domingo, 30 de maio de 2010

A Virgem dos Reis foi esculpida pelos Santos Anjos

Hoje é dia de São Fernando de Castela (século XIII), Patrono de Sevilha, dos engenheiros da infantaria do exército e da juventude espanhola, cujo corpo permanece incorrupto até hoje na Espanha. Relatamos abaixo, em homenagem ao seu dia, como se deu o milagre que fez nascer a devoção a uma imagem sete vezes secular: Nossa Senhora dos Reis ou a Virgem dos Reis.
O cerco sobre Sevilha já durara muito tempo e São Fernando sofria muito com esta demora. O pobre homem vivia agora em contínuas vigílias de orações e penitências. Três vezes por semana se flagelava até empapar de sangue a terra. No entanto, era consolado por alguns religiosos que o acompanhavam, como seu confessor Dom Remondo e frei Domingos, um santo homem que havia sido discípulo de São Domingos de Gusmão. Confiado humildemente no que ouvia de seu confessor e do outro religioso, continuava na sua empresa sem deixar transparecer que sofria terríveis dramas interiores de consciência.
Outro temor que o atormentava era imaginar que poderia morrer ali sem conseguir conquistar Sevilha para Seu Senhor, Jesus Cristo, e assim deixar de cumprir sua missão. Consolava-o porém a idéia de que seu filho e sucessor no trono, Dom Alfonso, iria continuar sua empresa.
A rainha D. Joana percebia claramente que seu santo esposo estava sofrendo muito com aquela situação, mas que sua santidade aumentava com isto e crescia muito nele uma grande devoção à Santíssima Virgem, Mãe de Deus. Ouviu ele queixar-se várias vezes de que os homens não sabiam fazer as imagens da Virgem Santa Maria com um rosto que sorrisse como Ela realmente o faz. Deduziu a boa rainha que seu santo esposo, se dizia isto, provavelmente era porque havia visto a Santíssima Virgem. Pensou que seria para ele uma grande alegria ter uma imagem de Santa Maria que a retratasse mais fielmente.
Enviou a rainha algumas cartas para Burgos pedindo que lhe mandassem um artífice, o melhor que houvesse por lá.
Já se passara um mês e nada do artífice chegar. O calor no acampamento era intenso e horroroso, muitos adoeciam e morriam, e as coisas andavam prenunciando terríveis calamidades para frente. A rainha estava impaciente com a demora da chegada do artífice que solicitara quando um dia se lhes apresentou dois escultores. Segundo contam as crônicas sobre a história da Virgem dos Reis, eram dois anjos. Chegavam em boa hora, pois o próprio rei não os vira e ela queria mandar fazer a encomenda de uma forma reservada. Pediu a um capitão que arranjasse um local onde os dois homens pudessem trabalhar sem que ninguém o soubesse. Levaram-nos então para uma torre e lá permaneceram encerrados até que um dia mandaram avisar à rainha que tinham terminado sua obra.
A rainha foi ao local apreciar a obra de arte. Ela havia pedido que os artífices se esmerassem no rosto da Virgem e o fizesse da forma como seu esposo desejaria que fosse. Ficou a rainha comprazidíssima com a imagem, pois seu rosto tinha uma expressão amável e dulcíssima. Tudo fazia crer que realmente eram anjos os dois artífices daquela belíssima imagem, pois logo desapareceram sem se declararem quem eram ou receber o pagamento de seu trabalho. Deixou D. Joana a imagem naquele mesmo local e voltou à sua tenda para providenciar com suas damas as vestes e adereços da Virgem. Costuraram sem parar os ricos panos reais com as mais formosas sedas que mandaram buscar em Granada. As roupas foram bordadas de ouro e pedrarias. Foram encomendados os sapatos, o véu e tudo o que faltava para ornamentar a imagem sem que São Fernando de nada tomasse conhecimento.
Preparada a imagem, D. Joana chama Dom Remondo, o confessor do rei, e lhe mostra para saber dele se realmente o rei gostaria da expressão do rosto e da beleza daquela imagem. O religioso concordou em que realmente a expressão do rosto era muito piedosa. Era preciso levar a imagem até à capela real sem que São Fernando a visse. Assim, quando o mesmo saíra, Dom Remondo, que também tinha a chave da capela, entrou no interior dela com a imagem e a colocou no altar principal.
Que surpresa teve o rei quando pela manhã foi à capela fazer suas orações matinais! Tão viva foi a recordação que a imagem lhe dera da Mãe de Deus que, todo o tempo que duraram a Santa Missa e as orações dos clérigos, o rei permaneceu absorto contemplando a Senhora que ali via pela primeira vez. Somente escultores angélicos poderiam realmente transmitir para a madeira algo da expressão divinal da Virgem Maria.
- Esta é a Virgem dos Reis! – falou o rei para os circunstantes.
A rainha olhava de lado, contentíssima por ver que o rei permanecia ajoelhado e comprazido aos pés da Virgem.

(Fonte: “Nuestra Señora en el Arzon”, de C. Fernandez de Castro, A. C. J., publicada em 1948 pela Editora Escelicer, S.L., de Cádiz, Espanha).

Abaixo, um vídeo da procissão que se realiza anualmente em Sevilha, no mês de agosto, em honra da "Virgen de los Reyes"




sábado, 29 de maio de 2010

Fazenda da Esperança é reconhecida como Associação Internacional de Fiéis

Acho que todos se lembram da "Fazenda da Esperança", visitada por Bento XVI quando esteve no Brasil, já vista como local de referência no tratamento de drogados. A tal ponto que a própria TV Record (que, por ser de um protestante, sempre demonstra desconhecer as boas iniciativas da Igreja Católica) fez recentemente reportagem mostrando a recuperação de vários jovens que lá se encontram em tratamento.
Agora, os fundadores e membros da Fazenda Esperança, receberam das mãos do presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, cardeal Stanislaw Rylko, o reconhecimento como Associação Internacional de Fiéis. O reconhecimento foi anunciado na segunda-feira, dia 24.
No dia 12 de novembro do ano passado, o Conselho Pontifício para os Leigos recebeu as três últimas cópias do estatuto da “Família da Esperança”. Pouco tempo depois, a Fazenda da Esperança obteve a confirmação do reconhecimento da Família da Esperança em Roma.
Na quarta-feira, 26, a Família da Esperança esteve presente na audiência geral com o papa Bento XVI, na Praça São Pedro, e os seus fundadores Frei Hans Stapel e Nelson Rosendo Giovanelli puderam saudar o papa.
“[Este reconhecimento] traz mais responsabilidade, porque a gora a igreja nos diz: vocês estão no caminho certo. Vão para todo o mundo”, disse frei Hans em entrevista à Rádio Vaticano. “Temos uma missão de não parar. Onde houver alguém sofrendo por causa da dependência [química], devemos ir”, acrescentou.
Fonte: Site
Fazenda Esperança

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dissertando em torno da caridade

