sábado, 28 de novembro de 2015

PECADOS QUE CLAMAM AOS CÉUS POR VINGANÇA





Deus já emitiu todos os seus juízos sobre nossa época? Tudo indica que pelo menos a maioria, sim; faltando se cumprir o último deles que seria apenas o cumprimento dos castigos. Vejamos que tipos de pecados mais clamam pela culminação de tais juízos.

A)           Pecados que clamam aos Céus

Os chamados pecados que “clamam aos céus e pedem a Deus por vingança” são aqueles que envolvem uma especial malícia e repugnância abominável contra a ordem social humana criada por Deus.

São estes:

1º. O homicídio voluntário, como o praticado por Caim (Gn 4, 10), de cujo pecado Deus disse: “voz do sangue do teu irmão clama da terra por mim”. A avalanche de pecados desta natureza ocorre com tanta freqüência hoje em dia que dispensa maiores comentários. O único agravante é que tais pecados sejam praticados pelo Estado em nome da própria sociedade e para a implantação de regimes ditatoriais, materialistas e ateus. Estamos numa época em que o homicídio voluntário é praticado como arma de guerra psicológica, como método de terror, como vingança entre quadrilhas, como meio para se fazer extorsões e se adquirir riquezas e, finalmente, como tortura e perseguição religiosa. As modalidades de homicídios vão se requintando e se tornando coisas tidas como normais, ocorridas também entre familiares, entre irmãos, de pai para filho e de filho para pai. Vivemos numa época em que os homicídios são cometidos por atacado, em toda a terra, sob os diversos motivos e às vezes até mesmo sem motivo nenhum...  Não já estão clamando a Deus por vingança? Como ponto máximo desse pecado, tornou-se já rotineiro a ação de “serial killer” que saem matando as pessoas a esmo, a maioria deles se suicidando em seguida.

2º. A sodomia, pecado abominável condenado no Antigo e no Novo Testamento.
É comum o entendimento de que o pecado de sodomia só se refira ao relacionamento homossexual.  No entanto, é bom que se frise que a sodomia se refere a todo pecado que é contrário à natureza e à procriação, tendo o homossexualismo como ponto máximo, porém não o único. Pode ser chamado também ato de sodomia qualquer pecado de sexo que seja contrário ao ato natural, hoje praticado pela sociedade moderna de uma forma protuberante, maciça, estonteante mesmo.
Assim, inscrevem-se neste rol de pecados contra natureza aquilo que São Paulo chama de “inversão sexual” ou então o que, não só os homens, mas as próprias mulheres romanas faziam (hoje também um pecado comum) ao “mudarem o uso natural em outro uso, que é contra a natureza”. (Rom 1, 24-32).  Comentando essa epístola de São Paulo São João Crisóstomo diz: “Considerai como o Apóstolo reputa aos pecados de sodomia indignos de perdão, da mesma forma que os dogmas errôneos. E das mulheres diz: “Trocaram o uso natural”. Porque essas não podem alegar que foi por falta de união conforme a natureza que recorreram a essa depravação; e nem que, por não poder satisfazer sua inclinação natural que caíram nesses furiosos desejos alheios a seu próprio sexo, porque a troca é própria de quem já possui algo...”
 O principal pecado de Onan (Gn 38, 8-10) foi o de impedir a procriação e, por isso, tido como um ato abominável por Deus e punido com a morte. Porém a Igreja não circunscreve tal pecado (impedir a procriação) como aqueles que clamam aos céus por vingança e sim o de sodomia.  Deste modo, é provável que Onan tenha praticado num só pecado duas ofensas a Deus: o impedimento da procriação (que interrompia a continuidade hereditária que geraria o Messias, pois tratava-se da tribo de Judá) e o ato contrário à natureza, este sim, a sodomia, que clama a Deus por vingança e sujeito ao castigo de morte. E deve ter sido este último que clamou a Deus por vingança.
De que modo Onan impediu sua esposa de conceber?  A Sagrada Escritura não o diz, mas ele deve ter usado um recurso compatível aos atos contrários à natureza. Alguns moralistas dizem que ele usou um recurso para bloquear o sêmen, algo talvez difícil de se proceder em seu tempo a não ser por métodos grosseiros. Teria ele forçado sua esposa a “mudar o uso natural” como se refere São Paulo e praticado a sodomia? Ou teria usado algum recurso contraceptivo ensinado por feiticeiros? Qualquer que tenha sido o recurso, sofreu tamanha repulsa divina que lhe provocou a morte.
O pecado de sodomia, e não somente o de homossexualismo, teria motivado os conhecidos castigos de Deus, matando não só uma pessoa como Onan, mas cidades inteiras como Sodoma e Gomorra, ou até mesmo as cidades romanas Herculano e Pompéia, destruídas pelo vulcão Vesúvio, pois eram ninhos de abominações de pecados contrários à natureza, como sodomia e homossexualismo. Se a tanto chegou Deus por causa de um ou outro homem, o que não dizer hoje de cidades ou até mesmo povos inteiros que praticam impune e atrevidamente tais pecados?

3º.  A opressão dos pobres, viúvas e órfãos.  De tal forma este pecado mancha o nosso tempo que dele assim falou o Papa Pio XII: “Que nenhum de vós pertença ao número daqueles que, na imensa calamidade em que há caído a família humana, não vêem senão uma ocasião propícia para enriquecer-se iniquamente, tomando pé da miséria de seus irmãos e aumentando mais e mais os preços para obter um lucro escandaloso. Contemplai suas mãos! Estão manchadas de sangue, do sangue das viúvas e dos órfãos, das crianças e adolescentes, dos impedidos ou atrasados em seu desenvolvimento por falta de nutrição ou pela fome, do sangue de milhares e milhares de infortunados de todas as classes do povo que derramaram seus carniceiros com seu inglório tráfico, Este sangue, como o de Abel, clama ao céu contra os novos Cains”  (AAS 37 (1945) 112).

4º. Defraudação do salário do trabalhador, que clama a Deus por vingança conforme o Apóstolo São Tiago: “Eis que o salário dos trabalhadores, que ceifaram os vossos campos, o qual foi defraudado por vós, clama, e o clamor deles subiu até aos ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tiago 5, 4). A maior defraudação do salário do trabalhador se deu quando o Estado se arrogou no direito de se apropriar dos frutos deste salário, os bens socializados pelos regimes comunistas e socialistas implantados no decorrer do século XX. Embora o regime comunista esteja hoje diluído, a legislação moderna, toda ela socialista até mesmo em países como os Estados Unidos, sofre do bafejo dos ideais marxistas, o qual propugna a tese igualitária da expropriação de todos os bens (que é o fruto do salário do trabalhador) pelo Estado. Não há um país moderno que não tenha sofrido a influência de tal legislação, justificando a afirmação da Santíssima Virgem em Fátima: “A Rússia espalhará seus erros pelo mundo”. 
Um quinto tipo de pecados que bradam aos céus e clamam a Deus por vingança seria o da idolatria satânica, revestido este com o maior grau de maldade e malícia que se pode imaginar. No entanto, tal pecado se inscreve como aqueles cometidos contra o Espírito Santo e cuja vingança Deus deixa para a outra vida com um castigo ainda pior, a condenação eterna. O satanismo, ou o pecado de Revolução, é um ato que envolve malícia especial e se reveste de repugnância abominável contra toda a ordem social (humana, angelical e divina), da qual Deus é expulso e colocado Satanás em seu lugar. É a inversão da Ordem que Deus colocou no Universo.  Deste modo, tratar-se-ia de um pecado que brada aos céus e clama a Deus por vingança, mas vingança exigida pela própria Ordem que Deus estabeleceu no Universo e punível com as penas eternas.

