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quinta-feira, 31 de agosto de 2017
NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA: FESTA DO INÍCIO DA DERROCADA DO PAGANISMO
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
SANTO AGOSTINHO E A CIDADE DE DEUS
domingo, 27 de agosto de 2017
O COLÓQUIO DE SANTO AGOSTINHO COM SANTA MÔNICA
Plinio Corrêa de Oliveira
No dia 28 passado, tivemos a festa de Santo Agostinho e não pudemos fazer um comentário de um trecho famoso de sua autobiografia. Aliás, recomendo muito este livro, as “Confissões” de Santo Agostinho, desde que a pessoa saiba lê-lo. Porque ele tem algumas digressões filosóficas que não estão ao alcance de qualquer leitor, mas a parte propriamente biográfica, que já de si é magnífica, é acessível e é estupenda!
Nas
“Confissões” há um trecho especialmente magnífico: é chamado o “Êxtase de Óstia” ou o “Colóquio de Óstia”. Hoje em dia se diria o “diálogo de Óstia”.
O
episódio é o seguinte: a mãe de Santo Agostinho, Santa Mônica (331–387), passou
uns trinta anos ou mais chorando a pedir a Deus a conversão de seu filho.
Parecia que quanto mais ela rezava, esta conversão se tornava mais longínqua.
Até que, de desatino em desatino, Santo Agostinho acabou por comer as bolotas
dos porcos e começou um processo de conversão que fez dele o grande Doutor da
Igreja.
Santo
Agostinho, já convertido, e Santa Mônica resolveram voltar para a África do
Norte, naquele tempo inteiramente romana, e mais especificamente para a cidade
de Cartago, de onde eram naturais, para ali residirem. E assim percorreram uma
certa parte da Itália para tomar um navio em Óstia, que é um porto pequeno
perto de Roma, mas que tinha naquele tempo uma certa importância. De lá iam
seguir para a África.
Encontravam-se
então numa hospedaria de Óstia, encostados junto a uma janela e começaram a
conversar a respeito de Deus e das coisas do Céu, quando os dois juntos tiveram
um êxtase.
Santo
Agostinho relata este colóquio extraordinário e é um dos trechos mais famosos
das “Confissões”. Poucos dias depois Santa Mônica morria, ainda estando na
cidade de Óstia. Sua missão na terra estava cumprida e Nosso Senhor a chamou ao
Céu para gozar do prêmio que merecia.
Então,
o último lance de sua vida foi exatamente a alegria de ter na terra com o filho
este colóquio, que era um prenúncio, um antegozo da visão beatífica. Tenho a
impressão que qualquer um de nós que passasse por Óstia, gostaria de ver se
ainda existe essa hospedagem.
Resolvi
ler aqui a narração desse colóquio, porque é um página célebre e abre os nossos
horizontes para os grandes portentos na perspectiva da hagiografia e da
doutrina católica. O trecho é extraído diretamente das “Confissões”:
“Próximo
já do dia em que ela ia sair desta vida - dia que Vós conhecíeis e nós
ignorávamos...”
Estas
interpelações diretas de Santo Agostinho a Deus são magníficas. Os senhores
deveriam ler os “Solilóquios” de Santo Agostinho, que há em nossa biblioteca e
que são qualquer coisa de absolutamente estupendo.
“...sucedeu,
segundo creio, por disposição de Vossos secretos desígnios, que nos
encontrássemos sozinhos, ela e eu, apoiados a uma janela cuja vista dava para o
jardim da casa onde morávamos. Era em Óstia, na foz do Tibre, onde, apartados
da multidão, após o cansaço duma longa viagem, retemperávamos as forças para
nos embarcarmos.
“Falávamos a sós, muito docemente, esquecendo
o passado e dilatando-nos para o futuro. Na presença da Verdade, que sois Vós,
alvitrávamos qual seria a vida eterna dos santos, que 'nunca os olhos viram,
nunca o ouvido ouviu, nem o coração do homem imaginou'.”