Em junho do ano passado, o Papa promulgou uma Encíclica com o título "Caritas in veritate", cujo teor pode ser obtido acessando-se o site do Vaticano. A propósito, ao se aproximar o primeiro aniversário daquela Encíclica, publicamos abaixo alguns artigos da lavra do Dr. Plínio em que o tema é abordado, especialmente por causa de falsas concepções modernas sobre a caridade.
UMA DEFORMAÇÃO ROMÂNTICA DA CARIDADE: "O BOM CORAÇÃO"
Plínio Corrêa de Oliveira
"Odiar é pecado? Sim, não? Por que? Se alguém se encarregasse de fazer entre os nossos católicos um inquérito a este respeito, recolheria respostas muito curiosas, revelando em geral uma pavorosa confusão de idéias, um ilogismo fundamental.
Para muita gente, ainda intoxicada por restos do romantismo herdado do século XIX, o ódio não é apenas um pecado, mas o pecado por excelência. A definição romântica do homem mau é o que tem ódio no coração. A contrário sensu, a virtude por excelência é a bondade, e por isto todos os pecados têm sua atenuante se cometidos por uma pessoa de "bom coração". É freqüente ouvirem-se frases como esta: "pobre X, teve a fraqueza de se ‘casar’ no Uruguai, mas no fundo é muito boa pessoa, tem ótimo coração". Ou então: "pobre Y, deixou roubar em sua repartição, mas foi por excesso de bondade: ele não sabe dizer não, a ninguém".
O que vem a ser "um bom coração"? Evidentemente, começa por não ser um coração propriamente dito, mas um estado de espírito. Tem "bom coração" quem experimenta em si, muito vivamente, o que sofrem os outros. E que, por isto mesmo, nunca faz sofrer a ninguém. É por "bom coração" que uma pessoa pode deixar sistematicamente impunes as más ações de seus filhos, permitir que a anarquia invada a aula em que leciona, ou os operários que dirige. Uma reprimenda faria sofrer, e a isto não se resolve o homem de "bom coração", que sofre ele mesmo demais, em fazer os outros sofrer. O "bom coração" sacrifica tudo a este objetivo essencial, de poupar sofrimento. Se vê alguém queixar-se do rigor do Decálogo, pensa imediatamente em reformas, abrandamentos, interpretações acomodatícias. Se vê alguém sofrer de inveja por não ser nobre, ou milionário, pensa logo em democratização. Juiz, sua "bondade" o levará a sofismar com a lei para deixar impunes certos crimes. Delegado, fechará os olhos a fatos que seu dever funcional lhe imporia que reprimisse. Diretor de prisão, quererá tratar o sentenciado como uma vítima inocente dos defeitos da época e do ambiente; e, em conseqüência, instaurará um regime penal que transformará a casa de correção em ponto de encontro de todos os vícios, em que a livre comunicação entre sentenciados exporá cada um ao contágio de todos os vírus que ainda não tem. Professor, aprovará sonolenta e bonacheironamente alunos que no máximo mereceriam 2 ou 3. Legislador, será sistematicamente propenso a todas as reduções de horas de trabalho, e a todos os aumentos de salário. Na política internacional, será a favor de todos os "Munique" de todas as capitulações imprevidentes, preguiçosas, imediatistas desde que sem dispêndio de energia salvem a paz por mais alguns dias.
Subjacente a todas estas atitudes, está a idéia de que no mundo só há um mal, que é a dor física ou moral: em conseqüência, bem é tudo quanto tende a evitar ou a suprimir sofrimento, e mal é o que tende produzi-lo ou agrava-lo. O "bom coração" tem uma forma especial de sensibilidade, pela qual se emociona à vista de qualquer sofrimento, e defende todo e qualquer indivíduo que sofre, como se ele fosse vítima de uma injusta agressão. Dentro desta concepção, "amar ao próximo" é não querer que ele sofra. Fazer sofrer o próximo é sempre e necessariamente ter-lhe ódio.
Daí advém para o homem de "bom coração" uma psicologia muito especial. Todos os que têm zelo pela ordem, pela hierarquia, pela integridade dos princípios, pela defesa dos bons contra as investidas do mal, são desalmados, pois "fazem sofrer" com sua energia os "pobres coitados" que "tiveram a fraqueza" de cair em algum deslize.
E se em relação a todos os pecadores da terra o homem de "bom coração" tem tolerância, é muito explicável que odeie o homem de "mau coração" que "faz sofrer os outros".
Estas são as linhas gerais em que se pode sintetizar um estado de espírito muito freqüente. Claro está que apontamos um caso em tese. Graças a Deus, só um número relativamente pequeno de pessoas é que em todos os campos chega a estes extremos. Mas é freqüente encontrar gente que em diversos pontos age inteiramente assim.
E constituem multidão aqueles em que se encontram pelo menos laivos deste estado de espírito.
Ainda aqui, alguns exemplos são esclarecedores. Para mostrar quanto este mal está entranhado no brasileiro, escolhamos esses exemplos em maneiras de falar e de sentir comuns entre católicos.
Para que se entenda bem o que há de errado nos exemplos que vamos dar, comecemos por lembrar rapidamente qual é neste assunto a autêntica doutrina católica.
Para a Igreja, o grande mal neste mundo não é o sofrimento, mas o pecado. E o grande bem não consiste em ter boa saúde, mesa farta, sono tranqüilo, em gozar honras, em trabalhar pouco, mas em fazer a vontade de Deus. O sofrimento é certamente um mal. Mas este mal pode em muitos casos transformar-se em bem, em meio de expiação, de formação, de progresso espiritual. A Igreja é Mãe, a mais terna, a mais solícita, a mais carinhosa das mães. Dela se pode dizer, como de Nossa Senhora, que é Mater Amabilis, Mater Admirabilis, Mater Misericordiae. Assim, ela procurou sempre, procura hoje, até o fim dos séculos procurará quanto possa afastar de seus filhos, e de todos os homens, qualquer dor inútil. Mas nunca deixará de lhes impor a dor, na medida em que a glória de Deus e a salvação das almas o peçam. Ela exigiu dos mártires de todos os séculos que aceitassem os tormentos mais atrozes, ela pediu aos cruzados que abandonassem o conforto do lar para arrostar mil fadigas, combates sem conta, a própria morte em terra estranha. E ainda em nossos dias ela pede aos missionários que se exponham a todos os riscos, a todas as fadigas, nos rincões mais inóspitos e longínquos. A todos os fiéis, pede ela uma luta incessante contra as paixões, um esforço interior contínuo para reprimir tudo quanto é mau. Ora, tudo isto supõe sofrimentos de tal monta, que a Igreja os considera insuportáveis para a fraqueza humana, a ponto de ensinar que, sem a graça de Deus, ninguém pode praticar na sua totalidade, e duravelmente, os Mandamentos.
Todos estes sofrimentos, a Igreja os impõe com prudência e bondade, é certo, mas sem vacilação, nem remorso, nem fraqueza. E isto, não apesar de ser boa mãe, mas precisamente porque o é. A mãe que sentisse remorso, vacilasse, fraquejasse ao obrigar seu filho a estudar, a se submeter a tratamentos médicos penosos mas necessários, a aceitar punições merecidas, não seria boa mãe
Este procedimento, a Igreja o espera também de seus filhos, não só em relação a si mesmos, mas ao próximo. É justo que nos dispensemos de dores inúteis e evitáveis. Devemos ter para com o próximo entranhas de misericórdia, condoendo-nos com seus padecimentos, e não poupando esforços para os aliviar. Entretanto, devemos amar a mortificação, devemos castigar corajosamente nosso corpo e, principalmente, combater com afinco, clarividência, meticulosidade os defeitos de nossa alma. E como o amor do próximo nos leva a desejar para ele o mesmo que para nós, não devemos hesitar em fazê-lo sofrer, desde que necessário para sua santificação.
Ora, na aplicação destes princípios é fácil apontar muitos desvios ocasionados pela concepção romântica do "bom coração".
É "bom coração" ter certa condescendência para com formas veladas de divórcio, por pena dos cônjuges, ser pela abolição dos votos religiosos e do celibato sacerdotal, por pena das pessoas consagradas a Deus, considerar com laxismo os problemas ligados à limitação da prole por pena da mãe, etc. Em outros campos, o "bom coração" consiste em ser contra as polêmicas ainda que justas e temperantes, contra o Index, contra o Santo Ofício, contra a Inquisição ( ainda que sem os abusos a que deu ocasião em alguns lugares ), contra as Cruzadas, porque tudo isto faz sofrer. Em outros campos ainda, o "bom coração" consiste em não falar de demônio, nem de inferno ou de purgatório, em não avisar aos doentes que a morte está próxima, em não dizer aos pecadores a gravidade de seu estado moral, em não lhes falar de mortificação, nem de penitência, nem de emenda, porque também isto faz sofrer. Já vimos um educador católico se manifestar contra os prêmios escolares porque fazem sofrer os alunos vadios! Como já vimos também associações religiosas tolerando em seu grêmio elementos perigosos para os associados e desedificantes para o público, porque a expulsão desses elementos os faria sofrer. Falar contra as modas e danças imorais, preconizar uma censura cinematográfica sem laxismo tudo isto em última análise parece descaridoso, porque "faz sofrer". Soubemos a este respeito de alguém que desaconselhava uma campanha contra os jornais imorais porque isto "faz sofrer" os editores cujas almas cumpre salvar!
Fizemos esta longa digressão para focalizar melhor o problema que de início formulávamos. Para o "bom coração", todo ódio é necessariamente um pecado. Dir-se-á o mesmo à luz da doutrina católica?
Pensando no perigoso furor da avalanche de "bons corações" de que o Brasil está cheio, quase não ousamos formular a pergunta. E certamente não responderemos por nós. Mas falaremos pela grande e autorizada voz de S. Tomás.
É o que faremos em próximo artigo.

