sexta-feira, 28 de junho de 2013

O homem moderno perdeu o senso de orientação?




Todo ser animal tem senso de direção inato. Trata-se do sentido que o faz saber para onde vai e o que buscar. Alguns têm o sentido de orientação mais aguçado do que outros, mas a maioria o possuem em grau apenas necessário para mover-se em pequenos espaços e poucos deslocamentos. Mas, outros não; possuem sentidos, como os olhos da águia ou o olfato do cão, para sentir e percorrer maiores distâncias sem perder-se. Por exemplo, os gnus viajam centenas de quilômetros na planície do Serengueti, na Africa, por matas, morros e rios, com o fim único de fugir da seca e procurar alimentos. Da mesma forma, há espécies de peixes que nadam centenas e até milhares de quilômetros pelas entranhas do oceano, em profundidades que não lhes permitem sequer alguma orientação com os astros, migrando para áreas longínquas, ou para desovar tranquilamente seus alevinos ou mesmo por causa do clima diferente. Há também aves que voam distâncias enormes em suas viagens migratórias, como, por exemplo, as chamadas “aves de arribação” que atravessam o Atlântico aos milhares, da África para o Nordeste brasileiro, simplesmente para pôr seus ovos e ter suas crias. Depois, fazem a viagem de volta, desta vez com a companhia dos filhotes.

Este senso de direção ou de orientação é essencial para que os animais desempenhem sua limitada e inata auto-regência, possam ter o domínio sobre si que Deus deixou para que cumpram bem seus dias de vida. Mas, apesar de alguns o possuírem de uma forma até sofisticada (como os morcegos, os quais, mesmo cegos, voam e não se chocam contra os obstáculos à sua frente), não há uma só espécie que consiga fazer com que tal senso cresça ou atinja outros graus: tudo o que fazem não são nada senão fruto de sua própria natureza. Quando amestrados pelo homem, alguns animais conseguem pelo método de “reflexos condicionados” aperfeiçoar tais sentidos e realizar algo a mais daquilo com que nasceram. Mas, nada conseguiriam se não fosse o auxílio do homem, pois, por si mesmos só se orientam pelos dons com que foram galardoados por Deus ao nascer.

Quanto ao ser humano, possui o senso de direção ou de orientação que se desenvolve de acordo com cada indivíduo em alto grau, podendo alguns chegar a maiores perfeições, outros ficarem estagnados e outros até mesmo retrocederem em seus atributos inatos. Nosso senso de orientação nos faz seguir para qualquer lugar do universo, seja nas entranhas da terra, no ar ou nas profundezas do oceano, sem que se perca, sem que não saiba para que destino seguir nem para onde voltar. Até mesmo no cosmo o senso de orientação do homem é perfeito, fazendo com que o mesmo possa viajar para qualquer astro (se isso for possível) sem que perca o caminho de volta. É claro que poderá haver situações em que determinado indivíduo, ou mesmo grupo, se perca momentaneamente e não ache seu senso de direção. Mas, isto são situações anormais que ocorrem esporadicamente por causa de fatores que perturbem os sentidos humanos em certo espaço de tempo.

Há pessoas que têm tal senso em alto grau, entrando e saindo em cidades grandes, cheias de ruas, de edifícios e complicados labirintos, guardando em sua memória todo o roteiro de ida e vinda dos lugares; o mesmo ocorre com outros que conseguem guiar-se de uma forma inerrante no meio da mata, ou até mesmo no meio do mar. Mas, há também pessoas que têm tal senso em grau diminuto e não conseguem memorizar com facilidade os lugares que vão, nem como conseguiriam voltar para o ponto de partida. Isso mostra como cada ser humano consegue aprimorar em si mesmo o sentido de auto-regência contido no senso de orientação. Alguns têm, até, certas deficiências naturais que os impedem de ser perfeito nisso. Podem obter êxito se, ao longo dos anos, passarem pelo processo de educação nos chamados reflexos condicionados.

Mas, engana-se quem pensa que tal senso de orientação no homem só funciona para sua locomoção. Este senso é utilizado para muito além do simples deslocar-se de um lugar para outro. O homem possui senso de orientação de seu ser e de toda sua vida. Por exemplo, ele desenvolve tal senso quando pensa em seu futuro ou no de seus filhos, quando procura estudar para uma carreira promissora, quando procura juntar algumas economias para se prevenir para as incertezas do seu porvir, etc. Esta preocupação é uma fase mais avançada do senso de orientação, coisa que os animais irracionais não possuem. E o homem possui esse senso nesta fase assim adiantada porque possui alma, porque tem o elemento espiritual que rege todo o seu ser. E é esse senso que o leva a conhecer em seu interior a necessidade de praticar a virtude da Esperança, pois tudo o que ele pensar em seu interior como preparação para o futuro, seguindo tudo pelo senso de orientação, termina por levá-lo a conceber a necessidade de “esperar” sempre que tudo corra bem: a Esperança torna-se, assim, a certeza do bom êxito naquilo que almeja para o porvir.

A neurofisiologia afirma que todas as funções cerebrais se realizam mediante Atos Reflexos. Inclusive as funções mais complexas que formam a base dos fenômenos psíquicos. São de dois tipos: os Atos Reflexos Incondicionados e os Atos Reflexos Condicionados. Os primeiros são aqueles inatos, já nos acompanham desde o nascimento. Em geral, assim como os animais irracionais, os atos reflexos incondicionados são aqueles que se destinam à nossa própria sobrevivência, o instinto de conservação. Há outros atos, porém, que vão além e se destinam, por exemplo, à nossa defesa, nos orientando para que nos afastemos de tudo o que seja risco para nós ou para aqueles que amamos. E, indo mais além, existem os “atos reflexos de orientação”, que guiam o homem para onde vai, para onde vem, o que vai fazer naquele dia, naquela semana ou mês, ou doravante em toda a sua vida, o que pretende ser no futuro, etc.,

Este “ato reflexo” ou senso de orientação desperta no homem dois outros sentidos externos: o assombro e a curiosidade. O assombro se refere ao maravilhamento pelo belo, o bom e o pulcro. A curiosidade pode levá-lo ao conhecimento, ao saber. Tanto o assombro quanto à curiosidade, e suas conseqüências, como o maravilhamento e a procura do saber, levam o homem ao amor de Deus. No animal irracional, o máximo que tais reflexos ou senso de orientação podem causar externamente é a busca da segurança através do medo, um ato reflexo incondicionado de todo ser animal.

Tais atos reflexos ou senso de orientação se manifestam de acordo com as condições de vida e de educação do indivíduo. Ao selecionar estímulos capazes de produzir reflexos condicionados, o córtex cerebral estará realizando uma atividade de síntese e de análise, necessárias para se alcançar a adaptação indispensável às condições de vida e de equilíbrio com o meio. Seria, portanto, uma atividade psicológica aliada aos estímulos nervosos. E por ser “síntese” e “análise” estão ligadas ao ato de julgar pertencente ao poder de regência. Aí entram em ação também a memória e a consciência.

As pessoas que possuem tal senso de orientação em grau maior do que os demais, usam-no para ser guias, orientadores das outras pessoas, assim como o fazem também os Santos Anjos, nossos regentes e protetores.

Princípio de contradição

Saber analisar, fazer juízo correto sobre o que ocorre, também faz parte deste senso de direção ou de orientação. Pois somente assim o homem poderá pautar corretamente sua vida. E para que analise e se julgue corretamente é necessário que ponhamos em prática o que São Tomás de Aquino chama de “Princípio de Contradição”.

Sempre que se nos apresenta algo perante nós, podendo ser um objeto ou uma pessoa, a primeira coisa que fazemos, o primeiro ato, é deitar o nosso olhar sobre o objeto ou pessoa para fazer um juízo sobre ela, que, de início, pode ser muito sumário; em segundo lugar, vem nossa análise sobre tal objeto ou pessoa, se é bom ou ruim, se é útil ou inútil, se é feio ou bonito, etc., Exercemos nesse momento o uso do “Princípio de Contradição”, segundo explicitado por São Tomás.

