domingo, 30 de março de 2008

O HOMEM MEDÍOCRE

O homem medíocre
“Suas admirações são prudentes, seus entusiasmos são oficiais. Por vezes o homem medíocre admite um princípio, mas se se chega às conseqüência deste princípio, ele dirá que se exagera. Se a palavra exagero não existisse, o homem medíocre a inventaria. Ele tem medo e horror dos santos e homens geniais; nada admira com calor. Não crê na existência do diabo. Ele prefere seus inimigos, se são frios, a seus amigos se são quentes. O homem medíocre gosta dos escritores que não dizem nem sim nem não sobre coisa alguma, que nada afirmam, que condescendem com todas as opiniões contrárias. Ele acha insolente toda afirmação. Mas se alguém é um pouco amigo e um pouco inimigo de todas as coisas, ele o achará sábio e reservado. Ele tem medo de comprometer-se. O homem medíocre diz que há bem e mal em todas as coisas. Ele lamenta que a Religião Cristã tenha dogmas. Não tem entusiasmos nem compaixão. Sente-se apoiado sobre a multidão dos que se lhe assemelham. Ele não luta. Tem sucesso porque segue a correnteza. Não percebe a grandeza, não se extasia nem se precipita. Nos seus julgamentos como em suas obras, ele substitui a convenção à realidade, aprova o que cabe em seu casulo e condena o que escapa às designações e categorias que ele conhece; teme o que surpreende, e não se aproxima nunca do mistério terrível da vida, evitando as montanhas e os abismos através dos quais ela conduz seus amigos. O homem medíocre é mais perverso do que ele se imagina e do que os outros o imaginam, porque sua frieza esconde sua maldade. Ele é o mas frio e o mais feroz inimigo do homem genial. Ele é cheio de si, cheio de nada, cheio de vazio, cheio de vaidade".
(Traduzido de “L’Homme”, cap. “L’homme medíocre”, págs. 58/67, de Ernest Hello)

A MEDIOCRIDADE



“A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento do imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências.
“Não olham para trás: falta-lhes o senso histórico. Nem olham para frente, ou para cima: não analisam nem prevêem. Sua vida mental se cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além do seu pequeno paraíso.
“Paraíso precário, que procuram proteger com toda espécie de seguros. E tanto mais feliz o medíocre se sente, quanto mais nota que todas as portas estão solidamente cerradas. Portas que podem se abrir para a aventura, para o risco, para o esplendoroso, e portanto, também, para os céus da Fé, para os largos horizontes da abstração, para os imensos vôos da lógica e da arte, para a grandeza de alma, para o heroísmo.
“Por meio do sufrágio universal, os medíocres fizeram tantas leis, tantos regulamentos, instituíram tantas repartições públicas, que nenhuma fuga é possível. Eles impõem às almas de largos horizontes a ditadura da mediocridade.
“Como todas as ditaduras, também esta só se prolonga quando chega a monopolizar os meios de comunicação social.
“Cada vez mais as mediocracias vão penetrando nos jornais, na revista, no rádio e na televisão.
“E se fosse só isso! O ecumenismo, com a infatigável e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos mediocratas. Uma espécie de seguro, ou de resseguro, para a vida e para a morte, mediante o qual todas as religiões são solicitadas a dizer em coro que indiferentemente com qualquer delas, os homens podem alcançar para sua saúde, seus negocinhos e sua segurança, e mesmo depois da morte, um bom convívio com Deus.
“Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e persegui-Lo. Pode-se até negá-Lo. Ele é indiferente a todos os atos do homem. Olimpicamente indiferente. Ecumenicamente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de louça ou de metal, ou algum amuleto, nos locais em que dormem ou em que trabalham, são olimpicamente indiferentes a Deus.
“Ora, esse indiferentismo não é senão uma forma de ateísmo. O ateísmo daqueles que, mais radicais (em certo sentido) que os próprios ateus, não tomam Deus a sério. Ao passo que o ateu, se tivesse a evidência de que Deus existe, O odiaria... ou, talvez, O serviria... Mas, em todo o caso, O tomaria a sério”.

(Artigo “Medíocres, mediocratas, etc”, de Plínio Corrêa de Oliveira, in“Catolicismo”, junho de 1995)

Islamismo, maior religião do mundo?

Qual a religião que tem mais adeptos no mundo?

Pela informação tendenciosa da BBC de Londres é o islamismo, pois, segundo a notícia, há mais muçulmanos do que católicos no mundo. Reza assim a notícia: "O número de muçulmanos superou, pela primeira vez, o de católicos, fazendo com que o Islamismo seja a religião com maior número de adeptos no mundo, de acordo com o Vaticano".
Informação tendenciosa e parcial: a quantidade de islamitas deveria ser comparada com a dos cristãos, considerando todas as dissidências da Igreja como o protestantismo, a grega, a russa, etc, e não somente com os católicos que, aliás, antes eram maioria. Segundo o Cardeal Formenti, que deu os dados para a imprensa, o número de cristãos no mundo é de 33% da população mundial, isto é, mais de 2 bilhões, enquanto que os muçulmanos não passam de 19%.

Considerando que os muçulmanos estão divididos, na maioria, entre xiitas e sunitas, os católicos superam em número qualquer uma destas facções. O Anuário diz que a proporção da população de católicos do mundo é razoavelmente estável, mas a porcentagem de muçulmanos vem aumentando por causa da alta taxa de natalidade neste grupo, o que é bastante razoável.

No ano de 2004, a Agência Fides apresentou algumas estatísticas de modo a oferecer um quadro panorâmico da Igreja no mundo até o ano anterior. Os quadros foram extraídos do último «Anuário Estatístico da Igreja» (atualizado em 31 de dezembro de 2003) e dizem respeito aos membros da Igreja, às suas estruturas pastorais, às atividades no campo da saúde, da assistência e da educação. Em 31 de dezembro de 2003 a população mundial era de 6.301.377.000 pessoas, com um aumento de 79.483.000 em relação ao ano precedente. Na mesma data, o número de católicos era 1.085.557.000, com um aumento de 15.242.000 em relação ao ano precedente, assim repartido por continentes: África +6.231.000; América +6.678.000; Ásia +2.434.000; Oceania +113.000. A única diminuição, também este ano, se registra na Europa com -214.000.

No ano seguinte (2005), a Santa Sé divulgou os números do catolicismo no mundo, que revelam um aumento significativo de batizados entre 1978 e 2004, ao mesmo tempo que diminuía o número de padres. No último quarto de século, o número de católicos havia aumentado 45%, passando de 757 milhões para 1,098 bilhão (mais 341 milhões). Uma análise cuidadosa dos números confirma a crescente importância da África para a Igreja, continente em que o número de católicos batizados quase triplicou, passando de 54,7 milhões para 149 milhões.

Segundo os últimos dados disponíveis, de 2004 a 2005 os católicos no mundo passaram de algo mais de 1,098 bilhão a cerca de 1,115 bilhão, um aumento de 1,5%. Este crescimento relativo ficou muito próximo ao da população mundial (1,2%), de modo que a presença dos católicos no mundo permanece essencialmente sem variação (17% naquele ano, mais ou menos o percentual de hoje).
Não foram divulgadas, na notícia dada BBC, informações sobre o número de religiosos. Anteriormente, a porcentagem de sacerdotes por continente revelava pouco crescimento em algumas áreas e decréscimo em outras. O único continente que experimentou uma diminuição nesta porcentagem foi a Europa: em 2004, seus 199.978 sacerdotes representavam quase 49,3% do total do mundo, enquanto que um ano depois haviam diminuído para 48,8%.O número dos estudantes de Filosofia e Teologia nos seminários diocesanos ou nos religiosos passou de 113.044, em 2004, a 114.439, em 2005, com o aumento de 1,23%. Em 2005, de cada 100 candidatos ao sacerdócio de todo o mundo, 32 eram americanos, 26 asiáticos, 21 africanos, 20 europeus e 1 da Oceania.

Considerando, pois, os números globais, a maior religião em adeptos continua sendo o Cristianismo, e, dentre os cristãos, a maioria é esmagadoramente católica.

sexta-feira, 28 de março de 2008

A Igreja está voltando às pompas do passado?

Até o pontificado de Pio XII a Igreja primava pelos cerimoniais de grande pompa, como era costume se ver o Papa sendo carregado no Sólio Pontifício como o da foto acima. Mas, com os ventos que sopraram na era conciliar tudo mudou, havendo uma preferência pela simplicidade.

Quem não se lembra do Crucifixo com a imagem de Cristo meio retorcida que João Paulo II levou a todos os lugares onde peregrinou?

Bento XVI usou aquele mesmo Crucifixo no início de seu pontificado, mas nos últimos cerimoniais da Igreja foi visto um outro mais artístico como o da foto acima.


Comenta-se que esta mudança é decorrente da nomeação de um novo encarregado do cerimonial do Vaticano, Monsenhor Guido Marini, que tem procurado fazer com grandes solenidades as cerimônias da Igreja.

É preciso se frisar que é milenar o estilo de pompa nos grandes cerimoniais da Igreja, tradição que se firmou principalmente nos tempos medievais.


No entanto, em virtude de uma mudança tão grande havida após o último Concílio, com uma exagerada preferência pela simplicidade e pobreza, é alvissareira a notícia que nos informa das mudanças que estão sendo feitas a respeito.


Esperemos que todo o episcopado da Igreja, desde os das grandes cidades até os das mais humildes cidadezinhas, copiem Bento XVI e a Igreja volte a ter o lugar merecido nas festas religiosas da Cristandade.








terça-feira, 25 de março de 2008

PROBLEMAS DA VIDA MODERNA (X)

A Papel da Igreja no convívio pacífico entre as nações

Reproduzo abaixo o comunicado publicado pela Secretaria de Estado da Santa Sé em 29 de dezembro de 2003, quando ainda reinava o Papa João Paulo II, documento assinado pelo Secretário para as Relações da Santa Sé com os Estados, D. Jean-Louis Tauran. O que motivou este comunicado foi o assassinato do Núncio Aposólico em Burundi:

"A ética e a ordem mundial: a contribuição específica da Santa Sé
- Referindo-se à atividade internacional do atual Pontificado, um autor francês e peço desculpa se tomo a liberdade de começar vangloriando-me dos "produtos" da minha terra de origem, observava com acuidade, na minha opinião, que a diplomacia do Vaticano, questionada na época do Concílio Vaticano II, tinha adquirido uma nova justificação para trabalhar num mundo em que "o sentido acusa um atraso em relação ao poder" (Z. Laidi, "L'ordre mondial relâché", em: Etudes Julho-Agosto de 1992, pp. 5-11).
Falar de ética e de ordem mundial não é senão, pelo menos assim me parece, voltar a equilibrar precisamente esta confusão entre o "sentido" e o "poder". Nas grandes questões contemporâneas sobre o destino histórico do homem, as lutas pelos direitos humanos, pela justiça e pela paz, a mensagem de salvação que as Igrejas cristãs são chamadas a transmitir em nome de Jesus Cristo é constituída de um sentido e de uma contribuição insubstituíveis para a ordem dos princípios ético-políticos, que se encontram no fundamento de uma ordem mundial harmoniosa.
No termo destes dias de reflexão sobre o contributo da Igreja para uma certa moralidade internacional, na minha posição de Secretário para as Relações da Santa Sé com os Estados, gostaria de vos explicar a contribuição específica da diplomacia pontífica neste âmbito.