Vejam
que beleza: dois santos conversando sobre qual seria a vida eterna dos santos,
e a alegria de Santa Mônica em sentir aquele filho perdido que agora estava
incendiado de desejos de contemplar o Céu. É uma verdadeira maravilha!
“Sim,
os lábios do nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste da nossa
fonte, a fonte da Vida, que está em Vós, para que aspergidos segundo a nossa
capacidade, pudéssemos de algum modo pensar num assunto tão transcendente.”
Faço
notar aos senhores a maravilha da expressão “os lábios do coração”... quer
dizer, aquilo por onde o coração bebe, por onde o coração sorve, estavam
abertos para receber de Deus aquilo que nesta vida terrena se pode receber a
respeito das alegrias do Céu.
“Encaminhamos
a conversa até a conclusão de que as delícias dos sentidos do corpo, por
maiores que sejam e por mais brilhante que seja o resplendor sensível que as
cerca, não são dignas de comparar-se à felicidade daquela vida, nem mesmo que
delas se faça menção. Elevando-nos em afetos mais ardentes por essa felicidade,
divagamos gradualmente por todas as coisas corporais até ao próprio céu, donde
o sol, a lua e as estrelas iluminam a terra.”
É
uma verdadeira procura do absoluto. Eles começaram a considerar: primeiro as
coisas da terra, que lisonjeiam os sentidos, porque estavam no Império Romano
decadente, em que havia fortunas fabulosas e pessoas que tinham luxo para
deleitar os sentidos de que os srs. não têm idéia. Então, o primeiro confronto
é da felicidade celeste para a felicidade dos homens, que no tempo do Império,
eram tidos como felizes. Resposta: isto não é nada. Então, começam a perguntar:
como é então? E começam a percorrer os céus, a imaginar com os dados do céu
material e visível, como seria o paraíso celeste material, mas invisível, e
como seria a glória da visão beatífica que neste paraíso se goza. É este o
esquema da conversa deles. Então continua:
“Subíamos
ainda mais em espírito, meditando, falando e admirando as Vossas obras.
Chegamos às nossas almas e passamos por elas para atingir essa região de
inesgotável abundância, onde apascentais eternamente Israel com o pastio da
verdade. Ali a vida é a própria Sabedoria, por Quem tudo foi criado, tudo o que
existiu e o que há de existir, sem que ela própria se crie a si mesma, pois
existe como sempre foi e como sempre será. Antes, não há nela 'ter sido', nem
'haver de ser', pois simplesmente ‘é’, por ser eterna.”
Ou
seja, depois de ter considerado todas as coisas materiais, começaram então a
considerar a alma como elemento para se ter algo da idéia da beleza, da
perfeição de Deus. E depois de considerar a alma, chegaram à conclusão de que
no ápice de tudo isto figurava a Sabedoria Eterna e Incriada. Essa Sabedoria
que é eterna, que não tem passado, nem presente e nem futuro. Foi nessa
consideração sapiencial, suprema, que os espíritos deles se detiveram.
“Enquanto
assim falávamos, anelantes pela Sabedoria...”
Quer
dizer, visando conhecer a Deus enquanto Sabedoria, enquanto fim e explicação de
todas as coisas. Os senhores vêem como isto é diferente de uma meditação
“heresia branca”.
“...atingimo-la
momentaneamente num vislumbre completo do nosso coração.”
É
o êxtase. Enquanto conversavam a respeito dessas coisas, conduzidos pela graça
de Deus, em certo momento a Sabedoria se revelou a eles, e tiveram um fenômeno
místico por onde viram Deus.
Os
senhores vêem que é algo muito natural: são dois santos que tem uma conversa
que é uma oração; esta vai subindo de voo, de ponto em ponto, e quando chega ao
seu ápice, então lhes aparece Deus Nosso Senhor, mas aparece de maneira a
fazê-los conhecer enquanto Sabedoria Eterna. E tudo isto com tanta
simplicidade, numa janela de uma
hospedaria de Óstia...
“Suspiramos
e deixamos lá agarradas as primícias de nosso espírito.”
Quer
dizer, o que havia de melhor neles ficou na visão, não voltou para a terra.