O Princípio de Contradição é a noção genérica do ser, da qual depende o primeiro princípio do raciocinar. São Tomás, seguindo Aristóteles, o define como o princípio primeiro e supremo do pensamento. É o princípio de contradição, o juízo mais simples e universal de todos, que se traduz na seguinte verdade: é impossível que uma coisa seja e não seja ao mesmo tempo.


“Por ter a evidência primeira deste princípio o homem é capaz de conhecer e de pensar. Sem percebê-lo, o aplicamos continuamente. Sem ele, não conseguiríamos distinguir o que é do que não é, nem um ser do outro. Não nos daríamos conta que somos diferentes de uma mesa, de um elefante, ou de uma formiga. Um pastor, por exemplo, não poderia saber se ele é um lobo, ou se o lobo é uma ovelha. Não teríamos noção da hierarquia que há entre os seres da Criação; não poderíamos separar o homem da natureza irracional e do cosmo; não saberíamos da existência de um Deus criador, pessoal, transcendente, infinitamente distinto e superior a todas as suas criaturas e que se definiu a Si mesmo dizendo: “Eu sou o que sou” (Ex 3, 14). Tudo se confundiria; nos fundiríamos no pior dos absurdos.

“A partir do princípio de contradição a e das outras evidências primeiras vinculadas a ele, a razão não só conhece a distinção universal entre verdade e erro, senão que é capaz de ir passando do conhecimento de uma coisa a outra. Adquire assim verdades sucessivas, sempre contrastando, explicita ou implicitamente, o que é com o que não; o que é mais com o que é menos; o verdadeiro com o falso”. (1)

Perdendo tais noções o homem perde o rumo de sua vida e fica, portanto, desorientado. Esta desorientação causa crises, torna insolúveis os problemas do dia a dia e leva todos à desesperança. O que anda na cabeça das maiorias das pessoas de hoje é que o mundo não tem mais jeito, tudo está perdido, não há solução para as graves crises da vida moderna. Sendo assim, age-se como os animais no estouro de uma boiada: cada um por si, sem rumo, sem direção e, especialmente, sem guia.

É o que ocorre, por exemplo, na vida social e, especialmente, política da vida moderna, onde nota-se uma completa ausência deste senso de direção, de rumo sereno e seguro da vida político-social. Basta dar uma olhada no que ocorre nas grandes e pequenas nações, nas organizações, nos políticos, na própria vida social das gentes, onde se vê uma total perca de rumos seguros a seguir. Alguns exemplos: o descalabro da situação financeira das nações européias e de uma infinidade de outras espalhadas pelo mundo, as convulsões sociais que fervilham em todos os continentes, com um enorme maremagno de insatisfações que pululam de todos os quadrantes, etc. Até mesmo uma coisa natural entre os animais está faltando nos homens, que é a existência de líderes. Há muitos anos que a humanidade vem padecendo da ausência de líderes autênticos que possam guiar os povos a sair da situação caótica em que se encontra.

Chega a tal ponto essa carência de líderes que o ex-presidente do Parlamento Europeu, Paul-Henri Spaak, que foi também um dos planejadores do Mercado Comum Europeu, declarou a respeito da crise econômica: “Nós não queremos mais um comitê; já temos comitês demais. O que queremos é um homem de influência suficiente para conseguir que todos os povos se aliem e nos tire do atoleiro econômico em que estamos nos afundando. Mandem-nos esse homem, e seja ele Deus ou o diabo, nós o receberemos”. O desespero deste homem paganizado ou pagão chega ao ponto de desejar o próprio diabo como seu guia, desde que seja capaz de resolver a situação econômica que está vivendo.

Ele e outros vão passar a vida toda procurando tais líderes e nunca o vão encontrar, porque no panorama atual as lideranças que aparecem só fazem piorar a situação, haja vista que procuram a solução dos problemas longe de Deus e de Sua Igreja, completamente afastados do caminho que poderá dar à sociedade moderno o retorno de seu senso de orientação. Especialmente se aparecerem lideranças oriundas, não de Deus, mas do diabo como ele desejava.

(1) Suma Teológica, I-II, q. 94, a.2 – ver também II-II, 2.1, a.7

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A FELICIDADE SOCIAL






Santo Agostinho

 
"Embora os que apreciam e adoram os deuses, cujos crimes e maldades se jactam de imitar, de nenhum modo procurem atender à conservação de uma República má e dissoluta, de tal forma que esta exista e floresça em abundância de bens e gloriosas vitórias; o que é a maior felicidade, com tal que goze de um a paz segura e estável, a qual importa para nós? Outrossim, o que interessa mais para cada um é que cada um aumente continuamente suas riquezas, com as quais possa sustentar os gastos do dia a dia; e, do mesmo modo, é que sendo mais poderoso possa sujeitar igualmente aos mais necessitados, ou que obedeçam aos mais ricos os mais pobres, somente para conseguir a comida e aliviar suas necessidades, e para que à sombra de seu amparo gozem do ócio e da tranqüilidade, e se sirvam os ricos dos indigentes para suas respectivas necessidades e para a ostentação de sua pompa e fausto;

que o povo aplauda , não aos que o persuadam o que lhe importa, mas aos que lhe proporcionam gostos e deleites; que não se lhe mande coisa dura nem se lhe proíba coisa torpe;

que os reis não atentem para si se são bons e virtuosos seus vassalos, mas apenas se obedecem suas ordens;

que as províncias sirvam aos reis, não como governadores ou primeiros diretores de seus costumes, mas como a senhores ou donos absolutos de seus bens e como provedores ou dispensadores de seus deleites e regalos, e ao mesmo tempo que o honrem e reverenciem, não sinceramente ou de coração, mas que o temam servilmente;

que castiguem severamente as leis primeiro o que ofende à vida alheia do que aquele que dana a própria vida; que ninguém leve à presença do juiz senão ao que seja prejudicial aos bens, casa ou saúde alheia, ou seja importuno ou nocivo por seus costumes relaxados;

que no mais, com seus afetos ou culpas, ou dos haveres destes, ou dos quais queira que condescendesse faça cada um o que mais lhe agrade;

que também haja abundância de mulheres públicas, para todos os que quiserem participar delas, ou particularmente para os que não possam tê-las em sua casa;

que se edifiquem grandes, magníficas e suntuosas casas onde se façam saraus e festejos, e onde, segundo o parecer de cada um, de dia e de noite, jogue, beba, se divirta, gaste e triunfe;

que continuem sem interrupção os bailes, fervam o teatro com os aplausos e vozes de alegria; que se comovam com a apresentação de atos desonestos e todo gênero de deleites tão abomináveis e torpes, e que seja tido por inimigo público o que não gostar desta felicidade;

que qualquer um que tentar alterá-la ou tirá-la possam todos, livremente, expulsá-lo para onde não o ouçam, o desterrem para onde não seja visto e o tirem do meio dos viventes; que sejam tidos por verdadeiros deuses aqueles que promoveram esta felicidade e, alcançada, souberam criar meios para conservá-la; que os reverenciem e honrem do modo que lhes seja mais agradável; que peçam os jogos e festas que sejam de sua vontade e possam alcançar de seus adoradores, contanto que procurem com todo seu esforço, que esta felicidade momentânea esteja segura das invasões do inimigo, dos funestos efeitos do contágio e de qualquer outra calamidade;

e quem em são juízo haverá quem queira comparar esta República, não digo eu com o Império romano, mas com a casa de Sardanápalo, o qual, sendo por algum tempo rei dos assírios, entregou-se com tanta demasia aos deleites que mandou se escrevesse em seu sepulcro que depois de morto somente conservava o que havia devorado e consumido em vida seu torpe apetite? Se a sorte houvesse dado aos romanos por rei a Sardanápalo, e contemporizasse e dissimulasse estas torpezas sem contradizê-las de modo algum, sem dúvida de boa vontade lhe consagrariam o templo e a chama que os antigos romanos deram a Rômulo”.

(Cidade de Deus – Capítulo XX do livro Primeiro)
.