(Revista "Catolicismo" Nº 34 - Outubro de 1953


SE A CARIDADE MANDA AMAR OS PECADORES

Plínio Corrêa de Oliveira
"Em artigo anterior ( Ver "Catolicismo" Nº 34, de Outubro de 1953 ), prometemos apresentar a solução dada por S. Tomás de Aquino ao problema da legitimidade do ódio. Como lembramos, o romantismo generalizou entre nós brasileiros a falsa noção de que amar é sempre virtude, e odiar é sempre pecado.
S. Tomás nos mostra que, pelo contrario, o ódio pode ser por vezes um grave dever.
Publicando o próprio texto do Doutor Angélico ( Suma Teológica, IIa. IIae., a. 6 ), acompanhamo-lo de algumas notas destinadas a facilitar a aplicação dos princípios por ele ensinados, a casos concretos freqüentemente verificados na vida quotidiana.
Para se aquilatar toda a importância deste texto, convém lembrar a autoridade de S. Tomás, não só enquanto teólogo máximo da Igreja, mas ainda como Santo, proposto à veneração e imitação dos fiéis.
Se os pecadores (1) devem ser amados (2) em razão da caridade (3).
Parece que, por motivo de caridade, não devem ser amados os pecadores:
1 - Com efeito, está dito nos Salmos ( Ps. 118, 13 ): "Odiei os iníquos". Ora, Davi tinha caridade. Logo, conforme a caridade, mais se deve odiar os pecadores do que amá-los.
2 - Ademais, "o amor se prova pelas obras", conforme diz S. Gregório na homilia de Pentecostes ( hom. 30 in Evang. ). Ora, os justos não praticam para com os pecadores obras de amor, mas obras que parecem ser de ódio, conforme aquilo dos Salmos ( Ps. 100, 8 ): "Pela manhã eu aniquilava todos os pecadores da terra". E o Senhor deu por preceito no Êxodo ( Ex. 22, 18 ): "Não suportarás que os maus vivam". Em conseqüência, segundo a caridade, não devem ser amados os pecadores.
3 - Além disso, é próprio à amizade que desejemos para os amigos o que é bom. Ora, os Santos, inspirados pela caridade, desejam o mal para os pecadores, conforme aquilo dos Salmos ( Ps. 9, 17 ): "Sejam precipitados no inferno os pecadores". Portanto, os pecadores não devem ser amados segundo a caridade.
4 - Acresce que é próprio de amigos alegrarem-se com as mesmas coisas e querer o mesmo. Porém a caridade não leva a querer o que querem os pecadores, nem a alegrar-se naquilo em que eles se alegram; antes pelo contrário. Portanto, não é conforme à caridade amar os pecadores.
5 - Por fim, é próprio dos amigos conviverem entre si, como se diz no livro VIII da Ética ( C. 5, n.3: S. Th. lect. 5 ).
Ora, não se deve conviver com os pecadores, conforme está escrito em II Cor. 6, 3: "Retirai-vos do meio deles". Logo, não se deve amar segundo a caridade, os pecadores.
— Porém, é em sentido contrário o que Santo Agostinho diz em I de Doct. Christ. ( cap. 30 ): "Amarás ao teu próximo", refere-se evidentemente a todos os homens. Ora, os pecadores não deixam de ser homens, pois o pecado não destrói a natureza. Logo, segundo a caridade, deve-se amar os pecadores.
— A esses argumentos respondo que se podem considerar nos pecadores dois aspectos: a natureza e a culpa. Segundo a natureza que receberam de Deus, são capazes de adquirir a bem-aventurança, sobre cuja comunicação se baseia a caridade, como ficou dito acima ( A.3; q.23, a. I, 5 ). E portanto, segundo sua natureza, os pecadores devem ser amados (4). Porém, sua culpa desagrada a Deus, e constitui impedimento para a beatitude. De onde, em razão de sua culpa, que os torna inimigos de Deus, devem ser odiados quaisquer pecadores, ainda que sejam pai, mãe, ou parentes, conforme S. Lucas 14, 26 (5). Devemos com efeito odiar nos pecadores o fato de que são pecadores, e amar neles o fato de que são homens, capazes de bem-aventurança (6). E nisto consiste amá-los verdadeiramente, conforme a caridade e por amor de Deus.
Ao primeiro argumento, pois, deve-se responder que o Profeta teve ódio aos iníquos enquanto iníquos, odiando sua iniqüidade (7), que é o que neles há de mal. É este o ódio perfeito, do qual o mesmo Profeta diz ( Ps. 138, 22 ): "Odiei-os com ódio perfeito". Pois pela mesma razão se deve odiar o que em alguém há de mal, e amar o que há de bom.
Por onde também este ódio perfeito pertence à caridade (8).
Ao segundo argumento responde-se que, como diz o Filósofo no livro IX da Ética ( C. 3, n. 3: S. Th. lect. 3 ): "Não devemos privar nossos amigos pecadores, dos benefícios da amizade, desde que haja esperança de que se emendem: porém mais se deve auxiliá-los a recuperar a virtude, do que o dinheiro que tenham perdido; tanto mais que a virtude é mais afim com a amizade do que o dinheiro (9). Mas, quando caem na mais profunda malícia e se tornam insanáveis (10) deve-se-lhes recusar um trato familiar de amigo. E portanto a pecadores tais, de quem mais se deve temer que prejudiquem a outros, do que se pode esperar que se emendem, a lei divina e humana manda que sejam mortos. — É o que faz o juiz, não por ódio deles, mas por um amor inspirado na caridade, amor este que prefere o bem público à vida de uma só pessoa. — Aliás, a morte imposta pelo juiz ao pecador é útil para este, pois se se converter lhe servirá de expiação para a culpa, e se não se converter porá termo à sua culpa tirando-lhe a possibilidade de pecar por mais tempo.
os pecadores precipitados no inferno" no sentido de que "serão precipitados". — Em segundo lugar, como desejo, de tal maneira que este não se refira à pena do homem, mas à justiça de quem castiga, conforme está escrito ( Ps. 57, 11 ): "Alegrar-se-á o justo quando vir a vingança". Pois o próprio Deus, quando pune, "não se alegra na perdição dos ímpios", como está dito no Livro da Sabedoria 1, 13, mas em Sua justiça: "pois Deus é justo, e ama a justiça" ( Ps. 10, 6 ). — Em terceiro lugar, enquanto o desejo se refere à eliminação da culpa, e não à pena (11). De tal maneira que os pecados sejam destruídos e os homens permaneçam.
Ao quarto argumento deve-se responder que amamos os pecadores, não porque queiramos o que eles querem, ou nos alegremos com o que os alegra: mas para fazer com que queiram o que queremos e se alegrem com o que nos alegra (12). Pelo que se lê em Jeremias 15, 19: "Eles se converterão a ti, e tu não te converterás a eles".
Ao quinto argumento responde-se que o convívio dos pecadores deve ser evitado pelos fracos, pois constitui para estes perigo iminente deixarem-se corromper. Quanto aos perfeitos (13), entretanto, cuja queda não é de se temer, é louvável que mantenham contato com os pecadores, para os converter. Assim, o Senhor comia e bebia com os pecadores segundo S. Mateus 9, 10-11. — Entretanto, o convívio dos pecadores deve ser evitado por todos, desde que signifique participação no pecado. Assim, está escrito em II Cor. 6, 17: "Retirai-vos do meio deles, e não toqueis no imundo", ou seja, a conformidade com o pecado (14).
NOTAS
(1) — S. Tomás trata, neste artigo, das disposições interiores que devemos ter em relação ao próximo. E para este efeito classifica os homens em dois grandes grupos, os justos e os pecadores. Como é obvio que devemos amar os justos, o assunto só dá margem a problemas no tocante ao amor que devemos ter aos pecadores.
Julgamos indispensável considerar, antes de prosseguir no estudo do texto do Doutor Angélico, a importância desta regra por ele estabelecida: o fato de alguém ser justo ou pecador influi a fundo na amizade que se lhe tem.
Como a isto se opõe o sentimentalismo brasileiro! Somos propensos a amar as pessoas porque nos tratam bem, porque nos são úteis, porque nos divertem, porque sua fisionomia nos agrada, porque estamos habituados há muito à sua companhia, porque são nossos parentes, etc., etc. E tal é em nosso ânimo o peso destas razões, que não tomamos na menor consideração um ponto essencial, que domina todo o assunto: esta pessoa é um justo ou um pecador?
Um mestre deve preferir os discípulos bem comportados, estudiosos, piedosos, a outros que, sem qualquer piedade, nem aplicação, nem disciplina, são exímios na arte de lisonjear e divertir os professores. Um pai deve preferir o filho bom, mas feio ou pouco inteligente a um filho brilhante, mas ímpio ou de vida impura. Entre os colegas, nossa admiração não deve ir para o mais engraçado, o de trato mais atraente, o mais rico ou o mais bem sucedido na vida, mas para o mais virtuoso. Não podemos dar a alguém o tesouro de nossa amizade sem saber se tal pessoa é, ou não, inimiga de Deus: o homem que vive em pecado grave é inimigo de Deus, e se amamos a Deus sobre todas as coisas não podemos amar indiferentemente os que O amam e os que O ofendem. O que diríamos de um filho que fosse amigo de pessoas que injuriam gravemente, injustamente, publicamente a seu pai? Pois é o que fazemos quando admitimos em nossa amizade apóstatas, fautores de heresia, gente desedificante, casais constituídos "no Uruguai", etc.
(2) — Amar não significa necessariamente sentir muita ternura, pois o verdadeiro amor reside essencialmente na vontade. Querer bem a alguém é querer seriamente para alguém tudo quanto segundo a reta razão e a fé lhe é bom: a graça de Deus e a salvação da alma primeiramente, e depois tudo quanto não desvie deste fim, antes a ele conduza. O amor se prova pelas obras. Pois se queremos seriamente o bem do próximo, externamos esta disposição de alma não só por palavras de afeto, e agrados - o que aliás é em si perfeitamente legítimo - mas ainda por meio de esforços e sacrifícios. Um tal amor deve ser votado também aos pecadores? É a questão de que trata aqui o Doutor Angélico.
(3) — A caridade é o amor de Deus acima de todas as coisas. A pergunta equivale pois a esta outra: uma vez que amamos a Deus sobre todas as coisas, devemos amar por amor de Deus os pecadores, que são Seus inimigos?
(4) — A natureza humana é obra de Deus, e, pois, é boa. Logo, em tese, devemos amar a todos os homens, ainda os que não são capazes de mérito nem culpa como as crianças que não chegaram à idade da razão, os loucos ou débeis mentais de nascença, etc. Neste sentido, devemos amar - isto é querer o bem - aos pecadores, pois também são homens. Devemos pois desejar-lhes todo o bem, não porém do mesmo modo que aos justos, como adiante se verá.
(5) — O texto de S. Lucas diz: "se alguém vem a Mim, e não aborrece a seu pai e mãe, sua mulher e filhos, seus irmãos e irmãs, e ainda mesmo a sua vida, não pode ser Meu discípulo". É um engano supor que Nosso Senhor não ensinou o ódio. Há um ódio santo, que é uma virtude evangélica. Um amor que não gerasse ódio não seria amor. Com efeito, se amo alguém devo odiar aquilo que lhe traz, não bem, mas mal. E é este ódio santo, seus motivos, sua natureza, seus limites, que neste capítulo magnificamente se ensina.
(6) — Estas palavras constituem excelente comentário da norma de Santo Agostinho, tão sábia e contudo tantas vezes mal entendida: odiar o erro, amar os que erram ( Dilige Hominem, oderis vitium: Sermo 49,5 - P. L. 38, 323; Oderit vitium, amet hominem: De Civ. Dei, 1. 14, c. 6; Cum dilectione hominum et odio vitiorum: Epist. 211, 11 - P. L. 33, 962 ). Procura-se muito freqüentemente interpretar esta máxima como se o pecado estivesse no pecador à maneira de um livro numa estante. Pode-se detestar o livro sem ter a menor restrição contra a estante, pois embora uma coisa esteja dentro da outra é-lhe totalmente extrínseca. De onde se poderia odiar o erro sem odiar de nenhum modo o que erra. Ora, a realidade é outra. O erro está no que erra como a ferocidade está na fera. Uma pessoa atacada por um urso não pode defender-se dando um tiro na ferocidade, mas poupando o urso e aceitando-lhe o amplexo dos braços largamente abertos! São Tomás se exprime com uma clareza meridiana. O ódio deve incidir não só sobre o pecado considerado abstrato como também sobre a pessoa do pecador. Todavia não deve atingir toda essa pessoa: poupará sua natureza, que é boa, as qualidades que eventualmente tenha, e recairá sobre seus defeitos, por exemplo sua luxúria, sua impiedade ou sua falsidade. Mas, insistimos, não sobre a luxúria, a impiedade ou a falsidade em tese, mas sobre o pecador enquanto pessoa luxuriosa, ímpia ou falsa.
(7) — Vê-se que odiar a iniqüidade dos maus é o mesmo que odiar os maus enquanto são iníquos. Odiar os maus enquanto maus, odiá-los porque são maus, na medida da gravidade do mal que fazem, e durante todo o tempo em que perseverarem no mal. Assim, quanto maior o pecado, tanto maior o ódio dos justos. Neste sentido, devemos odiar principalmente os que pecam contra a fé, os que blasfemam contra Deus, os que arrastam os outros ao pecado, pois odeia-os particularmente a justiça de Deus.
(8) — Não se trata de um ódio feito apenas de irascibilidade superficial. É um ódio ordenado, racional e, pois, virtuoso. Tal ódio "pertence à caridade". Assim, odiar reta e virtuosamente é ato de caridade! Como esta verdade chocaria um homem de "bom coração".
(9) - Os pecadores são aqui divididos em duas categorias: os que dão esperança de emenda, e os que não dão. Aos primeiros deve-se odiar enquanto pecadores e amar enquanto homens, no seguinte sentido: 1) deve-se fazer todo o possível para que deixem o pecado; 2) mas enquanto perseveram no mal devem ser odiados.
Como é freqüente, na vida quotidiana, ouvir-se lamentar em termos cheios de compaixão uma pessoa que perdeu a fortuna. Seus amigos e parentes movem-se todos para a auxiliar a recuperar os haveres. E como é raro ouvir-se alguém lamentar com tristeza ainda maior que seu parente ou amigo tenha perdido a virtude! Como é psicológica a comparação do Santo Doutor!
Fazer tudo para que alguém recupere a virtude não é, nem pode ser palavra vã. É preciso aconselhar, insistir, falar com carinho, com simpatia, com severidade, é preciso sobretudo rezar e fazer penitência por aqueles que desejamos reconduzir à graça de Deus. Pois sem a oração e a penitência nada se consegue.
Às vezes, expomo-nos ao risco de perder a amizade de um pecador, à força de insistência. Desde que esta seja criteriosa, não nos atemorizemos diante deste sacrifício, que Deus saberá considerar. Uma das mais altas provas de afeto que podemos dar a alguém consiste em sacrificar sua amizade para auxiliar sua salvação.
(10) — O pecador, em princípio, é sempre susceptível de emenda. Mas há pecadores tão aferrados ao mal que sua conversão só é de se esperar por uma graça muito especial. E como o muito especial é excepcional, evidentemente mais se deve recear que as almas nestas condições se percam, do que esperar que se salvem. E, de outro lado, é mais provável que arrastem outros ao pecado, do que se libertem das garras deste.
Estes pecadores continuam a merecer nosso amor, no sentido de que devemos rezar e sacrificar-nos para obter sua salvação, e não devemos deixar de os incitar à emenda. Mas não podemos ter com eles trato familiar e amistoso.
De resto, pelo mal que têm em si, e pelo risco a que expõem os inocentes, merecem a morte. O doutor Angélico dá disto a razão.
Até aí vai a severidade da doutrina da Igreja. E até aí vai também sua misericórdia. Pois aprovando a pena de morte quando justa, acompanha o condenado até o último momento, com suas preces, com as orações e sacrifícios das almas piedosas, e até de confrarias especialmente fundadas para tal.
(11) - Quantas pessoas são incapazes de compreender que devemos desejar castigos para os pecadores que amamos - doenças, perseguições, pobreza - se este for o meio para os emendar e reconduzir à graça de Deus! (12) - O pecador quer o pecado, os ócios e larguezas que favorecem sua dissipação. Se odiamos o pecado e queremos a conversão do pecador, devemos desejar que lhe faltem todos os meios necessários para pecar. Assim, devemos apoiar todas as autoridades eclesiásticas, familiares, sociais, políticas, que trabalham por eliminar o que conduza os súditos ao pecado: má imprensa, mau radio, cinemas e teatros imorais, propaganda de doutrinas opostas à da Igreja, etc.
(13) — "Enfermo" ou "fraco" é aqui o homem que por motivos especiais é particularmente sujeito ao pecado, e para quem constitui ocasião próxima o que para o comum das pessoas não o é. "Perfeito" é quem está em tal grau de virtude que arrosta obstáculos maiores que os do homem comum.
Em princípio, ninguém pode expor-se voluntariamente a ocasião próxima de pecado. E se em circunstâncias muito excepcionais uma pessoa reputada - não por si mesma, mas por um prudente diretor - especialmente forte arrosta riscos invulgares, é porque, no fundo para ela a ocasião de pecado não é próxima.
(14) — Deve-se evitar o convívio de pessoas de má vida, de costumes depravados, a freqüentação de lugares indecentes, pois nisto vai para quase todos uma ocasião próxima de pecado, e para todos uma coonestação do mal e um escândalo para os bons.