B) Os pecados contra o Espírito Santo

São aqueles que se cometem com refinada malícia e desprezo formal dos dons sobrenaturais que nos livrariam diretamente do pecado.  São como blasfêmias contra o Espírito Santo, a Quem compete a nossa santificação.

Constituem-se pecados contra o Espírito Santo:

A desesperação: obstinada persuasão da impossibilidade de conseguir de Deus o perdão dos pecados e a salvação eterna. Este foi o pecado de Judas e é um pecado, hoje, comum aos drogados, roqueiros, ateus, etc. A desesperação é um prato comum nos dias atuais com a pregação de suicídios,  a prática de abortos e da eutanásia, o desengano geral com a desintegração dos Estados e grande frustração por não se encontrar ninguém mais falando em solução para os problemas de nosso tempo.  Um exemplo de tal estado de espírito pode ser caracterizado pela declaração de um jornalista: segundo ele, seu pai, ateu confesso, estando já velho chamou seus filhos e lhes disse que se por acaso ao chegar o momento da morte chamasse um sacerdote, pedia firmemente que negasse atender tal pedido, pois considerava que isso seria um desvio mental. O jornalista conta isso como afirmação categórica do “fundamentalismo ateu” e se diz satisfeito pelo fato do pai ter morrido sem haver solicitado a presença de um padre. No entanto, este estado de espírito não é próprio apenas daquele jornalista e de seu pai, mas de toda a sociedade moderna.
A presunção: temerária e excessiva confiança na misericórdia de Deus, esperando a salvação eterna sem arrepender-se dos pecados e mudar de vida. Este é um pecado hoje praticado por protestantes de todas as seitas e membros das chamadas igrejas ortodoxas orientais. O mesmo pode se dizer dos judeus empedernidos que não querem aceitar Nosso Senhor Jesus Cristo como o Messias e se julgam mesmo assim merecedores da vida eterna. É claro que há também uma infinidade de católicos que pecam por presunção, continuando sua vida de pecados na esperança de que, apenas na hora da morte, obtenha a graça da contrição e a salvação eterna.
A heresia: ou “impugnação da Verdade conhecida”.  Desta forma se peca desprezando o dom da Fé, dado pelo Espírito Santo, e contra a mesma luz divina. São tantas as heresias e hereges que existem em nosso tempo que seria difícil enumerar a todos ou ao menos os principais. Trata-se de um pecado coletivo que clama a Deus por reparação.
A inveja da graça fraterna: segundo São Tomás de Aquino é um dos pecados mais satânicos que se pode cometer, porque com ele “não só se tem inveja e tristeza do bem do irmão, senão da graça de Deus que cresce no mundo”.  Entristecer-se da santificação do próximo é um pecado direto contra o Espírito Santo, que concede benignamente os dons interiores da graça para a remissão dos pecados e santificação das almas. É o pecado cometido por Lúcifer, pecado dos demônios, por isso chamado de satânico. Em escala mundial este tipo de pecado é mais comum entre os muçulmanos e outros pagãos, os quais odeiam visceralmente todo o Ocidente pelo que ainda resta de cristão.  É também o pecado dos agnósticos, céticos e ateus que odeiam a Santa Igreja Católica Apostólica Romana e A querem destruir por inveja da proteção divina que lhe é própria.
A obstinação no pecado:  recusa das insinuações interiores da Graça divina e os sãos conselhos das pessoas sensatas e cristãs, não tanto para entregar-se com mais tranqüilidade a toda classe de pecados quanto por refinada malícia e rebelião contra Deus. Perante os reiterados avisos, ameaças e até de castigos incontestáveis os homens da atualidade comportam-se com a mais terrível das obstinações em seus pecados.
A impenitência deliberada: determinação de não arrepender-se nunca dos pecados e resistir a qualquer inspiração da graça para o arrependimento.  É o mais horrendo pecado contra o Espírito Santo, já que a pessoa se fecha voluntariamente e para sempre as portas à Graça divina.
Tais pecados são irremissíveis?  O pecado contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste nem no outro mundo, conforme se lê em São Mateus: “Por isso vos digo: Todo o pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, porém a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Todo o que disser alguma palavra contra o Filho do homem, lhe será perdoado; porém o que disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31 -33). De modo geral não há nenhum pecado que seja tão grave que a misericórdia infinita de Deus não possa perdoar, desde que o pecador dele se arrependa. Porém, como precisamente o pecado contra o Espírito Santo rechaça a graça de Deus e se obstina voluntariamente em sua maldade, é impossível que, enquanto permaneça nessas disposições, se lhe perdoe seu pecado, perdão que o próprio pecador se recusa obstinadamente a pedir.

C) A conjuração contra Deus

O termo “conjuração”, aqui usado, não se refere às tramas universais de certas sociedades movidas consciente e deliberadamente contra Deus e Sua Igreja, mas, por analogia, às inclinações que os homens têm de se unirem para, juntos, pecarem e ofuscar a Obra divina.
Quando Nossa Senhora previu em Fátima que várias nações seriam aniquiladas Ela deixou implícito que tal se daria com a morte das pessoas que comporiam tais nações. Tais castigos trarão então a morte como moeda corrente, que seria o ponto principal deles.  A morte será vista pelo ímpio como o ápice de seu desespero, enquanto pelo justo será como uma dádiva de Deus e uma porta para o Paraíso. Seria como último juízo de Deus contra os homens envolvidos numa conjuração universal contra Deus e sua glória aqui na terra.
Os pecados coletivos ofendem mais e atraem mais os castigos divinos. Quando uma pessoa peca individualmente afasta Deus de seu coração e nele entroniza Satanás.  Quando esta mesma pessoa procura uma outra e juntas praticam o pecado, aí então a malícia aumenta. Isto porque:
1º. Ocorre entre ambas uma espécie de conjuração contra Deus (impedindo que exerça Sua regência sobre aquelas almas), contando também com a participação do demônio;
2º. Os males que os demônios antes praticavam em cada pessoa separadamente, agora o fazem em conjunto, portanto com mais força;
3º. Quando grupos de pessoas cometem tais pecados, atingindo então famílias, cidades, sociedades inteiras, tal conjuração atinge a universalidade e clamam a Deus por castigos coletivos.
Se Eva tivesse pecado sozinha não teria feito tanto mal à humanidade e à glória de Deus, pois Adão teria ficado fora daquela “conjuração” contra Deus. O difícil é para nós imaginar como conviveria futuramente aquele casal, um no Paraíso terrestre e outro fora. Deus certamente estabeleceria outros planos para a Humanidade.
No sentido que analisamos, há uma conjuração contra Deus no mundo moderno?
Quando a prática de todo tipo de pecado sai do âmbito pessoal e passa a ser cometido por casais, por famílias, por sociedades inteiras;
Quando os pecados se transformam em leis, como o divórcio e o aborto, praticados ou aceitos por todos;
Quando se praticam coletivamente pecados contra a natureza, mesmo que se entenda que muitos perderam a noção do mal que fazem;
Quando enfim todas as nações da terra praticam ou toleram o adultério, a avareza, a inveja, a ganância, o homossexualismo, etc.
Aí então, pode-se dizer que estão todos envolvidos numa enorme conjuração universal contra Deus. Uma conjuração de homens e demônios contra Deus e Sua glória. Como frisamos acima, não se trata aqui da conjuração das forças secretas para destruir a Igreja e a Cristandade, esta uma empreitada (portanto, uma ação consciente, deliberada e premeditada) dos inimigos de Deus comandados por Satanás a partir de seu “trono”.