1. Como bem sabeis, a Igreja católica romana é a única confissão religiosa que tem acesso às relações diplomáticas. E ela deve isto, em primeiro lugar, à sua estrutura organizativa, claramente universal: não supernacional mas, antes, transnacional. Deve-o, portanto, também ao seu Chefe, o Pontífice romano que, a partir do momento da sua eleição em conclave, goza de uma personalidade internacional. Deve-o, além disso, à sua história, que viu o Papado tornar-se o centro das nações do Ocidente cristão. É suficiente pensar na época da Res Publica Christiana, ou então no período em que o Sumo Pontífice pronunciava arbitragens e promovia a paz em nome do jus gentium christianorum. Poder-se-iam recordar também, em jeito de exemplo, as suas mediações internacionais nas disputas entre a Espanha e Portugal, relativas aos territórios do novo mundo.
Ao longo dos séculos, a subjetividade internacional da Santa Sé sobreviveu às tormentas da reforma protestante, da revolução francesa e da anexação italiana. A tal ponto que, graças à personalidade que lhe é reconhecida, a Santa Sé pode exercer, mesmo nos dias de hoje, uma presença ativa nas relações internacionais, de modo particular no contexto da diplomacia bilateral e multilateral. E fá-lo através de uma rede de relações diplomáticas, que a põe em contato com os seus Representantes junto da Organização das Nações Unidas e de outras Organizações governamentais.

2. Todavia, tudo o que foi dito até agora não deve induzir à tentação de assimilar a Santa Sé e a sua ação internacional à obra de um Estado, com ambições de poder.
Sem dúvida, a Santa Sé constitui um sujeito soberano de direito internacional, mas de natureza claramente religiosa. Ela tem certamente um poder, mas trata-se de um poder moral. Por conseguinte, a sua "estratégia", se quisermos recorrer a esta expressão, consiste sobretudo em realçar e em dar voz à consciência das pessoas e dos povos em geral. É por este motivo e não por ambições de poder que ela mantém um diálogo franco e cordial com os governantes. Dirigindo-se às consciências, ela promove os princípios, sem os quais não se pode falar de uma "comunidade das nações".
Portanto, permiti-me evocar tais princípios, que constituem uma espécie de "corpus" da moral internacional.
a) Em primeiro lugar, a centralidade da pessoa humana e, por conseguinte, dos seus direitos. A Santa Sé compromete-se a recordar e se for necessário a defender o primeiro de todos os direitos humanos: o direito à vida, em todas as fases do desenvolvimento biológico da pessoa, até à sua morte natural.
Todos nós conhecemos o impressionante Magistério de João Paulo II em favor da vida e da família. Entre outros, ele inspirou a ação das Delegações da Santa Sé nas importantes Conferências internacionais, promovidas pela Organização das Nações Unidas, ao longo dos anos passados: em 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, sobre: O meio ambiente e o desenvolvimento; em 1993, na Conferência de Viena, sobre: Os direitos humanos; em 1994, na Conferência do Cairo, sobre: A população e o desenvolvimento; em 1995, na Conferência de Pequim, sobre: A mulher; em 1996, na Conferência de Istambul, sobre: O habitat; e em 2000, na Conferência de Joanesburgo, sobre: O desenvolvimento sustentável.
Se os instrumentos jurídicos internacionais proclamam solenemente o direito fundamental à vida por exemplo, o art. 3 da Declaração Universal dos Direitos do Homem ou, ainda, o art. 6 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos não podemos deixar de deplorar numerosas leis nacionais, indicações internacionais e investigações biomédicas, que põem em perigo a vida humana. Basta pensar nas leis relativas ao chamado "direito ao aborto", nas experiências realizadas com os embriões e na liberalização da eutanásia. Nos seus contactos com os responsaveis da comunidade internacional, a Santa Sé nunca cessou de recordar que a vida constitui um dom que provém do Outro e que, portanto, é sagrada.
Afirmando isto, ela deseja falar também em nome de todos os cristãos, e inclusivamente dos homens de boa vontade. Além disso, ela quer sublinhar o facto de que o direito à vida é o fundamento de todos os outros direitos, que lhe estão também a peito: o direito à liberdade de consciência e de religião, à educação, ao trabalho, ao desenvolvimento humano, etc. No sábado, dia 17 de Maio, por ocasião do VII centenário de fundação da Universidade "La Sapienza" de Roma, o Santo Padre repetiu que os direitos fundamentais não derivam do Estado, nem de qualquer outra autoridade humana, mas da própria pessoa. Além disso, recordou que o seu Predecessor, o Papa João XXIII, na Encíclica
Pacem in terris, convidou os poderes públicos a "reconhecer, respeitar, definir, tutelar e promover" estes direitos, que derivam da própria natureza humana e, por este motivo, são universais, invioláveis e inalienáveis.
Obviamente, conheceis a insistência com que a Santa Sé sempre defendeu a liberdade de consciência e de religião, não apenas como liberdade de culto, mas também como possibilidade para os crentes participarem na vida social e política do país de que são cidadãos, mas sempre como membros de uma comunidade de fé. Muitas vezes o Papa João Paulo II, recordando a sua experiência polaca, experimentou que quando a liberdade de religião é suprimida, na realidade passam a ser ameaçadas todas as outras liberdades fundamentais.
Em síntese, pode afirmar-se que a Santa Sé se opõe a qualquer visão unidimensional do homem e propõe outra, que é aberta às suas componentes individual, social e transcendente.
b) Outro campo de acção da Sé Apostólica diz respeito à promoção e à salvaguarda da paz. Não é necessário que me prolongue a respeito da convicção com que os Sumos Pontífices rejeitam a guerra, como solução para as controvérsias entre os povos.
Por ocasião da recente crise iraquiana, o Papa João Paulo II e os seus colaboradores recordaram que cada um dos Estados tem o dever de proteger a sua própria existência e liberdade, com meios proporcionais, contra um injusto agressor. Para além do caso da legítima defesa, que justifica o recurso às armas, para resolver as contendas devem preferir-se sempre os instrumentos do diálogo e da mediação, como a arbitragem de terceiros, que sejam imparciais, ou de uma autoridade internacional munida de suficientes poderes. Com efeito, a experiência tem mostrado que a violência gera mais violência. Recordareis a exclamação do Papa, durante a primeira guerra do Golfo: "A guerra é uma aventura sem retorno!". Ou, ainda, há poucos meses: "A guerra é sempre uma derrota para a humanidade!".
Por conseguinte, a Santa Sé sempre encorajou os esforços realizados com vista a alcançar um desarmamento efectivo, que vá para além da dissuasão, fundamentada no equilíbrio do terror. Para apoiar moralmente o compromisso neste sentido, em 1971 ela não hesitou em assinar o Tratado de não-proliferação nuclear; em 1993, aderiu ao Tratado contra a produção, o desenvolvimento e o uso das armas químicas; e em 1997, aderiu ao Tratado que proíbe as minas anti-homem. E tudo isto para encorajar uma autêntica cultura da paz.
A Santa Sé está persuadida de que o poder destruidor e os sofrimentos causados por estas armas as tornam tão perigosas, que a utilização das mesmas provavelmente causa danos que são muito maiores do que o mal que procuram eliminar. Além disso, não se deve esquecer que a corrida dos armamentos, longe de eliminar as causas da guerra, corre o risco de as agravar ainda mais. O recurso a riquezas enormes para a preparação de armas sempre novas impede o socorro às populações indigentes e obstaculiza o desenvolvimento dos povos. Armar-se exageradamente multiplica as causas dos conflitos e aumenta o risco da sua propagação (reconhecereis nisto o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica, contido no n. 2315).
c) Todavia, a paz é muito mais do que ausência de conflitos. Ela fundamenta-se numa ordem social e internacional, assente sobre o direito e a justiça. O Papa João Paulo II exclamou muitas vezes: "Não há paz sem justiça!". Cada país tem o dever de assegurar aos seus cidadãos a satisfação de algumas necessidades fundamentais, como por exemplo, a alimentação, a saúde, o trabalho, o alojamento e a educação.
Como recorda o n. 76 da Constituição Apostólica Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, "a Igreja contribui para alargar o campo de acção da justiça e do amor, no interior de cada um dos países e entre todas as nações".
A Santa Sé está também convencida de que cada um dos países tem o dever de respeitar os princípios consuetudinários do direito internacional e as convenções a que livremente aderiu. Sem direito não existem ordem e, muito menos, liberdade e paz.
Durante a crise iraquiana, a Santa Sé afirmou que não compartilha o princípio da "guerra preventiva" conceito inventado "ad hoc" e pediu que se respeitasse o conteúdo da Carta da Organização das Nações Unidas, de modo particular do seu capítulo VII, que define os critérios de comportamento, em caso de ameaças ou de agressões contra a paz.
Com efeito, a comunidade internacional elaborou e codificou uma série de direitos e deveres que já constituem uma parte do património comum da humanidade. À custa de sacrifícios enormes, a comunidade internacional adquiriu um corpus jurídico consistente e pormenorizado que, se tivesse sido aplicado nestes últimos anos, em conformidade com a antiga máxima latina "pacta sunt servanda", teria poupado muito derramamento de sangue e evitado numerosas crises internacionais.
A Santa Sé sempre manifestou o seu apreço pelo direito internacional e frequentemente colaborou para a redacção de Convenções que muitas vezes o renovaram. Penso, por exemplo, nalguns conceitos como o dever da intervenção humanitária ou os direitos das minorias.
Além disso, os Papas nunca hesitaram em exprimir a sua estima pela Organização das Nações Unidas. Penso em Pio XII e em João XXIII, mas sobretudo em João Paulo II que, na sua última visita, em 1995, por ocasião do 50º aniversário de fundação da Organização das Nações Unidas, a definiu como "o maior de todos os instrumentos de síntese e de coordenação da vida internacional", realçando que a sua actividade condiciona a cultura e a ética internacionais. Em seguida, formulou votos a fim de que a Organização... se eleve cada vez mais, do estádio de uma instituição insensível de tipo administrativo, ao nível de um centro moral em que todas as nações do mundo se sintam em casa, desenvolvendo a sua consciência comum de serem, por assim dizer, uma família de nações... Por sua natureza, a família é uma comunidade fundamentada na confiança recíproca, na ajuda mútua e no respeito sincero; numa família autêntica não existe o domínio dos mais fortes: pelo contrário, os membros mais frágeis são, em virtude da sua debilidade, duplamente acolhidos e servidos". Na minha opinião, são palavras que revestem uma importância particular no contexto internacional contemporâneo.
Somente uma rigorosa aplicação do direito, por parte de todos e em cada uma das circunstâncias, pode impedir que o indivíduo mais frágil se torne vítima da má vontade, da força e das manipulações dos mais fortes. Por conseguinte, a Santa Sé compromete-se em ordem a fazer com que a força da lei prevaleça sobre a lei do mais forte.
d) Num mundo "globalizado como se costuma dizer onde a solidariedade e o princípio de subsidiariedade pertence à ordem do dia, ninguém se admirará que a Igreja católica nutra apreço pela democracia. A paz e a convivência civil são sempre gravemente ameaçadas pelas diferentes expressões de um poder totalitário, pela obsessão da segurança, pela ideologia, pela procura de privilégios para determinadas categorias de cidadãos. E o século que há pouco chegou ao seu termo ensina-o com eloquência.
Todos nós conhecemos o papel desempenhado pelo Papa João Paulo II na evolução dos países da Europa Central e Oriental, rumo à democracia. O seu Magistério explicou como este sistema político corresponde à aspiração dos indivíduos a participarem na vida política e social do país de que são cidadãos. Este sistema de governo faz também com que os responsaveis da sociedade fossem obrigados a justificar aos seus compatriotas aquilo que diziam e o que faziam. Democracia significa sempre participação e responsabilidade, direitos e deveres. Todos nós recordamos o rico ensinamento contido na Carta Encíclica de João Paulo II,
Centesimus annus.