(Revista "Catolicismo" Nº 35 - Novembro de 1953)


Vez por outra o Dr. Plínio Corrêa de Oliveira dissertava sobre um tema correlato, o da Bondade, como o fez ao escrever artigo para o "Legionário":
"Ocupa lugar de destaque nessa triste galeria de verdades diminuídas, de virtudes amesquinhadas, de sofismas interiores mais ou menos conscientes e mais ou menos covardes, a noção que habitualmente se tem de "bondade".
Segundo a opinião corrente, o que é uma pessoa boa? Esse conceito é eminentemente variável. O que se exige de uma boa senhora não se exige de um bom ancião; o que se exige de uma boa criança não se exige de um bom moço. A moral, para a grande maioria de nossos contemporâneos, varia quase completamente segundo a situação de cada qual, e, não raras vezes, o que em uma pessoa, em uma senhora, por exemplo, seria tido como imperativo preceito de moral, em um moço parecerá ridículo e desprezível defeito. A bondade, pois, segundo esses censuráveis conceitos, varia conforme o sexo e a idade. Vejamos rapidamente alguns perfis de pessoas habitualmente tidas por "muito e muito boas”.
Antes de tudo, o conceito de "bom rapaz". Não há, talvez, expressão de que tão freqüentemente se abuse. Verificando-se a que série incontável de indivíduos ela é dada, fazendo-se o levantamento dos defeitos que um rapaz pode ter, sem por isto deixar de ser "bom" segundo a opinião corrente, vê-se de imediato que, desde que ele não tenha matado, ferido ou espancado gravemente alguém, desde que não tenha roubado pelo processo do arrombamento, desde que não tome tóxicos, é qualificado de bom. Pode esse rapaz esbanjar criminosamente sua mocidade arrastando-a pelos mais miseráveis antros da cidade, são... rapaziadas. Pode ele ter os vícios os mais lamentáveis, como por exemplo do jogo: se ele ainda não perdeu a fortuna na roleta, ou a embriaguez ainda não lhe arruinou a saúde, tudo isto não passará de aprazíveis "rapaziadas". Pode ele, ainda, praticar as mais censuráveis leviandades no terreno sentimental, como seja de alimentar esperanças e provocar decepções, movido apenas pela vaidade e pelo capricho; tudo isto será muito engraçado, terá seu "inegável pitoresco", será típico de um jovem que não queira passar por inteiramente desinteressante.
Evidentemente, segundo essas abomináveis regras de moral, há restrições a estabelecer. Um moço que contraia imprudentemente um noivado com o intuito de jamais cumprir sua promessa de casamento fará uma coisa muito engraçada. Mas se a vítima da aventura, em vez de ser uma pessoa estranha aos adeptos dessa singular moral, for pelo contrário uma filha, uma irmã, uma parente, tudo isso passará a ser qualificado infalivelmente de genuína crapulice. Um moço que, a título de "rapaziada", arme um "rolo", fará algo de muito divertido. Mas se, durante o "rolo" ferir alguém gravemente, o que em qualquer "rolo" pode suceder, e com isto andar às voltas com a polícia, deixará de ser tido como um "bom rapaz" para ser um "indivíduo que até tem ficha na polícia". Em última análise, tudo isto reverte em uma adoração do êxito. Tudo aquilo que não teve mau êxito será desculpável, por pior que seja. Tudo aquilo que tem mau êxito será censurável. Tudo o que não fere os interesses pessoais é jocoso e interessante. Tudo o que os fira será censurável e digno de condenação.
Essa moral tem, evidentemente, também sob outros pontos de vista, suas contradições. Um comerciante, ferido às vezes por circunstâncias imprevistas e invencíveis, pede falência: foi um homem que não pôde cumprir a palavra dada aos credores, e, por isto, em torno dele se estabelece um ambiente de reprovação.
Um homem vai ao altar, jura manter uma fidelidade plena a sua esposa, sabe perfeitamente que não obteria o consentimento desta para o casamento se ela soubesse que tal juramente não é sincero, e, tudo isto ponderado, casa-se. Depois, rompe o compromisso assumido, e isto por um ato libérrimo de sua vontade. Mas contra esse só existe a reprovação dos parentes de sua esposa, os quais acham muito natural que outros façam o mesmo com pessoas que lhes são perfeitamente estranhas.
Na moral comercial, presenciam-se aberrações do mesmo jaez. Um indivíduo pode impunemente ocultar os defeitos da mercadoria por ele fornecida, elevar desmesuradamente ou abaixar injustamente os preços, armas "trusts" e lançar ao desemprego centenas ou milhares de empregados: tudo isto é lícito. Mas ai dele se roubasse um cigarro ou um charuto em casa de algum amigo!
E assim por diante, vê-se como a moral mundana é inteiramente vã, representando apenas a sobrevivência de alguns vagos princípios de moral católica.
Em ocasião passada, vimos o que se deve pensar do "carola". Por mais que esse tipo seja risível, como não o achar admirável em comparação dos sacripantas que tão freqüentemente o mundo canoniza como "bons"?
(Legionário", 27 de julho de 1941- in revista "Dr. Plínio", de setembro de 2002)

Escrevendo anos depois para a “Folha de São Paulo”, Dr. Plínio assim se expressou a respeito do mesmo assunto, embora trate de outros temas correlatos, mas que têm estreita ligação com a Bondade:
“- “Bondade”: segundo o sofisma moderno, quem é bom jamais faz sofrer os outros. Ora, o esforço faz sofrer. Logo, só é bom quem não pede esforço a outrem. A civilização cristã, pelo contrário, modelou os povos do Ocidente conforme o princípio de que o esforço é condição essencial para a dignidade, o decoro, a boa ordem e a produtividade da vida. Se “bondade” é, em todos os campos, abolir o esforço, não é implicitamente privar a vida de valores sem os quais ela não é digna de ser vivida? E então, esta hipertrofiada “bondade” não constitui o pior malefício?
- “Amor à criança”: segundo essa “bondade” adocicada e desfibrada, o amor à criança consiste em dispensá-la de todo esforço. Isto se pretende conseguir por mil técnicas, cujo efeito seria instruir e formar a criança sem nenhum sacrifício para esta. O aferramento a esta idéia vai a ponto de condenar as punições escolares porque fazem sofrer os culpados, e a condenar os prêmios porque podem dar complexos aos vagabundos. Dado que, segundo a tradição cristã e o simples bom senso, um dos fins essenciais da educação é formar para a luta da vida através do hábito do esforço e do sacrifício, o que é esse “amor à criança” senão uma cruel deseducação?
- “Simplicidade”, “despretensão” : simples seria quem prefere as coisas que não exigem muito gosto, nem muito esforço. Despretensiosa seria a pessoa que sente bem-estar em ser vulgar. A “simplicidade” e a “despretensão” vão invadindo mais e mais os costumes de jovens e adultos. As regras da polidez e do trato, o modo de organizar uma casa, de receber, de se vestir, de falar, vão ficando sempre mais “simples” e “despretensiosos”. Decoro, brilho, qualidade, classe, prestígio, são valores do espírito dia a dia menos aceitos”.
(“Folha de São Paulo”, 20.03.69)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

ASPECTOS HISTÓRICOS DE SUA INSTITUIÇÃO

Com características diferenciadas em cada região do Brasil, a Festa do Divino Espírito Santo é um evento folclórico-religioso composto de missas, novenas, procissões, peditório com a bandeira, festejos populares, shows com fogos de artifício, cavalgadas, etc.