Segundo filósofos modernos, a felicidade ou o gozo da vida tem que ser desfrutado coletivamente: o fim do homem nesta terra é o gozo dos prazeres, e estes não podem ser individuais, mas socialmente desfrutados. Há neste princípio uma distorção da doutrina católica, que diz que a verdadeira felicidade (mesmo a passageira deste mundo) não pode ser desfrutada individualmente e sim socialmente, com a diferença de que a verdadeira felicidade não está no gozo e nos prazeres, mas na prática do amor a Deus e ao próximo, mesmo que para tanto tenha que se sofrer.

Há ou não há no relato de Santo Agostinho muita semelhança do que se gozava no império romano com os dias atuais? Vejamos algumas semelhanças:

que não se lhes mande dureza, nem se lhes proíba coisa torpe; que os reis não atentem a se são bons e virtuosos seus vassalos, mas se obedecem suas ordens;

Não há um só país do mundo de hoje em que os governantes se preocupem que seus cidadãos sejam bons ou ruins, mas apenas que cumpram suas ordens, suas leis. Porisso, ninguém suporta que o governo crie leis que lhes exijam sacrifícios, como ocorre agora na Europa com os protestos contra as duras leis de contenção de despesas dos governos em crise.


que o povo aplauda , não aos que o persuadam o que lhe importa, mas aos que lhe proporcionam gostos e deleites;


A tendência de todo governante do mundo moderno é alcançar os melhores níveis possíveis de popularidade e, para tanto, existem diversos institutos de pesquisas que medem constantemente o grau de aceitação de seu governo entre o povo. Mas, para conseguir esta sonhada popularidade nenhum deles se arrisca a editar leis que causem sofrimento á população, mesmo que possa ser benéfica ao bem comum. Como diz-se por aí: pão e circo alegre o povo. Basta dizer que é próprio das constituições de quase todos os países atuais falar quase somente dos “direitos” de seus concidadãos, mas nem sempre dão ênfase aos “deveres”, que deveriam ser correlatos e até mais importantes do que os direitos.

que também haja abundância de mulheres públicas, para todos os que quiserem participar delas, ou particularmente para os que não possam tê-las em sua casa;

Nem é necessário se deter muito para se constatar a avassaladora onda de promiscuidade sexual que toma conta do mundo moderno: tudo é permitido nessa matéria, sendo a perversão sexual o crime mais aviltante e cometido com a conivência da lei, do Estado e de toda a sociedade. Santo Agostinho falou de um mal de seu tempo, a prostituição pública, mas, hoje, há pior, que é a prostituição de crianças.

que se edifiquem grandes, magníficas e suntuosas casas onde se façam saraus e festejos, e onde, segundo o parecer de cada um, de dia e de noite, jogue, beba, se divirta, gaste e triunfe;

que continuem sem interrupção os bailes, fervam o teatro com os aplausos e vozes de alegria; que se comovam com a apresentação de atos desonestos e todo gênero de deleites tão abomináveis e torpes, e que seja tido por inimigo público o que não gostar desta felicidade;

Parece que o texto acima foi feito por autoridade religiosa de nosso tempo, censurando, por exemplo, as milhares casas de espetáculos espalhadas pelo mundo com o único fim de gozos e festas. E, em grande parte, compostas de espetáculos torpes, onde campeia a promiscuidade sexual e moral. Sem falar dos estádios e de outros lugares públicos dedicados exclusivamente às diversões, cujos gastos não são vistos por ninguém como supérfluos; ao contrário dos templos religiosos, a maioria em ruínas e ao abandono.


que qualquer um que tentar alterá-la ou tirá-la possam todos, livremente, expulsá-lo para onde não o ouçam, o desterrem para onde não seja visto e o tirem do meio dos viventes; que sejam tidos por verdadeiros deuses aqueles que promoveram esta felicidade e, alcançada, souberam criar meios para conservá-la; que os reverenciem e honrem do modo que lhes seja mais agradável; que peçam os jogos e festas que sejam de sua vontade e possam alcançar de seus adoradores, contanto que procurem com todo seu esforço, que esta felicidade momentânea esteja segura das invasões do inimigo, dos funestos efeitos do contágio e de qualquer outra calamidade;

É assim o mundo moderno: as personalidades mais honradas e festejadas são aquelas que trouxeram algo de proveito para o gozo da vida, para os deleites e sensações agradáveis. Todo e qualquer técnico, mesmo sem qualificação moral nenhuma, mas que produziu algum invento que tornou a vida mais gozosa, mais prazeirosa e fácil, torna-se um cara endeusado e badalado pela poderosa mídia. Em geral são mostrados como modelos de perfeição, como exemplos de homens inteligentes, espertos e audazes, embora seus inventos nada tenham feito senão tornar a vida gostosa e mais fácil.

No final, Santo Agostinho coloca como exemplo disso tudo a vida de um personagem da Antiguidade, Sardanápalo, o qual suicidou-se com toda sua família e pediu que junto de seus corpos fossem enterrados todos os objetos com que gozavam os prazeres da vida, não permitindo que outros também os desfrutassem.

Mas, pensando bem, será que a sociedade moderna desfruta realmente desta felicidade que alardeiam aos quatro ventos?


Situação moral do mundo moderno

Conforme explicitado na obra “Revolução e Contra-Revolução”, do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, o passo seguinte da Revolução, chamada 4ª. Revolução (v. pág. 303), se daria pelo processo do socialismo autogestionário rumo ao tribalismo. Neste caso, a autogestão seria uma transição para um regime ulterior, uma forma de sociedade inteiramente tribal, onde as pessoas levassem vida comum e promíscua, sem classes, sem ordem, sem hierarquia, toda igualitária.

Para se atingir tal objetivo, a sociedade se vê hoje infestada de vícios morais, como os abaixo:

1º. – A inveja – Estimulando a cobiça pelo bem do próximo, seja pela invasão de propriedades, desapropriação dos ricos ou pelo simples anseio de lutar para superar o outro em riqueza e poder; o grande desfrute dos prazeres modernos, através da tecnologia avançada, das viagens turísticas paradisíacas, cujo acesso é restrito a uma elite, desperta no geral da população inveja e cobiça, além, é claro, das riquezas ostentosas;

2º. – A preguiça – Fazendo com que o Governo tome conta de todas as atividades produtivas se consegue inibir o espírito de iniciativa da população: todos dependendo do Estado ninguém terá incentivo em se esforçar para produzir e crescer;

3º. – A Ira, ou então o desejo desordenado de vingança. Esta fase vem sempre depois, principalmente em alguns países ocidentais, mas tudo começou com a ênfase dada aos chamados “direitos humanos”, chegando-se hoje a se incentivar as guerrilhas e revoluções sangrentas ou atentados terroristas, com visível intuito de se eliminar as classes superiores ou causar desespero nas multidões;

4º. – Outras paixões desordenadas do homem são estimuladas, como por exemplo o orgulho e o apetite desordenado pelo próprio louvor; a gula ou o apetite desordenado pelo comer e pelo beber, através de folias, bacanais, farras, orgias,. etc. A luxúria, ou o apetite desordenado pelo prazer sexual é excitado através do cinema e da TV, assim como das revistas e das modas sensuais; a avareza ou o apetite desordenado pelo dinheiro é estimulado através de regras econômicas e financeiras impostas a todos, conseguindo-se também inveja pelo progresso do próximo, estímulo à cobiça pelo lucro fácil, enfim, a mera luta pelo dinheiro que se tornou uma espécie de deus. Tudo isso estimulado, é claro, sob o disfarce da procura da felicidade na terra.

Como resultado, predomina o orgulho pelos vícios correlatos da jactância, do afã pelas novidades, da hipocrisia, da pertinácia, das discórdias, e das disputas e desobediências às leis. Imperando a gula vemos o seu corolário, que é a torpeza ou estupidez do entendimento, a alegria desordenada tendendo para o êxtase da droga, a loquacidade excessiva, a baixeza nas palavras com uso de palavrões, gestos indecentes, luxúria e imundície. Pela luxúria o homem moderno adquiriu a predominância da cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância na prática do bem, amor desordenado a si mesmo, ódio a Deus, principalmente através da indiferença para com as coisas da Religião, apego a esta vida e horror pela vida futura.