“...Voltamos
ao vão ruído dos nossos lábios, onde a palavra começa e acaba. Como poderá
esta, meu Deus, comparar-se ao Vosso Verbo, que subsiste por si mesmo, nunca
envelhecendo e tudo renovando?”
Aqui
está uma insinuação de que Deus lhes disse uma palavra. Naturalmente é o Verbo.
E que isto que foi dito por Deus sobre Sua própria Sabedoria, foi qualquer
coisa tal que o que continuassem a conversar seria um balbucio. A visão cessou
e as palavras deles eram umas coisas vazias à vista do que Deus havia revelado
de Si mesmo.
“Dizíamos
pois: suponhamos uma alma onde jazem em silêncio a rebelião da carne, as vãs
imaginações da terra, da água, do ar e do céu...”
É
a doutrina dos quatro elementos.
“Suponhamos
que ela guarde silêncio consigo mesma, que passa para além de si, nem sequer
pensando em si; uma alma na qual se calem igualmente os sonhos e as revelações
imaginárias, toda a palavra humana, todo o sinal, enfim, tudo o que sucede
passageiramente.
“Imaginemos
que nessa mesma alma existe o silêncio completo, porque se ainda pode ouvir,
todos os seres lhe dizem: ‘Não nos fizemos a nós mesmos, fez-nos O que
permanece eternamente’. Se ditas estas palavras os seres emudecerem, porque já
escutaram quem os fez, suponhamos então que Ele sozinho fala, não por essas criaturas,
mas diretamente, de modo a ouvirmos a sua palavra, não pronunciada por uma
língua corpórea, nem por voz de Anjo, nem pelo estrondo do trovão, nem por
metáforas enigmáticas, mas já por Ele mesmo.
“Suponhamos
que ouvíamos Aquele que amamos nas criaturas, mas sem o intermédio delas, assim
como nós acabávamos de experimentar, atingindo num vôo de pensamento, a Eterna
Sabedoria que permanece imutável sobre todos os seres”.
Quer
dizer, ele imagina uma alma que não cogita de nada mais criado, que consegue abstrair
de tudo e que de repente ouve uma palavra de Deus que diz alguma coisa a
respeito de Si próprio.
“Se
esta contemplação continuasse e se todas as outras visões de ordem muito
diferente cessassem, se unicamente esta arrebatasse a alma e a absorvesse, de
modo que a vida eterna fosse semelhante a este vislumbre intuitivo - a visão
beatifica - pelo qual suspiramos, não seria isto a realização do “entra no gozo
do teu Senhor”? E quando sucederá isto? Será quando todos ressuscitarmos? Mas
então não seremos todos transformados?”
Ele
afirma então que se uma alma pudesse ficar eternamente apenas naquele
vislumbre, já teria um prazer paradisíaco inefável, extraordinário.
“Ainda
que isto, dizíamos, não pelo mesmo modo e por estas palavras, contudo, bem
sabeis, Senhor, quanto o mundo e os seus prazeres nos pareciam vis, naquele dia
quando assim conversávamos. Minha mãe acrescentou ainda: ‘Meu filho, quanto a
mim, já nenhuma coisa me dá gosto nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui,
nem porque ainda cá esteja, esvanecidas já as esperanças deste mundo. Por um só
motivo desejava prolongar um pouco a minha vida: para ver-te cristão e
católico, antes de eu morrer. Deus concedeu-me esta graça superabundantemente,
pois vejo que já desprezas a felicidade terrena para servirdes ao Senhor. Que
faço, eu, pois, aqui?’”
Dias
depois ela morreu.
Santa
Mônica, nesta visão, teve o prenúncio de sua própria morte, compreendeu que não
tinha nada mais para fazer. Agora os senhores considerem a diferença de uma
grande santa com uma mãe piegas. Esta última diria: “Agora que meu filho está
convertido, começou para mim a vida! Eu vou ouvir os sermões dele, vou ver suas
obras, vou viver com ele uma vida gostosinha na casa episcopal, admirando a
virtude e o talento daquele que eu gerei para a vida natural e que eu
arranquei, pelas minhas orações, à morte eterna, para dar um grande santo.