3. Esta síntese dos grandes princípios que orientam a acção internacional realizada pela Santa Sé e que traduzem, de maneira concreta, a doutrina social da Igreja católica, parece-me explicar esta contribuição ética para a ordem mundial, que constituiu o objecto da vossa reflexão.
Mas diria também que se trata de uma mensagem profética; e explico-me: o Papa João Paulo II está profundamente convicto de que os males que afligem a sociedade internacional contemporânea não são uma fatalidade. Na sua opinião, cada um de nós pode desenvolver em si mesmo a potencialidade de fe, de probidade, de respeito pelo próximo, de dedicação ao serviço dos outros e, portanto, resolver situações de injustiça e de conflito. Obviamente, uma grave responsabilidade pesa sobre aqueles que, governando as sociedades, são chamados a servir o bem comum.
Por este motivo, no começo do corrente ano, por ocasião do tradicional discurso de bons votos ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, o Santo Padre recordava que "a indispensável competência profissional dos responsáveis políticos não pode ser legitimada, a não ser por uma firme referência a fortes convicções éticas. Como se poderia pretender tratar assuntos do mundo, sem fazer referência a este conjunto de princípios que estão na base daquele "bem comum universal", do qual a Encíclica
Pacem in terris do Papa João XXIII tanto falou? Será sempre possível para um dirigente, coerente com as suas convicções, recusar-se perante as situações de injustiça ou os desvios institucionais, ou pôr-lhe termo" (n. 6).

4. Concluindo, gostaria de dar novamente a palavra ao Sumo Pontífice que, nessa mesma circunstância, referindo-se à precariedade da situação mundial no início deste novo milénio, não hesitou em dizer aos Diplomatas que "tudo pode mudar. Isto depende de cada um de nós. Cada qual pode desenvolver em si o seu potencial de fé, de honradez, de respeito pelo próximo, de dedicação ao serviço dos outros" (Ibid., n. 3).
Em seguida, o Papa indicou alguns imperativos: sim à vida; respeito pelo direito; dever da solidariedade.
Para o Santo Padre, isto exige a coragem da coerência, ou seja, o saber ir contra a corrente, dizendo: não à morte; não ao egoísmo; não à guerra. Não é este, porventura, o núcleo da presente Assembleia?
Pela última vez, recorro ainda às palavras do Santo Padre.
No ano de 1995, dirigindo-se novamente aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, ele esclareceu que "a razão de ser da Santa Sé, no seio da comunidade das Nações, consiste em constituir a voz que a consciência humana espera, sem por isso diminuir a contribuição das outras tradições religiosas".
Este serviço da consciência é inclusivamente a única ambição da diplomacia pontifícia: convencer as pessoas que são responsáveis pelas sociedades, de que a violência, o medo, a repressão, o mal e a diferença não podem ter a última palavra. Quem tem uma certa familiaridade com o cristianismo não ficará surpreso: com efeito, o cristão não acredita na fatalidade da história, mas sabe que, com a ajuda de Deus, o homem pode mudar o curso dos acontecimentos do mundo".

sábado, 22 de março de 2008

AMOR AO PAPADO E A PERFEITA ALEGRIA


Respondendo a uma missiva, assim se posicionou Dr. Plínio sobre o papel do Papa:



"Se bem que eu me sinta tentado a entrar em matéria apontando alguns erros de estilo, de pensamento e de História (presente e passada) do meu missivista, prefiro ir ao cerne do assunto, no pouco espaço que seu longo texto me deixa. E este cerne consiste – em se tratando de um interlocutor de formação protestante – em mostrar como se deveria portar um católico que estivesse, não precisamente nas condições em que me encontro, mas nas condições em que ele imagina que estou.
O sr. Jeroboão se engana. Não é com meu entusiasmo dos tempos de jovem, que eu me coloco hoje perante a Santa Sé. É com um entusiasmo ainda maior, e muito maior. Pois à medida que vou vivendo, pensando e ganhando experiência, vou compreendendo e amando mais o Papa e o Papado. E isto seria precisamente assim, ainda que eu me encontrasse – repito – exatamente nas circunstâncias que o sr. Cândido Guerreiro pinta.
Lembro-me ainda das aulas de catecismo em que me explicaram o Papado, sua instituição divina, seus poderes, sua missão. Meu coração de menino (eu tinha então 9 anos) se encheu de admiração, de enlevo, de entusiasmo: eu encontrara o ideal a que me dedicaria por toda a vida. De lá para cá, o amor a esse ideal não tem senão crescido. E peço aqui a Nossa Senhora que o faça crescer mais e mais em mim, até o meu último alento. Quero que o derradeiro ato de meu intelecto seja um ato de Fé no Papado. Que meu último ato de amor seja um ato de amor ao Papado. Pois assim morrerei na paz dos eleitos, bem unido a Maria minha Mãe, e por Ela a Jesus, meu Deus, meu Rei e meu Redentor boníssimo.
E este amor ao Papado, sr. Jeroboão, não é em mim um amor abstrato. Ele inclui um amor especial à pessoa sacrossanta do Papa, seja ele o de ontem, como o de hoje ou o de amanhã. Amor de veneração. Amor de obediência.
Sim, insisto: de obediência. Quero dar a cada ensinamento deste Papa, como de seus antecessores e sucessores toda aquela medida de adesão que a doutrina da Igreja me prescreve, tendo por infalível o que ele manda ter por infalível, e por falível o que ele ensina que é falível. Quero obedecer às ordens deste ou de qualquer outro Papa em toda a medida em que a Igreja manda que sejam obedecidos. Isto é, não lhes sobrepondo jamais minha vontade pessoal, nem a força de qualquer poder terreno, e só, absolutamente só recusando obediência à ordem do Papa que importasse eventualmente em pecado. Pois neste caso extremo, como ensinam – repetindo o Apóstolo São Paulo – todos os moralistas católicos, é preciso colocar acima de tudo a vontade de Deus.
Foi o que me ensinaram nas aulas de catecismo. Foi o que li nos tratados que estudei. Assim penso, assim sinto, assim sou. E de coração inteiro.
Como já disse, haveria de cá e de lá algumas precisões ou retificações a fazer aos fatos que o senhor narra. Imagino entretanto – para argumentar – que fossem tais que o senhor os pinta. E que as portas do Vaticano me tenham sido batidas, ou venham a ser-me batidas no rosto. Eu em nada alteraria minha atitude de fé, entusiasmo e obediência. E, além disto, me sentiria em perfeita felicidade.
Sabe o senhor o que nos ensina São Francisco sobre a perfeita felicidade? Para refrigério e gáudio de sua alma, eu o transcrevo dos “Fioretti”, embora resumidamente:
“Vindo uma vez S. Francisco de Perusa para S. Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo de inverno, e o grandíssimo frio fortemente o atormentasse, (...) frei Leão perguntou-lhe: Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria. E S. Francisco assim lhe respondeu: Quando chegarmos a S. Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser: Quem são vocês? E nós dissermos: Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser: Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui; e não nos abrir e deixar-nos estar no tempo, à neve e à chuva com frio e com fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (...) escreve que nisso está a perfeita alegria. E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite, batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disse: Vagabundos, importunos, pagar-lhes-ei como merecem: e sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó: se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor: ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão. Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos (...)”



("A perfeita alegria" – Folha de São Paulo, 12.07.70).

sexta-feira, 14 de março de 2008

São José, Testemunho Silencioso da História





A devoção a São José começou a ter maior crescimento na Cristandade a partir do século XIX, embora ela viesse crescendo ao longo dos anos. Em 8 de dezembro de 1870, o Papa Pio IX proclama São José como Patrono da Igreja Universal, fixando o dia 19 de março para sua festa.
A 15 de agosto de 1889, Leão XIII promulga a encíclica “Quamquam Pluries”, na qual dá os motivos doutrinários em que se fundamentou a Igreja para proclamar São José como Patrono da Igreja. Algum tempo depois, o teólogo Alessio Maria Lepicer compõe, a pedido do Papa São Pio X, as ladainhas de São José que até hoje são rezadas por todos os católicos do mundo. Finalmente, em 1950 Pio XII fixa o dia primeiro de maio para a festa de São José Operário, nomeando-o como Patrono universal daquela classe de trabalhadores.
Nas Américas em geral, São José tem particulares devotos. Em 1555, por exemplo, foi proclamado Patrono da Nova Espanha, e em 1642 o Canadá é posto sob sua proteção. No século XIX, ano de 1828, o Congresso Constituinte do Perú proclamou São José como Patrono daquele país.
São José é protetor das famílias, dos trabalhadores, dos carpinteiros, marceneiros, mestre de obra e administradores, dos pais de família, das mulheres em estado de Boa Esperança, dos meninos não nascidos, dos artesãos, dos engenheiros, das pessoas vacilantes, dos viajantes, dos emigrantes, dos moribundos, da Boa Morte e da Justiça Social.