Origens que se reportam às festas hebraicas do Antigo Testamento:
O culto do Espírito Santo tem origem na Antigüidade: A Festa de Pentecostes (Deut 16, 9) era celebrada cinqüenta dias (sete semanas) depois da Páscoa. Era conhecida, ainda, com nomes diferentes: das Ceifas, das Semanas, do Dom da Lei, e outros, tendo sido, primitivamente, uma festa agrária dos cananeus. Entre os hebreus, o termo shabüoth (ou shavuot), citado na Torah, faz referência à festa que começa cinqüenta dias depois da Páscoa e marca o fim da colheita do trigo.
As três principais festas dos israelitas eram: Páscoa, Pentecostes e dos Tabernáculos, também chamadas de peregrinações. Nestes dias cada varão, que não estivesse legitimamente impedido, deveria ir ao Tabernáculo (no tempo de Moisés), ao Santuário de Silo (no tempo de Davi) e, finalmente, ao Templo de Salomão (em Jerusalém). (v. Ex 23, 14-17):
“Celebrareis festas três vezes cada ano em minha honra. Observarás a solenidade dos ázimos. Comerás, como eu te mandei, pães ázimos durante sete dias, no mês dos trigos novos, quando saíste do Egito; não aparecerás na minha presença com as mãos vazias. Observarás a solenidade da ceifa e das primícias do teu trabalho, de tudo o que tiveres semeado no campo; e também a solenidade no fim do ano, quando tiveres recolhido todos os teus frutos do campo. Três vezes no ano, todos os varões comparecerão diante do Senhor teu Deus” (ex 23, 14-17)
“Celebrarás a solenidade das semanas por ocasião das primícias da tua messe de trigo, e a solenidade (da colheita) quando no fim do ano se recolhe tudo” (ex 34, 22)”
“Também o dia das primícias, quando, completas as (sete) semanas, oferecerdes ao Senhor as novas messes, será venerável e santo...” (Num 28, 17).
“Durante seis dias comerás (pães ázimos), e no sétimo dia não trabalharás, porque é a assembléia do Senhor, teu Deus. Contarás sete semanas desde o dia em que puseres a foice na seara, e celebrarás a festa das semanas em honra do Senhor, teu Deus (com) a oblação voluntária da tua mão, a qual oferecerás segundo a bênção do Senhor, teu Deus...” (Deut 16, 8-10).

Depois do exílio foram instituídas outras festas menores: o Purim, em comemoração da libertação dos judeus por Ester, a Dedicação, instituída por Judas Macabeu, e outras que foram observadas apenas por certo tempo, como a celebração da vitória de Judas Macabeu sobre Nicanor no dia 13 do mês Adar.

Origem da Festa do Divino
Já o culto ao Espírito Santo, sob a forma de festividade sacra e profana, no sentido que iria adquirir mais tarde, se concretiza no início da Baixa Idade Média, na Europa. Havia um crescimento da devoção na piedade popular, mas começaram a surgir idéias “milenaristas” com base no que diz o Apocalipse (11.3), quando fala de um período de 1260 dias, o que simbolicamente poderia se referia ao ano 1260 que se aproximava. Um destes “profetas” foi o abade Joachim de Fiori (morto em 1202), que ensinava que a última fase da história seria a do Espírito Santo, avizinhando-se no século que se iniciava então. Segundo alguns exegetas, Deus Pai reinou até a vinda do Filho, Jesus Cristo; Deus Filho, Jesus Cristo, está reinando até a vinda do Espírito Santo, o qual reinaria até o fim do mundo. O abade Joachim de Fiori cometia, porém, vários erros, um deles ao afirmar que o império do Espírito Santo se daria com a destituição da Hierarquia da Igreja.
Os erros do abade – que já haviam sido condenados no IV Concílio de Latrão, em 1215, no pontificado de Inocêncio III (1198-1216) – entraram na ordem franciscana. Além das teses de Joachim de Fiori, um dos ramos Franciscanos, ditos Espiritualistas, defendia: A regra da pobreza devia ser absoluta e radicalmente obedecida, e no mesmo grau em que São Francisco a praticara. Por isso, a Ordem não poderia ter igrejas de pedra, nem conventos. Os frades não poderiam ter livros de missa, de oração ou de estudo. Só poderiam ter um hábito de saco. Este hábito deveria ser usado até cair de podre. O hábito não poderia chegar até os pés, pois que isso seria supérfluo e um luxo desnecessário; nem o Papa teria poder para mudar a regra elaborada por São Francisco; profetizavam para aquela data um grande castigo no qual a maior parte dos homens seria eliminada. Até mesmo boa parte dos frades franciscanos, sobrevivendo apenas um pequeno grupo, que formaria o reino do Espírito Santo. Este reino espiritual seria o dos monges, que substituiria a ordem dos sacerdotes. Viria um grande Papa – o "Pastor Angelicus" – e um grande Imperador que instaurariam o reino do Espírito Santo; assim como a Igreja substituíra a Sinagoga, haveria uma nova igreja espiritual, igualitária (sem hierarquia) e pobre, sem nenhuma propriedade; a lei de Deus seria abolida, sendo instaurada a lei do Amor.
Estes princípios parecem muito afins com o da moderna “Teologia da Libertação” e com alguns aspectos da dita igreja carismática dos nossos dias.
Todo este corpo de doutrina foi condenado também por São Tomás de Aquino em sua Suma Teológica. Estas heresias baseavam-se, mais ou menos, em alguns textos de Isaías, considerados como prenúncio deste Reino do Espírito Santo.

O Profeta Isaías, no capítulo 26, diz: Quando exerceres sobre a terra os teus juízos, os habitantes do mundo aprenderão a justiça (Isaías 26, 9). Este juízo é o mesmo que Daniel veio fazer em nome de Deus, quando deu o Reino universal aos santos do Altíssimo; e estes santos do Altíssimo serão aqueles que estarão plenos do Espírito Santo, os quais diz Isaías que todos aprenderão e terão por estudo a justiça e santidade sem que haja necessidade de quem os ensine, quer dizer, sem hierarquia, sem docentes, pois será o próprio Paráclito que os ensinará diretamente em seus corações.
O capítulo 32 começa assim: «Eis que um rei reinará com justiça e os seus príncipes governarão com retidão (Is 32, 1)... Não se ofuscarão os olhos dos que vêem e os ouvidos dos que ouvem escutarão atentamente. O coração dos insensatos entenderá a ciência e a língua dos tartamudos se exprimirá com prontidão e clareza. Já não se dará ao insensato o nome de príncipe, nem ao fraudulento o de grande (Is 32, 3) ; ... e o deserto se converta em um vergel e o vergel em bosque. E habitará no deserto a caridade, e a justiça terá o seu assento no vergel. A paz será obra da justiça, e o efeito da justiça o sossego e a segurança para sempre” (Is 32, 16-17).
Mais adiante: “O Senhor foi engrandecido, porque habita no alto; ele encheu Sião de retidão e de justiça. A fé reinará nos teus tempos; a sabedoria e a ciência serão as tuas riquezas de salvação; o temor do Senhor será o teu tesouro (Isaías 33,5).
O mesmo Isaías, no capítulo 60, depois de descrever largamente a conversão universal nos últimos tempos, pinta este século dourado da Igreja e a diferença dele a todos os passados com a que fazem aos lenhos os metais, e aos metais vis os preciosos, e aos preciosos os preciosíssimos; e por fim, diz claramente e sem metáfora, que por aquele tempo não haverá maldades, e que todos serão justos.
“Em lugar de cobre trarei ouro, e em vez de ferro trarei prata; em vez de madeira, cobre, e em lugar de pedras, ferro; porei no teu governo a paz, e nos teus magistrados a justiça. Não se ouvirá mais falar de iniqüidade na tua terra, nem haverá assolação nem ruína dentro das tuas fronteiras; a salvação reinará dentro dos teus muros e o louvor dentro da tuas portas... Todo o teu povo será um povo de justos. (Is 60, 17-19 e 21)”

Como se vê, os textos podem ser interpretados da forma como o fez o abade se não for analisado detidamente em seu todo. E os ideais dessa pretendida Era do Espírito Santo caracterizados pela paz, pela fraternidade e pelo amor entre todos os homens, manifestaram-se rapidamente por toda a Europa Ocidental. Algumas pessoas eram bem intencionadas e nelas animou o crescimento de uma autêntica devoção ao Espírito Santo. Na Alemanha, há registros de uma organização dedicada a essa devoção durante a dinastia dos Othons (Oto IV, o Soberbo), no século XIII, que se destinava a lançar fundamentos de uma instituição de caridade, cujos bens eram oriundos de esmolas e eram destinados aos pobres nos anos de penúria. E como os promotores eram reis, os festejos conservaram os aspectos de realeza, isto é, com pompa e beleza. Da divindade que invocavam, nasceram os festejos religiosos ao Espírito Santo, cujo costume se propagou por toda a Europa. Na França, a festa foi facilmente difundida. A Folia do Divino, assimilada rapidamente, foi chamada ‘Folias do Bispo Inocente’, solenizada anualmente em São Martinho de Tours. Da mesma forma em diversos países, aos poucos a devoção foi se propalando. Daí à Península Ibérica, Portugal e suas colônias foi questão de tempo.