Agora é que está bom...”
Santa
Mônica não queria ver seu filho para nada disso. Ela o queria para Deus. Quando
sentiu que Santo Agostinho estava nas mãos de Deus, não quis perder tempo vendo-o servir a Deus. Alguns dias
depois ela expirou.
É
uma grande santa e seu último grande lance da vida narrado por um grande santo.
Aí
vemos um pouco o que é a vida de um santo, quando não é descrita por um
“heresia branca”. Os senhores vêem quantas coisas há de comum com essa narração
– e das quais já tinha me esquecido inteiramente – com as conferências sobre a
“Procura do Absoluto” e temas conexos que temos feito aqui ultimamente.
(Conferência
“Santo do Dia”, 31 de agosto de 1965)
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
HÁ MAIS DE 30 ANOS QUE SE PERSEGUEM CATÓLICOS NA VENEZUELA
FATOS QUE
CULMINARAM COM O FECHAMENTO DA TFP DA VENEZUELA em 1984
Os fatos narrados a
seguir, extraídos de uma obra da TFP publicada na época em que os mesmos
ocorreram, mostram os antecedentes da nuvem negra comunista que começou a
baixar sobre a Venezuela já desde os anos 80 do século passado. Ao mesmo tempo
prenuncia que tipo de perseguições poderão estar ocorrendo neste momento contra
as entidades cívicas ou religiosas naquele país que combatem ou pelo menos não
concordem com a ideologia marxista.
A história de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela, relata o fato de que o índio jogou uma pedra na imagem da Virgem Santíssima quando esta lhe apareceu para lhe transmitir uma mensagem divina. A imagem permaneceu milagrosa e indelevelmente gravada na pedra, fato que motivou a conversão do índio. A perseguição aos filhos e devotos de Nossa Senhora ocorrida em 1984 pode significar atitude semelhante à do índio que atirou a pedra na mensageira divina. Esperamos que algo possa acontecer nos dias de hoje, de uma forma ou de outra, que possa converter a Venezuela e a faça voltar aos braços da Virgem Maria. Só desta forma a tirania comunista poderá um dia ser definitivamente banida daquele país.
Eis o relato do que ocorreu naquele ano:
1984
Lei iníqua,
campanha de Resistência
JUNHO – Ante a
possível aprovação de projetos de lei submetidos à consideração do Congresso, e
que poderiam afetar a fundo o futuro do País, a Associação Civil Resistência
julga seu dever fazer ouvir sua voz no campo dos princípios. Publica então o
manifesto O socialismo gerou a maior crise sócio-econômica das últimas décadas
– e a lei de Custos, Preços e Salários vai agravá-la (29). O documento mostra
que a Venezuela foi sendo conduzida gradualmente para onde não queria nem devia
ir: rumo ao Estado socialista. O semanário "Tribuna Popular", do
Partido Comunista, ataca violentamente, em primeira página, a campanha de
Resistência.
36 dias depois...
AGOSTO – Trinta e
seis dias depois da campanha de Resistencia a respeito da lei de Custos, preços
e salários, o governo socialista do Presidente Lusinchi começa a desencadear
contra a entidade o mais violento "estrondo publicitário" da história
do País, dando origem a verdadeira perseguição ideológico-religiosa.
A polícia
caraquenha invade o imóvel da sede social da entidade, alegando ter recebido
denúncia (anônima) de que ali havia menores seqüestrados. Procede ela à
vistoria, obviamente nada encontrando.
Depois de um
pequeno hiato, a campanha publicitária toma no mês de outubro proporções
gigantescas. Em poucas semanas, 600 notícias de jornais contra Resistência são
publicadas tão-só em Caracas (das quais 100 em apenas dois dias...), sendo
levadas ao ar nada menos que 20 horas de programação de TV. As acusações
estapafúrdias se repetem sem cessar, como, por exemplo, a de que todos os anos,
no mesmo dia, um membro de Resistência pratica o suicídio ritual. À longa lista
de absurdos não podia faltar a calúnia, já desmentida e desprestigiada no
Brasil, de que a TFP deste País havia promovido exercícios de tiro, utilizando
como alvo uma foto de João Paulo II (*).