Patriarca do Velho e do Novo Testamento
Há uma sociedade patriarcal, fundada por Deus. Dela fez parte Adão e Noé como patriarcas de toda a humanidade. Da mesma forma fizeram parte desta sociedade Abraão, Isaac e Jacó como patriarcas do Povo Eleito. Deus não só instituiu o Patriarcado, mas criou uma “Sociedade” dos santos patriarcas, conforme consta no livro de Tobias: “...Nesta mesma noite, queimando o fígado do peixe, será posto em fuga o demônio. Na segunda noite serás admitido na sociedade dos santos patriarcas. Na terceira noite conseguirás a bênção, para que de vós nasçam filhos robustos. Passada a terceira noite tomarás a donzela no temor do Senhor, levado mais pelo desejo de ter filhos do que por sensualidade, a fim de conseguires nos filhos a bênção reservada à descendência de Abraão”. (Tob 6, 19-22).
Por haver cumprido tudo o que Deus exigia para seu ingresso, fez parte também desta Sociedade o Patriarca São José, o último Patriarca do Antigo Testamento e o primeiro do Novo. Encerrou ele o patriarcalismo antigo (que era meramente carnal, na linha da descendência familiar) no momento em que renunciou aos apetites sensitivos e prometeu eterna virgindade. Com isto estava São José dando início ao novo patriarcalismo, todo ele baseado na filiação espiritual e destinado a formar filhos de Deus segundo o espírito e não segundo a carne.
Como membro desta Sociedade, a partir do momento que fez promessa (de comum acordo e juntamente com a Santíssima Virgem) de levar vida inteiramente virgem embora casado, e quando aceitou receber Nossa Senhora como esposa mesmo estando ela grávida do Divino Espírito Santo, recebeu de Deus a sublime missão não só de ser o pai terreno e tutor de Jesus e de Nossa Senhora, mas também de colaborar na geração dos filhos espirituais da Santa Igreja fundada por Cristo. Esta vocação ele a exerceu no mais completo silêncio, o qual foi a nota dominante nos momentos mais importantes de sua vida junto ao Menino Jesus e Nossa Senhora.
Foi assim (no silêncio) que São José testemunhou a Visitação do Anjo e a Anunciação do Anjo Gabriel; exultante de alegria, levou Nossa Senhora até Santa Isabel para que lá Ela pudesse também externar seu gáudio e contentamento intenso, presenciando caladamente as maravilhas do Magnificat e da exultação de São João no ventre da mãe; esteve presente depois no fato mais importante da História: o nascimento de Jesus Cristo em Belém, e lá ele foi o anfitrião silencioso dos pastores e dos Reis Magos que vieram adorar o Menino; depois, levou o Menino Jesus e Nossa Senhora ao Templo para circundação e purificação – ouvindo então as palavras proféticas de Simeão e Ana, e nada dizendo em resposta; fugiu com Eles para o Egito e presenciou a ação exorcística do Menino Jesus ao destruir os ídolos e expulsar todos aqueles demônios; tivemos depois o reencontro com o Menino Jesus pregando aos doutores em Jerusalém, onde não foi ele, mas Ela, Nossa Senhora, quem falou a Jesus – talvez não tenham entendido ainda o fato de Nosso Senhor dizer “não sabeis que tenho de cuidar das coisas de meu Pai?”, pois provavelmente não lhes era muito clara até aquele momento a doutrina sobre a Santíssima Trindade; São José deve ter estado presente em silêncio, ainda, no milagre das Bodas de Caná e, quem sabe, até mesmo na hora em que Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto.
Em todos estes momentos ele foi silencioso quanto ao falar, ter dito alguma coisa, mas será que não registrou, não documentou, tudo o que viu e ouviu e o revelou aos primeiros seguidores de Seu Filho? Sim, quem revelou com detalhes todos estes fatos aos Evangelistas? É pouco provável que tenha sido a própria Nossa Senhora ou o mesmo Jesus Cristo, que certamente não gostariam de falar de si mesmos.
São José deve ter morrido nos momentos que antecederam ao início da vida pública de Jesus a fim de que servisse de marco divisório entre o Novo e o Velho Testamento. Mas seu silêncio acaba aí, porque chegando no Limbo ele anunciou àqueles Bem-Aventurados que o Messias havia chegado como se fosse um verdadeiro arauto, com grande exaltação e alegria!
Assim como alguns desejam e até proclamam de boa fé que há Santos, a exemplo de Nossa Senhora, já estão no Céu Empíreo com seus corpos ressuscitados, não seria coerente que não se afirme, com base no mesmo princípio, que São José não teve também o seu corpo ressuscitado. E é natural que Jesus o tenha feito, não se sabe em que momento (talvez quando levou as almas dos justos no Limbo), a fim de que, assim como tivéssemos no Céu Empíreo uma Rainha em corpo resplandecente, tivesse Ela também ao Seu lado um Rei, seu castíssimo esposo São José.
Roguemos assim a ele: São José, Rei do Céu Empíreo, rogai por nós!

Se o leitor quiser colher maiores informações sobre São José acesse o site da ACI Prensa http://www.aciprensa.com/sanjose/, pra ter a encíclica “Quamquam Pluries” clique aqui http://www.aciprensa.com/sanjose/quamquam.htm.
Acesse também o blog “São José segundo o Pe. João Clá” , clicando aqui
http://saojosesegundojoaocladias.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de março de 2008

COEXISTÊNCIA PACÍFICA COM A IGREJA


“Para a formação dos candidatos ao Sacerdócio nascidos em Roma, existem naturalmente, na Cidade Eterna, diversos seminários. A par destes, há entretanto também outros estabelecimentos de formação eclesiástica destinados a jovens das mais diversas nações. E é explicável. Com efeito, Roma, sede do Papado, é por definição o centro da ortodoxia. É, pois, natural que os Bispos do mundo inteiro desejem enviar para lá o maior número de seminaristas, com o intuito de obter, desse modo, neo-sacerdotes profundamente imbuídos do espírito da Igreja.
É bem de ver que esse costume, de si excelente, produz uma conseqüência preciosa. É que os Papas dispõem, assim, dos meios para modelar diretamente numerosos jovens de todas as nações, que por sua própria formação moral e intelectual poderão, de futuro, ocupar postos de relevo nas atividades católicas dos respectivos países.
As grandes universidades eclesiásticas romanas sempre regurgitaram, pois, de alunos de todos os continentes. Paralelamente a elas existem as casas destinadas à residência dos seminaristas. Essas casas – chamadas habitualmente de Colégios – agrupam geralmente os jovens por nação. Assim, temos o Colégio Brasileiro, como o Francês, o Germânico, etc.
No seu conjunto, insisto, este sistema constitui um valiosíssimo instrumento para que o Papado exerça a fundo sua missão providencial na Igreja.
Como bem se pode imaginar, o zelo dos Papas, a partir de 1917, se voltou especialmente para os colégios das nações subjugadas pelo comunismo. Os recrutas de tais colégios são, habitualmente, jovens nascidos de famílias que, não se conformando com o jugo comunista, conseguem refugiar-se no mundo livre. Ou então jovens detrás da cortina de ferro que, enfrentando obstáculos e riscos fáceis de se imaginar, conseguiram chegar até Roma.
De tais jovens, a Igreja tem os mais preciosos serviços a esperar: o incremento da fé entre os refugiados, a infiltração por detrás da cortina de ferro, etc.
Por isto mesmo, também os regimes totalitários sempre tentaram infiltrar espiões e agentes em tais estabelecimentos. Ainda na semana passada, as agências telegráficas se referiram a documentos recentemente publicados, os quais revelam, de um lado, a infiltração do nazismo nos seminários romanos, durante a última guerra, e, do outro lado, a infiltração de agentes de Stálin no Vaticano.
Nada mais explicável, pois, do que procurar a Santa Sé, com extremos de solicitude, proteger contra tais infiltrações especialmente os colégios de nações bolchevizadas.
É no contexto destes fatos, que se deve avaliar o verdadeiro alcance da notícia publicada por um órgão da imprensa paulista, na semana passada: o novo diretor do Instituto Magiar de Roma, monsenhor Fabrian Arpad, foi designado pela Santa Sé mediante prévio “agreement” do governo de Budapest – pois daqui por diante os reitores dos colégios de nações comunistas não serão mais nomeados sem o “placet” dos respectivos governos.
Para alguém obter este “placet” – ponderemos – deverá evidentemente ter a simpatia dos comunistas de sua Pátria. E para ter essa simpatia, o mínimo necessário é não ser incômodo ao comunismo... Ora, sendo a filosofia e o regime econômico-social comunistas exatamente o contrário da Religião e da civilização católicas, é bem de se ver que longa seqüelas de efeitos temíveis decorrem da nomeação de reitores daqueles Colégios segundo a nova praxe.
Tão funestos são esses resultados, que à primeira vista nos sentiríamos propensos a duvidar da notícia. Mas, infelizmente, nos dias revoltos e confusos que correm, essa dúvida não pode ser tão consistente quanto outrora. Inclusive se pode conjecturar toda uma série de pressões e ameaças, as quais, para evitar mal maior, possam ter inclinado o Vaticano à aceitação de tal risco.
Mas estas considerações estão à margem de meu tema. Minha intenção, no caso, não é estudar a atitude da Santa Sé, mas a do governo húngaro comunista.
Por mil jeitos e trejeitos propagandísticos, o comunismo procura fazer crer que está pronto para um “degelo” em relação à Igreja. E propenso, em conseqüência, a dar a esta última uma certa liberdade de ação para além da lúgubre cortina.
Um “modus vivendi” com a Santa Sé poderia regulamentar essa liberdade. Era só a Igreja não incomodar o comunismo... Assim pensam os ingênuos...
À vista disto, pergunto como crer na sinceridade destes propósitos, se até em Roma a “longa manus” do comunismo procura coarctar a liberdade da Igreja... e logo em matéria tão imensamente delicada. Se tal acontece, por exemplo, no Colégio Húngaro de Roma, que está tão distante de Budapest, como duvidar de que isto, ou algo pior ainda, ocorra continuamente em cada sacristia e em cada convento da Hungria atual?
Com estas intenções da parte dos comunistas o que poderá ser um “modus vivendi” com a Igreja? O que é – pergunto – um contrato em que uma das partes, a Igreja, entra disposta a cumprir todas as suas obrigações, e a outra entra com o intuito de pôr chicana e má intenção na execução de cada cláusula?
Um “modus vivendi”, não. Um “modus moriendi”, isto sim.
Digo-o para alertar os perpétuos sonhadores de utópicos acordos com o comunismo...
(artigo “Modus moriendi” – "Folha de São Paulo", 18.01.70).