Princípios básicos dessa “conjuração”
A “idéia” dessa conjuração contra Deus começa no interior de cada alma. O pecado não é um simples ato de deleite, mas um estado de revolta contra Deus.  Até mesmo sem o saber, o pecado conta com um “sócio” em seus atos, que de início é o próprio demônio, mas logo encontra outra pessoa.  E a referida “conjuração” tem início num ato que é fruto de uma “união”, de uma quase combinação de interesses, entre o pecador e o demônio, efetivando-se futuramente com a adesão de uma outra pessoa. Aí teremos um pecado coletivo em sentido “minor”, cometido por apenas duas pessoas. Mas aqueles dois procuram outros e em breve aquele pecado será coletivo em sentido “major”.
Temos alguns exemplos de pecados que envolvem conjuração contra Deus. Coré, Daton e Abiron se uniram contra Moisés numa conjuração tríplice e louca; os velhos que tentaram contra a casta Susana se conjuraram para o pecado, mas encontraram a nobre resistência dela; Judas conjurou explicitamente com os judeus da sinagoga contra Nosso Senhor. Neste ponto Judas consumou num pecado coletivo os diversos pecados individuais de avareza e poder que vinha cometendo; São Pedro não cometeu propriamente pecado de conjuração quando negou Jesus por três vezes perante os criados, haja vista que não houve participação de uma ou mais pessoas. Por isso seu pecado foi menos grave e obteve o perdão; toda a perseguição e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo não passou de uma enorme conjuração que envolvia homens ímpios e Satanás. Com relação aos homens que participaram daquela conjuração, note-se que estavam eles cheios de pecados de malícia, de avareza, de inveja, enfim, de tudo o que há de mal que eles já praticavam entre si, conjurando-se mutuamente contra Deus.
Depois da terrível conjuração contra o Salvador, os homens fizeram diversas conjurações contra os cristãos e a propagação do Cristianismo. A ponto de se chegar ao ápice da conjuração para a destruição da própria Igreja que tomou corpo após o declínio da Idade Média.
E nós, caro leitor, quando procuramos alguém para cometer com ele um pecado não praticamos também uma conjuração? Será que, ao praticarmos aquele pecado, naquele mesmo instante não estamos sujeitos ao juízo de Deus sobre a conjuração coletiva que se faz contra Ele? Precisamos ver que a natureza do pecado é diferente, a individual e a coletiva. Também é bom imaginar que tanto os vícios coletivos (que mourejam na outra pessoa com quem se peca) quanto os demônios podem passar para nosso interior. Pode ser que, naquele momento, cresça um grau a mais o poder satânico sobre a sociedade inteira, e por nossa culpa!


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

NECESSIDADE DE UMA "RESSURREIÇÃO" UNIVERSAL PARA OS CATÓLICOS





A Revolução quer fazer dos “mortos” pecadores, homens sem ressurreição

Pela ordem natural das coisas, mesmo que estes “mortos” pelo pecado queiram levar vida nova, tentem fazer penitência e levar vida de piedade e de crescimento no amor a Deus, é tal o ambiente, são tais as dificuldades criadas ao redor deles, que, naturalmente falando, tais homens nunca se recuperariam, nunca “ressuscitariam”. Por que?  Porque a Revolução conseguiu afastar de suas presenças os sinais revivificantes da Santíssima Trindade. Dir-se-ia que a Revolução já implantou o reino de satanás na terra. De modo geral, nota-se que as pessoas perderam completamente o poder de auto-regência.
Amortecendo a presença da Igreja (o Corpo Místico de Cristo), seja de forma material (fechando os templos e expulsando os ministros), seja pelo empobrecimento e aviltamento de seus ritos, o menoscabo dos sacramentos, a irrisão da piedade religiosa, conseguem afastar dos corações a ação benfazeja do Divino Espírito Santo e a operação frutuosa da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade presente no Sacramento do Altar.
Mais longe foi a Revolução. Conseguiu afastar do homem moderno os sinais visíveis da presença de Deus Pai. Em nenhuma outra época histórica existiu o ateísmo, e ainda pior, como sistema filosófico imposto a milhões de pessoas. O ateísmo, seja proposital ou não, seja consciente ou não, foi o que mais afastou o homem de Deus. E isto pelo fato de haver obnubilado, obscurecido e até fenecido a luz da razão, o “lúmen rationis”, afastando Deus das pessoas e tornando impossível qualquer movimento interior de penitência. Pois não vê mais o homem moderno a necessidade do temor de Deus.
Há graus nesta mortandade coletiva, neste genocídio espiritual universal.  Os pagãos, a quem o ateísmo chegou sem conhecer a Revelação, tiveram as portas fechadas para uma conversão. Os hereges, que já negavam várias verdades e dogmas imutáveis, seguem seu caminho rumo ao ateísmo e ao ceticismo completo. Finalmente, os católicos, temos os católicos, aqueles que tiveram o conhecimento e a adesão da Verdade tal qual Nosso Senhor veio revelar, mas aderiram a uma apostasia generalizada desta mesma Verdade. Foi para estes que São Paulo dirigiu estas palavras: “É impossível que os que foram uma vez iluminados, que tomaram o gosto ao dom celestial e foram feitos participantes do Espírito Santo, que degustaram igualmente a boa palavra de Deus e as virtudes do século vindouro, e que (depois disto) caíram, (é impossível ) que eles tornem a ser renovados pela penitência, pois crucificaram de novo o Filho de Deus, em si mesmos e o expõem à ignominia. De fato, a terra que absorve a chuva, que cai muitas vezes sobre ela e produz erva proveitosa a quem a cultiva, recebe 0a bênção de Deus. Porém se ela produz espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto de maldição, seu fim é a queima”.[1]

O “animus peccati” do homem revolucionário
Tendo a Revolução implantado no coração do homem moderno um estado de alma, uma situação de quase irreversibilidade de sua perdição eterna, se considerarmos os aspectos naturais, somente com um estupendo milagre universal, uma ressurreição fenomenal em todo o Orbe, seria possível a volta à normalidade no caminho de sua auto-regência e da própria salvação da alma. E este estado de espírito podemos denominar de “animus peccati”, isto é, um ânimo propenso antes de tudo ao pecado e á revolta contra Deus. Um estado de espírito, portanto, inteiramente propício a constituir a formação do corpo místico de satanás.
Como isto se dá? É que, além de negar todos os mandamentos divinos e voltar-se contra eles, a Revolução obscureceu os vestígios de Deus, criando na alma humana uma propensão tão forte para o pecado que em algumas pessoas isto se constituiu como que uma segunda natureza. Diz-se que em pessoas contumaz no vício da carne, como por exemplo o homossexualismo, a própria natureza íntima chega a mudar, trazendo inclusive mutações genéticas e nos hormônios com os quais a pessoa nasceu. Uma pessoa assim, e hoje existem milhões delas, não tem qualquer possibilidade de fazer penitência, arrepender-se de seus pecados, redimir-se de seus erros e levar nova vida. A não ser que a Providência realize nela um portentoso milagre, milagre esse superior à ressurreição de um morto como a de Lázaro. Pois nela todas as propensões, todos os impulsos, todos os anseios, dirigem-se unicamente para a fruição, gozo imoderado e a revolta. Em algumas delas, a revolta contra Deus torna-se um prazer intrínseco de suas apetências desordenadas.