(*) Em muitas das
acusações então veiculadas contra Resistência pode-se reconhecer o estilo do
norte-americano Lyndon La Rouche, mentor de uma rede de organizações cívicas,
culturais, financeiras e políticas, e de uma cadeia de agências de notícias, a
qual, segundo foi possível comprovar, alimentou de inverdades delirantes o
"estrondo" venezuelano em toda a duração dele (cfr. "Ultimas
Noticias", Caracas, 13-10-84 e "2001", Caracas, 14-2-85).
Posteriormente, Lyndon La Rouche foi condenado a 15 anos de prisão pela Justiça
norte-americana, por estelionato ("Folha de S. Paulo", 28-1-89).
Resistência e o
Bureau Tradicão, Família, Propriedade (também atingido pelo
"estrondo") se defendem serenamente, refutando uma a uma, sem
exceção, todas as acusações concernentes a seus respectivos âmbitos. As portas
das redações dos jornais se fecham para suas respostas, mas elas são publicadas
como anúncios pagos. Não há tréplicas. Os promotores do "estrondo
publicitário" retomam as mesmas acusações, como se nada tivesse sido dito
pela TFP em sua defesa.
De seu lado,
Ministros do Governo Lusinchi se associam ao coro, comparecendo diversas vezes
à televisão para atacar Resistência.
Dramática atuação
Cinco ou seis
famílias – os jovens de Resistência eram cinqüenta – se mostram inconformes com
o fato de seus filhos colaborarem com Resistência. De início, começam a
molestá-los. Depois se põem a difamar publicamente o conjunto dos jovens de
Resistência, entre os quais seus próprios filhos, pela imprensa e televisão,
fato inconcebível, e até do qual o público venezuelano não conhece precedentes.
Pouco depois, pedem à Procuradoria Geral da República e à Polícia Política
(DISIP) que coarctem a liberdade de movimento dos jovens de Resistência,
proibindo-os – a eles que são, todos, maiores de idade – de ausentar-se do
País, e ao mesmo tempo solicitam aos corpos de segurança do Estado que os
interroguem em presença de psicólogos, para estabelecer se sofreram "lavagem
cerebral" em Resistência ou na TFP brasileira, que haviam visitado durante
as férias.
Os órgãos policiais
do Governo socialista Lusinchi, que pareciam não esperar senão exatamente pela
desconcertante iniciativa dos pais inconformes, no dia seguinte ao pedido se
colocam em ação, começando imediatamente os interrogatórios e prolongando-os
por oito dias. Alguns dos jovens têm que permanecer até onze horas consecutivas
na polícia, sem que lhes seja permitido comer e, em muitos casos, nem beber. A
ferocidade policial é alternada com provocações e diversos processos de pressão
moral e psíquica (*).
(*) Tudo lhes foi
perguntado, desde qual era a influência da cor vermelha em sua vida, até
assuntos íntimos. Ou relativos à liturgia! Ao mesmo tempo, mulheres da polícia os
ultrajavam, com convites lascivos, narrações obscenas, e caçoadas. Alguns
tiveram que se submeter a exames toxicológicos, testes psiquiátricos e
neurológicos e "avaliações" antropométricas.
A sede de
Resistência volta a ser vistoriada (e o é quatro vezes em poucas semanas...),
sem que seja possível impugnar de forma documentada a associação no que quer
que seja. Diante da nítida perseguição policialesca, esses jovens (o mais velho
mal chegava aos 30 anos) professam sua fé católica e se mantêm firmes na sua
adesão aos princípios da organização que integram. Seria, portanto, de esperar
que da parte da Hierarquia da Igreja da Venezuela lhes chegasse alguma palavra
de conforto. Em vez disto, Resistência é atacada publicamente por um Bispo e
vários Sacerdotes. O Cardeal José Ali Lebrun, Arcebispo de Caracas (que
recebera em seu Palácio, abençoara e desejara sorte ao candidato presidencial
marxista, o ex-guerrilheiro comunista Teodoro Petkoff), nega-se a receber os
membros de Resistência quando estes lhe solicitam uma entrevista, e até quando
a ele recorrem pelo telefone, o Prelado corta a ligação depois de lhes fazer
uma áspera invectiva. Nos mesmos dias, recebe demoradamente em audiência o
grupinho de pais hostis. Nenhum dos membros do Episcopado venezuelano responde,
nem sequer nos limites mínimos de cortesia prescritos pelas boas praxes, a uma
filial e respeitosa circular, em que Resistencia pede alguns esclarecimentos e
se põe à disposição para qualquer elucidação.