Dentre os avarentos (quantos são eles hoje!), predomina uma completa dureza de coração para com os pobres e necessitados, a solicitude desordenada pelos bens terrenos, a violência, o engodo, a fraude, o perjúrio e a traição. Dentre os preguiçosos impera a malícia, o rancor, a pusilanimidade, a desesperação, a torpeza, a indolência na guarda da Lei e divagação da mente para coisas ilícitas. Dentre os invejosos predomina o ódio, a murmuração, a difamação, o prazer pela adversidade do próximo. Um meio de estimular isto tudo é promover a tomada dos bens dos que os possuem, isto através das chamadas reformas agrária e urbana.

Finalmente, uma nota comum: em todos predomina a ira, a indignação por qualquer mal que sofra, o rancor, a blasfêmia, o insulto, a rixa e a sede constante de vingança a qualquer custo. Tudo isto pode gerar, ao final, o canibalismo, como já se observa em casos esporádicos.

Quatro vícios e crimes predominam hoje em toda a sociedade humana, em todo o orbe terrestre: o homicídio, a sodomia, a opressão dos pobres e viúvas e a defraudação do salário do trabalhador. Com estas quatro espécie de vícios e torpes crimes todos os outros advirão na sociedade.

Pode-se dizer que nesse mar de vícios e de selvagerias o mundo moderno desfruta de alguma felicidade?



terça-feira, 25 de junho de 2013

Por uma reforma moral


(A análise imparcial dos males da atual Constituição, feita por Dr. Plinio, caiu no ostracismo)

Discute-se a prerrogativa de um plebiscito com o objetivo de uma “reforma política”. Precisamos, realmente, de uma reforma política ou de uma “reforma moral?”

Alguns anos atrás, numa conferência para familiares de seus seguidores em São Paulo, Dr. Plínio foi solicitado a dar uma sugestão para melhorar a situação do Brasil. Como hoje, várias perguntas eram feitas naquela época: o que fazer para diminuir a criminalidade? O que fazer para melhorar a moralidade pública? O que fazer, ou que lei deve ser aprovada, para fazer o Brasil sair deste caos e seguir seu rumo histórico de forma pacífica?

Para responder a tantas perguntas foi necessária uma só resposta, dada naquela época por Dr. Plínio:

- Na situação em que nos encontramos, nenhuma lei ou medida mudará o rumo do país. Uma lei só é necessária: que se cumpram os 10 de mandamentos da Lei de Deus e tudo o mais virá por acréscimo.

Isto é, se os políticos cumprirem os mandamentos divinos serão seguidos pela população; ou então, se a população em peso seguir tais mandamentos, os políticos, forçosamente, também o farão. Não há outra saída. A solução para todos é tornar-se verdadeiro cristão. As outras leis serão decorrentes do cumprimento da Lei de Deus. Se todos cumprissem os mandamentos divinos não haveriam corruptos, nem entre os políticos, nem entre a própria população; não haveria tantas violências e injustiças.

Falamos de reforma moral em vez de reforma política. Mas, um governo pode pleitear perante a população uma “reforma moral?” Pode. Nem tudo aquilo que um governante faz é baseado nas letras da Constituição. Há discursos sobre tantas coisas, sobre problemas nacionais os mais diversos, sem que estejam previstos na Constituição. Então, por exemplo, a convocação de uma cruzada por uma reforma moral pode ser feita por qualquer cidadão investido de qualquer cargo político. E, com certeza, seria bem aceita pela população. Seria como convocar todos para alfabetizar os ignorantes.

Mas, perdendo tempo em discussões inúteis e inócuas, a mídia convoca diariamente os melhores juristas para saber se é legítima a convocação de um plebiscito para a propalada “reforma política”. Se tais juristas, em sua maioria, cumprissem antes de tudo os preceitos morais, não haveria a menor dúvida entre eles do caminho a seguir. Pois a lei existe em função de regras morais vividas pela sociedade; estas regras estão na base de tudo, sem elas nem existiria a nação.

No entanto, a Suprema Corte decide não em função das leis morais, mas da letra escrita na constituição; e, às vezes, até mesmo para atender pressões internacionais. E assim, aprovaram aberrações imorais como o casamento homossexual e a expulsão de populações pacíficas e trabalhadores de terras tidas como “indígenas”, experiências com embriões humanos, libertação de criminosos, etc. Há mais, mas citei apenas algumas das aberrações que o STF,tem aprovado nos últimos anos. Tudo isso para fazer eco a alguns ávidos por mudanças que não são, nem de longe, os anseios de nosso povo. Há suspeitas fundadas de que todas essas medidas foram aprovadas sob pressão da própria ONU, o órgão que mais promove o aborto, o casamento homossexual e tantas aberrações morais que campeiam no mundo de hoje.

Os últimos protestos se dirigem também contra uma organização internacional, a FIFA, por querer mandar no Brasil, mas não se fala contra a ONU, uma organização espúria que tem feito tanto mal ao nosso país com imposição de medidas legais que ferem profundamente o sentimento cristão de nosso povo. Por que os protestos não falam contra o aborto? Porque essa minoria que protesta também é destituída de sentimentos morais, nem se sabe exatamente o que eles representam ou o que querem.

Os princípios morais de uma “reforma política”

Em primeiro lugar temos que analisar onde se encontra a legitimidade do poder político. Eis algumas análises, sob o ponto de vista moral:

1. O povo pode escolher um político numa eleição, nomeia-o, aclama-o, mas não é quem lhe confere os poderes próprios ao cargo, como o de legislar ou de aplicar as leis: isso cabe à “carta magna” elaborada por uma elite de notáveis;.

2. O poder político só pode ser tirado por uma comissão de notáveis que tenha recebido tal prerrogativa (no mundo moderno, pelos deputados eleitos pelo povo). Isto é, pode eleger e colocar o político no cargo, mas na hora de tirá-lo só quem pode fazê-lo são seus pares políticos. É verdade que os que “cassam” mandatos políticos receberam do povo uma procuração para fazê-lo, mas aí temos dois pesos e duas medidas: para colocar o sujeito no cargo a eleição é feita pelo povo, mas para tirá-lo não é o povo que decide. Não seria justo que houvesse também uma “deseleição” para tirar o sujeito do cargo se este não cumprir o que lhe exigia o mandato? Esta idéia tão propalada de que a simples eleição criteriosa vai moralizar a vida pública não funciona, pois ela vem sendo pregada a tantos anos e não se vê o seu resultado prático.

3. A nossa Constituição não foi fruto dos anseios de nosso povo, mas de conciliábulos de uma minoria. Não há qualquer autenticidade de suas deliberações, porquanto muitas delas são contrárias aos sentimentos morais da nação. É por isso que causa até hoje tanta confusão. Há uma grande quantidade de artigos que estão indefinidos, a espera de que os políticos o façam; enquanto outros foram definidos de forma açodada e errada. Uma delas é a definição de família, tida como um simples ajuntamento de duas pessoas ou mais, quando, no senso moral de nossa população família é fruto de um casamento entre homem e mulher com seus respectivos filhos.

Uma boa lição de moral dos políticos para o povo brasileiro era se todos renunciassem a seus cargos e os pusessem a disposição; ou então se aceitassem pacificamente o fim dos partidos políticos, tidos como meros antros de formação de quadrilhas, e criassem um sistema de representação política através das classe sociais. Talvez fosse uma reforma revolucionária e única no mundo, uma lição para os políticos de outros países que sofrem os mesmos problemas de representatividade. Mas, não seria uma verdadeira reforma que atenderia os anseios de nossa população?

Que tipo de reforma vai ser submetida à apreciação do povo? Aquela que os anseios e necessidade de ordem e paz da população ou, mais uma vez, apenas para atender aos interesses dos grupos partidários?
Parece que a presidente perdeu uma boa oportunidade de manter alta sua popularidade, aliás, toda ela baseada em meras medidas demagógicas de assistencialismo social.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Um povo à altura do Cruzeiro do Sul







Brasileiros de um espírito patriótico, alertado e atualizado! Brasileiros movidos pelo espírito cristão, indissociável de toda alma verdadeiramente brasileira!