Necessidade de uma ressurreição universal para a Igreja
Assim, nas condições em que as coisas estão postas, só poderia haver uma renovação da Igreja, uma volta ao cumprimento do papel d’Ela e do fiel cumprimento de sua Missão, se houvesse uma ressurreição, um ressurgimento espiritual enorme em todo o orbe católico. Esta ressurreição (que chamamos de “Grand-Retour”) é necessária, conforme explica São Tomás de Aquino, falando a respeito da necessidade da ressurreição do pecador:

“Sobre o que acabamos de expor, podemos fazer quatro considerações para nossa instrução.
“Primeiro, que devemos nos esforçar para ressurgirmos espiritualmente da morte da alma, contraída pelo pecado, para a vida da justificação que se obtém pela penitência.
“Escreve o Apóstolo: “Surge, tu que dormes, ressurge dos mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5, 14).
“Esta é a primeira ressurreição da qual nos fala o Apocalipse:  “Feliz o que teve parte na primeira ressurreição” (Ap 20, 6).
“Segundo, que não devemos protelar esta nossa ressurreição da morte, mas realizá-la já, porque Cristo ressuscitou ao terceiro dia.
“Lê-se: não tardes na conversão para o Senhor, e não a delongues dia por dia  (Ecle 5, 8).
“Por que estás agravado pela fraqueza, não podes pensar nas coisas da salvação, e porque perdes parte de todos os bens que te são concedidos pela Igreja, incorres em muitos males, perseverando no pecado.
“Como disse o Venerável Beda, o diabo, quanto mais tempo possui uma pessoa, tanto mais dificilmente a deixa.
“Terceiro, que devemos também ressurgir para a vida incorruptível, de modo que não mais morramos, isto é, que devemos perseverar no propósito de não mais pecar. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Assim também vós vos considereis mortos para o pecado, vivendo para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo, obedecendo-lhe as concupiscências; não exibais os vossos membros como armas de maldade para o pecado, mas deveis vos exibir a vós mesmos para Deus como vivos que saíram da morte”  (Rom 6,9; 11-13).
“Quarto, que devemos ressurgir para uma vida nova e gloriosa evitando tudo o que antes nos foi ocasião e causa de morte e de pecado. Lê-se na Carta aos Romanos:  “Como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, também nós devemos andar na novidade da vida (Rom 5,4)”.  Esta vida nova é a vida de justiça, que renova a alma e a conduz para a glória. Amém.”  [2]

Poderia alguém isoladamente, nas condições do mundo de hoje, tomar tais propósitos? Como isto seria possível? O católico de hoje, seja homem ou mulher, que passa o dia inteiro, a semana inteira, ou até mesmo o mês e o ano inteiros, freqüentando no seu dia-a-dia um ambiente materialista, onde nada lembra Deus, seja na escola ou no trabalho, como esperar que mude de vida e faça penitência pelo simples fato de ir a uma missa, aliás sempre com rituais pouco piedosos, ou mesmo de fazer uma confissão, que às vezes não sabe se foi bem feita ou não? Daí que hoje se observa tristemente milhões e milhões de comunhões sacrílegas, quando as pessoas nem sequer percebem a gravidade do ato que praticam. Perderam simplesmente o senso natural da razão, não vêem os sinais de Deus na Igreja, na sociedade ou até mesmo na natureza. São ateus “in act”.  Tais pessoas perderam o poder de auto-regência e a falta de humildade lhes impede de buscar essa regência entre outros homens (que sejam santos) ou entre seus próprios anjos da guarda.
Pior do que isso: as comunhões sacrílegas, como o pior dos pecados, sujeitam tais pessoas a um severo juízo de Deus, expondo-as a terríveis castigos conforme explica Santo Antonio Maria Claret em sua obra “Caminho Reto e Seguro para chegar ao Céu”:

"Não há crime com que a Deus mais ofensa faz como é com a comunhão sacrílega. Os Santos Padres no-lo pintam com palavras e exemplos assombrosos. Quem comunga em pecado mortal, diz Santo Agostinho, comete maior crime que Herodes, mais horrendo que o pecado de Judas, acrescenta São João Crisóstomo; e outros santos dizem que é maior ainda que os pecados que fizeram os judeus crucificando o Salvador; e por todos, diz São Paulo, que será réu do corpo e do sangue do Senhor, isto é, diz a Glosa, será castigado como se com suas mãos tivesse crucificado o Filho de Deus. É a comunhão sacrílega um delito tão grande, que Deus não espera castigá-lo no inferno, senão que começa já neste mundo com doenças e mortes; de modo que já no tempo dos Apóstolos, como conta São Paulo, muitos pelas comunhões sacrílegas padeciam gravíssimos males corporais, e outros morriam. São Cipriano refere dalguns de seu tempo, que logo que recebiam indignamente a sagrada comunhão eram acometidos de intoleráveis dores nas entranhas, até morrerem rebentados.  São João Crisóstomo conheceu alguns possessos do demônio por este delito;  e São Gregório, Papa, assegura que em Roma fez grande estrago a peste, que sobreveio por ter-se continuado naquela cidade as diversões, banquetes, espetáculos e impurezas depois da comunhão pascal; e o mesmo conta de seu tempo Santo Anselmo, por ter-se cumprido mal este preceito.  Lê-se na vida de São Bernardo que um monge ousou comungar em pecado mortal; mas, coisa horrível!, apenas lhe deu o Santo a Sagrada Hóstia, rebentou como Judas, e como ele condenou-se eternamente".[3]

Pode-se dizer que as comunhões sacrílegas cometidas hoje em dia constituem um pecado social e podem levar as pessoas que a cometem a ter uma participação, ativa ou não, no corpo místico de satanás. Já não constitui um dos motivos do castigo que nos ameaça?
Há uma expressão francesa para caracterizar esse grande retorno: “Grand Retour”, nome oriundo de uma aparição mariana na França. O “Grand Retour”, ou a Resurreição coletiva de que falamos, viria então  concomitantemente com tais castigos. Esta ressurreição deveria, então, ser coletiva, deveria ser universal e deveria ocorrer ao mesmo tempo, na mesma época. E ela só poderia vir com a Providência fazendo renascer em todos o “lumen rationis”, e isto só seria possível estimulando de uma forma avassaladora o temor de Deus. Tudo isso só viria com os castigos aguardados e previstos em Fátima. Pois chegou a hora em que a intervenção divina faz-se necessária numa regência típica de correção de rumos. E esta ressurreição só virá através de um holocausto também universal, onde pereçam alguns milhões de pessoas, boas e más, estes para satisfazer a Justiça divina e aqueles para satisfazer o amor e a misericórdia.
Por que tais castigos e o “grand retour” deveriam ocorrer simultaneamente e serem coletivos, quer dizer, atingir toda a humanidade? Porque através de um movimento (o castigo) procuraria a Providência barrar os passos do corpo místico de satanás, e do outro (o “grand retour”) a reaglutinação do Corpo Místico de Cristo.  E um não poderia ocorrer sem o outro porque ambos, no final, têm a mesma finalidade em toda a humanidade, que é restabelecer a regência da Igreja e divina sobre os homens.





[1] Epístola de São Paulo aos Hebreus 6, 4-8.

[2] Exposição sobre o Credo – S. Tomás de Aquino – Ed.Loyola, págs. 67/57.
[3] "Caminho Reto e Seguro para Chegar ao Céu" -Santo Antonio Maria Claret - Editora Ave Maria, 1960 - págs. 99/105.

sábado, 21 de novembro de 2015

O DIREITO MODERNO E A REALEZA SOCIAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO




 Plinio Corrêa de Oliveira

"Não queremos que Ele reine sobre nós!" "Não temos outro rei senão César!" Eis os termos pelos quais os judeus repudiaram a Realeza de Nosso Divino Salvador. E eis os termos segundo os quais ainda hoje se desenrola a luta: "O inimigo é o paganismo da vida moderna, as armas são a propaganda e o esclarecimento dos documentos pontifícios. O tempo da batalha é o momento atual. O campo de batalha é a oposição entre a razão e a sensualidade, entre os caprichos idolátricos da fantasia e a verdadeira revelação de Deus, entre Nero e Pedro, entre Cristo e Pilatos. A luta não é nova; é novo, somente, o tempo em que ela se desenrola" (Cardeal Pacelli em discurso ao Congresso dos Jornalistas Católicos).