Uma Comissão
Parlamentar de Inquérito
Na segunda semana
de novembro, o "estrondo publicitário" é marcado, sobretudo, por uma
tumultuosa sessão da Comissão de Política Interior do Congresso para interpelar
os dirigentes de Resistência. Nela, os discursos anti-Resistência se sucedem, e
os dirigentes da entidade têm poucas oportunidades para se fazerem ouvir. O
discurso inicial, do deputado David Morales Bello, Presidente da Comissão, já
prejulga Resistência, pois afirma tratar-se de uma associação legal apenas na
aparência, mas ilegal nos fatos, por violar a Constituição. O deputado não aduz
qualquer prova a suas acusações. Os outros discursos são do mesmo gênero: a
Comissão condena Resistência antes mesmo de começar a ouvi-la...
Em sentido
contrário, o Dr. José Rodriguez Iturbe, democrata-cristão, atual Presidente
da Câmara de Deputados, levanta-se para pedir que seja examinado, antes de
mais nada, se há provas dos fatos alegados, e quais deles são ilegais. Sua
proposta é acolhida agressivamente pela mesa, originando-se daí até um
incidente.
A suspensão das
atividades por decreto
O fechamento de
Resistência e do Bureau pelo governo socialista sobrevém no dia 13 de novembro
de 1984, em meio a uma sucessão frenética de acontecimentos.
No dia anterior, o
Comitê Executivo da Ação Democrática, partido integrante da Internacional
Socialista, ao qual está filiado o Presidente Lusinchi, pedira formalmente que
Resistência fosse fechada, e que não se permitisse sua atuação no País.
Pela manhã do dia
13, realiza-se um debate na TV, de quase três horas, ao qual comparecem os
jovens de Resistência, tendo terminado com nítida vantagem para estes, como
prova o fato de o Governo ter proibido a reprise do programa, já anunciada pela
emissora de televisão.
Estranhamente, como
"adivinhando" que algo de sensacional estava por suceder, um batalhão
de jornalistas e fotógrafos apresenta-se nos portões da sede, acompanhados
pelos pais inconformes. Surge também uma chusma de agitadores (alguns dos quais
portando paus e facões) liderados por dois deputados socialistas dos que mais
se destacaram na luta contra Resistência.
A polícia é
prevenida com insistência pela entidade visada, entretanto não comparece.
Seguem-se brados de slogans, o arrombamento do grande portão, a invasão dos
jardins e o apedrejamento da sede. Tudo com transmissão simultânea pela TV.
No começo da noite,
quando o show revolucionário chega a seu climax, comparece diante das câmaras
de televisão o Ministro da Justiça, Manzo Gonzales, e lê o decreto da suspensão
das atividades de Resistência e do Bureau, decreto esse assinado por ele e pelo
Ministro do Interior, Octavio Lepage, em nome do Presidente Lusinchi.
Até adversários
estranham
Nos dias seguintes,
conhecidas personalidades do mundo político, jurídico e jornalístico
venezuelano – inclusive o ex-presidente Rafael Caldera – saem a público para
manifestar sua estranheza ante a medida ditatorial do Governo Lusinchi. A
maioria delas diz não concordar com Resistência, mas verbera com vigor esse
atentado contra o regime de liberdade, juridicamente vigente no País (cfr.
"Catolicismo", n° 410, fevereiro de 1985). O Cardeal Lebrun, contudo,
declara que "as autoridades competentes do País atuaram conforme as leis
do Estado proibindo o funcionamento da organização" (30).
