar seu próprio fim. O homem tem vida eterna para seu próprio fim, e
quantas vezes ele peca aparta-se desse fim. E mesmo que, enquanto vive, não
perece totalmente, pois pode reabilitar-se,
no entanto, quando morre em pecado perece totalmente. Nas palavras:
“tenha vida eterna” se indica a imensidão do amor divino; porque ao dar a vida
eterna, Deus se dá a si mesmo; porque a vida eterna não é outra coisa para
desfrutar de Deus. Doar-se é sinal de grande amor. (In Joan., 3)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI
LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de
Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
- Ele se encarnou pela virtude do Espírito Santo, e se fez homem
Mas como é possível, ó meu Jesus, que eu tenha tantas vezes renovado voluntariamente com os ultrajes que cometi contra vós, essa horrível ruína causada pelo pecado e reparada com a vossa morte? Custou-vos tanto o salvar-me; e eu tantas vezes quis perder-me, perdendo a vós, o Bem infinito! Uma coisa reanima a minha confiança: vós dissestes que, quando o pecador, que vos voltou as costas, se converte, não deixais de abraçá-lo: Convertei-vos a mim... e eu me voltarei a vós. Dissestes ainda: Se alguém me abrir a porta, entrarei nele. Eis-me, Senhor, sou um desses rebeldes, um ingrato e traidor, que vos voltou muitas vezes as costas e vos expulsou de sua alma; mas hoje arrependo-me do fundo do coração de vos haver assim ultrajado e desprezado a vossa graça. Arrependo-me, e amo-vos sobre todas as coisas. Está aberta a porta do meu coração; entrai, pois, ó Jesus, mas entrai para não mais sair. Sei que vós não vos afastareis jamais, se eu vos não tonar a expulsar; mas é isso que temo; e é essa a graça que vos peço e espero pedir-vos sempre, de antes morrer do que tornar-me culpado dessa nova e extrema ingratidão. Meu caro Redentor, as ofensas que vos fiz, tornaram-me indigno de vos amar; mas peço-vos pelos vossos méritos me concedais o dom do vosso santo amor. Para isso fazei-me conhecer o grande bem que sois, o amor que me tendes, e tudo quanto fizestes para me obrigar a amar-vos. Ah! meu Deus e meu Salvador, não me deixeis viver mais na ingratidão para com tão grande bondade. Não quero mais abandonar-vos, meu Jesus. Muito vos tenho ofendido; é justo que empregue o resto da minha vida em amar-vos e agradar-vos. Meu Jesus! meu Jesus! ajudai-me; ajudai um pecador que deseja amar-vos.
Ó Maria,
minha Mãe, podeis tudo junto de Jesus, porque sois sua Mãe; dizei-lhe que me
perdoe; dizei-lhe que me prenda com seu santo amor. Vós sois a minha esperança,
em vós confio.
(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 119/120)
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
COISAS ADMIRÁVEIS EM SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA
1.
Exemplo admirável de sabedoria. “Esta insigne donzela dominou todos os ramos da ciência
filosófica. A Filosofia, ou sabedoria por antonomásia, se divide em teórica,
prática e lógica. A teoria, segundo alguns tratadistas, compreende três
tipos de saber humano: as ciências do entendimento, as chamadas naturais e as
de índole matemática. Santa Catarina possuiu perfeito domínio destes três
grupos de ciências”.
2.
“Santa Catarina foi admirável por sua
eloquência. Para provar o alto grau em que possuía esta qualidade, podemos
aludir á facilidade com que de sua boca fluíam as palavras quando pregava: a
claridade dos argumentos que esgrimia ao razoar, como quando, discutindo com o
imperador numa ocasião... (ou)... a eficácia com que convencia a seus
oponentes, posta a manifesto durante a controvérsia que manteve com cinquenta
oradores, os quais absoluta e definitivamente deixou vencidos pela causa que
ela defendia”.
3.
“Foi Santa Catarina admirável por sua fortaleza.