sexta-feira, 7 de março de 2008

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) e os direitos da mulher

O “feminismo” de Edith Stein

Nos séculos anteriores algumas vozes já haviam se levantado para divulgar a bandeira do que se denominou depois de “feminismo”. Mary Wollstonecraft , por exemplo, foi considerada por alguns historiadores como a primeira feminista por defender pontos de vista sempre com a idéia de igualdade entre homens e mulheres. Algumas suas seguidoras como Lady Wollstonecraft, Mary Farifax Somerville, Lucretia Coffin Mott e Lady Elizabeth Cady Stanton chegaram até a organizar a primeira Convenção pelos Direitos das Mulheres em Nova York. Outras ainda se destacaram, em sua maioria oriundas do protestantismo, como Lucy Stone e Susan Brownell Anthony pertencentes aos Quakers;
Destacou-se, dentre todas, a escritora socialista francesa George Sand como uma das precursoras do movimento feminista de nossa época. Outras ativistas do século XIX foram as puritanas da seita Quaker, nascidas nos Estados Unidos, Lucretia Coffim Mott e Susan Brownell Anthony, as ativistas Elizabeth Cady Stanton, Lucy Stone (americana), Sophia Jex-Blake (escocesa) e outras personalidades de destaque no meio da alta sociedade.
Muitos consideram falsa a idéia de que somente em meados do século XX foi que tal movimento tomou corpo e se expandiu por toda a terra com Simone de Beauvoir. No tempo de Edith Stein, início do século XX, a “questão feminista” estava candente e com todo vigor, embora mais especificamente na Europa. Antes de sua conversão, ela chegou a se inscrever como membro da “Associação Prussiana para Defesa do Direito do Voto da Mulher”, um movimento acusado de ter cunho socialista. Não se ouviu mais falar de que tenha se envolvido nunca mais com tais movimentos, parecendo ter sido este um “pecado de juventude”.
Era uma época em que, principalmente na Alemanha, a mulher não tinha quase nenhuma chance de ensinar nas faculdades. Mas Edith Stein, que considerava o ensino como uma atividade tipicamente feminina, enfrentando o respeito humano e as opiniões contraditórias (não haviam mulheres no corpo docente das faculdades alemãs), concorreu a uma vaga na Universidade de Götingen. Foi recomendada em tom meio irônico por seu orientador no doutorado, o filósofo Husserl, que assim se expressou: “Se a carreira acadêmica fosse aberta às mulheres, então eu recomendaria em primeiríssimo lugar e calorosamente a admissão de sua candidatura”. De nada adiantou indicação de tanto peso, já que Husserl era nada mais nada menos do que um filósofo famoso e respeitado tanto na Alemanha quanto no exterior, e que havia criado a escola da “Fenomologia”: sua inscrição foi rejeitada em 1919, num rápido processo que decepcionou profundamente Edith Stein. O seu caso nem sequer foi levado à Congregação da Faculdade que ela pleiteava, pois uma comissão prévia a rejeitava alegando que a ocupação de cátedras por mulheres sempre trazia problemas para a Escola.
Nem por isso Santa Edith Stein ficou conformada: recorreu ao ministério competente na Capital, argumentando que o fato de ser mulher não poderia ser um impedimento para o avanço de uma carreira científica. O ministro concordou e mandou uma portaria às universidades, recomendando que o fato de ser mulher não fosse impedimento para o acesso ao ensino superior. Nem por isso a Universidade de Götinger voltou atrás. No entanto, nota-se no episódio a diferença da atitude de Santa Edith Stein com a das mulheres ditas “feministas”: estas provavelmente procurariam provocar um confronto com as autoridades e fariam um discurso inflamado ou até passeatas em defesa da igualdade entre homens e mulheres. Embora Edith Stein ainda não fosse católica, estava no entanto possuída de bom espírito e tudo o que desejava era que fossem respeitados seus direitos. Alguns anos depois, quando já crescia sua fama como conferencista e filósofa renomada, foi indicada para a universidade de Freiburg, mas recusou educadamente o cargo pois pleiteava escolas de níveis melhores

Porta-voz dos legítimos direitos da mulher
O espírito de Santa Edith Stein sempre se revelou como recatado e humilde, até mesmo antes de sua conversão. Conhecia perfeitamente os ditames da moda, porém não gostava de bailes nem de exibicionismos sociais, que na época era coisa comum onde andasse. Até mesmo nas festas estudantis, onde todos são descontraídos, ela sempre se mostrava recolhida. Isto fazia-a estar sempre pensativa e analisando antes de fazer qualquer coisa.
Aos poucos foi amadurecendo no interior dela as definições que precisava para caracterizar o modo de proteger a mulher contra situações de opróbrio e de indignidade. Estudava e vivia quotidianamente situações que a levaram como conceber a melhor forma de encarar o problema do lugar da mulher na sociedade. Havia sido enfermeira e ido para o “front” de batalha na primeira grande guerra; voltando às atividades normais, trabalhou em hospitais de desvalidos, mas sempre com a idéia de dedicar-se com afinco aos estudos. Em 1911, quando iniciara o curso de filosofia na universidade de Breslau, era a única mulher no curso de psicologia. Formou-se em janeiro de 1915, em plena guerra. Este curso lhe possibilitaria depois uma cadeira de ensino em escola secundária. Alguns anos depois, tornou-se assistente do famoso Husserl, seu orientador na tese de doutorado e para o qual redigiu (como secretária) a principal obra de Husserl sobre a “Fenomenologia”.
No final da década de 20, a doutora Edith Stein já se destacava nos meios intelectuais da Alemanha. Em 1928, a Associação Católica de Professoras da Baviera convida-a para fazer uma conferência. O tema, “O valor genuíno da mulher e seu significado para a vida do povo”, foi mais ou menos o assunto de todas as suas palestras e estudos quando versava sobre o papel da mulher na sociedade. Nos anos seguintes foi convidada para várias palestras, sempre tendo como tema a mulher, em Heidelberg, em Freiburg, depois em cidades maiores como Colônia, Zurique, Viena e Praga. O que chamava a atenção sobre ela era exatamente que seu discurso distanciava-se completamente dos ideais “feministas” da esquerda. Um repórter do jornal “Heidelberger Boten” declarou que a palestra de Edith Stein no movimento católico tornou-se mais convincente porque “não se ateve ao caráter patético do movimento feminista”, formulando seus pensamentos de forma concreta e sem rodeios.
As conferências se sucediam, e a bandeira da defesa da mulher passou para as mãos de uma pessoa que, a estas alturas, já era uma católica fervorosa. O público em geral ficava surpreso, pois muitos esperavam algo diferente: em vez de arroubos retóricos e inflamados em defesa da liberdade da mulher, Edith Stein, com sua simplicidade, modestamente vestida, convidava todos a respeitarem os direitos da mulher sem que fosse necessário a convocação para uma luta de libertação do sexo feminino, como o faziam sempre as feministas de esquerda. Personalidades feministas da época condenavam a forma como Santa Edith Stein debatia o assunto, acusando-a de ser uma “patriarcalista” disfarçada.
Não se tratava disto, ela defendia com ardor os verdadeiros direitos da mulher. Ao mesmo tempo que afirmava categoricamente os papéis que cabiam a ambos os sexos, contestava vigorosamente a existência de qualquer igualdade sexual. Numa conferência ela definiu os dois papéis:
“A profissão primordial do homem é o domínio sobre a terra. A mulher coloca-se ao seu lado como colaboradora. A profissão primária da mulher é a criação e educação dos descendentes. O homem se encaixa nessa tarefa como seu protetor. Isso significa que os dotes mencionados estão presentes em ambos, embora em diferentes medidas e proporções. Ao homem sobretudo os dotes para a luta, a conquista e domínio : a força física para a tomada de posse externa, a inteligência para penetrar o mundo de forma sagaz, força de vontade e energia para realização criadora. Para a mulher, a capacidade de guardar, proteger e estimular o desenvolvimento daquele que está crescendo e promover o seu desdobramento”.
Em síntese: com o homem estaria mais a razão, enquanto que com a mulher o coração. A par disto, Edith Stein afirmava com destemor os direitos da mulher exatamente numa época e num país onde eles eram menos respeitados, na Alemanha. Segundo críticos dela, uma de suas realizações que deu mais fruto foi exatamente banir a idéia da impossibilidade do ingresso da mulher no chamado “mercado de trabalho”, ou seja, no mundo profissional moderno. Ela afirmava que não há profissão que não possa ser exercida por uma mulher. Ao lado de mostrar de forma convicta a responsabilidade de ambos os sexos na sociedade, estabelece, todavia, a mulher num papel bem específico e mais valorizado.


quinta-feira, 6 de março de 2008

Nossa Senhora do Bom Sucesso e o Equador

Nossa Senhora do Bom Sucesso - Mosteiro da Conceição de Quito, Equador

Oração a Nossa Senhora do Bom Sucesso

Ó Senhora do Bom Sucesso! Que com olhar de predileção considerais o Equador, atendei à tristeza dos dias que atravessamos, caracterizados pela inteira confusão dos espíritos. Para onde caminha a Cristandade? Qual será para ela o dia de amanhã? São perguntas às quais ninguém ousa responder.
Esta confusão não só subverte a esfera temporal, desordenando a fundo os campos cultural, político, social e econômico, senão, oh dor!, penetra também na própria esfera espiritual.
Presenciaremos, já amanhã, o explodir da terrível guerra que constituiria o desdobramento lógico deste caos? Ou veremos o mundo ocidental – para obter um simulacro miserável de paz – capitular vergonhosamente frente ao inimigo da Civilização Cristã, isto é, o comunismo?
Ó Mãe da Candelária! Postos ante estas aterradoras hipóteses, nossos corações para o Vosso se voltam em busca de uma luz, uma ajuda, um alento. Assim se nos apraz especialmente oportuno recordar o que manifestastes a uma filha eleita Vossa.
Quando em 1634, em Quito, Sóror Mariana de Jesus Torres rezava ante o Santíssimo Sacramento, subitamente a lâmpada que ardia no altar se apagou. Ao tentar reacendê-la, uma luz sobrenatural inundou a Igreja:

“Filha querida de Meu coração, sou Maria do Bom Sucesso, tua Mãe e Protetora. A lâmpada que (...) vistes apagar-se tem muito significado (...).
“(...) que no século XIX - ao seu término – e em grande parte do século XX surgirão nestas terras, então República livre, várias heresias. Apagar-se-á a luz preciosa da Fé nas almas pela quase total corrupção dos costumes. Nesse tempo haverá grandes calamidades, físicas, morais, públicas e privadas. O pequeno número de almas nas quais se conservará o culto da Fé e das virtudes, sofrerá um cruel e indizível padecer, a par de prolongado martírio.
(...) nesses tempos estará a atmosfera repleta do espírito de impureza, o qual, na forma de um mar imundo, correrá pelas ruas, praças e lugares públicos numa liberdade assombrosa, de maneira que não haverá no mundo almas virgens.
(...) os sacerdotes se descuidarão de seu sagrado dever, perdendo a Bússola Divina, se desviarão do caminho traçado por Deus (...).
(...) Para libertar da escravidão destas heresias, necessitam grande força de vontade, constância, valor e muita confiança em Deus, aqueles a quem destinará para esta restauração o amor misericordioso de meu Filho Santíssimo. Para pôr à prova os justos nesta Fé e Confiança chegarão momentos nos quais parecerá que tudo está perdido e paralisado, e então será o feliz princípio da restauração completa (...) É chegada minha hora, em que Eu de uma maneira assombrosa destronarei o soberbo Satanás, pondo-o sob meus pés, encadeando-o no abismo infernal, deixando por fim livre a Igreja e a Pátria dessa cruel tirania” (El Equatoriano, 4 de abril de 1951).

Ó Mãe, ó Protetora! Fazei que pela intercessão de Sóror Mariana de Jesus Torres e das beneméritas fundadoras do Mosteiro da Conceição de Quito, estas Vossas palavras tragam orientação e segurança para as almas que as lerem. Que todos nos empenhemos, mais que nunca, em invocá-la como Mãe do Bom Sucesso, com a esperança de que assim apresseis para nós, perturbados e confundidos, o caminho de luz que nos conduza, em meio das trevas, a Vosso Divino e Adorado Filho. Assim sema.