Brasileiros aqui se congregam para afirmar perante o país que é bom pensar nas grandezas do futuro, que é necessário trabalhar para que o Brasil vá adiante no caminho de potência emergente que vai trilhando neste momento. Mais do que sonhar com um futuro grandioso, é preciso trabalhar para realizar e antecipar esse futuro.

Mas isso não basta. É preciso também lutar!

Porque a vida não é só feita de esperanças, a vida não é só feita de anelos: ela é feita também de riscos, ela é feita de aleivosias, ela é feita de perigos.

E ai do varão, ai do chefe de família, ai do chefe de empresa, ai do chefe civil, militar ou eclesiástico, que não tenha os olhos igualmente abertos para esse aspecto da realidade: o “inimicus homo” de que nos fala a Escritura, que ronda em torno de cada homem, em torno de cada setor da atividade social, em torno de cada nação do mundo contemporâneo, pronto para se atirar sobre ela, no momento em que encontre condições favoráveis para isso.
Atinge verdadeira grandeza o povo que une a luta ao trabalho
Nesta circunstância é bem certo que importa pensar também no perigo.
Mas, não me parece que o pensar no perigo e nos prepararmos para ele, congregarmos e o concitarmos os nossos concidadãos a lutar contra ele, seja algo dissociado das nobres preocupações da faina diária e da construção de um Brasil sempre maior.

Pelo contrário, professor de História que sou – habituado desde minha remota juventude a me debruçar sobre os fatos históricos á procura das Leis com que Deus pauta a existência, o porvir dos povos, e neles inscreve os sinais de sua Misericórdia e de sua Justiça -, sempre me chamou a atenção um fato que tem a sua projeção sobre a realidade natural, até no mundo animal, e até mesmo no vegetal.

Esse fato que a História ensina é o seguinte:
Não é verdade que atinge a grandeza, a grandeza efetiva, a grandeza durável, a grandeza plena, aquele povo que apenas trabalhou pela sua própria grandeza.
A grandeza é atingida, sim, pelos povos que trabalham, não há dúvida. A Providência na quer, nem abençoa, povos que não trabalham.
Mas a grandeza verdadeira se adquire quando, ademais, o homem – tomando conhecimento desta regra de que ele encontrará em seu caminho o adversário a agredi-lo na justiça de suas vias e na santidade de seus propósitos --, prepara-se para a luta, enfrenta a luta, confia na Providência e vence nessa luta!
Os povos que só são trabalhadores não chegam à verdadeira grandeza. Os povos só trabalhadores não alcançam a verdadeira grandeza.
Os povos que sabem aliar a luta ao trabalho, fazendo do trabalho uma luta e da luta um trabalho, entregando-se operosamente à luta e ardorosamente ao trabalho; os povos que sabem unir esses dois aspectos de sua atividade, esses povos, são o signo da Cruz, tornam-se verdadeiramente grandes.
As intempéries, as dificuldades, quanto maiores, tanto mais preparam uma nação para a sua grandeza, quando ela é grande ao enfrentá-las.

Pensando na grandeza do Brasil

E então eu penso no nosso Brasil...

No nosso Brasil de proporções continentais, habitado por um povo que – é bem verdade – a imigração tornou heterogêneo, mas que vai se amalgamando numa superior unidade de espírito, na qual a inteligência, a sutileza, a capacidade de trabalho e o desejo de progredir se afirmam dia a dia mais.

Eu penso nesse país e nesse povo, e penso comigo: quando o Brasil tomar para si esse dever de aliar luta e trabalho, qual será a sua grandeza?

Ninguém poderá dizê-lo.

Ele terá a grandeza de alma proporcionada ao vigor da luta que, no terreno psicológico como no terreno material, as circunstâncias lhe tenham imposto e ele saiba travar.

Ele terá, ao mesmo tempo, a grandeza de seu território, a grandeza de sua riqueza. Ele será um povo de lutadores, que saberá como nunca trabalhar. Ele será um povo de trabalhadores que soube provar que é formidável na luta.

Sobre ele, eterno, imutável, brilhará o Cruzeiro do Sul, que já Pedro Álvares Cabral viu quando as naus com signo de Cristo vieram aportar em nosso território.

E o Brasil de hoje, voltando-se para o Brasil de ontem, e voltando o olhar enlevado para o Brasil de amanhã, o Brasil de hoje, creio eu que, na afirmação uníssona de todos os nossos corações, poderá exclamar:

“Vivemos dias amargos. Mas, pela graça de Deus, soubemos ser grandes, à altura de nosso povo, de nosso território, à altura do Sinal da Cruz que está esculpido nos nossos céus!”



(Extraído da revista “Dr. Plínio”, nº 66. Setembro de 2003).









sexta-feira, 21 de junho de 2013

O que havia de autêntico estava dentro do cavalo de Troia



Há algo de autêntico nas manifestações de rua? Sim, é verdade que campeia um grande descontentamento na população, fato inegável. Tal descontentamento vem sendo alimentado e estimulado por um trabalho sorrateiro da mídia. Por exemplo, sempre que se noticia um crime clamoroso, logo em seguida vem a frase “o bandido até o momento não foi preso”; sempre que se comete uma barbaridade contra alguém, um assassinato frio e cruel, o repórter é orientado a perguntar pelos familiares das vítimas sobre o direito de justiça, que seria punir o culpado. Esse anseio por justiça chegou a movimentar toda a opinião pública contra os responsáveis pelo incêndio da boate de Santa Maria, não houve um só que manifestasse o perdão aos culpados, involuntários, diga-se de passagem. Muitas vezes a exigência de se cumprir justiça confunde-se com mero desejo de vingança. E assim é alimentada a indignação contra a Justiça, morosa, lenta e benigna com os crimes. Quando os temas são de ordem política a mídia alimenta mais ainda a insatisfação, colocando no “pelourinho” aqueles mais corruptos e mais visados por causa de cargos altos. Embora os órgãos de imprensa ajam sempre assim, no entanto nunca apresentam uma solução para os problemas, deixando o povo sem rumo e considerando que “o Brasil não tem jeito”. Quer dizer,  promovem a desesperança, que já impera em muitos. O trabalho deles é tirar a seiva da lenha para que fique seca e venha o fogo e lavre mais facilmente.

É justo reclamar contra a corrupção? É claro,  é evidente. No entanto, pouco se diz que o problema da corrupção está enraizado em nosso povo; de tal sorte que, em geral, os mesmos que protestam contra os políticos corruptos também participam de uma corrupçãozinha em seu nível familiar ou pessoal. É uma questão de cultura e de educação.

É justo protestar contra os gastos abusivos das copas de futebol? Sim, é justo se indignar e protestar contra tais gastos abusivos, deixando que uma organização internacional de futebol mande no Brasil. Como tais copas envolvem altos negócios, tudo é perdoado pelas autoridades. Ninguém pode ficar calado perante tantos desmandos.

É lícito que se proteste contra a impunidade? É evidente que o povo tem o direito de se indignar e se manifestar contra a grande impunidade que campeia no país, havendo rumorosos casos de políticos e de pessoas influentes que se beneficiam de seu prestígio para fugir da justiça.  Mas, isso é algo tão complicado que, para mudar, tem que haver adequação até do nosso Código Civil, que premia bandidos com redução de pena, coisa inédita no mundo. O problema da maioridade penal, por exemplo, que tem diversos movimentos pedindo para reduzir para os 16 anos, foi declarado pelo próprio ministro da justiça como “causa pétrea”, algo que não se pode mexer. Quer dizer, há uma má vontade de nossa elite política em solucionar o problema da impunidade judicial.

Enfim, todas as questões levadas para as manifestações de rua são justas, lícitas e razoáveis? Todas, não; pois a maioria porta cartazes com bobagens e coisas que não representam o pensamento da população. Mas, no geral, há reivindicações autênticas, como as elencadas acima. A este ponto chegamos em concordar com o descontentamento, mas fica por aí. Vem agora, a forma de fazê-lo e o que se encontra por detrás de tudo isso. Uma coisa é a doença que ataca o corpo do paciente e outra são os remédios que lhe querem aplicar.