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Mas não são inimigos da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo somente os que se confessam frontalmente contrários ao Seu plano de Redenção. Fazem coro veladamente com essas vozes ímpias e renegadas, aqueles próprios católicos que deformam as palavras do Divino Mestre perante Pilatos, quando declarou que Seu Reino não é deste mundo ( Jo. 18, 36 ), emprestando-lhes sentido restritivo, como se essa realeza fosse uma realeza exclusivamente espiritual, realeza sobre as almas, e não uma realeza social sobre os povos, sobre as nações, sobre os governos.
Quando Nosso Senhor diz que Seu Reino não é deste mundo, esclarece o Cardeal Pie, é para significar que não provém deste mundo, porque vem do céu, porque não pode ser arrebatado por nenhum poder humano. Não é um reino como os da terra, limitado, sujeito às vicissitudes das coisas deste mundo. Por outras palavras, a expressão "deste mundo" se prende à origem da Realeza Divina e não significa de maneira alguma que Jesus Cristo recuse à Sua Soberania um caráter de reino social. De outro modo, se não passasse da órbita estritamente espiritual ou da vida interna das almas, haveria flagrante contradição entre essa declaração de Nosso Senhor e, entre outras, aquela em que Ele diz claramente que "todo poder me foi dado no céu e na terra" ( Mat. 28, 18 ).

E, como diz Soloviev, "se a palavra a propósito da moeda havia tirado a César sua divindade, esta nova palavra lhe tira sua autocracia. Se ele deseja reinar sobre a terra, não o pode fazer de seu próprio arbítrio: deve fazê-lo como delegado d'Aquele a quem todo poder foi dado na terra".

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Ora, uma das principais características do espírito revolucionário, é justamente a pretensão de realizar a divisão entre a vida religiosa e a vida civil dos povos. Não é a vontade expressa de Deus que prevalece nas leis, como um ditame da reta razão promulgado pelo poder legítimo no sentido do bem comum, mas a expressão da maioria ou da vontade geral todo-soberana. Não se acha fora e acima do homem a causa eficiente do bem comum, mas sim na livre vontade dos indivíduos. Passa o poder público a ter sua primeira origem na multidão e, diz Leão XIII, "como em cada um a própria razão é único guia e norma das ações privadas, deve sê-lo também a de todos para todos no tocante às coisas públicas. Daí que o poder seja proporcional ao número, e a maioria do povo seja a autora de todo direito e obrigação" (Encíclica "Libertas").
Eis como se repudia, na sociedade moderna, a intervenção de qualquer vínculo "entre o homem ou a sociedade civil e Deus, Criador, e, portanto, Legislador Supremo e Universal" (Doc. cit.).
Antes do século XVIII, antes que a Revolução Francesa houvesse tiranicamente implantado no mundo o artificialismo do "direito novo" revolucionário, todos os países tinham instituições políticas e sociais baseadas na força dos costumes cristãos, instituições que não haviam sido elaboradas por assembléias eleitas pela burla da soberania do povo. Como diz Joseph de Maistre, "a constituição civil dos povos não é jamais o resultado de uma deliberação". Não deve ser um simples ato de vontade que nos dita a lei básica que nos há de reger, mas sobretudo um preceito da reta razão que não pode desconhecer, e muito menos ir contra o mandamento divino. Da lei eterna é que hão de dimanar as leis humanas. Se se deixa ao arbítrio das eventuais maiorias ou da multidão mais numerosa a lei que estabelece o que se há de fazer e omitir, eis, segundo Leão XIII, preparada a rampa que conduz os povos à tirania.
Transferindo, portanto, o direito de sua fonte natural que é a vontade de Deus expressa pela lei natural e pela Revelação, das quais a Igreja é guardiã e intérprete infalível, para os sectários que por golpes políticos se assenhorearam dos corpos legislativos através da alquimia do sufrágio universal, o liberalismo preparou o mundo moderno para as cadeias que o prendem ao Leviatan totalitário.

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Não é para admirar, portanto, que Napoleão se declarasse mais orgulhoso do Código que traz o seu nome, que de suas vitórias como soldado. Consolidador da Revolução, não o seria tanto nos campos de batalha, quanto ao codificar toda a enxurrada de leis emanadas das assembléias revolucionárias. Cambacèrès e seus comparsas põem um simulacro de ordem naquele caos de legislação racionalista, que apenas se preocupa com as aparências da ordem natural, ignorando completamente a ordem sobrenatural. Esse naturalismo já seria bastante para estabelecer a cisão da legislação revolucionária com a lei eterna. Mas não são poucos os artigos do Código Napoleônico que se acham em oposição frontal a Jesus Cristo e à Sua Igreja.
O cesarismo se manifesta pelo estabelecimento do "casamento civil", pela permissão do divórcio, pelos atentados contra o patrimônio familiar nas disposições sobre as sucessões e o direito de testar; pelo não reconhecimento da existência das Ordens religiosas; pela recusa do direito que tem a Igreja de adquirir e de possuir livremente. Mantém a supressão revolucionária das corporações ou da liberdade de associação, afirma o falso princípio da igualdade civil e política de todos os cidadãos, e é baseado nesse falso princípio que dá mais um golpe de morte na instituição da família, ao prescrever a partilha igual das heranças. E assim, através desse Código revolucionário, modelo da legislação que seria adotada por todos os Estados modernos, Cristo Rei é banido dos governos e das leis que regem os povos.
E é assim que se pode dizer, com Blanc de Saint-Bonnet, que "o império foi o coroamento do liberalismo, ou, por outras palavras, a instalação do cesarismo: a mais perfeita substituição do homem a Deus, do Estado à Igreja, que jamais se realizou fora do império romano, ou, se se preferir, do império otomano".

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Eis a porta aberta ao socialismo ao comunismo. Porque o liberalismo conduz fatalmente ao comunismo, não por via de reação, como declamam certos sociólogos improvisados, mas por sua própria essência, por suas próprias características. Gerou ele o ateísmo, por seu desprezo pela fé, e pela liberdade desenfreada concedida ao erro religioso e social. Em seguida, solapou a propriedade em sua própria base pelo modo de tratar os direitos da nobreza, de desapropriar os bens da Igreja, de dispor arbitrariamente do patrimônio familiar, de consentir nos abusos da vida econômica e na exploração do homem pelo homem. Enfim, o liberalismo instalou nos Estados a força brutal das massas, entregando o poder de mãos e pés amarrados ao sufrágio universal. "Ora, o comunismo toma por base o ateísmo, por fim a usurpação do capital, e por meio a força empregada pelas massas" (Blanc de Saint-Bonnet, em "La Legitimité").
O ponto geral de convergência de toda a obra revolucionaria, é, portanto a radical negação do Reino social do Divino Salvador. "Não queremos que Ele reine sabre nós!" "Não temos outro rei senão César!" Destarte, "o erro dominante, o crime capital deste século é a pretensão de subtrair a sociedade ao governo e à lei de Deus,... o princípio posto à base de todo o moderno edifício social, é o ateísmo da lei e das instituições. Que ele se disfarce sob os nomes de abstenção de neutralidade, de incompetência ou mesmo de igual proteção, que se vá até contradizê-lo por algumas disposições legislativas de detalhe ou por atos acidentais e secundários: o princípio de emancipação da sociedade humana em relação à ordem religiosa permanece no fundo das coisas; é a essência daquilo a que se dá o nome de tempos novos" (Cardeal Pie, Oeuvres, t. 7).
Para não desertar de sua fé, como membro da Igreja Militante, deve o católico, portanto, lutar pela restauração do Reino de Cristo, como única via para a restauração da verdadeira civilização, que é a civilização cristã, a cidade católica. E se Jesus Cristo é Rei de toda a Criação, temos em Sua Mãe Santíssima a Rainha dos céus e da terra. Diz São Luiz Maria Grignion de Montfort que foi pela Santíssima Virgem que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que no mundo deve reinar. Essa devoção à humilde Virgem Maria, tão desprezada pelos orgulhosos inchados pela vã ciência do mundo, essa devoção se acha ligada de modo tal a toda a doutrina católica, que se pode dizer que ela é o último elo de uma cadeia de verdades cujo primeiro elo é o dogma de um Deus Criador, e é esse último elo que retém a sociedade humana ameaçada de cair no abismo do naturalismo e do comunismo. As mais graves questões, as mais vastas conseqüências de ordem humana e social dependem desses artigos de fé, desses pontos do dogma relegados para o interior dos santuários.
Neste mês do Rosário e da Festa de Cristo Rei, façamos subir até o trono da Mãe de Deus as nossas ardentes súplicas para que seja apressada para a humanidade sofredora a plena restauração do reinado de Seu Divino Filho.