Soror Mariana de Jesus Torres (séc. XVII)

terça-feira, 4 de março de 2008

HUYSMANS - Retorno ao seio da Igreja



Publicamos abaixo o segundo artigo do Dr. Plínio sobre Huysmans:
“Em um de nossos últimos artigos, consagrados à estupenda obra de J. K. Huysmans, comentávamos seu livro “Là-Bas”, que é o primeiro da série que escreveu sobre sua dolorosa e interessante evolução espiritual, que acabou por conduzi-lo ao verdadeiro porto da salvação, isto é, à Igreja.
“Là-Bas”, como os leitores devem estar lembrados, conta como Huymans, mergulhando no satanismo, nas abominações da magia negra, das missas sacrílegas, das profanações atrozes, viu despertar em sua alma as primeiras inquietações religiosas. Estas, que encontraram terreno propício em um espírito de escol, trabalhado profundamente pelo horror que lhe causava a época em que vivia (século XIX), e pela solidão que o cercava no domínio sentimental, foram crescendo gradualmente de intensidade, até determiná-lo a ocupar-se decididamente do problema religioso.
Nessa altura, termina o “Là-Bas” e começa o “En Route”.
Aproximado pelos acontecimentos de um sacerdote francês inteligente e virtuoso, Huysmans começa a freqüentar as cerimônias religiosas católicas, que despertaram nele impressões indeléveis, as quais nos legou em páginas magistrais. Suas descrições da tristeza tenebrosa do “De Profundis”, das imprecações ardentes do “Miserere”, da alegria exultante do “Magnificat”, são páginas literárias que glorificam o idioma em que foram escritas.
Aliás, constitui a obra de Huysmans uma aplicação interessantíssima do naturalismo a assuntos religiosos, aspecto este que a enche de originalidade.
Sob o ponto de vista estritamente religioso, interessava principalmente o gênero novo de apologética que Huysmans tentou instituir. Não o preocupam os argumentos filosóficos, as contendas científicas, em que os silogismos se digladiam pró e contra a Fé. Já dizia o poeta francês que, “à force de raisonner, on perd la raison” (“à força de raciocinar, perde-se a razão”).
Faz da Igreja uma descrição material e objetiva, através da qual procura fazer ressaltar, com inimitável habilidade, os lampejos de sobrenaturalidade que se desprendem da liturgia magnífica, enriquecida por um simplismo comovedor, do cantochão estupendo, nas suas imprecações veementes, no tumultuar de suas contrições, na explosão de seus surtos de confiança na Providência Divina, no lacrimejar harmonioso de seus ofícios de defuntos.
Impressionam-no sobremodo as ordens religiosas, nas quais vê com razão a cristalização do espírito evangélico. Fascinam-no as penitências das carmelitas, as austeridades implacáveis das beneditinas e das sacramentinas, os rigores das regras monásticas em geral. Entre todas, porém, uma Ordem chama sua atenção, pela estupenda beleza de seus princípios constitutivos: a dos trapistas. Resolve-se, então, impulsionado pelos conselhos de seu amigo sacerdote, a fazer em uma Trapa longínqua um retiro de alguns dias.
Entra-se então na parte mais interessante do livro.
Cumpre dizer que, à maneira dos antigos cristãos, que proibiam aos pagãos a assistência aos mistérios sagrados, sentimos o desejo de vedar a leitura do que se segue a espíritos incrédulos, que terão provavelmente para a incomparável beleza moral da vida trapista, o riso estulto, ou o trocadilho alvar com que um hotentote comenta a complicação – para ele inútil – de um mecanismo moderno, cujo funcionamento está acima de sua compreensão.
Segundo o dogma da comunhão dos santos, cuja aceitação é imposta pela Igreja a todos os fiéis, os sofrimentos de uma alma podem ser aplicados em expiação dos pecados de outra. Satisfeita assim a justiça divina, pode a misericórdia incitar o pecador à conversão. A importância das Ordens religiosas, que na contemplação de Deus, e na penitência incessante, encerram (deveríamos dizer, sepultam) criaturas durante toda uma vida, em conventos humílimos, para expiar assim as ignomínias do mundo pecador, participa, portanto, de toda a elevação moral do Santo Sacrifício do Calvário.
É certo que os sibaritas, tão freqüentes no século XX, inquietados em seus gozos pela visão de tanta abnegação e de tanto sofrimento, pretenderão qualificar de selvageria desumana tal procedimento. É certo que algumas pessoas, para os quais o ouro é o único ideal da vida e que consideram o homem exclusivamente segundo o que produz, o trapista é um inútil, pois que sua atividade “não rende”. Suas apreciações profanam tais assuntos. Melhor seria que se calassem sobre assuntos alheios à sua compreensão!
Foram tais as considerações que ocuparam Huysmans em sua viagem de Paris para a Trapa. Sua impressão, quando se habituou à vida do convento, foi a de um verdadeiro deslumbramento.
Monges plácidos e austeros, invariavelmente vestidos de branco, se dedicavam, dentro de uma reclusão perpétua, a trabalhos manuais e especialmente à oração e à penitência, que lhes consumiam a vida. Só uma voz falava: a da contrição e da reparação, expressa através de todas as atitudes e de todas as ações. Como cama, uma prancha de madeira. A alimentação, de um rigor extremo, era exatamente o necessário para impedir que os monges adoecessem gravemente, vitimados pela fome. Por toda a parte, o silêncio.
As Trapas constituem a mais magistral resposta aos que afirmam que a Igreja perdeu a seiva que alimentava os mártires dos primeiros séculos do cristianismo. Se é certo que é necessário um heroísmo sobre-humano para que se possa alguém sujeitar-se aos tormentos do Coliseu, também é certo que a agonia de uma vida inteira, escoada lentamente entre os cilícios e as mortificações, constitui tormento que a todos excede pelo rigor e pela provação que impõem à perseverança.
Certa noite, Huysmans, inquieto, não conseguia dormir. Levantou-se então e dirigiu-se à capela, que supunha deserta. Quando entrou, divisou vagamente, através da penumbra que coava pela clarabóia de uma cúpula, os vultos brancos dos trapistas, que furtavam à suas poucas horas de sono o tempo necessário para alimentar seu espírito de oração.
Alguns, curvados pela humildade, se prostravam no chão. Outros, como chamas de velas que se dirigem ao alto, erguiam o busto numa atitude de imprecação ardente, de súplica veemente, que só a pena de Huysmans consegue descrever. Outros, enfim, abatidos pela enormidade dos pecados do mundo que deviam expiar, numa atitude de profunda contrição, gemiam um “Miserere”.
Lentamente, a manhã penetra através da clarabóia. As formas brancas precisam seu contorno, ainda banhadas na claridade suave da aurora. Raia enfim o sol. Todos os trapistas se dirigem para os bancos. Toca o sino e irrompe radiosa a “Salve Regina”.
A observação de tais cenas atuou profundamente no ânimo de Huysmans, que, enfim resolvido a confessar seus pecados, se prostra aos pés de um trapista, a quem, em profunda contrição, confia todos os seus delitos contra Deus e contra os homens. No dia imediato, comunga.
Feita assim sua integração ao catolicismo, retira-se da Trapa com recordações imorredouras. E o “Em Route” cede lugar ao “Oblat”.

(Transcrito da revista “Dr. Plínio”, edição de julho/2001, artigo do “Legionário” n. 94, de 21-2-1932)

CONVERSÕES DE PERSONALIDADES FAMOSAS



Muitas foram as conversões de personalidades famosas nos últimos tempos: fala-se em várias dela, como o Cardeal John Henry Newman (que deixou o anglicanismo), seguido somente na Inglaterra por diversos outros como Robert H. Benson, Gilbert K. Chesterton, Hilaire Belloc, Evelyn Waugh y Maurice Baring. Na Europa tivemos as conversões também famosas de Charles Péguy, Julien Greene, Paul Claudel, Jacques Maritain y Léon Bloy e do ator Alec Guinness.
Alguns foram escritores famosos (objetos de um livro “Escritores conversos. - La inspiración espiritual en una época de incredulidad”, de Pearce, Joseph – Palabra - Madrid, 2006 - 592 páginas), tais como C.S.Lewis, J.R.R.Tolkien,Evelyn Vaugh, Chesterton, T.S.Eliot, Hilaire Belloc, Graham Greene, Christopher Dawson, Malcolm Muggeridge, Ronald Knox, Robert Benson, Dorothy Sayers, Edith Sitwell, Maurice Baring, Siegfred Sassoon, Ernest Milton, Oscar Wilde y tantos outros.
Até um banqueiro, Olivier Sachs, entra na lista, assim como um político americano, o senador republicano Sam Brownback, que renunciou o protestantismo em prol da Religião Católica. Também entram na lista, mais de 400 mil anglicanos que estão querendo ser aceitos pela Igreja em memorável requerimento dirigido ao Vaticano. Além destes, confirmou sua conversão ao Catolicismo o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, e diz-se até que o fundador da Anistia Internacioal, Peter Benenson, advogado inglês de ascendência russa-judia, fora convertido ao Catolicismo em 1958.
Fala-se amiúde neste rol de convertidos, alguns já comprovada sua sinceridade mas outros ainda pairando dúvidas sobre a mesma, mas não se fala tão assiduamente naqueles convertidos sinceros e que se tornaram até mártires e santos, como Alfonse Ratisbonne, o judeu convertido por Nossa Senhora da Medalha Milagrosa ou Edith Stein, a judia que converteu-se, tornou-se carmelita e foi martirizada pelos nazistas (hoje uma Santa canonizada pela Igreja).
A propósito, foi lançada uma edição espanhola (Homo Lrgens, 405 páginas) do livro “En Route” (“En Camiño”, no espanhol e “A Caminho” no nosso português), de Joris-Karl Huysmans, um escritor francês do século XIX, cético e anticlerical, que se converteu de forma sincera e espetacular, e conta sua conversão em três livros publicados sucessivamente: “La-Bas”, “En Route” e “Oblat”. As obras de Huysmans, que narram o caminho de sua conversão, foram comentadas pelo Dr. Plínio em dois artigos publicados no “Legionário”, cujos textos seguem em seguida:


HUYSMANS – Apelo à conversão
“A literatura de nossos dias, acorrentada à sensualidade, está em franca crise de assuntos. Esta crise é, mesmo, o mais sério problema com que têm de lutar todos os literatos hodiernos. O cinema, o romance, a novela, a poesia, tudo enfim, está assolado por uma tremenda crise de temas. Os enredos giram eternamente em torno de casos amorosos. Ora, os aspectos amorosos da vida, por mais que nos modernizemos, só podem dar lugar a quatro combinações: ou são duas pessoas casadas, que abandonam seus respectivos lares para constituirem juntas um terceiro sobre os escombros da felicidade de seus primeiros cônjuges; ou é uma pessoa casada, que se apaixona por uma solteira, culminando a paixão numa ruptura dos laços conjugais; ou a ruptura não se dá, mas morre oportunamente o cônjuge embarazoso, de sorte que o viúvo ou viúva pode, mal fechado o caixão do difunto, atirar-se nos braços da outra; ou são duas pessoas solteiras que se tributam mutuamente um amor combatido barbaramente pelo “sogro” implacável.
Estes casos comportam evidentemente algumas variantes. Ou o crime corta o nó górdio de uma vida supérflua, que ameaçava durar demais; ou o adultério brutal põe termo a uma situação incômoda; ou o cônjuge supérfluo se suicida discretamente, para deixar o lugar a seu sucessor mais feliz.
Evidentemente, porém, estas combinações também são limitadas e se esgotam ao cabo de algum tempo. De tal sorte que, quem se entrega assiduamente à leitura de romances durante cinco anos, fica conhecedor de todo o estoque amoroso de nossas livrarias. E, com um pouco de argúcia, poderá ver, logo ao ler as primeiras páginas, qual o desfecho da história, desfecho este que depende das inclinações do autor, e dos sentimentos e posição que atribui aos personagens do romance.
Um autor que combata este círculo vicioso, para ingressar em um campo novo, é, evidentemente, um Cristóvão Colombo do espírito, que abre para a inteligência continentes novos, mundos inexplorados. É o que se dá com Huysmans, um dos mais estranhos e admiráveis escritores do século passado [século XIX]. Seu mérito foi o de ter sabido confeccionar as mais espantosas obras literárias que se possam imaginar, abstraindo totalmente de complicações amorosas.
J. K. Huysmas, literato naturalista, residente em Paris, encontrou-se a certa altura de sua vida mergulhado em tremenda crise intelectual. Suficientemente lúcido para abominar seu século, mas destituído de qualquer amparo sentimental em alguma amizade sólida ou afeição de família profunda, Huysmans, ao mesmo tempo que se isolava cada vez mais do convívio de todos, fazia dentro de si um vácuo tremendo.
Tendo abandonado todos os seus amigos, destruído todas as suas antigas ilusões, pedido todos os seus parentes, vivia isolado em Paris, em pequeno quarto, onde passava dias infindáveis em companhia de um gato, a maldizer indefinidamente o século XIX.
Foi então que conheceu um pseudo-médico, des Hermies, fidalgo “déclassé”, que freqüentava rodas espíritas, de mágicos, astrólogos, etc., no “bas fonds” canceroso que existe em Paris.
A princípio, seduziu-o no amigo o cunho original e misterioso de sua vida. Esta sedução se acentuava à medida em que ia privando com as pessoas mais chegadas a des Hermies, todas elas atacadas de um misticismo acatólico e doentio, que exalava os miasmas da mais absoluta putrefação espiritual. Levado por suas inclinações de diletante, Huysmans não recuou á vista de tal ambiente.
Sobreveio-lhe, nesta ocasião, em condições misteriosas, um convite para que assistisse a uma “missa negra”, celebrada em honra do demônio por um sacerdote privado de ordens sacras. Excitada fortemente sua curiosidade, aceita o convite e é conduzido a um lugar estranho, em que se amontoam mulheres e homens carregados com o peso de todos os vícios e todas as baixezas. Sobre o altar, um Cristo rindo, num “rictus” ignóbil, ultrajante.
Toca uma sineta, entra o sacerdote. Começa a missa, entre contorções dos presentes. Quando chega no momento da consagração, o sacerdote pronuncia as palavras sacramentais banhado em suor, a voz repassada de ódio, o olhar carregado de estranhos eflúvios diabólicos. Distribui a Sagrada Eucaristia aos presentes, que a profanam abominavelmente. Gargalhadas satânicas, blasfêmias tremendas, insultos implacáveis, nada se poupa ao Corpo adorável de Nosso Senhor.
Manifestações evidentemente diabólicas irrompem por todos os lados. É o triunfo de Satanás, glorificado pelos assistentes num delírio de abjeção e de infâmia.
Enojado, ferido nos poucos sentimentos que ainda lhe restavam, Huysman se esgueira pela porta e foge espavorido.
Desde então, uma grande preocupação assaltou sua inteligência e acabou trazendo-o submisso aos pés da Igreja. Vira o demônio, vira o espírito das trevas urdindo contra a Sagrada Eucaristia as mais tremendas infâmias.
Ora – refletia ele -, se o demônio, de cuja existência já não posso duvidar, odeia a hóstia consagrada pelos sacerdotes católicos, é porque realmente ela é o Corpo de Cristo. Logo, a Igreja Católica é verdadeira.
Daí uma conversão dolorosa, penosa, que se vai arrastando através de inúmeras lutas, de combates sem fim, travados contra a carne rebelde às injunções da vontade, e o espírito rebelde às exigências da Fé. Quando entra em uma igreja, extasia-se diante das belezas da liturgia católica. Sua alma se eleva até os pés de Deus, ao som do órgão, no desenrolar grave e compassado da música sacra. Poucas almas sentiram como a sua as belezas do cantochão. Sua descrição do “De Profundis”, do “Miserere” e da Missa de defuntos são as mais belas páginas que tenha lido em minha vida.
Freqüentando assiduamente as igrejas de Paris, a todas surpreende nas suas horas de mais intensa sentimentalidade. Ora é “Notre Dame” de Paris, detendo nas suas ogivas seculares uns restos de claridade coada através dos vitrais, enquanto some no céu, lentamente, tristemente, um sol crepuscular. Ora é uma igreja operária, na qual observa detidamente as mulheres paupérrimas, os mendigos, os operários exaustos, os miseráveis dos arrabaldes de Paris, que vêm dirigir a Deus, depois de um dia de intenso trabalho, preces infindáveis, enquanto, de dentro do tabernáculo, o Senhor invisível os consola repetindo mudamente o Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que choram, os que sofrem, os que têm sede de justiça”...
No entanto, Huysmans ainda não ousou aproximar-se dos sacramentos. Recai no pecado com tal facilidade que nem se atreve a aproximar-se do tremendo tribunal da Penitência.
Resolve, então, ir fazer um retiro numa Trapa. Começa aí a parte culminante de seu segundo livro, “Em Route” (“A caminho”), de que me ocuparei no próximo artigo”

(Transcrito da revista “Dr. Plínio”, edição de junho/2001, págs. 21/24, artigo do “Legionário, n. 93, de 31-1-32)

QUE RESULTARÁ SE HOUVER CONCESSÕES NA COLÔMBIA?

Que resultará se houver concessões na Colômbia?

A história se repete: o comunismo, ou as esquerdas, só vencem por intermédio de golpes de esperteza, nunca pela adesão da opinião pública. Na Colômbia de hoje poderá está ocorrendo algo parecido com o Vietnã do passado, isto é, vão fazer tudo para que o governo colombiano ceda e permita a participação dos bandidos das FARCs na política partidária do país. O que dizia Dr. Plínio do Vietnã soou como uma previsão profética, pois ocorreu tal qual:

“No Extremo Oriente, o imenso poderio norte-americano vergou ante um adversário incontestavelmente menos forte. O Vietnã do Sul está sendo arrastado pelo governo Johnson à mesa das negociações de Paris, como uma ovelha para o matadouro. Tudo faz crer que, a fim de obter a cessação das hostilidades, Johnson acabe por exigir que Saigon aceite uma participação de comunistas no governo. E que, isto obtido, as tropas americanas voltem para seu país. O que, tudo, importará em deixar os gloriosos lutadores anticomunistas do Vietnã na boca do lobo”

("Folha de São Paulo", de 25.12.68).

segunda-feira, 3 de março de 2008

O FRACASSO DO ESQUERDISMO NA OPINIÃO PUBLICA

O fracasso do esquerdismo na opinião pública

Em 1969, Dr. Plínio escrevia na "Folha de São Paulo" sobre o fracasso do comunismo na opinão pública mundial. Um ano depois, dissertava sobre uma variante do comunismo, o esquerdismo, e seu rotundo fracasso nas massas populares e grande influência somente nas elites:

“Não me canso, nem jamais me cansarei, de afirmar que o esquerdismo não é um fenômeno de massa, mas tão somente um sintoma – e que triste sintoma – de deterioração das elites. A subversão social encontra seus prosélitos mais radicais e dinâmicos em certas sacristias, universidades, redações de jornal e boates de grã-finos. Mas a fermentação ideológica procedente desses focos não atinge profundamente as massas, como aliás também não a maioria das próprias elites.
Se bem que uma pressão publicitária quase alucinante procure criar a impressão generalizada de que o esquerdismo corresponde ao anelo das multidões, a verdade é que estas pouco se interessam por ele. É notório, por exemplo, que as guerrilhas acendidas há alguns anos por Fidel Castro na Colômbia e em outros países sul-americanos se extinguiram porque as populações rurais detestavam os guerrilheiros que as queriam “libertar”, e denunciavam à polícia os esconderijos nos quais eles se acoitavam. É notório que as massas rurais brasileiras se mostraram tão indiferentes à reforma agrária socialista e confiscatória de Jango, que este chegou - em um de seus últimos discursos – a se queixar sentidamente delas. No Chile, os trabalhadores rurais vão protestando com crescente vigor contra a reforma agrária de Frei. O fracasso da “colheita-recorde” de Cuba se deve, indiscutivelmente, à insensibilidade dos pobres cortadores de cana aos apelos de Fidel. E assim os exemplos poderiam se multiplicar.
Entretanto, talvez não tenha havido um só episódio, nos dias de hoje, em que tão claro ficasse o alheamento das massas trabalhadoras em relação à esquerda, do que no desfile operário monumental realizado há dias em Nova York, em apoio à política internacional de Nixon.
Como todos puderam ler nos jornais, 150 mil operários, comerciários e escriturários desfilaram pela Wall Street, proclamando sua vontade de lutar pela condenação e pela derrota do comunismo. Para incentivá-los na atitude patriótica, um verdadeiro mar de papéis picados era jogado sobre eles de todos escritórios que lotam os arranha-céus da grande artéria. Esta a atitude da população do maior centro norte-americano.
Em contraste com a multidão de manifestantes sérios, ordeiros e dignos, que desfilaram dando vivas à pátria e empunhando a bandeira nacional, o que foi o protesto esquerdista realizado dias antes em frente da Casa Branca?
Certos jornais paulistas disseram que havia cem mil pessoas presentes ao comício. Fontes norte-americanas dignas de crédito falaram em apenas 75 mil: a metade dos que desfilaram em Nova York.
Os 75 mil contestatários foram arrebanhados por uma propaganda estrepitosa. Vieram dos quatro cantos do país. São como que uma varredura do que havia de mobilizável, em matéria de esquerdistas, na imensa população do imenso território americano. Um conglomerado de minorias locais. Como isto é menos expressivo – em número e em representatividade – do que a massa compacta dos membros de uma só classe – os operários – aplaudida pelas de outra, os funcionários de escritório, de uma só cidade.
De outro lado, como a atitude dos manifestantes esquerdistas de Washington destoa da dos trabalhadores patrióticos de Nova York. Em Washington, o ambiente era de uma feira de diversões. Em um palanque, se exibiram vedetes literárias, artísticas ou políticas a que ninguém dava atenção. O povo conversava durante os discursos. Grande número dos presentes, enquanto a manifestação se desenrolava, se banhavam nos tanques do logradouro público. Diversas moças com o busto literalmente nu tentavam dar um condimento pornográfico e “pra frente” à manifestação sensaborona. O auge da “desinibição” freudiana estava em dois moços que perambulavam de um lado para outro, inteiramente nus. Curioso e sintomático encontro entre o esquerdismo e a corrupção. Quem constituía esses 75 mil prosélitos da decadência política e da deterioração moral do país? Segundo tudo faz crer, a grande maioria deles era formada por estudantes vagabundos, de elementos “no vento”, da “inteligentzia”, etc. De operários, pouco ou nada.
A verdade se torna patente. Repito-o à maneira de conclusão final: não é a massa que é esquerdista. São os elementos deteriorados das elites.
Neste sentido, merece especial atenção o artigo de Janos Lengyel – publicado pelo “Globo” do dia 1º do corrente – o qual informa que “uma recente enquete popular na Alemanha Federal provou que a maioria dos operários prefere um aumento direto de 5 a 8 por cento e alguns dias mais de férias pagas do que a idéia da participação, ou da co-gestão. E na França, o decreto-lei degaullista de 17 de agosto de 1967, que estabelece a obrigatoriedade da participação, não passa de um meio-fracasso”.
Enquanto isto, não faltará por lá patrões socialistas, do gênero de outros tantos – “sapos” [com cabeça de] avestruz – que há no Brasil, adeptos fanáticos da demolição do direito de propriedade.
Chegou-me às mãos a fotocópia de um convite publicado no dia 18 de abril, p.p. pelo jornal “El Siglo”, de Santiago do Chile. No Ângulo esquerdo, bem no alto, está um croquis representando Lenine, e ao lado dele a foice com o martelo. Um pouco mais abaixo, vêm os dizeres: “Homenagem a Lenine, na Igreja de Santa Catarina, em Salvador Cruz Gana – Hoje, sábado, 18, às 7 da tarde – Falará Carlos Maldonado, Secretário Geral do Instituto de Investigações Marxistas – Será projetado o filme-documentário “Lenin em Outubro”. Segundo informações que tive, trata-se de um templo católico.
Lendo esta enormidade e pensando no padre Comblin, que continua a agir com o placet de tantas autoridades eclesiásticas, penso com tristeza no abaixo-assinado em que 2 milhões de sul-americanos pediram a S.S. Paulo VI medidas contra a infiltração comunista na Igreja. E me ponho a rezar.

(Artigo "E me ponho a rezar..." – "Folha de São Paulo", de 31.05.70).

FRACASSO DO COMUNISMO NA OPINIÃO PÚBLICA

O fracasso do comunismo na opinião pública

“Na formidável luta engajada em nossos dias entre o comunismo e a presente ordem de coisas, a força não está no campo dos vermelhos. Não acredito nem na superioridade militar, nem econômica, nem em outra qualquer, do bloco comunista sobre o nosso. Não acredito, também, na possibilidade, para qualquer Partido Comunista do Ocidente, de conquistar, pela persuasão, a maioria da opinião pública. Acredito, isto sim, na gravidade do perigo comunista. Mas tal gravidade decorre do contraste entre, de um lado, a moleza e a imprevidência de incontáveis anticomunistas de cúpula e de base, e de outro lado, o fanatismo, a sagacidade, a agilidade e a requintada técnica de manipular a opinião pública, das minorias autenticamente comunistas.
Não me farto de insistir sobre a insensibilidade da opinião pública à propaganda comunista. De Marx a nossos dias, os comunistas só conquistaram o poder e só se mantiveram nele pela força. Jamais pela persuasão. Quanto mais estendem seu poder, tanto mais se lhes torna difícil manter sob jugo o crescente número de suas vítimas. Um colosso assim estruturado tem evidentemente pés de barro. E, quanto mais cresce, mais está prestes a cair. Por isto mesmo, considero uma obra-prima da propaganda comunista, que ela tenha conseguido desviar deste ponto capital a atenção de numerosos anticomunistas, a ponto de os persuadir de que diante do poderio vermelho a resistência anticomunista se tornou inútil.

("Folha de São Paulo", de 10.09.69).

domingo, 2 de março de 2008

O progressismo não atrai as multidões

Dr. Plínio com os congregados marianos

“...Há anos atrás, antes do progressismo se alastrar pelas fileiras do clero, era esta [a Religião] a maior força moral do país. À medida que se vai tornando progressista, o povo se vai afastando dele (e não da Religião, note-se bem). Daí advém que, quanto mais é progressista um padre ou uma freira, menor é o número de pessoas que leva atrás de si. E os mais avançados só têm o apoio de punhadinhos de fanáticos.

("Folha de São Paulo", 19.07.70).

O PERIGO COMUNISTA NO BRASIL : A ESQUERDA CATÓLICA




Lembrem-se os leitores que o perigo comunista na época em que o Dr. Plínio escrevia era latente não só em outras partes do mundo, mas também no Brasil.

“O perigo comunista consiste na atuação, não só do Partido Comunista, mas de todas as forças propedêuticas ou auxiliares, de rótulo marxistóide, socialista ou esquerdista. A evidência dos fatos que mostra que tal perigo está menos no PC, diminuto e esfrangalhado, do que nestas forças auxiliares. Pois só elas têm capacidade de penetração em nosso ambiente. E, para ser inteiramente preciso, entre essas forças auxiliares, a única a ser realmente tomada em conta é a “esquerda católica”. O Evangelho nos previne contra os lobos vestidos com pele de ovelha (Mat. 7, 15). A mais eficiente das peles de ovelha é o hábito talar do sacerdote. Ou, por analogia, a reputação de líder católico...
Entendo por “imunização” aquilo que possa fazer cessar o perigo. E, como só se elimina um perigo quando se fazem cessar as suas causas, quero eliminar a influência da esquerda católica.
Notem Vossas Excelências que não falo em privar da liberdade os elementos que constituem essa esquerda. Nem em expulsar do país os seus componentes estrangeiros. Essas medidas poderão ser ou não ser justas e úteis, conforme cada caso concreto. Elas podem atenuar o perigo. Não porém eliminá-lo. Acrescento que, em alguns casos, elas podem ser contraproducentes. A esquerda católica vive da influência que lhe vem do rótulo católico. Essa influência não se lhe tira só com medidas legais e judiciárias. Mais do que tudo, é preciso tirar-lhe o rótulo. Nisto está a solução.
No Brasil só houve uma questão religiosa. Foi o conflito entre o governo imperial, de um lado, e, do outro , D. Vital e D. Macedo Costa. Os valorosos bispos de Olinda e do Pará – obedecendo às prescrições da Santa Sé – proibiram aos seus diocesanos que pertencessem à maçonaria. O governo imperial reputou ilegal a proibição e prendeu os bispos. Esta violência despertou o entusiasmo geral em favor dos prelados feridos em suas imunidades eclesiásticas só por cumprirem seu dever. O governo imperial teve de capitular. O gabinete Rio Branco caiu. E a pedido de Caxias, os bispos foram indultados. Uma mesma ovação acolheu o gesto justiceiro e sábio do grande Caxias, e a vitória dos dois bispos.
Se não queremos repetir o erro trágico do gabinete Rio Branco – erro do ponto de vista religioso e do ponto de vista civil – temos de agir com justiça, firmeza e sagacidade.
Ora, sucede que, entre o caso dos bispos de Olinda (o do séc. XIX, é claro...) e do Pará, e o caso da hodierna esquerda católica, há uma diferença radical e incomensurável. É que os dois gloriosos prelados do Império tinham toda a razão do próprio ponto de vista católico. Por isto, Pio IX, então reinante, lhes deu inteiro ganho de causa. Pelo contrário, a esquerda católica não exprime o pensamento da Igreja. E como tal não merece o apoio, nem da hierarquia, nem do povo católico.
Sei o que escrevo. E sei que, no Brasil, ninguém terá a coragem de me contestar. Afirmo que o comunismo é incompatível com a doutrina católica, não só porque ele se baseia em uma filosofia materialista e nega a instituição da família, como porque elimina a propriedade individual. E isto de tal forma, que não é possível a existência segura e livre da Igreja, sob um regime comunista... Claro está que são, por motivos análogos, incompatíveis com a Religião o socialismo e outros subprodutos da propaganda comunista.
...Seria algo como a quadratura do círculo, imaginar que Paulo VI se mantivesse insensível a tão justo pedido. A só considerar as coisas no plano diplomático, quão terrível seria, aos olhos do mundo, a situação do pontífice que se recusasse a tomar todas as medidas para salvar do colapso e do caos a mais populosa das nações católicas do globo? Considerada esta hipótese abstrusa poder-se-ia dizer que o mundo estaria rolando para o despenhadeiro final!"
(“Carta a ministros ignotos” – Folha de São Paulo, de 26.10.69).

A caridade enobrece o rei

Santa Isabel da Hungria cuidando dos doentes

Qual o estadista moderno tem as virtudes próprias aos antigos reis católicos? O historiador francês Henri Robert conta que entre as antigas cerimônias de sagração dos reis franceses há uma que ele considera singular e pitoresca. Uma crença perpetuada desde São Luís IX dizia que os reis tinham o poder quase milagroso de curar pelo toque as escrófulas e até os cancros. E para cumprir a tradição, no dia de sua sagração Luís XVI reservou um dia para fazer cumprir ato tão meritório. Não pensem que a tarefa era fácil, pois haviam mais de dois mil e quatrocentos escrofulosos em Paris. Segundo conta o Conde de Croy, com o calor o mau cheiro era tremendo e o ar ficava infecto; de sorte que era preciso muita coragem e força moral do rei para tomar parte nesta cerimônia, tão rude e repugnante.

Luís XVI, entretanto, não se deixou desanimar pelo cheiro ou pelo aspecto repugnante daquelas pessoas cheias de chagas. Participou alegremente da cerimônia, tocando paternalmente cada um dos enfermos na fronte, nas duas faces e no queixo, fazendo o sinal da cruz e dizendo: "Deus te cure, o rei te toca". Um médico o assistia levando um vaso de vinagre em que o rei molhava a mão antes de passar ao doente seguinte.

Uma outra tradição é na corte espanhola, que surgiu também no tempo de um rei santo, por sinal primo de São Luís IX, São Fernando de Castela: trata-se da cerimônia do lava-pés, realizada toda quinta-feira Santa, dela participando não só o rei mas seus principais nobres. São escolhidos vários mendigos para a cerimônia, ocasião em que o rei lava seus pés e os enxuga com uma toalha (nos tempos antigos alguns reis santos chegavam a oscular os pés dos mendigos).

Qual governante da era moderna seria capaz disto, mesmo a custo de fazer propagando de seu regime ou mesmo de alguma demagógica filantropia?

A este propósito, Dr. Plínio escreveu em 1938:

“Não nos parece conveniente discutir. Um fato apenas: onde, fora da Igreja Católica, se encontra tipo de “homem cristão” na plenitude que os Santos da Igreja atingiram? Onde o Francisco de Assis? Qual o Führer cristão que lave as chagas dos leprosos como São Luís e Santa Isabel? Qual o benfeitor cujo coração arda com o amor compassivo dos pobres de um Vicente de Paulo?
“É em vão. Por mais que se diga, se repita ou se proclame o contrário, só à luz e ao calor do sobrenatural divino da Igreja, pode medrar a flor preciosa do autêntico espírito cristão. Para ser cristão, só há um caminho: a Igreja Católica.

("Legionário", 24.7.38).