A TFP brasileira
fez publicar comunicado intitulado Perseguição ideológico-religiosa na
Venezuela – Nuvem negra baixa sobre o País irmão, o qual põe em realce a inocência
de Resistência e o inequívoco caráter persecutório da atitude governamental
(31). Esse comunicado foi publicado pelas diversas TFPs um pouco por toda
parte, em toda a América do Sul.
Declaração de
inocência
A batalha
prosseguiu, entretanto, junto ao Poder Judiciário, onde tramitavam vários
processos de caráter penal, civil e administrativo em que Resistência e o
Bureau ora eram autores, ora réus. Os mais importantes eram duas averiguações
penais, que terminaram, ambas, inocentando completamente Resistência. A
primeira dessas vitórias se concretizou em 19 de dezembro de 1984, quando a
Procuradoria (Fiscalía) Geral da Nação desistiu de formalizar recurso à Corte
Suprema de Justiça contra a sentença absolutória das instâncias inferiores, com
o que foi encerrada a investigação originada da primeira vistoria na sede da
entidade – em agosto de 1984 – por não existir nada que indicasse a prática de
qualquer delito por parte dos membros da associação.
No segundo processo
penal houve muitas delongas e vicissitudes; finalmente, no dia 30 de dezembro
de 1985, o Juiz do 14° Juizado Criminal de Primeira Instância do Distrito
Federal, Dr. Saúl Ron Braasch, declarou terminada a averiguação judicial
"por não se revestirem de caráter penal os fatos denunciados". E no
dia 15 de maio de 1986 o Juiz do 10° Juizado Superior Criminal proferiu sentença
definitiva, que confirmou a decisão de primeira instância, declarando que a
ação penal estava extinta por se tratar de coisa julgada.
Era o veredito
inapelável da Justiça, mostrando que a atroz perseguição movida pelo Governo
Lusinchi carecia de qualquer fundamento.
Exílio
Mas, como se
compreenderá facilmente à vista dos fatos acima narrados, considerando o
procedimento violento e arbitrário do governo, os militantes de Resistência se
sentiram privados do benefício das garantias legais conferidas aos cidadãos
venezuelanos pela constituição. E entenderam ser preferível deixar sua Pátria
querida, à espera de dias melhores em que pudessem retornar para servir nela a
causa da civilização cristã. Em conseqüência, estão eles hoje colaborando, em
sua grande maioria, com as TFPs de outros países.
Asociación Civil
Resistencia
Presidente:
Francisco Dorronsoro Basterrica
Vice-Presidente:
Francisco Berrisbeitia Hernandez
Notas (neste
excerto só foram consideradas as notas de número 29 em diante)
(29) Publicado em
"Resistencia en 30 dias"; "El Universal" e "El
Mundo", 26-6-84, e difundido em campanhas de rua.
(30) "El
Universal", Caracas, 17-11-84.
(31) "Folha de S. Paulo", 14-11-84; e "A Tribuna", São Carlos (SP), 25-11-84. Resumo do comunicado foi divulgado pela France Press em despacho de 16-11-84; "Folha de S. Paulo", 16-11-84; "Jornal da Bahia", Salvador, "Última Hora", Rio e "Jornal do Brasil", Rio, todos em 17-11-84; "Diário de Pernambuco", 18-11-84; "O Estado do Paraná", 20-11-84; "O Dia", Rio, "Tribuna do Ceará", Fortaleza, "Correio Braziliense", todos em 21-11-84; "A Tarde", Salvador, 24-11-84; "Jornal do Comércio", Recife, 25-11-84; "Diário do Povo", Campinas (SP), 28-11-84; "O Jornal", Uruguaiana (RS), 29-11-84.
(UM HOMEM, UMA OBRA, UMA GESTA – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira – Edições Brasil de Amanhã – São Paulo – págs. 389/391
VEJA NOSSA POSTAGEM ANTERIOR: A QUEM APROVEITA A VENEZUELA SER DOMINADA POR REGIME COMUNISTA?