(“Catolicismo” Nº 22 - Outubro de 1952)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

SERVA DE DEUS EXORCIZA SEM SER EXORCISTA



Madre Mariana de Jesus Torres exorciza demônios 


No Convento das Concepcionistas de Quito havia uma freira, comumente chamada de “capelã”, que comandava uma diabólica revolta contra as Fundadoras.  Madre Mariana de Jesus Torres aceitou passar cinco anos no inferno (apenas espiritualmente) com o fim de salvar a alma daquela freira.  A alma da referida “capelã” , por si mesma, estava morta espiritualmente. Necessitava de uma vítima humana que, unida à Vítima Divina, conseguisse arranca-la das garras do demônio.
Abafada a revolta daquela “capelã”, as autoridades ordenaram que a mesma fosse colocada num cárcere que havia dentro do Convento. Alguns dias depois de presa a revoltada, as freiras começaram a ouvir estranhos ruídos no cárcere. Certo dia, quando passavam por ali a Superiora e Madre Mariana, ouviram ambas gritos e vozes roucas dentro da prisão.  Madre Mariana logo entendeu do que se tratava: a prisioneira era vítima de possessão diabólica.
A Superiora logo propôs a solução mais simples: tirar a possessa dali e leva-la a um outro lugar. Com o que Madre Mariana não concordou: “Não, Madre. Se ela sair do Convento, esta pobre irmã perderá sua alma. É preciso conquistá-la para Deus”. A Superiora, considerando que Madre Mariana tinha forças para enfrentar a situação, lhe ordena que entre no cárcere para ver o que conseguiria fazer pelo bem daquela alma.
Logo que Madre Mariana entra, a prisioneira começa a gritar: “Estou morrendo, estou morrendo!”  e corre por toda a prisão, batendo a fronte e a cabeça contra as paredes. Em seguida caiu sem sentidos. Madre Mariana aproximou-se dela e viu que deitava espuma e sangue pela boca. Começou a lhe dar massagens tentando reanima-la, quando a Superiora, covardemente, grita da porta: “Madre, se ela voltar a si, eu me abalo para longe”.
Em vez de se abalar, Madre Mariana mandou que trouxessem remédio para reanimar a possessa, que estava ferida. Logo que a Madre Superiora saiu, ficando Madre Mariana sozinha rezando pela possessa, viu repentinamente dois negros demônios colados na parede como quem se escondia dela. Vendo-os, gritou: “Bestiagas [récua de bestas] vis e abomináveis, que fazeis aqui? Ide à vossa cruel morada, que este é lugar santo e casa de oração e penitência. Todos os esforços para levar a alma de minha irmã serão vãos. Jesus Cristo morreu por ela e, apesar de vós, ela se salvará. Ordeno-vos em nome do Mistério da Santíssima Trindade, da Divina Eucaristia, da Maternidade Divina de Maria Santíssima, de Seu glorioso Trânsito e Assunção em Corpo e Alma aos Céus, que imediatamente desocupeis este santo lugar e nunca mais volteis a mortificar com vossa abominável presença a nenhuma de minhas irmãs, que justa ou injustamente aqui estão” [1].
 Note-se que Madre Mariana, ao fazer a oração exorcística, manda que os demônios desocupem imediatamente “este lugar santo”, ela está exorcizando o que denominamos de “demônios mantenedores” , os quais junto com os o que a Igreja chama de “demônios dos ares” atuam na perdição das almas. Não se trata, portanto, de um exorcismo clássico de expulsar o demônio do corpo da pessoa. Talvez este último seja mais difícil porque trata-se de algo ligado à pessoa, ao corpo, mas principalmente à alma de uma pessoa, dependendo muitas vezes dela e de seu livre arbítrio para que o demônio seja expulso.
Tão logo Madre Mariana termina sua oração exorcística deu-se um estrondo, a terra tremeu e ouviu-se uivos horríveis. Neste momento, a Madre Superiora estava chegando com algumas ajudantes e o remédio que Madre Mariana pedira. Uma delas falou assustada que algo de diabólico estava acontecendo no cárcere, mas que lá estando Madre Mariana nada haveria de se temer.   Quando entraram na prisão ainda encontraram o ambiente obscurecido por uma espessa fumaça. Aplicaram os medicamentos na “capelã” que logo se reanimou sem sinais externos de possessão.
Talvez a possessa ainda tivesse alguns demônios que a incomodassem, mas aqueles que Madre Mariana havia visto foram exorcizados.

Expulsão dos demônios que infestam as casas de família
Talvez um campo de ação em que o demônio mais encontra facilidade de ação seja as casas de família. Seriam estes os “arrimadiços” de que fala o Pe. Manuel Bernardes? Em si mesmo sagrado, o lar precisa entretanto que seja santo, que as pessoa que o habitem pratiquem a santidade. Não sendo assim, os demônios podem encontrar lugar onde se acolherem nos lares e daí inspirar ódio, vingança, contendas pessoais, invejas, por fim, todo tipo de vícios e pecados, principalmente de uns contra outros.
Em Quito, na época de Madre Mariana, infelizmente os demônios estavam conseguindo levar duas importantes famílias à contenda, à luta pessoal e ao ódio. Em suas orações, a santa Madre via tudo.   E certo dia, Nosso Senhor pediu a Madre que expulsasse pessoalmente referidos demônios.
Madre Mariana rezou a Nosso Senhor pedindo que tivesse piedade daquela gente e Ele mesmo expulsasse os demônios: “Humilhai-o, Senhor, e abatei-o pela sua louca perfídia e soberba. Tende compaixão e misericórdia destas almas tão caras, remidas pelo vosso Sangue e vossos méritos, e pelos da divina Co-Redentora Maria Santíssima, Mãe vossa e minha dulcíssima”.
Ao ouvir esta oração, em presença de Sua Mãe Santíssima, Nosso Senhor Jesus Cristo, respondeu à Madre Mariana:
Manda tu mesma que desça ao fundo do abismo infernal essas furiosas legiões de demônios que saíram para impedir a conversão dessas almas. Ordena-lhes em nome do Mistério da Santíssima Trindade, de minha Presença Real na Hóstia Consagrada, da Imaculada Conceição de minha bendita Mãe e de Sua Maternidade Divina, sendo Virgem Puríssima antes do parto, no parto e depois do parto.  E verás como fogem espavoridos esses imundíssimos espíritos. E para que o possas fazer, olha-os primeiro” [2] 
Ao ouvir esta admoestação, Madre Mariana viu em seguida incontáveis demônios que infestavam aqueles lares, forcejando para penetrar dentro dos corações daquelas pessoas.  Em seguida, Madre Mariana pediu força para os exorcizar:
“Fortaleza dos débeis, acompanhai-me nesta empresa. Do contrário, nada poderei, porque sou vilíssimo e repelente lodo, esses infernais e astutos espíritos escarnecerão de mim. Mas como Vossas Majestades me deram sempre provas de vosso amor misericordioso rogo-Vos, com a fronte no pó, que Vós, ó dulcíssima vida de minha alma, Vos ponhais como o haveis feito sempre, isto é, como Menino nos braços de Maria Santíssima, minha terna Mãe. Assim acompanhada e defendida por Vossas Majestades, terei feliz sucesso, lançando no abismo profundo esses soberbos e invejosos espíritos”.

Um cerimonial celeste exorcístico
A importância deste exorcismo foi tal que envolveu todo o Céu:
“Concluída  esta súplica, Madre Mariana viu o Céu se abrir, descendo até o Sacrário. Todo o altar-mor resplandecia com luz celestial, a ponto de ela, por um momento, ter pensado que, sem sentir a morte, já se encontrava na eternidade. Os Anjos cantaram, com melodia própria a eles, o “Salve Sancta Parens.
“Imediatamente a Rainha dos Céus adiantou-Se.
“Ao contínuo, os quatro Arcanjos, seguidos de incontáveis espíritos celestes, voaram ao Sacrário. O Príncipe São Miguel, depois de fazer uma profunda reverência, tomou em suas mãos a santa Hóstia, que se converteu imediatamente em um formosíssimo Menino. Ele olhou ternamente para o Príncipe e sua gloriosa comitiva celeste, e disse:
- Ponde-me quanto antes nos braços de minha Mãe, e acompanhai-Nos todos vós, a fim de presenciar a grandeza do poder de Deus, que Se vale de instrumentos aparentemente débeis para realizar grandes maravilhas. – Nova confirmação daquela verdade encantadora: de que Deus oculta Seus segredos aos soberbos e grandes do mundo e os revela aos humildes e simples de coração”.
“Incontinenti o Arcanjo se apresentou diante da Imperatriz Soberana, e fazendo-Lhe reverência, disse:
- “Tomai, Senhora, em vossos braços soberanos o Tesouro divino do qual sois depositária”. E colocando-Lhe no braço esquerdo o Divino Infante, retirou-se, fazendo nova reverência.
“Em seguida aproximou-se o Arcanjo São Gabriel trazendo um belo báculo. Fez uma profunda reverência e colocou-o em sua mão direita, dizendo:
- “Empunhai, Senhora, em vossa soberana destra o báculo que a Onipotência Divina nela colocou, para que, como Imperatriz dos Céus e da terra, governeis o universo e reprimais em todos os tempos a força diabólica do tenaz e soberbo satanás, que cheio de furiosa inveja trabalha com toda sutiliza na perdição das almas, mas que sempre se verá vencido e humilhado por Vós, que sois a Mãe do Verbo Divino.
“Fez novamente profunda reverência e se retirou.
“Logo depois chegou o Arcanjo São Rafael, portando uma pequena cruz muito formosa, do tamanho de um dedo mas que ofuscava a vista com a luz que irradiava. Era toda composta de preciosos rubis, esmeraldas, ametistas, safiras e brilhantes. Pondo-a na mão do Divino Infante, disse:
- “Aqui tendes, Rei dos Céus e da terra, o presente que guardais e concedeis a vossas esposas  fiéis que durante a vida religiosa Vos servem com fidelidade. Com ele triunfarão das maquinações diabólicas, até que fechem seus olhos à luz material para os abrir ao esplendor da luz eterna. Pela cruz serão salvas as almas remidas por Vós”. E com uma profunda reverência, o Arcanjo se retirou.
“A Corte Celeste entoou então um hino de glória, cuja melodia só a alma poderia degustar, os sentidos do corpo nem sequer agüentariam, a não ser adormecidos.
“Tudo isto passou-se diante de Madre Mariana, que estava em presença de Deus e de Sua Mãe Santíssima, com essa humildade própria dos santos. Humildade adquirida ao longo de uma vida cheia de dificuldades e humilhações, de que o leitor pode tomar conhecimento, lendo a vida desta feliz discípula do Divino Redentor.

O Menino Jesus incita Madre Mariana ao exorcismo
O que vimos acima nada mais foi do que o prólogo de uma solene cerimônia exorcística, estando presente toda a Corte Celeste e uma santa Vítima Expiatória e Exorcística, Madre Mariana de Jesus Torres.  Após o cântico cós anjos o Menino Jesus dirige-se à Madre Mariana:
“Minha dileta esposa, tu és a fibra mais delicada de Meu Coração, porque passaste toda tua vida em meu serviço e Me amaste com todo teu coração e toda tua alma. E este teu amor por Mim, que sou teu Deus e Senhor, tem sido muito dedicado e ativo, conquistando-Me almas.  Para convertê-las, arrancá-las do vício e ecaminhá-las na via segura que conduz ao Céu, tiveste que arrostar grandes padecimentos físicos e morais com generosidade e valor, sem que o maldito respeito humano, frustrador de grandes graças em favor das almas, conseguisse fazer-te desistir de empresa tão grandiosa.
“Oh! Se todas minhas esposas tivessem essa diligência e cuidado em relação a todas as pessoas com que tratam. Quantas almas Me dariam em segredo!
“Saibas que pus nas palavras de Minhas esposas espadas de dois gumes para penetrarem nos corações mais endurecidos. Mesmo que na aparência nada se note, essas palavras repercutem no interior das almas noite e dia e acabam germinando e dando cedo ou tarde frutos de penitência. E, quando são acompanhadas de súplica incessante em favor desses pecadores queridos, então melhor ainda:  Eu não posso resistir aos pedidos de minhas esposas, em se tratando de salvar as almas.
“Oh! Dileta minha! Dize a tuas filhas que sejam meus apóstolos a partir do silêncio do claustro. Asseguro-lhes que, se assim o fizerem, terão uma glória muito especial no Céu. Afirmo que uma só palavra proferida pelas pessoas religiosas  é de muito peso no coração dos que vivem no mundo, os quais, por mais pecadores que sejam, vêem nelas seres separados do mundo, consagrados e entregues ao exclusivo serviço de Deus, e portanto dignos de respeito e atenção.
“Agora, ouve a tua Mãe e minha. E vamos sepultar no abismo as malditas legiões que saíram do inferno para perder estas duas pobres famílias,  tentando roubar-Me almas tão queridas do meu Coração. Recebe esta bela cruz como presente das núpcias eternas que proximamente te esperam”.

Nossa Senhora dá a palavra final antes do exorcismo

Após o Menino Jesus, Nossa Senhora se dirige à Madre Mariana:
“Minha filha muito querida, minha fiel imitadora, já teus dias mortais estão no fim. Os poucos dias que te restam quero que sejam ainda mais perfeitos no amor de Deus e do próximo. Esforça-te em orar, trabalhar e sofrer para ganhar almas a Deus.
“Oh! Se as religiosas soubessem o mérito que entesouram para a eternidade nesse apostolado oculto, não omitiriam meio algum para pô-lo em prática. Grande caridade é trabalhar, orar e sofrer por esses pobres irmãos transviados. Como outros filhos pródigos, eles abandonaram a casa de seu bom Pai e se afastaram, pelo pecado, para regiões muito distantes de Deus, dissipando a preciosa herança das graças divinas, até ficar reduzido à extrema miséria espiritual. Passam a mendigar no mundo, que e um amo duro e cruel, as bolotas das falsas honras e prazeres, os sobejos dos porcos, que são os vícios e as paixões desenfreadas, os quais sepultam no inferno um considerável número de almas, tornando infrutíferos o Sangue e os méritos de meu Filho Redentor.
“Este bom e amoroso Pai, contudo, sai diariamente do Sacrário para penetrar nos corações purificados e limpos, donde Ele estende sua amorosa vista ao longe, na expectativa de ver chega Seus filhos pródigos, a fim de recebê-los de braços abertos e, uma vez reconciliados e lavados no santo Tribunal da Penitência, faze-los voltar à Sua amizade, com a posse da vida da graça e dos inúmeros bens reservados para o Reino dos Céus.
“Em vista precisamente da reconquista desses filhos pródigos estabeleceu Nosso Senhor a vida contemplativa em sua Igreja, para que Suas almas prediletas, escondidas de todo olhar humano, desconhecidas, esquecidas  e muitas vezes desprezadas, fossem mediante a oração incessante e a penitência, em toda forma e circunstância da vida monacal, apóstolos ativos e fervorosos.
“Ai das almas religiosas que incautas e ociosas não querem cumprir, por vãs covardias, sua sublime missão! Não terão escusas no Tribunal divino. Ali se lhes recompensarão almas salvas e se castigarão pelas que, por omissão sua naquela vinha do Senhor, se perderam.
“Ponhamos agora em vergonhosa fuga as legiões infernais que se atreveram arrebatar aquelas almas a Deus”

Esplendoroso cortejo celeste vai às casas de família para exorcizá-las
Quando Nossa Senhora terminou de falar, todo o cortejo celeste ali formado, juntamente com Madre Mariana, dirigiu-se às casas de família a fim de exorcizar os demônios que as infestavam. Vejamos como tudo sucedeu, conforme o relato de Frei Manuel Sousa Pereira:
“A santa religiosa, com a luz que alumiava em seu coração a pequena cruz presenteada pelo Divino Infante, viu minuciosamente as consciências daquelas almas. Discerniu a sutileza com que os demônios trabalhavam para impedir a mútua reconciliação, semeando no entendimento dos pais e mães mil temores infundados, renovando ressentimentos e fazendo-lhes crer que o próprio ato de reconciliação era como uma montanha de impossibilidade, difícil de ser galgada. O amor próprio fazia-os resistirem, para não terem de se humilhar, apegados à nobreza e riqueza de suas casas. Tudo era dúvida, perplexidade, aborrecimento e desgosto, até entre os próprios membros da mesma família.  Em suma, nunca se sentiram tão incomodados e estiveram tão molestos como naquela tarde e noite.
“Nesse contexto fulgurou a luz celeste do Rei do Céu, que repousava nos braços de sua Mãe, Maria Santíssima Rainha, acompanhados da celestial comitiva e da predileta de Seus Corações.
Os demônios ficaram estupefatos e aterrorizados quiseram fugir, mas não puderam, porque o Príncipe São Miguel os atalhou:
“Malditas, desventuradas e invejosas legiões, mando em nome do Verbo Divino e de sua Virgem Mãe, nossa Rainha, que permaneçais aqui, até que uma humilde serva do Senhor vos precipite no abismo profundo.  Pois vossa luciferina soberba deve ser humilhada pela natureza humana, que, amando a nosso Deus, rivaliza com a angélica natureza. Enquanto os Espíritos Angélicos, que humildes adoraram o Verbo feito carne, comprazem-se em favorecer e servir a esses servos do Senhor, prodigalizando-lhes cuidados em sua vida terrena, até conduzi-los ao Céu, onde gozam a Deus em sua companhia, louvando as misericórdias que o Senhor neles realizou”.
“Ao ouvirem a imperiosa voz do Chefe e Príncipe da Milícia Angélica, tremeram as hostes infernais e soltaram um alarido tão terrível que parecia retumbar no universo inteiro. E virando-se os demônios para a luz que os eclipsava, viram-se em presença de Jesus Cristo, de sua Virgem Mãe e da humilde monja concepcionista, elevada a tanta honra em virtude de uma vida inteira de sacrifício incessante e de vitórias alcançadas sobre eles. E isto os enfurecia sobremaneira, sendo o motivo desse ódio que lhe tinham, não tendo eles poupado nenhum esforço no afã de derrubá-la ao solo pelo pecado, o que, porém, jamais conseguiram. Ao vê-la, quiseram lançar-se sobre ela, pois não conseguindo causar-lhe dano à alma, queriam pelo menos tirar-lhe a vida.

O exorcismo de Madre Mariana

O furor dos demônios contra Madre Mariana era porque ela levava vida de santidade e não pecava.  O pecado (caso ela o cometesse) poderia não só fortalecer aqueles demônios como também trazer mais anjos malditos do inferno para lhes auxiliar na tarefa de perder as almas. Como aqueles demônios ansiavam isto, e Madre Mariana (com a graça de Deus) não pecava, crescia-lhes mais ainda o ódio contra ela.
Neste momento, o Menino Jesus ordenou a Madre Mariana:
“Minha dileta esposa, a força divina te sustenta. Levanta-te sobre ti mesma e ordena a estas asquerosas e impotentes legiões que deixem livres estas almas e desçam ao abismo profundo, reconhecendo-se débeis ante as criaturas humanas que fiéis servem a seu Deus e Senhor”.
“Com estas palavras o coração de Madre Mariana encheu-se de uma fortaleza indizível e, fixando os demônios com severidade e desprezo, disse:
“Espíritos malignos e repugnantes, que por vossa soberba luciferina caístes do Céu, onde o Senhor vos criou belíssimos, para o abismo profundo, transformados pela Justiça de Deus em feíssimos demônios, condenados a sofrer por toda a eternidade o fogo aceso pela Ira de Deus!
“Eu, pobre e débil criatura, que me glorio de servir a meu Deus e Senhor, obedecendo-Lhe com agrado em tudo quanto Ele me manda e amando-O com todo meu ser tão pequeno, aborreço-vos com o aborrecimento com que meu Deus vos aborrece, por causa de vossa insubordinação.
“E lamentando por haverdes arrebatado tantas almas a Deus, que é o único Senhor, eu ordeno: - Em nome do Augusto Mistério da Santíssima Trindade; da Presença Real de Jesus Cristo na Hóstia Consagrada; do Mistério da Conceição Imaculada de Maria Santíssima, de Quem tenho a ventura de ser filha; e em nome também de sua Puríssima e Integérrima Virgindade e Maternidade Divina, sendo Virgem Puríssima antes do parte, no parto e depois do parto, ordeno-vos que deixeis livres a estas duas famílias, para que dêem glória a Sua Divina Majestade, no cumprimento da santíssima vontade de Deus.   E descei vós ao averno profundo, vossa morada sempiterna, fugindo derrotados para vossa maior ignomínia. Que vos sirva de tormento a Cruz Redentora, que com gosto ostento em meu coração, tendo eu vivido alegre nela encravada”  E fez o sinal da cruz.
“No mesmo instante, dando horríveis bramidos e mordendo-se uns aos outros, precipitaram-se os entes malditos no centro da terra. Produziu isto um tal terremoto que os habitantes da cidade, alarmados, puseram-se a clamar por misericórdia, julgando que o vulcão Pichincha ia soterrá-los. O Senhor Bispo mandou que se rezasse em todas as igrejas da cidade.
“As duas famílias, porém, que andavam tão molestadas nas respectivas casas, acalmaram-se em seguida. Cada qual reuniu-se  com toda a criadagem para rezar o santo Rosário, advindo uma inalterável paz e tranqüilidade. E os criados comentavam: “Como foi  bom este tremor de terra, para que nossos amos se acalmassem! Eles já se iam tornando insuportáveis!” [3]   
Cumprindo, pois, sua vocação não só de Vítima Expiatória, mas de Vítima Expiatória Exorcística, Madre Mariana exorcizou poderosamente aqueles demônios, os quais haviam conquistado importante lugar nas casas daquelas famílias. Em seguida, os Anjos da Guarda daquelas casas voltaram a assumir seus antigos lugar, inspirando às famílias a reza do Rosário e trazendo a paz espiritual entre elas.







[1] “Vida Admirável de Madre Mariana de Jesus Torres...” – Tomo I – Fr. Manuel Sousa Pereira, OFM, págs. 103/104
[2] op. cit. tomo. II, pág. 167
[3]op. cit. Tomo II págs. 166/171.