Dá para desconfiar que um movimento tenha surgido, assim de repente, fruto das redes sociais, e tenha feito esta massa ter saído de casa para enfrentar a policia e a ordem pública. Os organizadores programaram os locais, o horário e o dia das concentrações, deram orientações de não permitirem partidos políticos, espalharam palavras de ordem, mas não deram aos manifestantes um ideal fixo, uma questão-base, um lema para ser levado em questão. Não, tudo ficou por conta de cada um, dando ao movimento um sentido mais de anarquia do que de organicidade.  É, exatamente, essa anarquia que não corresponde aos anseios de nosso povo, que precisa de ordem para ter paz  E não se obtém ordem com passeatas, quebra-quebras e confrontos com a polícia.

Aqui chegamos a uma questão básica, que é analisar até que ponto a autêntica insatisfação e indignação de nosso povo está sendo manipulada para fins escusos. Os manifestantes, que saíram às ruas justamente indignados com tantas coisas erradas em nosso país, não percebem que estão sendo usados como “massa de manobra” para outros fins que aqueles pelos quais lutam. Os radicais, como vimos em nossa postagem anterior, o sabem, e por isso estão na frente do movimento.

Como estão misturados com os pacifistas, foram por estes ocultados e lhes deram cobertura para praticar seus crimes. Os pacifistas agiram como os do famoso cavalo de Troia, que levava em seu interior os soldados que iriam invadir a cidadela. Quanto aos crimes de vandalismo, no caso, seria razoável que o Ministério Pública os processasse por crime culposo, aqueles que a pessoa é responsável mesmo sem ter a intenção de praticá-los.

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vitória dos radicais



                                                                           (quem será o Conh-Bendit brasileiro?)

A situação em que se encontra o Brasil é comparável à de um doente em que uma terrível doença ataca todos os órgãos e cujas células começam a morrer e dizimar umas as outras. Os principais órgãos, formados pelas elites políticas, trabalham enfermos desde a proclamação da república em 1889, causando um tremendo mal-estar em todo o corpo social. O qual jaz doente sem encontrar em si mesmo solução para seu caso. E o pior: não há um médico que possa aplicar naquele corpo gangrenado uma medicação eficiente, pois o doente se recusa a ser medicado. Por que recusa? Porque perdeu o senso de orientação, o sendo de direção para lhe nortear e guiar seus passos. Não se busca mais os caminhos normais para a solução dos problemas, e por isso se vai atrás da cura em fórmulas mágicas da panacéia anarquista. Todos gritam ao mesmo tempo, pedindo tudo ao mesmo tempo, sabendo que tais gritos não vão solucionar seus problemas.

Dentro deste panorama, pergunta-se: quais os próximos passos desta revolução que se faz espontânea e se diz ter nascida do povo? Não se pode vislumbrar os próximos passos a não ser num exercício de imaginação, ou de quase adivinhação. Primeiramente, os radicais precisam se posicionar, acampar, se instalar, numa praça, numa rua, numa cidade, e a partir daí, com a conivência, se possível, das autoridades, formar “comandos” com os quais precisam continuar avançando. É por isso que eles insistem tanto em invadir prefeituras ou quaisquer prédios públicos. Como não pretendem tomar o poder, pois não é própria da anarquia a assunção de cargo público (esta a razão de não aceitarem siglas partidárias em seu meio), as autoridades podem julgar que serão inofensivos ali instalados. Formarão “tribos” e poderão compor uma nova sociedade, toda ela igualitária, sem governo, sem lei entre si a não ser de seus comandos. Por enquanto, só podemos analisar o que já fizeram até agora. Por exemplo, nesta última manifestação.

Na hora de escolher mais um motivo para sair às ruas os responsáveis pelas manifestações de rua no Brasil viram um só: comemorar a vitória de haver conseguido as autoridades recuarem e terem reduzido o preço das passagens de ônibus. Quando soube desta motivação lembrei-me do célebre episódio de Pirro, o qual perdeu a guerra ganhando a batalha. Sim, porque a vitoria não foi dos que desejavam protestar contra certas coisas erradas de uma forma “pacífica”, mas dos radicais, que querem, a todo custo, botar fogo no país. Se prestarmos bem atenção, o foco de todo o noticiário das TVs foi sobre a ação dos vândalos e arruaceiros, quase não se ouviu ecoar a voz dos que ostentavam seus cartazes ou pixavam seus slogans nas paredes. O destaque foi, realmente, dos radicais.

Por qual razão os pacifistas perderam para os radicais? Simplesmente porque não querem chegar até às últimas conseqüências e temem uma reação contrária da população. Esta, vendo o perigo que nos traz a ação dos radicais terá que apoiar os pacifistas, onde julgam encontrar uma revolução menos dolorosa. Mas, não seguirão estes últimos porque não indicam um caminho, um rumo a seguir, tudo é confuso entre eles, falta-lhe um líder e um lema. Quanto aos radicais, vão continuar avançando e, talvez, com mais adesões a crescer, porque sempre haverá alguém que quer ir até às últimas conseqüências e radicalizar junto com eles. É sempre assim quando estoura uma revolução: os radicais vão na frente para arrastar os demais que vêm atrás.

Veio-me a propósito, novamente, a lembrança do que ocorreu na Revolução da Sorbonne de 1968. Os moderados ou “pacifistas”(pelo menos na aparência), liderados pelo estudante francês-alemão Daniel Cohn-Bendit (que depois virou político da ecologia), deixaram o movimento “morrer” por falta de fôlego, mas os radicais avançaram. Tanto que chegaram a se estruturar em grupos terroristas, como aconteceu com dois deles ao formar as “Brigadas Vermelhas” e o “Baden-Meinhof”, que atuaram na Itália e Alemanha respectivamente. Eram todos universitários e um dia chegaram a ser doutores. Mas não pararam por aí. Um grupo mais feroz deu seu apoio ao “Khmer Vermelho”. Como se sabe o “Khmer Vermelho” foi o grupo guerrilheiro mais violento que já houve, tendo eliminado mais de 2,5 milhões de pessoas no Camboja quando assumiu o poder daquele país. Um dos filósofos que muitos julgavam “moderados” em 1968 era Jean-Paul Sartre, mas este chegou a condenar o terrorismo apenas na Europa, apoiando os grupos armados que haviam no Brasil. Ao visitar um ativista do grupo Baden-Meinhof na cadeia, chegou a declarar que o “terrorismo era justificável no Brasil”, mas não na Europa. Por analogia, era justificável também na Ásia, no Camboja.
A violência dos grupos armados de esquerda deixou um legado de um verdadeiro rastro de sangue que até hoje enxovalha nosso país. Foram eles que criaram o famoso "Comando Vermelho", foram eles que inauguraram a "moda" de assaltos a bancos para financiar as guerrilhas, foram eles que protagonizaram as cenas de crime e de sangue mais violentas em nosso país. Todo o banditismo que há atualmente no Rio e em São Paulo, e suas ramificações pelo resto do país, nasceu, foi parido, na "montanha vermelha", são filhos da esquerda.

Estão sendo hoje treinados entre os vândalos e arruaceiros que acompanham o movimento de protestos no Brasil os futuros terroristas, talvez de um terrorismo diferente, mais avançado, talvez até mais cruel. Quanto aos outros que fazem pacificamente as manifestações, um dia descobrirão muito tarde que colaboraram com tais radicais, os únicos vitoriosos nos últimos dias. Colaboraram como? Simplesmente saindo às ruas sem ordem, sem direção, sem senso de orientação, de uma forma anárquica, causando desgoverno na própria polícia e impedindo-a de barrar os radicais da violência. Toda a mídia derrama rasgados elogios aos manifestantes pacíficos, mas, não demonstram que é por detrás deles, nas costas deles, ou até mesmo na frente deles, que os vândalos cometem tantos crimes e arruaças. Se o Ministério Público quiser responsabilizá-los pelos crimes poderá enquadrá-los no tipo “culposo”, quando não há a intenção, mas culpa, involuntária ou não, pelos crimes ocorridos. E, assim, a vitória dos radicais se deve à presença dos moderados nas ruas... os quais só obterão vitórias semelhantes ás de Pirro em Roma.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Os protestos da classe média brasileira representam todo o povo?