Santa Isabel introduz a Festa do Divino em Portugal
No entanto, a propagação da principal devoção ao Espírito Santo revestiu-se do caráter de riqueza e nobreza, como até hoje se verifica. Por influência da Rainha Santa Isabel de Portugal, o Rei Dom Dinis adotou o culto ao Espírito Santo, que foi logo assumindo o caráter de devoção pelo povo português. Em 1296, a Rainha Isabel criou, ou autorizou a criação duma confraria do Espírito Santo na sua vila de Alenquer. Seis anos antes, em 1290, Beatriz de Castela (1242-1303), princesa de Castela e Rainha de Portugal entre 1253 e 1279, sogra da Rainha Santa Isabel, já havia determinado o início das obras da construção da Igreja do Espírito Santo, anexa ao convento franciscano em Alenquer. As obras foram concluídas em 1305, sendo, portanto, provável que, só após esta data, a Rainha Santa Isabel tenha realizado a promessa do oferecimento de sua coroa ao Divino Espírito Santo, o que acabou por melhor estruturar os festejos comemorativos à Santíssima Trindade, que já existiam em Portugal.
Há informações baseadas em documentos do Arquivo de Alenquer, de que a primeira festa teria sido realizada no Convento de São Francisco da mesma vila, em 1323. Já havia três anos que o rei guerreava com o filho e Santa Isabel sendo apaziguadora. Naquele ano, como Dom Afonso (o filho) não conseguira ver atendidas algumas reivindicações, reúne um exército com objetivo de conquistar Lisboa. Santa Isabel intervém mais uma vez para evitar a guerra. Morto, porém, o pai, a guerra continuou entre os irmãos, Dom Afonso e Dom Sanches. Novas intervenções de Santa Isabel e os dois assinam ao final um tratado de paz.
Foi estas guerras fratricidas (já de longas datas) que fez Santa isabel tomar uma decisão inédita: abdica de seus direitos à coroa e delibera que quem reinaria deveria ser o Divino Espírito Santo. E para dar visibilidade pública à sua promessa, no dia de Pentecostes, toda a Corte, em solene procissão, tendo à frente o Rei e a Rainha (com títulos simbólicos de Imperador e Imperatriz), dirigiram-se à Catedral, depositando no altar-mor a coroa, o cetro e o estandarte do Reino. A partir de então, a Imperatriz repetia todos os anos, no dia de Pentecostes, a cerimônia de consagração do reino ao Divino Espírito Santo, em ação de graças pela felicidade e prosperidade de Portugal.
O costume foi se espalhando e modificando os personagens. A partir de certa época não era mais os reis que eram coroados, mas pessoas do povo. Após a celebração da missa, realizava-se uma procissão culminando com a coroação do Imperador e de dois Reis. O Imperador e os reis eram crianças do povo, símbolos da inocência, a quem o rei e a rainha entregavam as insígnias do poder temporal: as suas coroas e o cetro real. O Imperador fazia-se acompanhar por três pajens e duas damas de honra. Estas últimas recebiam seus dotes dos reais anfitriões. Seguia-se uma tourada e a carne era distribuída aos pobres, e depois se realizava um banquete, onde abundavam para todos o pão, o bolo, a carne e o vinho.
Com mais ou menos detalhes quanto à origem, motivação e ritual da primeira Festa do Divino Espírito Santo, o certo é que a devoção se espalhou por todo o reino português, com destaque para a Beira Baixa, para a região de Tomar, Estremadura e o Barlavento Algarvio, até se radicar nos Açores, arquipélago descoberto em 1427 e distante 1.500 km da costa portuguesa.
Em Portugal continental, a devoção se alastrou e alcançou seu ponto culminante na Era das Grandes Descobertas, ou seja, nos séculos XV e XVI. De Portugal continental para as suas Colônias e Possessões, a devoção acompanhou o movimento colonizador, chegando ao Brasil por volta do século XVII.
Existem outras versões, entre as quais a de que a Festa do Divino Espírito Santo nasceu em Portugal a partir de um sonho real. Conta-se que a Rainha Santa Isabel estando a pernoitar com seu marido, o Rei Dom Dinis, na Vila de Alenquer, teve um sonho. Nele, Deus informava que muito mais se alegraria se fosse construída naquela localidade uma igreja ao Espírito Santo. Ao acordar, a Rainha Isabel mandou pedir aos juízes da Vila que lhe enviassem quatro pedreiros e seis ajudantes, e ordenou-lhes que fincassem os alicerces em determinado lugar. Ali chegando, no entanto, encontraram os alicerces já começados embora pessoa alguma os tivesse feito. A rainha viu nisso a mão de Deus e orou agradecendo o milagre. Conta-se também que os operários receberam rosas da rainha, como pagamento, e elas se transformaram em dinheiro.

Com o início da colonização, ela foi introduzida no Brasil, provavelmente desde o século XVII. A figura do Imperador do Divino - criança ou adulto - era o escolhido para presidir a festa. Aqui ela sempre foi uma festa de caráter popular, não figurando entre as quatro festas oficiais celebradas por ordem da Coroa, no período colonial. Mas seu prestígio no início do século XIX era tanto, que em 1822, segundo Luís da Câmara Cascudo, o ministro José Bonifácio escolheu para Pedro I o título de Imperador, em vez de Rei, porque era muito grande a popularidade do Imperador do Divino. Em certas cidades ou vilas do interior, o Imperador do Divino, com sua corte solene, dava audiência no Império, com as reverências privativas de um soberano.
Fontes consultadas:


História de Santa Isabel de Portugal

Vídeo

http://www.youtube.com/watch?v=3fpg6BG8rTQ




terça-feira, 25 de maio de 2010

Presidente polonês pertencia à nobreza

Acima, o presidente polonês e esposa em audiência com o Papa Bento XVI

Em nossa postagem de 18 de abril, comentamos sobre o “Funeral de um presidente católico num país ainda católico”. Tratava-se do enterro do presidente polonês, Lech Kaczyinski, falecido juntamente com sua esposa e mais 93 pessoas num trágico acidente aéreo. Kaczynki havia viajado a fim de participar das cerimônias do 70º aniversário do frio assassinato de 22 mil (segundo alguns, e 15 mil, conforme outros) oficiais poloneses (prisioneiros de guerra) pela polícia política de Stalin, a famosa e temida NKVD.

O fato é conhecido como o “massacre de Katyn” e já foi objeto de filme, conforme se pode ver no vídeo abaixo.

Vídeo no youtube
http://www.youtube.com/watch?v=Vf3gpYR2Jwk&feature=player_embedded









No tempo que a monarquia predominava naquele país, havia o costume (como em alguns outros países europeus) dos próprios nobres elegerem seus reis. Com o advento da república e do período das ditaduras nazistas e comunistas, os nobres foram perseguidos barbaramente, mas resistiram fortemente aos genocídios e mantiveram suas linhagens. Assim, a aristocracia continuou deitando profundas raízes na população polonesa.
Agora revela-se mais um dado sobre o presidente falecido no desastre aéreo: Lech Kaczynski, além de católico convicto, pertencia também à nobreza. Nobreza não adquirida por descender de um título, mas de uma “irmandade de cavaleiros”. O fidalgo polonês descendia do solar “Herb Pomiam”, ao qual pertenceram originalmente 239 famílias de nobres, todas elas de nobreza reconhecida. Havia, também, uma linhagem própria na família do presidente polonês, por direito de sangue, sob o nome de “Herb Rawa” .


Fonte: I Nostri Avi

segunda-feira, 24 de maio de 2010

As Festas do Divino Espírito Santo, uma tradição multi-secular no Brasil


A população de Jacobina (BA) participou da procissão do Divino Espírito Santo ontem, domindo, 23, e homenageia São Benedito com uma nova procissão hoje, segunda-feira, 24.





Nos dois eventos, milhares de pessoas percorrem as ruas e avenidas da cidade rezando e entoando hinos de louvor e mantendo viva a tradição.
Entramos num período das grandes festas que ocorrem juntamente com a de Pentecostes. Em centenas de municípios brasileiros as festas religiosas e populares ocorrem num misto de sentido místico, sacral e profano. Em geral, os festejos são feitos com grupos folclóricos de belas apresentações e origens tradicionais. Um dos grupos mais conhecidos é chamado de “Marujada”, cuja apresentação podemos ver no vídeo acima em data anterior, e homenageia a Festa do Divino Espírito, de São Benedito, Santo Antonio e outras que ocorrem quase na mesma época.
Fora o aspecto folclórico e religioso, há um profano e cívico de rara beleza e encanto: em geral as comunidades religiosas elegem um “Imperador”, uma pessoa que vai comandar os festejos, e realizam uma bela encenação em sua coroação e diversos festejos no próprio dia de Pentecostes. Este antigo costume data de antes do Brasil Império, desde as remotas origens de nossa formação religiosa. Veja no site da festa do Divino da cidade de
Santo Amaro da Imperatriz (SC) , de cuja festa postamos alguns vídeos abaixo, uma minuciosa descrição das origens históricas da festa.
A “Festa do Divino Espírito Santo” ocorre porque a Igreja comemora o que se denomina de Pentecostes, palavra que vem do grego, “pentekosté”, no qüinquagésimo dia após a Páscoa. Nesta data, comemora-se o envio do Espírito Santo à Igreja. A partir da Ascensão de Cristo, os Apóstolos e discípulos não tinham mais a presença física do divino Mestre. Em cumprimento à promessa de Jesus, o Espírito Santo foi enviado sobre os apóstolos e a Santíssima Virgem. A origem do Pentecostes é bem remota e vem do Antigo Testamento, uma celebração da colheita (Êxodo 23, 14), dia de alegria e ação de graças, portanto, uma festa agrária. Nesta, o povo oferecia a Deus os primeiros frutos que a terra tinha produzido. Mais tarde, tornou-se também a festa da renovação da Aliança do Sinai (Ex 19, 1-16).
No Novo Testamento, o Pentecostes está relatado no livro dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. Como era costume, os discípulos, juntamente com Maria, mãe de Jesus, estavam reunidos para a celebração do Pentecostes judaico. De acordo com o relato , durante a celebração, ouviu-se um ruído, "como se soprasse um vento impetuoso". "Línguas de fogo" pousaram sobre os apóstolos e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas. Pentecostes é a coroação da Páscoa de Cristo. Para os cristãos, o Pentecostes marca o nascimento da Igreja e sua vocação para a missão universal.

Festa do Divino Espírito Santo 2009

Vídeo 1 http://www.youtube.com/watch?v=nTHAQYcR8tA&feature=related







Vídeo 2 http://www.youtube.com/watch?v=JN4rj1AC3Mk&feature=related









Vídeo 3 http://www.youtube.com/watch?v=EngyqLOvh9M&feature=related








Vídeo 4 http://www.youtube.com/watch?v=TOM5608AJl4&feature=related





sábado, 22 de maio de 2010

Documentário sobre Fátima









O Papa e o desenvolvimento de comunidades carentes das Américas

Um aspecto de pouco destaque é o grande auxílio que o Papa, por intermédio do Estado do Vaticano e das Instituições da Igreja, vem dando a várias comunidades carentes no mundo. Um exemplo é a uma fundação criada por ocasião do V Centenário do Descobrimento da América e destinada a auxiliar o desenvolvimento de comunidades indígenas e camponesas. Pelo seu objetivo e contexto extraído de sua atividade, distoa completamente das idéias expressas no CIMI e algumas entidades que cuidam dos índios, para as quais eles devem permanecer na barbárie e no mais crasso paganismo em que nasceram. A "Fundação Populorum Progressio", fundada em 13 de fevereiro de 1992 por João Paulo II no marco das festividades do V centenário da Evangelização do continente americano, atingiu um total de 200 projetos para o desenvolvimento dos povos no continente americano. A Fundação é presidida atualmente pelo cardeal Josef Cordes e tem como objetivo promover o desenvolvimento integral das comunidades indígenas e camponesas mais pobres da América Latina e ser o testemunho do anseio cristão de fraternidade e solidariedade. Um comunicado que tem a assinatura de Monsenhor Segundo Tejado Muñoz, do Pontifício Conselho Cor Unum, informa que a Fundação dispendeu mais de dois milhões de dólares para o financiamento dos referidos 200 projetos. A maior parte de tais projetos estão localizados no Brasil, com 39, Colômbia, com 35, Peru, com 27, e Equador, com 18.
Trata-se de projetos que interessam a vários aspectos do desenvolvimento integral de uma comunidade tais como saúde, convivência social, água potável, instrução, infraestruturas municipais, produção, alimentação, formação religiosa e cívica, etc. Na última reunião da Fundação foram apresentadas as diversas situações sociopolíticas e eclesiais das nações representadas, num contexto pastoral de todo o continente, com especial destaque para Honduras e nos países que estão convivendo com tensões sociais e políticas.
A Fundação tem sua sede no Pontifício Conselho Cor Unum, cujo presidente é Mons. Josef Cordes, também presidente da fundação e seu representante legal.
Em julho de 2009, a Gaudim Press informava que o Conselho de Administração da "Fundação Populorum Progresio" estava analisando a aprovação de, no mínimo, 231 projetos em 20 países, dentre os quais o Brasil com 45.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Fátima, a Rússia e o Ícone de Kazan

O ano de 1917 foi marcante porque nele ocorreram as Aparições de Fátima e a Revolução Bolchevista, o flagelo principail com que Deus estava castigando o mundo, acontecimentos tão marcantes que, pode se dizer, determinaram o rumo da história de todo o século XX. Comum a estes dois fatos, há um objeto de grande devoção para os russos, o ícone de Kazan, que esteve décadas em Portugal e depois foi entregue ao Papa. O site “Glória TV” publica um interessante vídeo documentário sobre o que representa Fátima e o Ícone de Kazan, produzido pela RTP sob o título de “Fátima na Rússia”. Conta o mesmo com os depoimentos de Anne Applebaum, jornalista do “Washington Post” , autora do livro “Gulag, uma história” prémio Pulitzer 2004, Cardeal Walter Kasper, responsável no Vaticano pelo Conselho para a unidade dos cristãos, Adriano Racucci, historiador da Comunidade de Sto. Egídio, Anatoly Krasikov, ex-diretor da agência noticiosa soviética Tass e testemunhos de ex-prisioneiros de Gulag, entre outros. “Fátima na Rússia” apresenta imagens de arquivo inéditas da história russa e de Fátima.

