terça-feira, 29 de setembro de 2015

A HIERARQUIA CELESTE


São Dionísio, “O Areopagita”, foi convertido por São Paulo no Areópago de Atenas, na Grécia. Foi ele talvez o primeiro teólogo e filósofo que tenha tratado especificamente dos Santos Anjos num de seus livros. O conteúdo doutrinário desta obra deve ter sido haurido diretamente do Apóstolo São Paulo, de quem São Dionísio era discípulo, logo após o Apóstolo das Gentes haver tido o famoso êxtase que o levou até o terceiro céu. O titulo da obra é “De angelica Hierarchia“ (Da Hierarquia Angélica).
Segundo São Dionísio, nossa Sagrada Hierarquia foi estabelecida, por disposição divina, na imitação das hierarquias celestes. Para nós mortais, a hierarquia é vista exteriormente pela formosura, pelos símbolos, pelo que representa cada degrau, ou cada posto assumido na escala hierárquica. A formosura aparente é sinal de mistérios sublimes, pois nem sempre conseguimos entender perfeitamente o que significam aqueles símbolos ou aquelas pessoas em seus postos. Sentimos a presença, a beleza, e nossos sentidos procuram aquilo que se chama na teologia de o “bom odor”. O bom odor que sentimos manifesta a iluminação intelectual, isto é, nossa mente procura entender à sua maneira o que significa aquilo tudo. As diferentes disciplinas sagradas correspondem à imensa capacidade contemplativa da mente. As ordens e graus daqui de baixo simbolizam as harmoniosas relações do Reino de Deus. Nosso Senhor, Jesus Cristo, nos deu a conhecer a hierarquia celeste: instituiu o colégio ministerial de nossa própria hierarquia em imitação da celeste, enquanto humanamente é possível, em seu divino sacerdócio. Conforme Francisco Spirago “A hierarquia dos anjos funda-se na variedade dos dons e dos empregos conferidos por Deus; uns são destinados de preferência a louvar, outros a servir” .
Tudo indica que a classificação dos Santos Anjos em nove coros foi dada por São Paulo a São Dionísio, pois em sua obra “A Hierarquia Celeste” afirma a certa altura: “...meu glorioso mestre os classifica em três hierarquias de três ordens cada uma”. Em várias partes da obra, São Dionísio se reporta a São Paulo, de quem era discípulo, com a expressão “meu glorioso mestre”. Deduz-se que a doutrina angélica lhe foi transmitida por São Paulo após o êxtase em que o mesmo foi elevado até o terceiro céu.
No entanto, as denominações de algumas escalas hierárquicas já remontam ao Antigo Testamento. Logo após expulsar Adão e Eva do Paraíso, Deus colocou “diante do paraíso de delícias querubins brandindo uma espada de fogo, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gên 3, 24). O Profeta Isaías é o primeiro e único que se refere aos Serafins, porque a Sagrada Escritura até então só cita os querubins como Anjos (Ex 25,18 e 28, 14-16; Ez 1,10 e 10,12; I Sam 4, 4; I Reis 6, 23-28 e 8, 6-7; Dan 3, 55; Sl 17, 11; Sl 79, 12; Sl 98, 1 e o próprio Isaías, em 37, 16). Os demais coros foram descritos no Novo Testamento, talvez porque isto foi revelado primeiro a São Paulo, este a São Dionísio, que por sua vez revelou-o à toda a Igreja.
Querubins
Segundo São Dionísio ouviu de São Paulo, o primeiro grupo está sempre em torno de Deus, constantemente unido a Ele. Compreende os Querubins, os Serafins e os Tronos. São os mais divinizados e os que recebem primeiro e mais diretamente as iluminações de Deus.
O nome “Querubim”, vem do hebraico (“querub”) que significa alto, grande, bendito, o que possui a plenitude de conhecimento ou é transbordante de sabedoria. São os seres mais elevados, mais próximos de Deus. Têm o poder para conhecer e ver a Deus, receber os melhores dons de sua luz, contemplar a divina formosura em toda a sua pureza, acolher em si a plenitude de dons portadores de sabedoria e reparti-los generosamente com os inferiores.
Serafins
O termo “Serafim” vem do grego, e quer dizer inflamado ou incandescente, fervoroso, que leva calor. O nome destas classes de Anjos é expressamente falado em Isaías (Is 6, 2-6), o único lugar na Bíblia onde eles são referidos. Significa também incessante movimento em torno das realidades divinas, calor permanente, ardor transbordante, em movimento contínuo, firme e estável. Têm o poder de purificar por meio da chama e raio luminoso, afugentar as trevas e qualquer sombra escurecedora.
Os demais coros angélicos são:
Tronos , Potestades, Dominações e Virtudes ,Principados, Arcanjos e Anjos
Os Anjos completam os nove coros angélicos, constituindo o grau inferior de todos eles. Dá-se o nome de Anjos a este grupo com preferência a outros, porquanto sua hierarquia é dos mais próximo de nós, através dos quais a Revelação chega até o nosso mundo. Como foi dito acima, a primeira hierarquia influi a segunda, e esta a terceira. O segundo coro angélico preside então os Principados, Arcanjos e Anjos, os quais, segundo seus distintos graus, presidem as hierarquias humanas a fim de que sejam elevadas a Deus. Assim, todas as hierarquias participam eqüitativamente das graças que bondosamente Deus lhes dá.
Comentando a obra de São Dionísio, São Boaventura diz que os Serafins possuem um amor contínuo, sumamente intenso, penetrativo, até o coração de Deus; dos Querubins, diz que recebem copiosamente, especulam clarissimamente, gozam alegremente daquela Luz divina; dos Tronos diz que são assento elevado, firme, estável, aberto para a recepção da mesma Luz. Fala-se dos Tronos para julgar e que neles se assenta a Deus, porque são diviníssimos e servilmente manifestam seu conselho pelo juízo; das Dominações diz que significam certa excelência em certa liberdade, e com isto possuem igualmente certo domínio sobre as almas; das Virtudes diz que representam eles “a Virtude”, porque representam esta potência como a que tem estabilidade em durar, fortaleza em resistir; das Potestades diz que foram feitos para executar, ordenar; dos Principados diz que foram feitos para guiar; dos Arcanjos, revelar, e, finalmente, dos simples Anjos, anunciar.
(“Obras de San Buenaventura” – BAC – vol. III – pp. 603/60).