A propósito das manifestações de protesto que estão sendo realizadas no Brasil, venho observando os seguintes aspectos:


1. Embora note-se claramente que o movimento é composto de uma minoria, a mídia o vem apresentando como se fosse toda a população brasileira. Não é possível que numa população de 190 milhões de habitantes, um grupelho calculado em pouco mais de 300 mil em todo o país seja suficiente para retratar todo um povo. De outro lado, tanto as lideranças como os participantes das passeatas não são pessoas do povo, mas membros das classes mais altas, que nem sequer usam o transporte coletivo. Pelo menos cinco que foram presos por fazerem arruaças são altos funcionários federais, conforme notícias da TV.

2. A diversidade das reivindicações. Passe livre nos ônibus, combate à corrupção, controle dos gastos do governo com a copa do mundo, são talvez as principais, mas, há uma infinidade de cartazes reclamando de tudo. São coisas que nunca vão ser atendidas, o que faz do movimento uma coisa inócua. Isso indica que, na realidade, o objetivo é outro. E dizem que estamos querendo “mudar” o Brasil, o que demonstra que a pretensão é de caráter mais profundo. Que mudança será essa? Ninguém sabe, ninguém diz. Porque se disserem que são anarquistas e desejam que impere o desgoverno, ficarão muito mal vistos pela população.

3. A disponibilidade para ir às ruas. Pode surpreender a alguém que uma população toda acomodada em casa por detrás de um computador tenha tido disposição para sair às ruas, o que demonstraria haver uma certa parcela destes viciados na internet a querer sair de seu mundo virtual para o real. E quando saem, querem impor sua vontade e seu programa de vida aos demais, inclusive com violência como agem os arruaceiros. Não se diga que estão nas ruas pedindo aumento salarial nem qualquer coisa que mexa com seus bolsos, pois todos são pessoas que desfrutam de uma boa vida. Esta é a “massa de manobra”, o “caldo de cultura”, de uma nova revolução, a qual, inclusive, já estreou em outros países como o Egito e a Síria. Eles pensam que são os atores de uma peça importante, mas, na realidade, são vítimas de uma certa “lavagem cerebral” operada nos meios em que vivem e na internet. Na mídia eletrônica é alimentada, por exemplo, uma grande camada desta população que “adora” animais: e se descobrem alguém que maltrata um deles, caem em cima desta pessoa sem piedade - nem consideram que o homem também é um animal. Os fatores que podem levar tais pessoas a sair do comodismo do computador para ficar disponível para atuar e sair às ruas deve ser o político-social e a necessidade de afirmação pessoal.

4. O exibicionismo. Não há uma só reportagem que não mostre um grupinho, ou um indivíduo isoladamente, fazendo barulho para ser visto com seu cartaz ou ouvido seus berros e slogans. Esta necessidade de ser visto e ouvido é uma carência de pessoas de certa camada social, em geral vítimas do ostracismo e do anonimato, mas, que desejam de qualquer maneira manifestar aos outros seus pendores e pensamentos. Deste meio é que surgem também os mais violentos, em geral oriundos de grupos politizados nas universidades pelos intelectuais de esquerda.

5. Os cartazes, slogans e “palavras de ordem”. Quando alguém pronuncia uma “palavra de ordem” não está manifestando sua opinião, mas de alguém que lhe ditou o que deve dizer, se não o termo não se chamaria “de ordem”, quer dizer, dita por ordem de alguém ou alguns que comandam. Da mesma forma, os cartazes com slogans retratam geralmente uma frase curta destinada a influenciar as pessoas a agir por impulso e sem análise detida de seu conteúdo: “desculpe, estamos mudando o Brasil”; “se o transporte é público deve ser gratuito”, “abaixo a PEC 37”, são algumas destas mensagens curtas. Não são daquelas do tipo de grevistas, pedindo aumento salarial ou a demissão de uma autoridade, mas, em geral, anunciando um dito “messiânico” e salvador, com uma solução mágica para os problemas atuais.

6. O hino nacional. Tornou-se um abuso o uso do hino nacional em qualquer manifestação pública, seja no futebol, seja nas passeatas, seja em qualquer inauguração de cunho político. Embora a maioria não saiba entoá-lo, o fato de tais grupos tentar fazê-lo apenas demonstra a utilização de um recurso demagógico para impressionar os que assistem. As bandeiras e o hino nacional compõem um quadro de certo “nacionalismo” utópico para atrair e enganar os incautos e esconder motivações ocultas de grupos revolucionários.

7. A motivação pacífica. Nunca houve uma revolução sem derramamento de sangue, não há pacifismo que perdure entre revolucionários. De modo que, mesmo aqueles que dizem que são pacíficos, ordeiros, querem apenas manifestar sua opinião e negociar com as autoridades, na realidade não adotam um certo tipo de violência, mas se comportam coniventes e até apóiam a violência moral ao querer pressionar outras pessoas a aderir e aceitar aquilo que pregam. O ponto principal de qualquer revolução não é a paz, mas o derramamento de sangue, a eliminação de pessoas, pois os elementos que a dirigem têm isso como objetivo: alguns dizem que vão tirar as pessoas do cargo pacificamente, mas, resistindo estes, apóiam os que os matam. Eles, geralmente, nunca aceitam as decisões que venham contrariar seus objetivos. Por exemplo, as autoridades argumentam que é impossível reduzir o preço das passagens de ônibus, mas, os revoltosos, inflexíveis, não aceitam os argumentos e desejam intransigentemente que suas idéias sejam aceitas e até impostas de qualquer forma, mesmo que a redução das passagens venha prejudicar a coletividade toda. E esta imposição não é uma violência moral de um grupo, ou contra as autoridades, ou mesmo contra os que não lhes dão apoio?
Já marcam para o dia 1 de julho uma “greve nacional”, certamente com apoio das centrais sindicais e outras organizações sociais. Então, isso quer dizer que há uma central que comanda, marca datas e eventos, nada é espontâneo e oriundo do povo. Se chegarem a tanto terão movimentado uma grande parte da classe média brasileira, que não é pequena, dizem ser composta de mais de 50 milhões de pessoas. Se apenas 10% da classe média aderir a tal greve (serão 5 milhões, e todos possuem computadores), ou ao movimento de modo geral, teremos o maior movimento político que já houve no mundo, mas não deixará de ser uma minoria, minoria essa movida por outros que a impulsionarão para objetivos que ela desconhece e não deseja. O que farão para aumentar a pauta de reivindicações e convencer a tanta gente para sair ás ruas, só o futuro nos dirá.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Uma Sorbonne brasileira?



(oferta hipócrita de flores aos policiais)

Pouquíssimas pessoas estão entendendo o que acontece no Brasil. Entender tais coisas exige que se conheçam algumas realidades mais profundas. As agitações em São Paulo deixam a população atônita, perplexa e confusa, pois tudo é assim complicado e inexplicável, como o são todos os problemas do homem de hoje. Esse clima foi o mesmo que antecedeu ou que se seguiu aos primeiros dias da revolução da Sorbonne de 1968. Naquele ano, num primeiro instante, os revoltosos protestavam contra a decisão de uma daquelas faculdades parisienses de se proibir doravante a residência conjunta de moças e rapazes nas casas estudantis. Logo depois, as manifestações eram contra a Universidade e sua forma de dirigir os cursos universitários, passando depois para os protestos contra a polícia, contra o governo, contra a guerra do Vietnã, contra o capitalismo, contra o poder, contra a família, contra qualquer tipo de autoridade, etc., etc. Quando as manifestações estavam em seu ponto alto, surgiram adesões importantes para manter o ânimo dos revoltosos, e veio o apoio das centrais sindicais, de jornalistas esquerdistas, de intelectuais, etc., E o objetivo não era tomar o poder, mas acabar com todo tipo de poder: idéia anarquista em sua essência. Essa idéia anarquista, resumida na célebre frase “é proibido proibir” tomou conta de toda a sociedade ocidental, estando hoje o Brasil colhendo seus frutos.