O Ícone de Nossa Senhora de Kazan regressa à Rússia
No dia 10 de Julho de 2004, enquanto o Santo Padre se encontrava em férias no Vale de Aosta, norte de Itália, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Dr. Navarro-Valls, fez a seguinte declaração: “Há umas semanas, o Santo Padre comunicou ao Patriarca de Moscou o seu desejo de doar à Igreja Ortodoxa Russa o sagrado Ícone de Nossa Senhora de Kazan. Desde quando, há anos, o Papa recebeu este sagrado Ícone, foi sempre seu vivo desejo restituí-lo à veneração do povo russo e, considerando ter chegado o tempo propício, marcou a cerimônia da entrega do sagrado Ícone para o próximo dia 28 de Agosto, festa da Dormição de Nossa Senhora segundo o calendário litúrgico ortodoxo. O Santo Padre espera que este gesto possa contribuir para o diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Antes da restituição, haverá em Roma um ato de devoção ao sagrado Ícone de Nossa Senhora de Kazan, do qual será dado conhecimento proximamente sobre a modalidade e a data. Será comunicada também a composição da delegação que se deslocará à Rússia para a sua entrega”.
Este Ícone ou imagem de Nossa Senhora com o Menino é do tipo “Odighitria” (Aquela que indica o caminho). Toma o nome da cidade russa de Kazan, onde, no ano de 1579, teria sido recuperada, por uma menina de nove anos, das ruínas de uma casa destruída por um incêndio. Era uma das muitas cópias de um outro Ícone mais antigo que se encontrava em Constantinopla e que, segundo a tradição, fora pintada pelo evangelista S. Lucas. Está ligada a vários fatos da história russa: a libertação de Moscou e da Rússia das tropas polacas (1612), das tropas de Napoleão (1812) e também das tropas de Hitler (1941). Venerava-se especialmente na catedral de Kazan, próximo de São Petersburgo, e também na Praça Vermelha de Moscou, numa igreja consagrada em 1630, demolida nos anos 30 do século XX, e reconstruída de raiz, já depois da queda do regime comunista russo, em 1990.
O Ícone que então foi entregue à Rússia foi examinado por quatro peritos russos e por quatro do Vaticano que concluíram ser uma cópia dos finais do século XVII ou princípios do século XVIII. Nos finais do mesmo século XVIII, foi coberto com uma placa de prata e adornada com pedras preciosas. Levado da Rússia para o ocidente, passando pela Inglaterra, foi parar aos Estados Unidos. Conta John Haffert, um dos fundadores do Exército Azul, que o viu na Feira Mundial de Nova Iorque, em 1964. Depois de muitas vicissitudes, foi o mesmo Exército Azul, agora denominado Apostolado Mundial de Fátima, que o adquiriu por um grande preço e enviou para Portugal, para ser entronizado na Capela bizantino-russa da “Domus Pacis” (sede internacional do Exército Azul), onde chegou no dia 21 de Julho de 1970. Foi uma cerimônia tocante a que juntou, na Capelinha das Aparições, o Ícone de Nossa Senhora de Kazan e a imagem de Nossa Senhora de Fátima, chegando aquele a ser colocado na própria coluna que assinala o sítio da azinheira, onde Nossa Senhora, a 13 de Julho de 1917, profetizou a conversão da Rússia e o triunfo do seu Imaculado Coração.
Entre 1974 e 1982, o Ícone de Kazan esteve nos Estados Unidos, regressando a Fátima a 9 de Maio de 1982.
A 26 de Fevereiro de 1993, o Apostolado Mundial de Fátima (Exército Azul) “fez oferta irrevogável e transferiu a propriedade e o título do Ícone de Nossa Senhora de Kazan para a Santa Sé, para uso do Santo Padre e para que sirva para glória de Deus e em honra de Nossa Senhora de Fátima”. A entrega foi feita no dia 1 de Março de 1993, na Domus Pacis, pelo então diretor da sede internacional do Exército Azul, Sr. António Jacinto Pereira, a Mons. Luigi Pezzuto, Encarregado de Negócios da Nunciatura Apostólica de Lisboa, estando presente o Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva.
Desde então, o Ícone tem estado sempre no gabinete particular do Papa, onde foi venerado por diversas personalidades que o visitaram, entre as quais o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a 5 de Novembro de 2003. João Paulo II declarou ao Senhor Bispo de Leiria-Fátima, logo em 1993, que tencionava entregá-lo à Rússia, quando a pudesse visitar. Várias datas foram propostas: 1997 e finais de 2003, quando esteve prevista uma passagem do Papa por Kazan, a caminho da Mongólia. Finalmente, a entrega do Ícone realizou-se em agosto de 2004, embora não o tenha sido feito pela própria mão do Papa, como ele tanto desejava.

Fonte:
Santuário de Fátima


HOMILIA DO SANTO PADRE NA CELEBRAÇÃO DA PALAVRA PARA A ENTREGA DO ÍCONE DA MÃE DE DEUS DE KAZAN' À IGREJA ORTODOXA RUSSA

Caríssimos Irmãos e Irmãos!
1. Como anunciei no domingo passado, o nosso tradicional encontro semanal assume hoje uma fisionomia particular. De facto, encontramo-nos recolhidos em oração à volta do venerado Ícone da Mãe de Deus de Kazan', que está prestes a empreender a viagem de regresso à Rússia, de onde partiu num dia longínquo.
Depois de ter atravessado vários Países e ter permanecido muito tempo no Santuário de Fátima, em Portugal, há mais de dez anos chegou providencialmente à casa do Papa. Desde então encontrou um lugar junto de mim e acompanhou com olhar materno o meu quotidiano serviço à Igreja.
Quantas vezes, a partir daquele dia, invoquei a Mãe de Deus de Kazan', pedindo-lhe que protegesse e guiasse o povo russo que lhe é devoto, e que apressasse o momento em que todos os discípulos do seu Filho, reconhecendo-se irmãos, saberão recompor plenamente a unidade comprometida.
2. Desde o início, desejei que este santo Ícone regressasse ao solo da Rússia, onde segundo credíveis testemunhos históricos foi durante muitos anos objecto de profunda veneração por parte de inteiras gerações de fiéis. Em torno do Ícone da Mãe de Deus de Kazan' desenvolveu-se a história daquele grande povo.
A Rússia é uma nação desde há muitos séculos cristã, é a Santa Rus'. Mesmo quando forças contrárias se abateram contra a Igreja e procuraram cancelar da vida dos homens o santo nome de Deus, aquele povo permaneceu profundamente cristão, testemunhando em tantos casos com o sangue a própria fidelidade ao Evangelho e aos valores que ele inspira.
Portanto, é com particular emoção que dou graças juntamente convosco à Divina Providência, que hoje me concede enviar ao venerado Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias a oferta deste santo Ícone.
3. Que esta antiga imagem da Mãe do Senhor diga a Sua Santidade Aleixo II e ao venerando Sínodo da Igreja Ortodoxa russa o afecto que o Sucessor de Pedro nutre por eles e por todos os fiéis que lhes estão confiados. Diga a estima que ele sente pela grande tradição espiritual da qual a Santa Igreja russa é guardiã. Diga o desejo e o firme propósito do Papa de Roma de progredir juntamente com eles pelo caminho do conhecimento e da reconciliação recíprocos, para apressar o dia daquela unidade plena dos crentes, pela qual o Senhor Jesus rezou ardentemente (cf. Jo 17, 20-22).
Caríssimos Irmãos e Irmãs, uni-vos a mim para invocar a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, no momento em que entrego o seu Ícone à Delegação que, em meu nome, a levará a Moscovo.
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Oração do Santo Padre à Mãe de Deus de Kazan'

Gloriosa Mãe de Jesus,
que "procedes diante do povo de Deus pelos caminhos da fé,
do amor e da união com Cristo" (cf. Lumen gentium, 63), sê bendita!
Todas as gerações te chamam bem-aventurada,
porque "o Omnipotente fez em ti grandes coisas;
é Santo o seu nome" (cf. Lc 1, 48-49).
Sê Bendita e honrada, ó Mãe, no teu Ícone de Cazan',
no qual desde há séculos és circundada pela veneração
e pelo amor dos fiéis ortodoxos,
tendo-te tornado protectora e testemunha das maravilhas de Deus
na história do povo russo, que por todos nós é tão amado.
A Providência divina, que tem o poder de vencer o mal
e tirar o bem até das más acções dos homens,
fez com que o Santo Ícone, que desapareceu em tempos longínquos,
aparecesse no santuário de Fátima, em Portugal.
Em seguida, por vontade de pessoas que te são devotas,
ela foi acolhida na casa do Sucessor de Pedro.
Mãe do Povo ortodoxo,
a presença em Roma da tua santa Imagem de Kazan'
fala-nos de uma unidade profunda entre o Oriente e o Ocidente,
que perdura no tempo apesar das divisões históricas
e dos erros dos homens.
Elevamos-te agora com especial intensidade a nossa oração,
ó Virgem, no momento em que nos despedimos
desta tua sugestiva Imagem.
Acompanhar-te-emos com o coração
pelo caminho que te levará à santa Rússia.
Aceita o louvor e a honra que te presta
o povo de Deus que está em Roma.
Ó bendita entre todas as mulheres,
ao venerar o teu Ícone nesta Cidade
marcada pelo sangue dos Apóstolos Pedro e Paulo,
o Bispo de Roma une-se espiritualmente ao seu Irmão
no ministério episcopal,
que preside como Patriarca à Igreja ortodoxa russa.
E pede-te, Mãe Santa, que intercedas
para que se apresse o tempo da plena unidade
entre o Oriente e o Ocidente,
da plena comunhão entre todos os cristãos.
Ó Virgem gloriosa e bendita,
Senhora, Advogada e nosso Conforto,
reconcilia-nos com o teu Filho,
recomenda-nos ao teu Filho, apresenta-nos ao teu Filho!
Amém.
Fonte:
Vaticano