Esta fortaleza ficou claramente
demonstrada nas seguintes três atitudes da santa: a) na inquebrantável constância com que suportou e desprezou as
reiteradas ameaças a que foi submetida...
b) Na energia com que rechaçou os prêmios e recompensas que César lhe
oferecia... c) Na certeza com que aguentou os tormentos...entre eles a prisão
no calabouço e o das rodas”.
4.
“Santa Catarina foi admirável por sua castidade.
Com efeito, a santa conservou incólume sua pureza apesar de que sua vida
transcorreu num ambiente pouco propício e até muito perigoso para observância desta virtude, porque há
cinco coisas que fazem sumamente difícil a perseverança na guarda da castidade,
a saber: a abundância da riqueza, pois as riquezas permitem levar uma vida
mole, fácil para o debilitamento do espírito; determinadas ocasiões, aptas de
si para arrastar as pessoas que nelas se encontram para o pecado de lascívia; a
idade juvenil, na qual a pressão de
luxúria é mais forte; a
liberdade, ´pouca amiga de freios; e a beleza, que por si é provocativa. Todas
estas cinco circunstâncias se deram no caso de Catarina, porém, de fato, nem
separadas nem juntas constituíram obstáculos insuperáveis para que a santa
donzela conservasse sua puríssima castidade”...
5.
“Esta santa é digna de nossa admiração pelos
muitos privilégios com que o Senhor quis honrá-la. A este propósito convém notar que Deus
favoreceu a certos santos outorgando-lhes à hora de sua morte algum benefício especial;
por exemplo, a João Evangelista concedeu-lhe a mercê de que se lhe aparecesse
Cristo; a São Nicolau, que de seus ossos fluísse azeite; a São Paulo, que de
seu sepulcro manasse leite; a São Clemente, lavrou-lhe um mausoléu debaixo do
mar; a Santa Margarida favoreceu
aceitando sua petição de que atendesse as orações de quantos se encomendaram a
ela. Pois bem, a Santa Catarina outorgou-lhe o Senhor não meramente alguns dos
mencionados privilégios, senão todos eles...” Há um outro privilégio que a
Legenda Áurea não conta: o corpo da santa foi traslado por São Miguel ao Monte
Sinai, onde é venerado hoje sob uma catedral construída em sua honra.
domingo, 22 de novembro de 2020
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REGENTE DO UNIVERSO EM CO-REGÊNCIA COM NOSSA SENHORA
Por Sua natureza divina, Nosso Senhor tem em si mesmo todo o poder regencial sobre o Universo, do qual é senhor absoluto. Ele mesmo o disse: "Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou." (São João, 13 – 13). Mas, tal poder de regência é compartido com anjos e os homens. O poder de regência é dado à humanidade por intermédio de Nossa Senhora, Ela mesma co-regente do Universo com Nosso Senhor Jesus Cristo e os Santos Anjos. Pelo mesmo princípio, todos os homens colaboram nessa co-regência juntamente com os Santos Anjos. Assim, esse poder de regência faz parte daquela promessa que Nosso Senhor fez no Evangelho, pela qual haverão santos que se sentarão como Juízes ao lado d’Ele para julgar os homens. Esse poder de julgar nada mais é do que o poder de regência, pois quem julga também rege.
Apenas no final do mundo, segundo São João
escreveu no Apocalipse, a regência divina de Nosso Senhor Jesus Cristo vai
brilhar com todo o seu fulgor; “E saiu do trono
uma voz que dizia: Dizei louvor ao nosso Deus todos os seus servos, e os que
o temeis, pequeninos e grandes. E ouvi
uma como voz de muita gente e um como estrondo de muitas águas, e como o
estampido de grandes trovões, que diziam: Aleluia. Porque reinou o Senhor nosso
Deus: o Todo-Poderoso. Alegremo-nos e exultemo-nos; demos-lhe glória: porque são chegadas as
bodas do Cordeiro, e a sua esposa está ataviada”. (Apoc 19, 5-7)
A expressão “e a sua esposa está ataviada”
refere-se à Igreja Católica, reinante também com Cristo até à consumação dos
séculos.
Mas, nenhum rei reina somente com a esposa, que é a Rainha-Consorte, mas também
com a Rainha-Mãe.
Ela
conhece as intenções de Deus a respeito da História; tais intenções são o plano
de Deus condicionado às orações, aos atos de virtudes e aos pecados dos homens.
Depois
da Redenção infinitamente preciosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, os homens
pertencem a seu Corpo Místico, formando com Ele uma unidade sobrenatural em
cuja realidade interna o mais delicado disso se passa. Tomando essa verdade em
consideração, é do modo pelo qual reagimos às graças, dizendo sim ou não, e
também da maneira pela qual os outros aceitam ou recusam os favores divinos,
que Deus realiza um balanço geral. Nesse balanço Ele fez pesar a sua bondade e
a sua justiça infinitas.
Mas o
próprio Deus, na sua insondável bondade, quer mais do que Ele mesmo faz. Os
homens são tão ruins que Deus daria aos homens menos do que Ele quer. Por uma
disposição de sua sabedoria, verdadeiramente Magnífica, Deus constituiu esta
situação: uma criatura inteiramente humana, mas absolutamente perfeita; além
disso, Filha do Padre Eterno, Mãe de Deus Filho e Esposa do Divino Espírito
Santo, que sempre está em condições de retocar, ao menos em parte, o que os
homens fazem e, por assim dizer, corrigir – se a palavra “corrigir” não fosse
inadequada-, reformar, rever, segundo os planos da misericórdia de Deus, aquilo
que sua justiça faria. De maneira que Maria Santíssima está sempre pedindo:
”Meu Pai Eterno, meu Filho adorável, meu Esposo perfeitíssimo, recuai um pouco,
adoçai um tanto, ajeitai aqui, fazei mais acolá...”
E a
rogos de Nossa Senhora, que nunca deixou de ser atendida, Deus como que passa a
borracha sobre o plano da História escrito a lápis, e deixa a Santíssima Virgem
traçar a ouro o plano verdadeiro, o qual corresponde ao mais fundo da intenção
d’Ele.
Deus
não A teria criado se não fosse isso. Mas se não A tivesse criado, ficaria
difícil ou impossível – hesito diante do termo – fazer a História tão bela como
ela é. Nossa Senhora enfeita essa História. E somente por isso, de um lado, Ela
é a Rainha da História, porque Ela imprime, por um profundo consentimento de
Deus, à História um rumo, que Deus sem Ela não teria imprimido. Nossa Senhora,
portanto, dirige o leme da História.
De
outro lado, Maria Santíssima não se limita a isso. Ela pede também, para alguns, o castigo. É natural. Quando
surgir o Anticristo, virá o momento em que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo,
com um sopro de sua boca, o exterminará. Mas esse momento não será apressado
por Nossa Senhora? Ela dirá: “Eis que os últimos bons que restam bradam e pedem
que venhais! Vinde, por favor, vossa Mãe Vos pede”. E pelo sopro dos lábios de
Nosso Senhor estará encerrada a História.
Compreendemos,
então, a direção da História, direção “intercessiva”. Deus é quem dirige tudo,
mas a intercessão de Nossa Senhora é segundo os planos do Criador. E Ela
realiza a vontade de Deus, obtendo a modificação dos planos d’Ele. Deus reina,
mas por meio de Maria Santíssima, a Quem Ele quis dar toda a glória que se
pudesse imaginar a uma tão excelsa missão de intercessora de todo o gênero
humano. Assim, Ela dirige a História”.[1]
Para compreender bem as afirmações acima precisamos ter
presente que Dr. Plínio está se referindo ali à História (com “H” maiúsculo).
Não se trata da narração de fatos ocorridos ali ou acolá, num ou noutro povo,
mas do rumo que os homens em geral estão tomando em direção a Deus ou não.
Assim, podemos dizer, por exemplo, que Santa Teresinha do Menino Jesus fez
muito pelo povo do Vietnã sem nunca ter ido lá e não haver nenhum fato direto
que a ligue àquele povo. No entanto, ela é considerada padroeira dele pelo fato
de se ter imolado, se haver oferecido como vítima expiatória por ele. Nossa
Senhora, do mesmo modo, dirige a História dos povos sem necessidade de haver
fatos (na vida dos povos) que a ligue diretamente a eles pelo menos na ordem
natural, porque neste caso não se trata da história narrativa de fatos mas da
História grandiosa do caminhar dos povos em direção a Deus
terça-feira, 17 de novembro de 2020
SANTA ISABEL DA HUNGRIA
Amanhã
será festa de Santa Isabel da Hungria. Dom Guéranger, no l’Année
Liturgique, escreve o seguinte a
seu respeito:
“Filha de André II, rei da Hungria, Isabel
nasceu no ano de 1207. Com a idade de apenas quatro anos, ela foi à corte da
Turíngia, onde desposou, em 1221, o Landgrave Luís. Casamento feliz. O príncipe
compreendeu admiravelmente a sua ainda tão jovem esposa e lhe deu liberdade de
praticar as suas devoções e as suas penitências à vontade. E, ao mesmo tempo,
ele abria largamente a sua bolsa à inesgotável caridade da princesa. Esposa e
mãe exemplar, Elisabeth se levantava durante a noite e permanecia longas horas
em oração”.
“As
provações começaram quando da partida do duque Luís para a Cruzada. Não levou
muito tempo para que ela tomasse conhecimento de sua morte, no ano de 1227,
quando ela tinha, portanto, vinte anos. E o próprio irmão do landgrave, chamado
Henrique, deitou imediatamente a mão sobre os estados do defunto. Expulsa de
sua residência com suas quatro crianças, da qual a última não tinha senão
alguns meses de idade, sem recursos, ela foi obrigada a procurar, em pleno
inverno, um agasalho que a crueldade de seu cunhado proibia aos habitantes de
lhe fornecer”.
“Ela
conheceu então a pior miséria e se sentiu feliz de encontrar um abrigo num
estábulo para porcos. Em pouco tempo, porém, a sua fortuna lhe foi restituída,
mas ela quis permanecer entre os pobres e foi no meio deles, em uma choupana,
que ela morreu, no dia 17 de novembro de 1231, na idade de 24 anos. Quatros
anos mais tarde, Gregório IX a canonizava e seu culto se estendeu à toda a
Igreja Universal”.
Alguns
fatos desta vida são dignos de nota. Ela era filha do rei da Hungria e casou-se
com um landgrave alemão, da Turíngia. O que era um landgrave? Ao pé da letra,
“land” é terra e “grave” é conde. O landgrave é o conde de uma terra. Mas era
um grande senhor feudal, uma espécie de príncipe, com o qual ela se casou e foi
para sua corte aos quatro anos de idade. Isto porque prevalecia naquele tempo a
idéia de que, pelo menos nas altas camadas sociais, era conveniente mandar que
as meninas fossem muito cedo para os castelos e as famílias onde deveriam se
casar. Assim poderiam tomar toda a formação e assumir inteiramente toda a alma
do lugar, embora elas fossem livres de dizer “não” no momento em que fossem
maiores e de fato se casassem.
Ela
foi muito feliz com seu esposo, durante o todo o tempo, até o mesmo ir para a
Cruzada. Mas acontece que os
verdadeiros filhos da luz, os verdadeiros católicos, sempre acumulam em torno
de si toda espécie de inimizade. Não existe nenhum verdadeiro católico que não seja perseguido.
Nosso Senhor Jesus Cristo já disse isso: todo Seu autêntico discípulo seria
perseguido, como Ele o fora também. Assim, tinha ela contra si toda espécie de
odiosidades formadas e que em geral provinham de sua virtude, explorada
em aspectos que são menos fáceis de compreender por pessoas de mau espírito.
Assim,
por exemplo, numa ocasião ela recolheu em seu castelo um leproso que viu passar
pelas ruas, e o deitou no próprio leito, começando a tratá-lo como se fosse o
próprio Cristo. E isto por causa daquela palavra de Nosso Senhor, de que todos
os que são sofredores representam a Ele. E a sogra, sabendo disso, procurou o
landgrave e lhe disse: “Veja o que é sua esposa! Ela está metendo um leproso em
sua cama, para depois a doença passar para você quando for lá. Vá e encontrará
um leproso deitado na cama”.
Ele
foi, viu o leproso deitado na cama, arrancou o lençol e disse: “O que é isso? O
que significa esse homem deitado nesse leito?” Ela respondeu: “Meu esposo, este
homem é Nosso Senhor Jesus Cristo”. No momento em que disse isso, deu-se o
milagre e o duque viu - na pessoa do leproso - Nosso Senhor Jesus Cristo,
sentindo um cheiro admirável de rosas que se exalava da pessoa do leproso.
Então, ficou profundamente impressionado e a sogra perdeu a partida...
O
duque era muito bom homem, mas morreu e a perseguição se desencadeou em cima
dela de um modo trágico. Os senhores vêem, ela que era a duquesa do lugar e
filha de rei, teve que morar num estábulo de porcos. Quer dizer, foi a pior das
perseguições. E uma coisa tremenda, que nos faz ver bem qual é a realidade das
misérias humanas, é a seguinte: muitas vezes eram pessoas que tinham sido
cumuladas por ela com toda espécie de liberalidades que se manifestavam frias a
seu respeito na hora de perseguição. Em vez de ir ao encontro dela, se
afastavam, mantinham distância e na hora da perseguição, se afirmavam frias em
relação à sua benfeitora.
Houve
uma famosa noite em que ela foi a um convento. Foi muito bem recebida lá, mas
depois teve que se retirar, porque o cunhado estava se aproximando para
persegui-la. Então saiu dessa abadia, onde tinha mandado cantar um Te Deum para dar graças a Deus pelos sofrimentos
pelos quais estava passando. E caiu uma chuva medonha em cima dela e dos
filhos. Mas chuva de inverno europeu, os senhores não podem ter idéia do que é,
porque chove água gelada, para não dizer que chove gelo. É uma coisa tremenda!
E ela no mato, sofrendo aquilo tudo...
Nesse
momento teve até um momento de desfalecimento e parece que lhe passaram pela
cabeça umas dúvidas quanto à fé, a respeito das quais não se sabe bem qual foi
o grau de seu consentimento. E se penitenciou a vida inteira disso - para os
senhores verem como o homem é fraco... Mas a Providência a perdoou e, afinal de
contas, ela levou anos de penitência, chegando até à mais alta santidade. Os
senhores vêem isso pelo fato de que a fortuna lhe foi restituída e, entretanto,
ela não quis mais voltar para as regalias antigas: quis passar o resto de sua
vida entre os pobres.
Seu
diretor espiritual era um capuchinho chamado Conrado, que a submetia a grandes
provações. Mas a Escritura diz: “repreende o justo e ele te amará”. Quer dizer,
quando o homem é justo, gosta de ser repreendido. Quando não gosta de ser
repreendido, tem que adquirir no caminho a justiça... Ela era justa e gostava
dessa direção espiritual, por certo muito pouco modern style, muito
pouco aggiornata.
Mas
era tal a consciência que tinham os habitantes da Turíngia do papel desse homem
em sua santificação que em honra dela mandaram construir um monumento a ele. Os
senhores estão vendo por aí a profundidade de conceito que eles tinham disso.
*
* *
Para
concluir, a fim de que os senhores vejam como a Revolução extingue ou tenta extinguir as coisas mais gloriosas e
mais admiráveis: uma das cenas mais famosas da pseudo-reforma
protestante foi a declaração da reforma, creio que na Turíngia. O landgrave
protestante chegando à porta da igreja, diante de um povo incontável, abre o
esquife de Santa Isabel da Hungria, ou o relicário onde ela está, e faz o vento
soprar em cima, o que espalha por todos os lados as cinzas da Santa... Isto é o
protestantismo. Esse landgrave era descendente de Santa Isabel e fazia isso na
qualidade de tal. Os senhores vejam até onde podem chegar as coisas e qual a
miséria da vida humana...
Temos
alguma coisa a pensar a respeito de Santa Isabel da Hungria? Certamente.
Devemos ver nessa santa a constância nas piores desgraças. Há duas formas de constância na desgraça:
uma consiste em a pessoa aguentá-la quando acontece. Mas há uma outra
forma: quando a pessoa prevê a desgraça e é capaz de antevê-la e de a fitar com
olhos calmos, é capaz de oferecer o sacrifício que terá ou que fará a Nossa
Senhora; é capaz de fazer a oração de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras: “Meu
pai, se for possível, afaste-se de mim esse cálice. Mas se não for, seja feita
a Vossa vontade e não a minha”.
Isto
é a vida de Santa Isabel da Hungria e é isto que devemos ter diante de nós: a
calma, a resignação de ver as desgraças pelas quais devemos passar e a
constância no decurso delas. O que não se pode conseguir a não ser seguindo
o exemplo adorável de Nosso Senhor
Jesus Cristo: na hora da aflição, orar e vigiar para não cair em tentação.
É isto que devemos fazer, por meio
da prece onipotente de Nossa Senhora.
(Plínio Corrêa de Oliveira - Santo
do Dia, 18 de novembro de 1966)
domingo, 15 de novembro de 2020
SANTO ALBERTO MAGNO
A respeito de Santo Alberto há aqui uma biografia muito interessante:
“Alberto, o
Grande, nasceu por volta de 1206, em Lauingen, na Baviera. Depois de uma
educação cuidadosa, recebida em sua infância, foi estudar Direito em Pádua. Lá
ele encontrou o bem-aventurado Giordano, mestre geral dos Irmãos Pregadores,
cujos conselhos o engajaram a entrar na família dominicana.
“Logo se fez
notar por sua terna e filial devoção para com Nossa Senhora, e pela fidelidade
de sua observância monástica. Enviado a Colônia para completar os seus estudos,
era tão aplicado que parecia ter penetrado todas as ciências humanas, mais do
que nenhum de seus contemporâneos. Julgado digno de ensinar foi nomeado leitor
em Hildeshein, em Friburgo, em Ratisbona, em Strasburgo, enfim na Universidade
de Paris, onde demonstrou o acordo existente entre fé e razão, as ciências
pagãs e as ciências sacras. O mais ilustre de seus discípulos foi São Tomás de
Aquino, que lhe devia suceder na Sorbonne.
“Ele voltou a
Colônia para dirigir os Capítulos Gerais de sua Ordem; foi nomeado provincial
na Alemanha, depois bispo de Ratisbona. Lá, se dedicou a seu rebanho e
conservou seus hábitos de simplicidade religiosa. Mas renunciou três anos
depois, em 1262. Desde então exerceu o ministério da pregação, agiu como
árbitro e pacificador dos príncipes e dos bispos; assistiu ao II Concílio de
Lyon e morreu em 1280. Por decreto de 16 de dezembro de 1931, Pio XI o
inscreveu no número dos santos e o nomeou Doutor da Igreja Universal.
"Em um vitral da
igreja dos Dominicanos de Colônia podia-se ler, a partir do ano de 1300, as
seguintes palavras: "Este santuário foi construído pelo bispo Alberto, flor dos
filósofos e dos sábios, modelo dos costumes, refulgente destrutor das heresias
e flagelo dos maus. Ponde-o, Senhor, no número dos vossos santos".
“Ele tinha por
natureza, segundo se diz, o instinto das grandes coisas. Assim, como Salomão,
implorou o dom da sabedoria, que une intimamente o homem a Deus, dilata as
almas e leva para cima o espírito dos fiéis. E a sabedoria lhe comunicou o
segredo de unir uma vida intelectual intensa, uma vida interior profunda e uma
vida apostólica das mais frutíferas, porque ele foi ao mesmo tempo, o iniciador de um poderoso movimento intelectual, um
grande contemplativo e um homem de ação”.
A linha geral da
vida de Santo Alberto Magno está bem expressa quando se diz que refulgiu ao
mesmo tempo nesses três dons. Ele se manifesta assim como uma daquelas grandes
figuras da Idade Média, que são seus construtores e consolidadores, a quem Deus
concedeu graças para se tornarem salientes em todas suas capacidades e
atividades, de tal maneira que se tivessem feito só uma de suas realizações já
bastariam para imortalizá-las.
Além de ter sido o
intelectual que foi, Santo Alberto Magno distinguiu-se como um grande religioso
e um grande contemplativo e, como santo, teria a imortalidade. Por outro lado,
como modelo de bispo, teria uma fama durável em sua pátria.
Por que a
Providência faz algumas pessoas brilharem na conjugação desses três dons
simultaneamente?
É para dar a
entender o seguinte: o homem deve ser
primeiro uma pessoa de vida interior, depois as outras coisas. E procedendo desse modo, coloca-se a mais
importante das condições para, nos outros campos, ser o que se deve.
Assim, Santo Alberto Magno foi muito
maior como intelectual porque tinha vida interior.
De maneira tal que
se simplesmente quisesse ser um grande intelectual – pela mera ambição de ser
intelectual – ele tinha vantagem em continuar a desenvolver primeiramente a
vida interior. Se simplesmente quisesse ser um homem de ação, pela mera
vantagem de ser como tal, ele deveria continuar a privilegiar a vida interior.
Porque a vida interior verdadeira e plena faz o homem executar a vontade de
Deus com toda perfeição, e lhe proporciona a plenitude de seus recursos
naturais, bem como os carismas e dons que o fazem decuplicar ou centuplicar
suas possibilidades. De maneira que se
fica muito maior nos outros campos precisamente porque no que era essencial se
soube ser grande.
Isso me faz lembrar
um dito de Dom Chautard – o famoso autor da “Alma de Todo Apostolado” – para um
político francês anticlerical, Clemenceau. Este último sabendo que Dom Chautard
estava envolto em mil atividades, lhe perguntou (o diálogo não é literal, mas o
conceito é esse): “Como o Sr. consegue levar a cabo tantas atividades num dia
de 24 horas?”, ao que obteve como resposta: “O segredo é que quando estou muito
ocupado, além de fazer tudo quanto faço, rezo o Rosário e acrescento outras
orações”...
É um paradoxo,
porque acrescentando seu Rosário com suas orações deveria diminuir o seu tempo
para as outras atividades. Mas nisso que parece uma brincadeira há uma verdade
profunda: se nós dermos a Deus todo o
tempo que devemos dar à vida interior, então para todas as outras coisas Deus
velará por nós e teremos tempo para tudo. Essa é a grande verdade que se
desprende dessa vida.
Eu gostaria de
analisar rapidamente aqui esse lindo elogio dele no vitral da igreja dos
Dominicanos de Colônia:
“Este santuário foi
construído pelo bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios..."
Atividades
positivas, construtivas.
"...modelo dos
costumes, refulgente destrutor das heresias..."
Os senhores. vêem
os dois aspectos juntos.
"...e flagelo
dos maus”.
Quando é que hoje se elogia alguém por ser um “refulgente destruidor das
heresias ou flagelo dos maus”? É uma coisa verdadeiramente incrível como caímos
a tal ponto que esse elogio desapareceu completamente...