No Brasil, os fatos se assemelham: o protesto contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, ao lado das arruaças e depredações, tem já o apoio de algumas centrais sindicais e de políticos, intelectuais e jornalistas. Não sei por que, os índios não aderiram ainda ao movimento. Dizem que não há um só entre eles que use o transporte coletivo, pois são quase todos da classe média ou média-alta, que anda pra cima e pra baixo montado em seus carros de luxo. Não, ninguém quer derrubar o governo, nem quer assumir o poder – é a anarquia mesmo que se quer implantar no Brasil, isto é, a ausência de governo. A par disso, jornais divulgam que a inflação aumenta e que diminui a popularidade da presidente em decorrência disso. Como se fosse realmente conseqüência de causa e efeito. De outro lado, o dólar sobe, a bolsa cai, como ocorre no resto do mundo. Tudo noticiado num só pacote, a idéia geral é de desgoverno, de anarquia. E as notinhas e cochichos fervilham de todos os quadrantes: milionários começam a retirar seus recursos do Brasil e um dos motivos é uma lei socialista que querem aprovar no país, atingindo de cheio as empresas mineradoras. Querem copiar lei semelhante feita na Venezuela, de onde saíram prejudicadas várias empresas internacionais do ramo de exploração mineral. E tais empresas pesam na bolsa.

Como se vê, parece estar havendo um clima pré-revolucionário de grande alcance, com o incentivo da mídia internacional: a BBC e as grandes redes noticiosas mais famosas do mundo distorcem os fatos e dizem que se trata do reflexo de uma insatisfação popular, que a revolta é de “estudantes” e que o povo brasileiro vai ás ruas da mesma forma como o fizeram alguns no Egito, na Síria e em alguns países árabes. Lá denominaram as revoltas de “primavera árabe” ( o povo egípcio nem árabe é) e andaram espalhando por aí que foi uma coisa “espontânea”, como querem que seja espontânea toda e qualquer revolução, como a Francesa de 1789, a russa de 1917, a da Sorbonne de 1968,, etc. Uma “espontaneidade” dirigida...

Ninguém diz que tudo não se trata senão de uma revolta orquestrada por grupos organizados, fora do povo e contrária ao mesmo. Ninguém divulga as organizações que estão por detrás de tudo e quais seus objetivos ideológicos, filosóficos... Pelo contrário: dizem que tudo é fruto de insatisfação popular. E a repressão da polícia é vista por estes órgãos da mídia como a demonstração de intransigência e intolerância do Governo, ou dos governos, pois, nesse momento, são envolvidos no mesmo diapasão os governos federais, estaduais e municipais. Nem sequer destacam que o estadual é a oposição do municipal e do federal e que não se entendem em matéria política e até mesmo administrativa. Todos os três são envolvidos no mesmo “pacote” e apresentados como culpados por tudo o que ocorre. Torna-se necessário que sejam assim acusados para que se apresente na opinião pública a idéia de uma completa anarquia, de desgoverno, caos...

Os próprios grupos que engrossam os protestos não se entendem e nem são da mesma origem, pelo menos pela aparência. Tanto são vistos aqueles que portam cartazes conhecidamente esquerdistas como outros que protestam contra o Partido governante, de esquerda, e seus próceres mais influentes. Quer dizer: “direita” e esquerda envolvidos na mesma direção. Quem entende? Ocorre que não é para se entender mesmo: o objetivo é causar confusão, deixar as pessoas desorientadas e “desgovernadas”, pois os princípios do anarquismo exigem que o desgoverno, a anarquia, seja total, inclusive, e principalmente, na opinião pública.

Perca do “senso de orientação”

Todo animal possui um sentido que se chama “senso de orientação” ou de direção, pelo qual ele sabe para onde vai e onde buscar alimento e segurança. Este sentido ou senso no homem, porém, é muito mais requintado e elevado por causa de sua alma imortal. Assim, o homem usa tal senso para programar seu futuro, sua vida, posicionar-se na sociedade e compreender o mundo político que o rege. Se não entende o que ocorre na sociedade, onde a tônica é o desgoverno, o caos, a anarquia, o indivíduo perde este senso de orientação no que diz respeito ao futuro da sociedade em que vive. Desnorteado vai passar a agir como mero autômato, sujeito aos influxos de grupos organizados que o impelirá a agir por impulsos. Veremos, assim, uma sociedade composta de autômatos, irracionais, cujo resultado final será a luta entre si, contra tudo e contra todos, onde campeará um clima de violência propício ao “mata-mata”, e cada um por si. É para lá que caminhamos. É para este “tipo” de sociedade, de homens sem senso de orientação, que nos está impelindo os arruaceiros que lutam contra o aumento de passagens de ônibus.

Táticas de guerrilhas urbanas não nascem entre o povo

Muitas coisas estão imiscuídas entre nosso povo, mas não nascem dele e, muitas vezes, são voltadas contra ele mesmo. Um exemplo é o banditismo, que existe, atua e se esconde entre nosso povo, mas não nasceu dele e sim de grupos externos que formam as quadrilhas. O mesmo pode-se dizer daqueles que se especializam em táticas de “guerrilhas urbanas” com o fim de tumultuar e fazer com que impere a anarquia. Em geral, tais grupos nascem dentro de grupos organizados de partidos políticos, universidades e sindicatos, mas nunca se originam da população, isto é, não é nada autêntico e natural do povo. São oriundos de grupos organizados que pregam um sistema de vida, no caso atual, a ausência de poder, de governo, ou seja, o anarquismo.

Tais grupos das chamadas “guerrilhas urbanas” aprendem todas as táticas modernas de enfrentamento contra a polícia, inclusive com técnicas psicológicas para irritar os policiais e fazê-los agir com violência e lhes causar vítimas e mártires. Alguns anos atrás, em Salvador, uma grevista cuspiu no rosto de um policial com visível intuito de provocá-lo e, como o mesmo reagiu dando-lhe uma cassetetada, o flagrante foi apanhado por um fotógrafo que certamente já estava combinado e aguardando o momento. A foto do revide do policial foi aproveitada pela grevista para fazer sua própria propaganda política: ela hoje é deputada. Na mesma capital baiana houve fatos insólitos alguns anos atrás, por ocasião também de uma manifestação contrária ao aumento de passagens de ônibus. Vou descrevê-los.

O movimento sempre se autoproclama “estudantil”, pois assim consegue atrair a simpatia do público, mas é dirigido e composto por uma miscelânea de atividades pertencentes a diversas correntes de sindicatos e partidos políticos de esquerda. Mas, na frente têm que estar os estudantes. A tática consistiu em arrebanhar vários jovens, menores de idade e pertencentes a colégios do nível primário, colocando-os como testas-de-ferro, na frente das passeatas, ocasião em que os mesmos eram orientados a sentar-se no chão, em cima de suas mochilas, quando a polícia chegava para dispersá-los. Ali sentados em frente aos ônibus, impediam que os mesmos circulassem de uma forma “pacífica”. Ai do policial que batesse numa “criança” daquelas. Ainda bem que o Ministério Público foi advertido e fez um bom trabalho, processando aqueles que haviam aliciado os menores para desordens públicas, um crime um tanto difícil de se constatar, pois necessita-se de investigação entre os próprios estudantes. Parece que a solução foi responsabilizar os pais dos mesmos, fazendo com que denunciassem aqueles que iam aos colégios aliciar seus filhos.

O movimento que se dizia popular e espontâneo (sempre querem dar a entender isso) foi traído por causa dos mesmos refrões, mesmas músicas, mesmas táticas e mesmos horários de reuniões e passeatas. Era impossível que uma coisa popular e espontânea tivesse tanta organização e fizesse tudo combinado, com táticas e horários programados.

O mesmo ocorre em São Paulo, na atual campanha contra os transportes coletivos. Existem diferenças de táticas apenas em aspectos exteriores, mas, na essência, dá-se o mesmo.

Assistimos, assim, um prolongamento da Revolução da Sorbonne, de 1968, executado num lapso de tempo tão longo, isto é, 45 anos depois!