Assista o vídeo:


quarta-feira, 19 de maio de 2010

A devoção à Virgem Maria nas Ilhas Canárias

A Virgem dos Vulcões (ou Nossa Senhora das Dores)

Venerada em Tinajo, ilha de Lanzarote. Em abril de 1736, data das erupções vulcânicas, um franciscano, o padre Guardián, convoca e acalma o povo para organizar uma procissão portando a imagem de Nossa Senhora das Dores e dirigir-se ao encontro das correntes de lavas. A fervorosa procissão se situou na Montanha de Guiguán e ali prometeram solenemente construir uma ermida para a Senhora se Ele conseguisse conter a desolação que estava ocorrendo. Um homem decidido e valente, abraçado a uma cruz, adiantou-se quanto pôde ao fervente magma e cravou a cruz enquanto os presentes choravam e rogavam com fé firme. Quando o rio de lavas chegou ao pé da cruz, deteve-se, deixando de sepultar novas terras e desviando-se para as petrificadas escórias de anteriores erupções.
As promessas feitas à Virgem em dias aziagos e desesperadores foram esquecidas tão logo quando os insulares obtiveram paz e tranqüilidade. Tinajo só contava com um par de ricos entre os quais estava Juan Antonio Acosta, pai de Juana Rafaela Acosta, uma pequena pastorinha de cabras de apenas nove anos de idade (ano 1774).
Cuidava a menina das cabras um dia quando uma mulher enlutada a saudou amavelmente e lhe disse: “Menina, olha e diz a teus pais que cumpram com os vizinhos a promessa de construir a ermida, pois do contrário ocorrerá nova explosão vulcânica”. A menina contou este encontro a seus pais, os quais não acreditaram e riram considerando um embuste. Dias mais tarde a menina volta a ver a mulher que lhe deu o mesmo recado, mas a menina se nega a transmiti-lo porque seus pais a castigariam por não acreditá-la. A Santíssima Virgem, que outra não era a mulher de luto, pôs sua mão sobre os ombros da menina dizendo-lhe: “Vai, agora te acreditarão”. Os pais de Juana Rafael ficaram atônitos e sem fala, surpreendidos de ver uma marca como de uma sombra em forma de fina e bem proporcionada mão que Nossa Senhora havia deixado no ombro da menina. Levaram Juana Rafaela ao templo matriz para mostrar-lhe as diversas imagens da Virgem, e a menina reconheceu na de Nossa Senhora das Dores a mesma da mulher enlutada que lhe apareceu. A partir desse momento todos os vizinhos, ricos e pobres, se moveram logo para edificar a ermida prometida naqueles dias de angústia e desolação. O término da obra duraria ao redor de 10 anos. A partir do milagroso acontecimento que correu de boca em boca toda a ilha, a devoção para com a Virgem das Dores mostrava sempre os vizinhos levando esmolas para o culto e construção da ermida, tanto em dinheiro como em produtos ou doação de terrenos. A 13 de julho de 1824, às sete da manhã entrou em erupção o Vulcão da Capelania do Clérigo Duarte, entre Tão e Tiagua. Os vizinhos constituíram uma procissão desde Guiguam até Vegueta. Chegando às faldas de Tamia, pelo caminho de Tiangua a Tão, todos os presentes, joelhos no chão, imploraram a Nossa Senhora que não permitisse que as terras fossem de novo desoladas e seus bens destruídos. No mesmo instante o vulcão deixou de vomitar lava e passou a expulsar apenas colunas de fumaça. Após este novo milagre a Virgem das Dores se proclamou como a Virgem dos Vulcões.
Em 1850 a ermida foi fechada para restauração pelo bispo D. Buenaventura Codina. As obras foram interrompidas entre 1854-60, voltando-se a abrir em 1861.
Em 1988 houve outra restauração por causa de deterioração do tempo. A 18 de junho deste mesmo ano foram trasladados os objetos de Tinajo. Passava de uma hora da tarde quando tiraram a imagem da Virgem e, horas depois, ruiu toda a cúpula da ermida (como se estivesse apenas esperando que a imagem saísse).

Ato de confiança e consagração dos sacerdotes ao Imaculado Coração de Maria

ATO DE CONFIANÇA E CONSAGRAÇÃO
DOS SACERDOTES AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA
ORAÇÃO DO PAPA BENTO XVI
Igreja da Santíssima Trindade - Fátima
Quarta-feira, 12 de Maio de 2010

Mãe Imaculada,
neste lugar de graça,
convocados pelo amor do vosso Filho Jesus,
Sumo e Eterno Sacerdote, nós,
filhos no Filho e seus sacerdotes,
consagramo-nos ao vosso Coração materno,
para cumprirmos fielmente a Vontade do Pai.
Estamos cientes de que, sem Jesus,
nada de bom podemos fazer (cf. Jo 15, 5)
e de que, só por Ele, com Ele e n’Ele,
seremos para o mundo
instrumentos de salvação.
Esposa do Espírito Santo,
alcançai-nos o dom inestimável
da transformação em Cristo.
Com a mesma força do Espírito que,
estendendo sobre Vós a sua sombra,
Vos tornou Mãe do Salvador,
ajudai-nos para que Cristo, vosso Filho,
nasça em nós também.
E assim possa a Igreja
ser renovada por santos sacerdotes,
transfigurados pela graça d'Aquele
que faz novas todas as coisas.
Mãe de Misericórdia,
foi o vosso Filho Jesus que nos chamou
para nos tornarmos como Ele:
luz do mundo e sal da terra
(cf. Mt 5, 13-14).
Ajudai-nos,
com a vossa poderosa intercessão,
a não esmorecer nesta sublime vocação,
nem ceder aos nossos egoísmos,
às lisonjas do mundo
e às sugestões do Maligno.
Preservai-nos com a vossa pureza,
resguardai-nos com a vossa humildade
e envolvei-nos com o vosso amor materno,
que se reflete em tantas almas
que Vos são consagradas
e se tornaram para nós
verdadeiras mães espirituais.
Mãe da Igreja,
nós, sacerdotes,
queremos ser pastores
que não se apascentam a si mesmos,
mas se oferecem a Deus pelos irmãos,
nisto mesmo encontrando a sua felicidade.
Queremos,
não só por palavras mas com a própria vida,
repetir humildemente, dia após dia,
o nosso « eis-me aqui».
Guiados por Vós,
queremos ser Apóstolos
da Misericórdia Divina,
felizes por celebrar cada dia
o Santo Sacrifício do Altar
e oferecer a quantos no-lo peçam
o sacramento da Reconciliação.
Advogada e Medianeira da graça,
Vós que estais totalmente imersa
na única mediação universal de Cristo,
solicitai a Deus, para nós,
um coração completamente renovado,
que ame a Deus com todas as suas forças
e sirva a humanidade como o fizestes Vós.
Repeti ao Senhor aquela
vossa palavra eficaz:
« não têm vinho » (Jo 2, 3),
para que o Pai e o Filho derramem sobre nós,
como que numa nova efusão,
o Espírito Santo.
Cheio de enlevo e gratidão
pela vossa contínua presença no meio de nós,
em nome de todos os sacerdotes quero,
também eu, exclamar:
« Donde me é dado que venha ter comigo
a Mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43).
Mãe nossa desde sempre,
não Vos canseis de nos visitar,
consolar, amparar.
Vinde em nosso socorro
e livrai-nos de todo o perigo
que grava sobre nós.
Com este ato de entrega e consagração,
queremos acolher-Vos de modo
mais profundo e radical,
para sempre e totalmente,
na nossa vida humana e sacerdotal.
Que a vossa presença faça reflorescer o deserto
das nossas solidões e brilhar o sol
sobre as nossas trevas,
faça voltar a calma depois da tempestade,
para que todo o homem veja a salvação
do Senhor,
que tem o nome e o rosto de Jesus,
refletida nos nossos corações,
para sempre unidos ao vosso!
Assim seja!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um bilhão de famintos?

É o que diz campanha da FAO, “1 billion hungry”, lançada agora. Também afirma haver 215 milhões de crianças que trabalham.
Mais uma campanha da FAO que tende ao fracasso. Seu título, “Um brilhão de famintos”, seria mais adequado numa bandeira esquerdista da década de 60 do século passado. Um bilhão é, praticamente, um sexto da população mundial, em torno de 16%. A campanha lança um vídeo, tão demagógico quanto mal feito, onde um apresentador grita e berra como um louco, numa atitude agressiva, como se estivesse protestando contra a fome. O vídeo está postado numa página web em que a FAO pede uma espécie de “voto” contra a fome, como se isto servisse de instrumento de pressão aos governantes para se conseguir acabar, ou, pelo menos, minorar a fome no mundo.
Se há fome é porque falta comida. Mas, ao mesmo tempo que falta comida em alguns países, sobra em outros. E o grande problema da fome poderia ser resolvido se houvesse uma prática bem simples e cristã entre os povos: a caridade. Como esta virtude foi proscrita da sociedade moderna, especialmente entre os governantes, nunca se chegará a resolver o problema da fome, tão antigo quanto a humanidade.
Aproveitando, a FAO lança também uma campanha com intuito de diminuir o trabalho de crianças no mundo, como se isso, na prática, pudesse de alguma forma diminuir também a fome. Ora, se essas crianças que trabalham (muitas vezes para ajudar seus pais no sustento da família) deixarem de fazê-lo é claro que vai faltar mais comida em casa, e não o contrário.
Segundo dados da OIT, a taxa de trabalho infantil havia diminuído entre os anos 2000 a 2004 algo em torno de 10%, enquanto que nos cinco anos seguintes esta taxa se reduziu a apenas 3%. É claro que há uma infinidade de trabalhos perigosos para as crianças, e que muitos adultos se aproveitam para explorar esta mão-de-obra barata. Há trabalhos forçados exercidos por meninos em vários países do mundo. Mas a OIT informa que está diminuindo a quantidade de meninos que exercem trabalhos forçados num índice em torno de 31%.
Veja nossas postagens anteriores sobre o problema da fome: